sábado, 24 de novembro de 2012

Taxi - Capítulo 3 - Apenas uma garota do interior...


Tinha uma menina nova na cidade
Ela tinha tudo decidido
Bom, eu vou dizer algo imprudente
Ela tinha o mais maravilhoso... sorriso

Meus olhos cresceram rápido e minha mão saiu de baixo da sua como um choque elétrico.
– Ai, você tem namorada! – ela exclamou corando – Mas não se preocupe... Como amigos! Eu tenho um namorado também. Ontem você foi simpático comigo e você parece ser legal para se tornar um amigo. Eu não quis te deixar envergonhado com a minha ousadia... Não precisa aceitar se quiser.
– Não. – falei sem pensar. Eu não fazia ideia de como eu havia conseguido aquilo – Tudo bem. – concordei lentamente – Mas meu expediente vai terminar só as quatro...
– Certo. – ficou ereta e animada – Eu posso te esperar.
– Até as quatro?! – minha voz saiu fina de surpresa.
– Se você não se importar... – seus lábios moldaram um sorriso inocente. Eu nunca poderia dizer não para ela.
– Não me importo.
– Ótimo. – falou pegando a tesoura do balcão e colocando em sua bolsa – Vou ver algumas lojas aos arredores, volto daqui à uma hora, tudo bem?
Assenti rapidamente e a vi sumir.
Marianne sumiu e eu sorri.
Balancei a cabeça algumas vezes tentando ver se eu não estava tendo mais um sonho idiota. Apoiei-me no balcão um pouco tonto, o que estava realmente acontecendo?
A uma hora seguinte foi a mais comprida de toda a minha vida. Eu nunca esperaria vê-la outra vez, nunca pensei que poderia saber seu nome ou que teria a chance de tomar um sorvete com ela, com Marianne.
Jogava um jogo de cartas no computador quando ela voltou e me assustou com uma fragrância completamente viciante de flores de laranjeiras, a mesma da tarde passada.
– Se divertindo muito? – seus olhos apareceram curiosos atrás da máquina.
Os fitei e sorri sem jeito. Aquilo era um sonho, só podia.
– Não muito na verdade, não consigo achar o Ás de espada.
Ela andou rápido para o meu lado.
– Posso? – perguntou ameaçando pegar no mouse.
– Onde estar meus bolinhos de aros? – eu saltei e ela saltou de susto. Sr. Sean gritava de dentro da salinha. Marianne contornou o balcão rápido e fingiu olhar algumas canetas em gel.
– Dentro do forno! – gritei de volta e a olhei. Se ela estava ali ou se era real eu não fazia ideia, só sabia que tudo aquilo me fazia sorrir e esquecer como a minha vida podia ser medíocre.
– Se eu te incomodar, por favor, me fale. – ela sussurrou e ergueu os seus olhos grandes para mim. Eu assenti lentamente, perdido em sua delicadeza. – Você é daqui?
Levei algum tempo para perceber que ela me perguntava algo.
– Não, sou do sul de Detroit. – respondi fechando a janela do jogo de cartas – E você?
– Sou do interior. – largou as canetas em gel dentro do copo de vidro – Faz tempo que mora por aqui?
– Três anos e meio. – passei a língua pelos lábios – E você?
– Dois. – jogou os cabelos para trás – Vim por causa da faculdade.
– Faculdade do que?
Marianne era filha única. Os pais eram donos de uma floricultura muito conhecida em County, na Florida, com isso tinham dinheiro suficiente para manter a filha em um belo apartamento em Manhattan e pagar a faculdade de cinema.
O nome do homem loiro era Alex, começaram a namorar dois meses depois que Marianne se mudou. Eram colegas de faculdade. A garota do táxi amarelo tinha poucas amizades na cidade, o que a levou me convidar para tomar um belo sorvete na esquina. Disse que sempre me via indo ao Marcy’s e que minha feição sempre era de simpatia. O que eu estranhei um pouco, já que Sr. Sean tinha a mania de lembrar sempre que com a cara que eu vou trabalhar a papelaria iria à falência por ser confundida com um clube do horror.
