sábado, 24 de novembro de 2012

Smooth Criminal - Capítulo 7 - Smooth Criminal


Era como estar me afogando em um oceano cada vez mais fundo. Quanto mais eu me esforçava a subir até a superfície, mas eu sentia como se algo me levasse sempre para baixo. Não havia nenhum sinal de luz ou oxigênio. Não havia frio nem calor. E embora eu parecesse estar me afogando, nada doía em mim. Meus pulmões lutavam pela busca de algo inexistente. Será que estou morto?
Minhas suspeitas foram desmentidas quando consegui finalmente abrir os olhos, e me encontrei de volta ao presente, sentado no sofá enquanto Annie me olhava preocupada, ajoelhada no chão a minha frente. A preocupação nos olhos dela era banhada por lágrimas que ainda não tinham sido escorridas.
Sentia meu coração tremer de agonia e o ar ainda parecia faltar em meu pulmões - embora aparentemente eu já parecesse ter chegado a tal superfície onde o oxigênio me aguardava.
Meu corpo congelou enquanto o peso da culpa, caindo sobre mim, fez com que ele se encolhesse, humilhantemente. Toda a frustração guardada dentro de mim transbordou, e vazou em lágrimas teimosas.
– Me perdoe... Me perdoe... – eu repetia entre os soluços.
– Está tudo bem agora. Você se lembrou. – Annie tentou me tranqüilizar me abraçando e fazendo com que eu levantasse a cabeça para encarar os olhos verdes.
– Eu matei você. Eu... Me perdoe... – continuava sem ter mais o conhecimento normal do sentido das palavras que eu mesmo pronunciava.
– Não há o que perdoar. Foi um erro que qualquer um poderia ter cometido. Não podemos mudar nada do passado. Mas eu estou aqui para mudar o presente. – Annie falava com convicção e clareza no tom de voz calmo – Bill, me escute, você tem que acordar agora.
– Acordar? – a surpresa em contraste com as lágrimas.
– Sim. Você pode acordar agora. Eu vou ficar bem, faça o mesmo. – a voz dela tomou um tom deprimente enquanto ela me abraçava mais forte.
Annie me encarou com os olhos verdes, o rosto a centímetros do meu. Ela não respirava mais, e os olhos perdiam, aos poucos, o brilho de antes.
– Por favor, não se esqueça nunca mais... – ela murmurou me presenteando com o sorriso infantil e tocando os lábios avermelhados nos meus pela ultima vez.
E, antes que eu pudesse prometer nunca mais esquecer, eu me encontrava novamente na escuridão do oceano que roubava o ar de meus pulmões.
Dessa fez eu não lutei para chegar à superfície. O desgosto apenas fez com que eu permanecesse ali por muito mais tempo do que da primeira vez. Estava já me acostumando com aquela condição de “quase morto” quando me lembrei...
Eu vou ficar bem, faça o mesmo.
Então meu corpo voltou à superfície...

Meus olhos se abriram devagar, tentando se acostumar com a luz do ambiente. Sol...
As paredes do quarto eram bege, muito claras, o que fazia com que a luz do sol – que entrava pelas enormes janelas de vidro – parecesse ainda mais forte. Eu estava deitado em uma cama no centro do quarto, lençóis da mesma cor das paredes me cobriam. Um bip em um aparelho marcava as batidas do meu coração. Meu corpo estava dormente, como se ele tivesse sido mantido na mesma posição durante dias. Minha cabeça doía um pouco e minha visão começava a se normalizar.
Finalmente a porta do quarto se abriu. Uma mulher loira de cabelos curtos segurou um grito de surpresa a me ver acordado.
– Bill... – ela se aproximou devagar, cautelosa.
– Mãe? – perguntei sem ter certeza, minha voz falhava um pouco e minha boca estava completamente seca.
– Mein Gott! – ela correu em minha direção, se debruçando para me abraçar.
Simone me largou do abraço, rindo e chorando ao mesmo tempo.
– Tom! Ele acordou! – ela gritou enquanto a porta do quarto se abria novamente e um menino de tranças negras entrava no mesmo, me olhando espantado. Meu reflexo no espelho...
– Bill! – Tom fez o mesmo que Simone antes, correndo e me abraçando, só que com menos cautela, o que vez meus músculos doerem por inteiro. – Ah, desculpa. – ele se desculpou sem graça ao ver minha cara de dor.
– Graças a Deus você acordou. – Simone falou enquanto apertava minha mão com força – Vá chamar o doutor, Tom.
Após bagunçar o meu cabelo sem jeito, Tom fez o que lhe pediram.
– O que aconteceu? – perguntei quando só restou eu e Simone no quarto de hospital bem iluminado.
O sorriso dela sumiu, dando lugar a frustração.
– Você levou um tiro. Graças a Deus não foi grave, a bala passou de raspão. – ela suspirou e se sentou na cadeira ao lado da cama onde eu estava – Mas, por um motivo que nenhum médico soube explicar, você ficou em coma.
– Coma... – murmurei me lembrando dos domingos repetidos que eu havia vivido – Quanto... Quanto tempo eu fiquei assim?
– Foi pouco. Menos do que todos esperava. – ela voltou a sorrir – Apenas cinco dias. Mas agora você parece ótimo. Infelizmente, não posso dizer o mesmo sobre Annie. Bill, ela...
E então Tom voltou ao quarto, seguido pelo médico.
Não era necessário que Simone terminasse a frase, para que eu soubesse o que havia acontecido. Annie está morta por minha causa...

Eu fiz todos os exames necessários e fiquei algum tempo em observação. Aparentemente, não havia nada de errado comigo, e eu pude voltar pra casa logo.
Todos me olhavam com pena, e isso fazia com que eu odiasse cada vez mais a mim mesmo. Se eles soubessem...

Mantive minha promessa, e nunca me esqueci. Nem poderia. Embora Annie estivesse morta para todos, ela parecia viver em minha mente todos os dias.
Eu queria gritar ao mundo o quanto eu era culpado em tudo o que acontecera. Livrar-me pelo menos de uma parte dessa culpa. Mas eu não conseguia.

Annie tinha razão. Não há nada que puna um homem mais cruelmente do que ele próprio. Minha mente é minha prisão. As lembranças, as grades que me mantêm preso no mesmo lugar, sem me conceder a liberdade jamais.
Esse é meu castigo eterno. A pena criminal concedida por mim mesmo.

Postado por: Grasiele | Fonte

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