sábado, 24 de novembro de 2012

Taxi - Capítulo 4 - Gente, essa é a Mary


– É a pizza? – Tom gritou da sala e Marianne esticou o pescoço para tentar ver de quem era a voz.
– Estou te incomodando? – perguntou preocupada enquanto eu balançava a mão nas costas para nenhum dos garotos chegarem perto.
– Não, não está... – pigarreei – Os meus amigos estão aqui. Você quer entrar?
Gaguejou e depois me olhou como quem mantinha um segredo.
– Sobre o que você queria falar? – tentei arrancar alguma coisa dela. Marianne parecia confusa demais. – Você está bem?
– Sim! – falou de súbito – Era sobre Alex.
– Ele aprontou alguma? – estreitei os olhos, já bravo. Mas logo ela negou com a cabeça. – Ótimo. Não quer entrar? Eles parecem loucos, mas são realmente legais. – dei um sorriso para ela.
Marianne espiou pelo meu ombro e depois me deu um beijo no rosto.
– Se eu não incomodar...
Abri passagem para ela que passou um tanto cautelosa. A sala, que antes estava agitada, ficou em um silêncio constrangedor.
– Gente, essa é minha amiga, - pigarreei – Marianne.
Todos olharam para ela com olhos de que sabiam o que ela representava para mim. Ninguém falou nada durante dois minutos e tudo pareceu ficar mais patético do que meu sentimento. Bebi um grande gole da cerveja que segurava e fui para a cozinha rápido.
Assim que dei as costas, escutei Georg se manifestando e Gustav vindo atrás de mim.
– Cara, essa é a garota do táxi amarelo? – me perguntava abestado enquanto eu abria a geladeira e pegava mais algumas bebidas - É ela?
Concordei e bebi mais um pouco.
– Por quê? – o olhei com receio.
– Ela é maravilhosa! – exclamou em um sussurro – Você disse que ela era bonita, mas não tanto... – pausou – Porque você nervoso?
– Não nervoso. – passei a mão pela boca. – Só estranho.
Gustav ergueu os ombros como quem não havia entendido.
Meus mundos estavam se misturando e era Marianne que os conectava. Só que eu sempre havia imaginado que quando se conectassem seria através de algo ruim, e com ela ali, parecia que tudo corria bem como eu nunca planejaria.
Gustav me deu um soco rápido e fez um sinal para a porta da cozinha.
– Bill... – escutei a voz dela me chamar e me virei rápido – Eu posso usar o telefone?
Assenti meio perdido e sai da cozinha junto de Gustav. O telefone ficava lá, e ela sempre fazia essa pergunta se quisesse falar com alguém a sós. Caso contrário, usaria sem nem pedir.
Cheguei na sala e lá estava Tom e Georg me olhando com segundas intenções. Dei um sorriso débil e eles soltaram uma risada como dois adolescentes problemáticos.
– Riem baixo! – falei – Vocês são uns otários. – completei rindo e me sentando no sofá.
– Gostosa! – foi o que Tom disse quando se inclinou para mim – E gata... Onde você a encontrou mesmo?
– Cala a boca. – dei um tapa em seu boné meio abobado – O que vocês acharam dela? Não falaram nada demais, não é?
Georg balançou a cabeça.
– Ela ficou só um pouco envergonhada porque o Tom não fechava a boca para olhar as pernas dela... – ele riu abertamente.
Lancei um olhar de desaprovação a Tom que só deu um sorriso ridículo.
– Ela não é gata demais? – Gustav disse animado – Quando o Bill falava dela, achava que era como as outras...
– O que tem de errado com as outras? – alterei a voz.
– Qual é Bill, nem venha... As suas outras garotas eram... – Tom coçou a cabeça e fez uma careta.
Marianne não é minha garota. – os olhei e eles ficaram quietos – Ela é a garota do Alex...
Ficou um silêncio e pude notar que eles trocavam olhares entre si.