Começamos a nos ver toda a semana, ela aparecia depois do almoço e eu sempre torcia para que ela nunca visse Alex junto da atendente. Se ela descobrisse eu nunca mais a veria. Ela esperava até o fim do meu expediente para tomarmos sorvete, quando chegou o inverno começamos a ir à cafeteria do outro lado da praça central. Com ela meus dias ficavam mais fáceis e eu não me importava mais do Sr. Sean me chamar de “feijón”.
Depois de um tempo ela começou a me levar trufas do Phill’s, a primeira eu demorei a comer. Levei para casa e fiquei a olhando por algum tempo. Comi e guardei o embrulho na gaveta da minha escrivaninha. Mas foi algo como: coloquei o papel ali, mas não quer dizer que vou guardá-lo só porque foi a primeira que ela me deu... Pensando dessa forma eu não me sentia uma mocinha, mas era claro que eu havia guardado só por ser a trufa que ela havia me dado.
Ela sabia de cada detalhe da minha vida e eu da dela. Marianne trabalhava em um estúdio de gravação e sua faculdade era à noite, igual a minha.
Eu sempre me perguntava se aquilo era verdade ou era só coisa da minha cabeça. Ela era incrível demais para conversar comigo. Ela dizia que minha voz era engraçada, mas do mesmo jeito ela gostava. Nunca parava de me elogiar e isso me matava aos poucos, ela devia estar comigo e não com aquele cara monstruoso. Ela dizia que meus olhos eram lindos e nunca havia visto nada igual. Isso me fazia pensar nela toda vez que me olhava no espelho.
Teve um dia em que ela apareceu uma hora antes do meu expediente acabar, estava chorando. Falei para Sean que minha mãe havia ganhado bebê e sai com ela. Ela só dizia para eu levá-la para bem longe do centro, dizia que não queria nunca mais pisar ali. Achava que finalmente ela teria descoberto de Alex, mas não, eles apenas discutiram.
A levei para uma praça perto de minha faculdade, ela se deitou no meu colo e pediu para eu acariciar seu cabelo. No início fiquei sem reação, mas logo passei a mão pelos seus cabelos macios. Foi a primeira vez que a vi dormir.
Não a vi mais no horário do almoço. Marianne havia dito que ela e Alex resolveram trocar de restaurante, porque ele não suportava mais a comida de lá. Eu me apaixonava cada vez mais por ela, tentava contornar esse sentimento saindo aos fins de semana e beijando qualquer garota que me olhasse. Eu falava de outras garotas para ela, e sempre tinha conselhos ótimos. Inventava alguma possível namorada para ela sentir ciúmes, mas ela nunca ligava. Marianne sempre me apoiava em tudo e isso me deixava cada vez pior.
Uma vez passei o fim de semana inteiro arrumando meu apartamento para ela ir no dia seguinte me ensinar a fazer arroz sem queimar. Conversamos, rimos e matamos aula sem nos importar com o mundo do lado de fora da parede. Acordamos no outro dia com o celular de Marianne tocando e ela correndo até o ponto de táxi mais próximo para ir trabalhar.
Construímos uma amizade forte. Quer dizer, um romance platônico para mim, uma amizade para ela. De vez em quando Marianne aparecia chorando por ter brigado outra vez com Alex. E eu percebi que se contasse para ela toda a verdade, ela não pararia de me ver, já que havia trocado o restaurante.
Mas eu sempre hesitava. Eu detestava vê-la chorar. Eu contava do meu dia e tentava por um humor nele mesmo sendo a mesma droga de sempre. Ela ria e eu adorava. Nunca iria ter coragem de dizer a ela sobre Alex.
Eu queria a segurar pelos braços e dizer que eu nunca iria fazê-la chorar.
Eu me encantava ainda mais, meus amigos me chamavam de pirado, diziam que eu era louco. Mas assim que conheceram Marianne, se encantaram. Se encantaram no dia em que minha vida, realmente, mudou.
Estávamos em uma reunião de amigos em minha casa, bebíamos e falávamos de mulher quando a campainha tocou. Eu atendi e lá estava ela respirando pesado e aflita.
Marianne. – falei seu nome um pouco perturbado. Eu estava surpreso por vê-la ali. – Aconteceu alguma coisa?
Eu precisava falar com você, Bill. – seu peito subia e descia rápido.

Postado por: Grasiele

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