sábado, 24 de novembro de 2012

Smooth Criminal - Capítulo 6 - Scream


Eu fiquei longos minutos em plena escuridão. É claro que pra mim deve ter durado mais do que realmente durou. Até que um forte clarão surgiu e, quando abri os olhos novamente, eu me encontrava dentro de meu carro.

Havia acabado de sair de meu próprio apartamento e me dirigia ao apartamento dela.
Finalmente cheguei ao meu destino.
Estacionei o carro, peguei o elevador até o andar certo e parei na porta certa.
Toquei a campainha, uma, duas vezes, ninguém atendeu. Rodei a maçaneta e percebi que a porta estava destrancada.
Já estava cansado de avisá-la sobre o perigo que corria por culpa de sua enorme falta de atenção. Aquele prédio velho onde ela morava não tinha segurança alguma. Não trancar a porta do apartamento não era uma atitude muito esperta.
É claro que eu tentei convencê-la inúmeras vezes para vir morar comigo. Meu apartamento era luxuoso e seguro, de acordo com minha ótima condição financeira. Confortável o bastante para vivermos juntos.
Mas ela era teimosa de mais. Insistia em continuar ali, até que nos casássemos.
Entrei no apartamento, sorrindo. Aquilo não era mais uma condição a se discutir.

Ela não estava na sala nem na cozinha minúscula, por isso segui direto para seu quarto.
A porta estava entreaberta, empurrei ela com cuidado para poder entrar no quarto.
Annie estava deitada na cama, perdida em sonhos profundos.
Sentei-me na ponta da cama, ao lado dela, e tirei com cuidado uma mecha vermelha de cabelo que lhe escondia o rosto sereno.
Levantei a cabeça para encarar o por do sol. A luz vinda dele ultrapassava a janela sem cortinas.
Segurei o riso repentino, lembrando-me das vezes que tentei forçá-la a comprar cortinas para as janelas de seu apartamento, quando eu passava a noite com ela e sempre acabava acordando com o sol forte batendo nos meus olhos e os fazendo abrir contra a própria vontade. “Cortinas impedem o sol de entrar e iluminar o que precisa ser iluminado. São desnecessárias!”, a mesma resposta era sempre dada por ela a minha insistente proposta.
Talvez ela tivesse mesmo ração.
Em contraste com a pele clara do dedo-anelar dela, pousando nele como se fizesse parte do mesmo, o anel de noivado brilhava sobre a luz do sol.
– Bill... – Annie despertou, abrindo os olhos devagar.
A íris verde pareceu brilhar a luz do sol tanto quanto a esmeralda do delicado anel.
– Oi. – sorri enquanto ela se levantava e se sentava do meu lado.
– Pensei que não ia voltar mais. – ela retribuiu o sorriso.
– Eu não ia. – admiti, sem saber ao certo por que o fiz.
– Não importa. Fico feliz que tenha voltado. – falou, tocando os lábios rosados nos meus.
Annie pousou a cabeça em meu ombro, quase voltando a dormir.
– Como consegui dormir tanto? – perguntei rindo, enquanto bagunçava o cabelo dela.
Ela riu também, passando a mão nos próprios cabelos, tentando ajeitar o que eu havia bagunçado.
– Bem que eu queria dormir mais, mas acho que estou morrendo de fome. – ela fez uma careta engraçada enquanto prendia os cabelos ruivos num rabo de cavalo desgrenhado.
– Me deixe adivinhar... – falei fingindo pensar por um instante e continuei em seguida – Você não fez compras de novo?
Ela me olhou, ainda fazendo a mesma careta engraçada de antes, e balançou a cabeça numa negativa.
– Está bem. Eu passo agora mesmo no mercado, contanto que você vá pra minha casa hoje. – falei, já me levantando.
– Mas já está anoitecen... – Annie interrompeu a si mesma, abaixando a cabeça e ficando em silêncio.
Por um momento jurei ver uma sombra passar pelos olhos de esmeralda, mudando completamente a expressão sonolenta de Annie.
Certamente um engano, pois quando ela levantou a cabeça para sorrir pra mim, sua expressão estava completamente serena.
– Está bem. – ela concordou com a condição.
– Ótimo. – encostei os lábios na testa dela e me despedi saindo do quarto enquanto ela voltava a se jogar na cama – Volto logo.
Antes de sair do apartamento, fui até a cozinha e abri a geladeira para saber o que tinha ali e o que não tinha.
Qual não foi minha surpresa quando meus olhos procuraram e encontraram apenas uma caixa de leite sozinha no fundo da geladeira.
Peguei a caixa. Vencido. Balancei a cabeça, reprovando o desmantelo da dona do apartamento.
O calendário foi parar no chão quando eu bati, sem querer, com muita força a porta da geladeira. Debrucei-me para pegar o papel do chão.
Meus olhos caíram em cima da data de hoje, que era destacada por um coração feito de caneta vermelha. 16 de agosto. Sorri quando me dei conta do motivo daquele dia estar destacado. Naquela mesma manhã eu havia lhe feito a pergunta, recebido a resposta, e dado o anel de esmeralda que seria prova de tudo isso.
Sai do apartamento, sem me esquecer de jogar a caixa de leite fora no caminho. Quando já estava quase porta a fora, ainda pude ouvir o telefone tocar, e, como ninguém atendeu, o telefonema caio na secretária eletrônica. Não me preocupei com isso. Se fosse mesmo importante deixariam recado, ou tentariam ligar mais tarde.

