quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Substituta - Capítulo 11


Assim que Tom deixou meu quarto eu pude voltar a respirar. Essa coisa de ser má não é comigo, mesmo quando se trata do traste do Tom. Visto que ainda estava na hora do café, me apressei para tomar um banho e descer para comer, não tinha colocado nada no estômago desde ontem à noite.

– Bom dia, meninos! – Saudei, com uma alegria desconhecida por mim.

– Só se for para você! – Georg retrucou, mal humorado.

– O que aconteceu para você falar assim? – Sentei-me a mesa, sem entender aonde ele queria chegar com aquela conversa.

– Eu tenho que sair, porque eu vou... Eu vou... Fazer alguma coisa! – Bill disse, afastando-se.

– Eu também vou com você! – Gustav o seguiu.

– Me esperem! – Jost praticamente saiu correndo.

– O que deu neles hoje? – Perguntei, passando manteiga no pão.

– O que deu em você, seria uma pergunta melhor! – Georg virou o corpo para mim, ficando completamente de frente.

– Do que está falando? – Dei uma mordida no pão esperando sua resposta.

– VOCÊ DORMIU COM O TOM! – Ele acusou, gritando comigo. Me engasguei, tossindo compulsivamente.

– Tá ficando maluco? – Joguei o pedaço restante de pão com força sobre a mesa.

– EU? – Ele voltou a gritar.

– Primeiro, para de gritar. Segundo, eu não dormi com ele, quer dizer, não literalmente! – Eu não tinha por que mentir, eu não tinha feito nada demais com Tom, apenas o havia ajudado.

– Como assim você não dormiu literalmente com ele? – Abri minha boca para me defender, mas a fechei novamente, ele não deixou. – Vocês fizeram o que tinham que fazer e depois ele foi embora? É isso que você quer dizer com não dormir literalmente? Porque pra mim dá no mesmo! – Ele levantou, exaltado.

– Não é nada disso, pare de me tratar como uma qualquer, você sabe que eu não faria isso! – Foi a minha vez de levantar, com raiva, muita raiva. Quem ele pensava que eu era? Uma vadia?

– Desculpa, Àlex, mas eu não confio no Tom. Acredite em mim, eu tenho motivos para isso! – Ele passou a mão pelo rosto. Eu sabia que ele detestava brigar comigo, mas eu não podia fazer nada.

– Ele estava muito mal ontem, ele estava suando frio e com febre, eu só o ajudei!

– Como? – Ele começou, visivelmente debochando de mim. – Colocando ele para dormir do seu lado na cama? Você, realmente, não acha isso muito conveniente?

– O que quer dizer com isso? Que o Tom armou o mal estar para dormir comigo? – Ele não podia estar falando sério. Eu vi, senti, Tom estava mesmo doente!

– Isso não me surpreenderia! – Ele comentou, esbanjando sarcasmo.

– Pra mim che... – Parei no meio da frase, eu não podia estar fantasiando, ele estava ali. – Andrew?– Ele sorria amargamente para mim, como quem não estava acreditando em nenhuma das palavras que eu disse. – Há quanto tempo está ai? – Perguntei baixinho, Georg parecia sem saber o que fazer.

– Tempo suficiente para escutar tudo que eu precisava saber! – Apesar de tudo ele parecia calmo, mas mesmo assim sustentando o sorriso triste. Ele se aproximou devagar.

– Você acredita em mim, não acredita? – Ele não me respondeu, ficou parado, com as mãos apoiadas no encosto da cadeira, olhando fixamente para mim.

– Sabe, da última vez que eu encontrei com o Tom disse à ele que me pagaria se chegasse perto de você! – Ele disse, sorrindo de lado e balançando a cabeça negativamente. – Mas eu não posso fazer nada se é você quem o deixa entrar na sua vida assim!

– Eu não deixei que ele entrasse na minha vida, Andrew, por favor! – Eu detestava quando as pessoas não acreditavam em mim. Senti meus olhos queimarem, mas me mantive forte, não choraria.

– Olha, Andrew, esquece o que eu disse e... – Georg tentou contornar a situação que ele mesmo havia me colocado, mas Andrew pediu que ele parasse com a mão.

– Eu não preciso que você explique nada, porque eu já ouvi tudo que eu tinha para ouvir. – Andrew virou-se para ir embora.

– Não, Andrew! – Chamei. Ele não poderia ir embora assim.

– Você ainda não percebeu Àlex, mas ainda não o esqueceu e nem parece disposta a fazer isso! – Dizendo isso, ele saiu, sem nem ao menos se importar com como eu estava me sentindo. Eu não pude conter as lágrimas.

– Àlex, eu sinto mui... – Georg começou, mas eu interrompi.

– Não chega perto de mim, Georg! – Decretei, correndo para o elevador e rezando para chegar logo ao meu andar.