– Não estão com fome? – nós quatro demos um pulo coletivo quando escutamos a voz dela perguntar – Não querem uma pizza?
– Já pedimos. – falei abruptamente – Ela deve estar chegando...
– Gosta de quatro queijos? – Gustav perguntou.
Ela assentiu.
– Quer alguma coisa pra tomar? – perguntei me levantando rápido – Tem vinho se você não gostar de cerveja...
Marianne olhou para os meninos, que se viraram rápido para a televisão ligada, e veio em minha direção. Engoli em seco e senti os pêlos de minha nuca se arrepiar.
– Eu gosto de cerveja. – disse com a voz mansa, sorriu de canto e pegou a garrafa de minhas mãos, ainda mantendo um contato visual – Porque eu não gostaria?
– Você não parece gostar de bebidas assim... – respondi fraco.
Ela sorriu mais uma vez e bebeu do bico.
Tem coisas que você não sabe sobre mim.
Marianne me olhava fundo nos olhos. Eu podia jurar que se continuássemos mais dez segundos daquela forma, eu a beijaria sem pensar.
– A pizza chegou! – gritou Gustav hiperativo. E eu virei rápido. Eu estava prestes a fazer uma besteira das grandes. Ela era de Alex. A garota de Alex.
Fui até meu quarto, um tanto perturbado, e peguei o dinheiro do criado mudo. Paguei a pizza e servi. A noite andou calma e divertida. Marianne era incrível e os garotos a adoraram tanto quanto eu.
Já era tarde da noite quando ela me puxou para o canto da cozinha.
– Eu preciso te falar uma coisa... – mordeu o lábio, estava nervosa – Podemos conversar?
Olhei para os lados. Os meninos estavam rindo e cheirando a álcool, entretidos demais para se importarem com algo.
– Certo. – concordei meio vago – Tudo bem se conversarmos em meu quarto?
Marianne deu de ombros e me seguiu. Eu sentia seu cheiro de inocência e sedução dançar pelas minhas narinas. Eu a queria para mim.
Sentei na cama e continuei bebendo a garrafa de cerveja que segurava.
– O que foi? – perguntei a olhando fechar a porta.
Ela se balançou para os lados.
– Erm... – passou a mão pelo pescoço, nervosa, e fitou o rodapé - Eu descobri uma coisa há algum tempo... – pigarreou e alisou o vestido – Eu queria te contar, mas não sabia como. – se sentou com cautela na outra ponta da cama – Não sabia como você iria reagir.
– Reagir a que? – bebi mais um gole da cerveja – Aconteceu alguma coisa grave?
Ela me olhou com intensidade e logo abaixou os olhos. Respirou fundo e se sentou mais perto, encostando seu corpo no meu.
Mary? – engoli em seco.
Shiu. – colocou o dedo na frente de minha boca e aproximou seu rosto do meu – Eu queria fazer isso há algum tempo, Bill. Só me faltou coragem...
Minha respiração era pesada. Eu não sabia se eu estava delirando por causa da bebida, ou a bebida estava delirando por causa de mim.
Coragem para...? – foi então que Marianne encostou seus lábios nos meus, delicadamente. Os olhos dela se fecharam, mas os meus continuaram abertos.
Nossas bocas começaram a se movimentar em um ritmo cardíaco louco. Derrubei a garrafa que segurava e deitei Marianne na cama. As roupas pediam para saírem de nossos corpos e minhas mãos pediam para acariciar suas pernas.
Mary, Mary... – a chamei ofegante no meio de um beijo – Você quer fazer isso?
Olhamo-nos por um intervalo de tempo e ela assentiu lentamente.
– Ao contrário do que você pensa, eu não vou me arrepender disso, Bill. Jamais. – passou os dedos pela minha nuca e, calmamente, retornamos ao início de um fim de um romance platônico.

Postado por: Grasiele

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