Dentro do supermercado não havia quase ninguém. Eu agradeci aos céus por isso. A última coisa que eu queria era ser parado por algum fã descontrolado. Naquele dia eu não me sentia como um astro da música, e sim como alguém normal, propício a me apaixonar como qualquer outra pessoa. Não que eu esperasse que isso realmente acontecesse. Eu não esperava me casar nunca. Nem queria isso. Mas eu sabia que estava tomando a decisão mais correta de toda minha vida.
Depois de passar algumas besteiras no caixa do supermercado, eu segui de volta à BMW.
Enquanto eu andava até o carro cinza, um vento forte fez meu corpo todo tremer de frio. Aprecei-me em entrar no carro para fugir do frio.
Finalmente eu já estava seguindo de volta para o apartamento de Annie.

Quando parei o carro na vaga de estacionamento do prédio e desci para seguir até o elevador, o mesmo vento ainda continuava a soprar com mais força do que antes. A lua iluminava tudo em volta, com uma luz azulada, um tanto sinistra. Eu já não sabia se o motivo para os pelos da minha nuca estarem se eriçando era mesmo pelo vento, que trazia um frio horripilante, ou se havia algo a mais.
Encolhi-me dentro da blusa de moletom, tentando me manter protegido do frio e entrei, as presas, no elevador.

O elevador parou no andar desejado e eu desci seguindo até a porta do apartamento de Annie.
A porta estava entreaberta, e um saco de lixo se encontrava jogado em frente da mesma. Imaginei que Annie estivesse indo levar o lixo para fora, quando algo a fez voltar pra dentro do apartamento. O telefone tocando novamente, talvez.
Mesmo esperando que minha lógica estivesse certa, empurrei a porta com cuidado, sem fazer muito barulho.
Entrei no apartamento na ponta dos pés. Foi quando escutei um soluço de choro contido que fez meu corpo tremer internamente.
Quando eu estava quase na entrada da sala, Annie já se encontrava em meu campo de visão. E não só ela.
Um homem segurava uma arma contra a cabeça de Annie. Ele exigia que ela lhe contasse onde havia dinheiro no apartamento. Eu sabia que Annie não guardava dinheiro em casa. Eu sabia que tinha que agir de alguma forma...
Por sorte eu não estava no campo de visão do ladrão armado, o que me dava certa vantagem.
Dei um passo para trás e tentei pensar em algo para fazer.
Minhas pernas estavam amolecendo e o chão parecia se dissolver sobre meus pés, eu sentia que poderia vacilar e cair a qualquer momento.
O choro de Annie ecoava em meus ouvidos, enquanto eu sentia minha visão se distorcer aos poucos.
Eu precisava agir logo. Foi quando eu lembrei que Annie havia sido policial tempos atrás, mas logo partiu para outro emprego, como de costume.
Eu tinha consciência do que ela ainda guardava na gaveta da cômoda, essa que se encontrava do meu lado, no corredor que dava na sala de estar, onde Annie ainda era ameaçada pelo homem descontrolado.
Eu não agia mais racionalmente. Com cuidado abri a gaveta da cômoda e tirei o revolver de dentro dela, sem fazer barulho algum.
Senti o suor escorrer pelo meu rosto enquanto eu destravava a arma de fogo.
Na sala, eu pude ouvir o homem ameaçar atirar em Annie, e sem esperar que mais nada passasse por minha cabeça – algo mais lógico talvez -, eu corri pra sala. E sem dar a chance do homem ou de Annie falarem ou agirem, eu atirei.

Um erro que eu mesmo jamais poderia perdoar. Um erro cometido por mim próprio.

Fechei os olhos antes de atirar. Eu nunca havia nem sequer pegado em uma arma antes. Já seria um desastre se eu tivesse mirado e mantido os olhos abertos, segurando com firmeza o revolver. Foi um desastre maior ainda por eu não ter feito nenhuma dessas precauções.
Minha bala atingiu o alvo errado.
Annie agora caia, uma poça de sangue envolvia seu peito. Sangue esse que agora inundava o chão em volta dela.
Eu ainda não acreditava no que eu havia feito. Estava prestes a cair no chão por conta própria, quando o homem, alarmado e um tanto desesperado, atirou em mim.
Meu corpo bateu contra o chão enquanto o homem saia do apartamento as presas.
Senti um liquido quente descer por minha cabeça.
Meus ouvidos pipocavam. Minha visão, após ver a poça de liquido vermelho que envolvia minha cabeça, se apagou completamente.
– Bill... – antes de perder a consciência por inteiro, ainda pude ouvir a voz doce e que agora falhava - por inteira e completa culpa minha – gritanto por seu assassino.

Postado por: Grasiele

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