sábado, 24 de novembro de 2012

Smooth Criminal - Capítulo 4 - They Don't Care About Us


Não sei quanto tempo eu fiquei ali, jogado no sofá da sala, sem mover um centímetro sequer de qualquer músculo do meu corpo. O frio continuava, e os arrepios eram constantes. Meus olhos continuavam fixados na luz vibrante da secretária eletrônica. Minha cabeça doía com o choque das informações armazenadas. Informações que minha cabeça era forçada a guardar, mas meu coração insistia em não aceitar nenhuma delas.
Fantasmas. Assassinatos. Em que hospício eu havia caído e permanecido durante esses dois dias?
– Bill. – Annie surgiu do mesmo modo que sumira antes – As pessoas erram, sabe... Isso é normal. – ela murmurou se sentando na beira do sofá.
Eu não estava no melhor momento de mim. Aliás, eu nem estava parecendo comigo naquele instante. Minha mente estava completamente atordoada. Eu sabia que era um péssimo momento para tentar argumentar com ela, mas as palavras – que devem ter suado como punhais nas costas, para Annie – me saltaram da boca, sem que eu tivesse a chance de impedir isso.
– Toda vitima é cúmplice de seu algoz. – sussurrei, sem dirigir um olhar a ela.
Mesmo sem olhar a expressão de Annie, eu quase pude a sentir tomando a expressão de indignação e tristeza. O ar pareceu até mais pesado de se respirar.
Por um instante eu senti o arrependimento cair sobre mim. Mas tentei afastá-lo, agora era tarde demais. O que havia sido tido não poderia mais ser retirado.
– Você está querendo dizer que eu tive culpa em meu próprio assassinato? – a voz dela suou deprimida e fria, como gelo.
Sentei-me no sofá e a olhei. Ela estava de cabeça baixa, as mãos cerradas em punho, os nós dos dedos estavam brancos, tamanha a força com que ela os apertava.
Respirei fundo e revi minhas próprias idéias, me forçando a voltar ao meu eu normal.
– Me... Me desculpe, Annie. – pedi, abaixando a cabeça, deixando que finalmente o arrependimento caísse sobre mim, com todo o seu peso torturante.
Ela respirou fundo. Pude ver os nós de seus dedos voltando à cor normal, enquanto ela relaxava os músculos.
– Está tudo bem. – ela me olhou e sorriu – Eu entendo o seu lado, só peço que entenda o meu, mesmo que seja difícil.
– Eu entendo. – falei sem nenhuma certeza.
– Hm. – ela murmurou erguendo uma das sobrancelhas, parecendo perceber minha falta de convicção. - Não vou ficar aqui essa noite. Espero que você fique bem.
Annie se levantou do sofá, se preparando para ir embora novamente.
– Eu ficarei... – sussurrei, a vendo sumir como antes: num lampejo.
Joguei-me no sofá mais uma vez. Fiquei com os olhos pregados no teto, pensando.
A dor de cabeça parecia aumentar a cada milésimo de segundo. A dor era estranha, diferente da dor de cabeça com que as pessoas estão acostumadas. Era como se minha cabeça procurasse em seus arquivos uma resposta a uma pergunta, ambas desconhecidas por mim. Como se essa resposta estivesse em alguma lembrança esquecida à força. Uma lembrança tão difícil de ser encontrada que chegava a não parecer pertencer a mim.
E foi assim, forçado a tentar encontrar algo que parecia perdido para sempre, que eu adormeci, ali mesmo, jogado naquele sofá velho cheirando a um perfume que não era meu, mas me era familiar.

Postado por: Grasiele

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