– Ei, você está bem? – Tom perguntou, assim que eu me bati com ele quando sai do elevador.

– Me deixa sozinha, por favor! – E como uma criança eu sai correndo para meu quarto, deixando Tom para trás sem entender nada.

Tranquei-me no meu quarto e não pretendia sair dali tão cedo, até mesmo para o ensaio. Não me atreveria a ir atrás de Andrew agora, ele precisava de um tempo para pensar, assim como eu. Tudo bem que eu não havia sido sincera com Andrew algumas vezes, como quando Tom me beijava ou coisas do tipo, mas eu nunca o deixava passar daquilo, não era como se eu pudesse controlá-lo. Só que isso não significava que eu ainda sentia alguma coisa por Tom, quer dizer, pode ser que eu não o tenha esquecido completamente, mas eu não sinto a mesma coisa que sentia antes, Andrew tinha grande parte de meus melhores sentimentos. Eu entendia até certo ponto o desconforto dele ao saber que eu estava ao lado de Tom, também não ficaria tranqüila se soubesse que ele está do lado de uma garota promíscua, mas a minha confiança nele seria maior, com certeza. Georg não tinha ajudado em nada com aquele assunto mais que idiota, ele não poderia mesmo estar falando sério quando disse quando achava que eu tinha dormido com Tom. Ele melhor que ninguém sabia que eu não seria capaz de fazer isso com Andrew, não teria essa cara de pau toda.

– Àlex? – Ouvi Tom chamar do outro lado da porta. – Você está bem? – Seu tom era preocupado, quase podia ver sua testa franzida.

Fiquei calada, não estava com cabeça para conversar, precisava pensar, sozinha. A frase de Andrew ainda ecoava em minha mente.

– Você ainda não percebeu Àlex, mas ainda não o esqueceu e nem parece disposta a fazer isso!

Ele estava errado, só podia. Agora que minha vida tinha tomado um rumo, aparentemente, certo isso acontecia. Eu não gostava mais de Tom, não era mesmo? Odeio ficar em dúvida. O problema é que tudo que diz respeito a Tom me deixa confusa, sua palavra, seus atos, sua bipolaridade. Andrew havia me dado uma recarga de energia que era inexplicável, só o sorriso dele me deixava feliz, há tempos eu na me sentia viva como quando eu estava com ele. Mas, em contrapartida, sempre sentia que algo estava faltando, como se Andrew não fosse o suficiente. Quando eu estava com Andrew me permitia, mesmo que inconscientemente, pensar em Tom; só que quando estava com Tom, tudo a minha volta desaparecia. Isso não significava muita coisa, sim?
Tentei ligar para Andrew, pelo menos para ouvir sua voz, mas nada, ele não me atendia e depois da terceira chamada ele desligou o celular. Eu entendia, ele precisava pensar um pouco, não iria forçá-lo a falar comigo, sabia que ele estava chateado, se bem que não tinha motivos para isso, pois ele havia escutado só parte da história, mas o ser humano é assim, nunca quer esperar para ouvir tudo. Joguei o celular no criado-mudo e me deitei na cama. Eu não via a hora de poder resolver tudo aquilo.

[TOM’S P.O.V. ON]

Fiquei confuso ao ver Àlex passar por mim naquele estado, alguma coisa ruim deve ter acontecido, ela não era de chorar por nada. Ela não me entendeu quando eu fui falar com ela no quarto, preferi não insistir, talvez ela quisesse ficar sozinha e aposto que eu seria a última pessoa a qual era recorreria para conversar, ela tinha o priminho dela que sempre era o primeiro a ficar sabendo das coisas. Eu ainda queria conversar com ela sobre a noite passada, queria ter certeza que estava tudo bem entre nós dois. Gay, eu sei. Mas desde a conversa que eu tive com ela pela manhã eu fiquei ansioso para acertar as coisas, uma vontade estranha. Sabia que agora a possibilidade de nos acertarmos havia aumentado, apesar de ainda ter o Andrew no caminho, mas nada que eu não pudesse resolver.

– O que aconteceu com a Àlex? – Perguntei a Georg, ele virou o rosto, visivelmente incomodado por conversar comigo, mas a preocupação em seu rosto era evidente, tanto que derrubou seu orgulho.

– Ela estava muito mal? – Ele perguntou depois de alguns segundos em silencio, aposto que ponderando entre quebrar minha cara ou matar sua preocupação.

– Passou por mim chorando, bati na porta do quarto dela, mas ela não me respondeu nada, então a deixei sozinha! – Sentei-me na cadeira de frente para a dele. Georg passou as mãos fortemente pelo rosto. – O que a deixou assim?

– Você deveria saber! – Ele respondeu venenoso.

– Por quê? – Franzi a testa, sem entender o que ele quis dizer com aquilo.

