sábado, 24 de novembro de 2012

Smooth Criminal - Capítulo 1 - Remember The Time


Um grito...

Um tiro...

O alvo errado...

O corpo caindo ao chão.


Meu despertador tocou às 10h e 30min, como sempre.

Acordei assustado com o bip irritante, mas intimamente eu estava até aliviado por todo aquele sangue sendo derramado ao chão ter feito parte apenas de um sonho.

Bati a mão no despertador, fazendo o bip – que já estava invadindo meu cérebro – parar finalmente.

Um pesadelo, isso sim!

Levantei-me devagar. Embora eu estivesse um tanto atrasado – o que não fugia da minha rotina –, eu não tinha nem um pingo de vocação para ser um homem comprometido com seu trabalho e apressado a começar o mesmo. Eles é que me esperassem para o ensaio da banda, ou que começassem sem mim, se fosse do desejo deles.

Fui até o banheiro, meti a cabeça debaixo da torneira da pia, pra acordar mais rápido - o que não foi uma missão muito bem sucedida. Eu ainda parecia estar dormindo.

Meu estomago pedia para ser abastecido. Arrastei-me em direção a cozinha.

Abri a geladeira desanimadamente.

– Ah! Droga... – gemi ao encontrar apenas uma caixa de leite vencido, solitária no fundo da geladeira totalmente vazia.

Pouco me importo com a data de validade de qualquer coisa!

Peguei a caixa de leite e o tomei, quase em um só gole. Até que o gosto estava agradável.

Fechei a geladeira. O calendário pregado de qualquer jeito a porta indicava dia 16 de agosto, um glorioso domingo.

Dia de folga! Ótimo. Hora de voltar pra cama!

Fui aos pulos pro meu quarto, e me joguei na cama, me colocando de volta para baixo das cobertas. Suspirei aliviado por ter a chance de mais algumas horas de descanso.

Oh, mein Gott, não deixe que eu desperdice essa chance!

Remexi-me na cama, tentando voltar a dormir... Em vão.

O sol, já forte àquela hora, entrava pela janela – a qual eu ainda não tivera coragem pra comprar cortinas – e queimava sobre minhas pálpebras. Sem contar os roncos do meu estomago, que fazia questão de deixar claro que estava vazio.

Levante-me, revoltado, e coloquei uma calça jeans velha qualquer, uma camiseta de alguma banda - da qual eu nem vi o nome. Acho que era Placebo. Ou talvez não. Não me importa! Calcei meu tênis, coloquei uma blusa com um capuz enorme, óculos escuros gigantescos e me dirigi ao supermercado mais próximo.

Foi uma dificuldade enorme me lembrar onde estavam as chaves do carro. Mas as encontrei, por fim, dentro do pote vazio de biscoitos. Agora eu já estava dentro da confortável BMW cinza.

Parei no estacionamento do supermercado. Coloquei o capuz da blusa de moletom, e desci.

Pra minha sorte, lá dentro não estava cheio, e por isso não fui notado ou abordado por algum fã descontrolado.

Joguei umas besteiras no carrinho de compras e segui para o caixa.

Embora não houvesse quase ninguém ali, eu jurei sentir estar sendo seguido por alguém. Uma mulher, mais precisamente. Eu vi seu reflexo na porta da geladeira do supermercado, enquanto eu a abria para pegar um sorvete. Mas ela sumiu, tão rápido quanto apareceu. Só que essa não parecia ser sua primeira e ultima aparição, e logo isso se confirmou pra mim.

Dirigi para casa o mais rápido que eu consegui. Meu maior desejo naquele momento era me jogar no sofá e me entupir de besteiras calóricas enquanto eu via alguma idiotice na televisão.

Quando eu estacionei na garagem do prédio, a segunda aparição da bela mulher se realizou. Soltei um grito de susto quando meus olhos bateram de encontro com os olhos verdes refletidos no retrovisor do carro. Virei-me para o banco traseiro, mas ela não estava mais lá.

– Argh! - bufei irritado com aquela brincadeira idiota.

Com certeza eu não tive uma noite de sono boa, e agora meu consciente me pregava peças reclamando por isso.

Peguei o elevador segurando as sacolas de compras e fui pro meu apartamento.

Eu estava sentado no sofá assistindo qualquer besteira na televisão, quando o terceiro capitulo da perseguição se deu inicio.

Senti um vento frio em meu pescoço e me virei de susto. Deparei-me novamente com os olhos verdes me encarando.

Dessa vez eu pude notar cada belo detalhe da mulher dos olhos de esmeralda. Seu cabelo ruivo caia ondulado pelos seus ombros a mostra pelo vestido de estampa florida. A boca rosada estava dobrada em um meio sorriso encantador e até um tanto infantil, contracenando com seu corpo de curvas definidas.

– Te assustei? – a voz dela me suou como sinos bem afinados.

Eu não sabia o que responder. Sim, ela havia mesmo me assustado, mas era duro admitir isso.

A ruiva continuava a me encarar. O rosto a centímetros do meu. Sua respiração gelada – quase cadavérica – se chocando com a minha, quente e descontrolada.

– Er... Quem é você? – consegui pronunciar as palavras, mesmo que ainda tremulas e sem demonstrar firmeza alguma no tom de voz.

– Não se lembra... – ela observou, parecendo desapontada.

A mulher se debruçou mais para frente, agora nossos rostos estavam quase se tocando. Eu queria impedi-la, mas meu corpo não obedecia a nenhum comando do meu cérebro.

– Você tem que se lembrar... – ela sussurrou e em seguida me beijou, um beijo doce e congelante.

Então, em um simples beijo, minhas lembranças da bela ruiva vieram à tona, junto com uma escuridão interminável.

Abri os olhos sentindo minha cabeça girar. Já era noite e eu ainda estava no sofá da sala com a televisão ligada no mesmo canal.

Havia sido um sonho? Não. Era muito real pra isso, e minha mente não é tão brilhante assim.

Olhei em volta e a avistei, parada, olhando as estrelas pelo vidro da janela, e então, tive a confirmação da realidade.

– Você se lembra agora? – ela perguntou com a voz chorosa, sem tirar os olhos das estrelas.

– Sim... – sussurrei, com a voz mais firme, certo do que eu dizia – Annie!

Postado por: Grasiele

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