– Não foi você que dormiu com ela? – Ele me lançou um olhar sarcástico. – E nem adianta vir com conversinha fiada dizendo que é mentira, porque eu sei que você passou a noite no quarto dela!

– Isso não quer dizer nada!

– Ah, claro! Você já conseguiu o que queria, não é mesmo?! Agora tanto faz! – Ele se levantou da cadeira, irritado.

– Calma, ai! – Levantei também. – Não aconteceu nada entre nós dois, Georg! – Ele pareceu não acreditar. – Se tivesse acontecido, hoje eu seria o cara mais feliz da face da terra, mas não aconteceu! – Ele sabia que eu não estava mentindo, me conhecia bem.

– Merda! – Xingou e saiu correndo em direção ao elevador, provavelmente indo até o quarto da Àlex.

Então era por isso que ela estava daquele jeito, porque o Georg desconfiou que nós houvéssemos transado? Qual é! E se tivéssemos, o que o Georg tinha a ver? Espero que ela não se afaste de mim por causa disso. É incrível, quando não é o Andrew para atrapalhar, era o Georg. Bando de desocupado!

[TOM’N P.O.V. OFF]

[GEORG’S P.O.V. ON]

Eu tinha feito uma cagada monstruosa. Eu tinha o dom de fazer isso, principalmente com as pessoas que eu mais gostava, como a Àlex. Logo ela que sempre me apoiou e ajudou em tudo, minha baixinha – sendo que hoje é mais quase mais alta que eu -, a irmã mais nova que meus pais não me deram. Eu merecia uma surra para aprender a não fazer mais isso com ela. Como eu pude duvidar de sua palavra? Logo ela que sempre confiou em mim, mesmo quando eu estava mentindo.

– Àlex! – Bati a porta três vezes, esperando que ela abrisse, o que não aconteceu. – Àlex, desculpa! – Ela não respondeu nada e eu comecei a ficar preocupado.

– Vai embora, Georg! – Ela falou de dentro da quarto, mas eu podia ouvir sua voz embargada.

– Só se você me desculpar! – Pedi, mas novamente ela ficou em silencio. – Ajudaria se eu dissesse que sou um idiota mau agradecido, que não sabe dar valor a prima maravilhosa que tem? – Disse manhoso, podia apostar que ela estava rindo lá dentro.

– Não vai adiantar essa conversa barata! – Sua voz tinha um toque divertido, como se ela segurasse o riso.

– Tudo bem! – Bufei derrotado, sabendo que fazer. – Eu fico te devendo mais uma Les Paul, assim está bom? – E o pior nessa promessa é que ela me cobraria mesmo, e lá se vai meu dinheirinho suado embora. Mas eu adorava ver o sorriso dela quando eu dava uma guitarra nova a ela. Ela abriu a porta do quarto, fingindo uma cara emburrada, mas prendendo a risada e me deu um soco no estômago.

– Isso é por você não ter acreditado em mim! – Depois sorriu largamente e se jogou em meu braços. – E isso é pela futura Les Paul!

– Onde você aprendeu a dar socos desse jeito? – Perguntei depois que me afastei de seus braços, passando a mãos pela barriga ainda dolorida por causa do soco forte que ela havia dado.

– Eu moro numa casa com dois garotos, você tem que aprender a dar socos! – Ela riu em seguida, sendo acompanhada por mim. É, as coisas não mudaram entre nós, nunca conseguíamos ficar mais de vinte minutos brigados.

– Desculpa por duvidar de você, Àlex, e se você quiser, eu posso conversar com o Andrew sobre o que eu disse e desmentir tudo! – Disse, rezando para que tudo fosse simples, como minhas palavras.

– Acho melhor deixá-lo pensar um pouquinho nas coisas, deve estar com a cabeça quente! – Seu olhar ficou triste e ela abaixou a cabeça.

– Desculpa por ter feito isso acontecer! – A puxei para mim, abraçando-a. Senti meu peito apertar por vê-la sofrendo daquele jeito e lembrei-me de como me senti ao ser ignorado por minha, agora, ex-namorada. E o pior de tudo é saber que a culpa foi minha por tocar naquele assunto que não era verdade.

[GEORG’S P.O.V. OFF]

[TOM’S P.O.V. ON]

Minha curiosidade não deixou que eu ficasse sem saber de toda a história. Subi logo após Georg, me escondendo em umas das esquinas do corredor, mas pude ouvir muito bem a conversa dos dois. Então quer dizer que o Andrew tinha ficado sabendo que eu passei a noite do quarto da Àlex e interpretou mal? Isso não poderia sair melhor. Okay, ver Àlex chorando por causa daquela ameba era muito ruim. Mas acredite em mim, era melhor vê-la chorando sem ele do que com ele. Acho que poderia aproveitar essa chance e aproximar-me mais ainda dela, principalmente agora que ela estava frágil e precisando de um ombro para chorar.

Postado por: Grasiele

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Arquivos do Blog