quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Substituta - Capítulo 17


The secret side of me
O lado secreto de mim,
I never let you see
Eu nunca te deixarei ver.
I keep it caged but I can't control it so stay away from me The beast
Eu mantenho ele enjaulado, mas eu não posso controlar, então se afaste de mim, a fera
Is ugly I feel the rage and I just can't hold it
É horrenda, eu sinto a raiva e eu não posso controlar.
– Porque você não deixa de ser tão idiota? – Ele voltou a encarar o espelho, analisando seu rosto.

– E porque você não responde olhando nos meus olhos? – Caminhei até ele e segurei seu braço. Tom encarou minha mão agarrada ao seu braço forte e depois me encarou.

– Porque não tem necessidade para isso. – Pegou minha mão e a tirou rudemente de seu braço.

– Tá vendo só? – O segui de volta para o quarto. – Você prometeu que estaria ao meu lado sempre, mas está me ignorando agora, como se eu não fosse importante. O que foi, Tom? Acha que seu brinquedinho aqui já perdeu a graça? – Dramatizei. Ele, que até então estava de costas, veio em minha direção e me segurou pela nuca, grudando nossos lábios numa colisão que me fez reclamar um pouco, mas logo a ardência provocada pelo choque foi substituído por a sensação que só o beijo dele podia causar. Segurei em seus ombros, sentindo que poderia cair a qualquer momento, tudo em volta parecia girar, minhas pernas ficaram fracas. Sob minha palma eu pude sentir seu corpo se arrepiar, eu não eu não era a única a sentir toda aquela loucura de sentimentos e sensações provocados pelo nosso contato. Suas mãos se apoderaram de minha cintura me puxando para perto, quase fundindo nossos corpos, tamanha a força que ele usara para me apertar. Ele foi chegando para trás, até cair sentado na cama e me puxar junto, fazendo-me sentar com as pernas ao redor de sua cintura. O beijo continuava sem parar, eu precisava de ar, mas me recusava a separar nossos lábios. Tom voltou a me abraçar pela cintura, passando sua mão por minhas costas, e se apoderando dos meus cabelos. Segurei suas tranças, sentindo seu piercing em um contato frenético contra minha boca. Nossas línguas eram velhas conhecidas, porém aquele beijo era diferente, queria me provar algo. Aos poucos a loucura daquele beijo foi cessando, o ritmo diminuiu drasticamente e eu, enfim, pude respirar. Ainda com as testas unidas, e nossos corpos em completo contato, se não fosse por nossas poucas roupas.

– Você não sabe de nada, Àlex. – Sussurrou de olhos fechados. – Você sempre será a única, não me leve a mal. Eu prometi que estaria ao seu lado, e não menti. Eu estou aqui, por mais que as vezes pareça que não. Eu só estou mal ainda, estou passando muito tempo sem nenhum álcool ou droga, isso me afeta, Àlex. – Segurei seu rosto.

– Se você quer ajuda, Tom, eu estou aqui. Se acha que não pode com isso sozinho, peça ajuda, você não precisa enfrentar isso por conta própria. Existem lugares...

– Não, isso não. Eu não vou para uma clínica, Àlex. – Seus olhos se arregalaram, e ele segurou meus braços.

– Tudo bem, Tom. Se você não quer, não precisa se preocupar, eu, o Jost, os meninos, principalmente o Bill, nós iremos te ajudar, é só você querer. – Ele negou com a cabeça.

– Eu consigo, Àlex. Está tudo bem, eu só preciso me controlar melhor. – Tom me abraçou, acariciando minhas costas, com a cabeça enterrada em meu pescoço. Passei a mão por suas tranças, não acreditando nem um pouco em nada que ele dizia, pra mim aquilo tudo só teria solução de ele aceitasse a ajuda de alguém. – Faz um favor pra mim? – Pediu, com aqueles olhinhos infantis que só ele sabe fazer. – Não conta pra ninguém o que está acontecendo, okay? – Fiquei pensativa, eu poderia ficar calada sabendo que ele precisava de ajuda?

– Eu só quero que você fique bem. – Beijei seus lábios e foi a minha vez de deitar a cabeça em seu ombro. Eu não tinha prometido nada, certo?

It's scratchin on the walls
Está arranhando as paredes
In the closet, in the halls
No armário, nas salas.
It comes awake and I can’t control it
Isso acorda e eu não consigo controlar.
Hidin under the bed
Escondendo debaixo da cama,
In my body, in my head
Em meu corpo, em minha cabeça.
Why won’t somebody come and save me from this make it end
Porque ninguém vem e me salva disso, fazer isso acabar?

***
Não tinha pregado os olhos a noite inteira, alguma coisa dentro de mim dizia que não era para acreditar que Tom conseguiria sair dessa sozinho. Eu queria contar para alguém, sabia muito bem quem, mas tinha medo que Tom ficasse magoado comigo por ter dito, quando na verdade ele não queria que ninguém soubesse. Fiquei nesse impasse até o sol aparecer tímido no céu, me fazendo perceber que já era hora de ir para meu quarto. Levantei da cama sem que Tom percebesse e saí do quarto. Andei na ponta dos pés, mas isso não impediu a colisão com alguém no meio do caminho.

– Carina? – O que a assistente da Ana estava fazendo no corredor do hotel àquela hora. Ela ficou sem graça ao me ver com uma camisola tão curta saindo do quarto do Tom. – O que faz aqui a essa hora?

– Eu tenho que acordar cedo para dar as instruções ao pessoal que vai retirar o palco do local do show. – Ela disse desconfortável, porém eu sabia que ela queria muito perguntar alguma coisa. – E você? – Eu estava ferrada.

– Ah... Eu... É... – Respirei fundo, antes de pensar em alguma coisa para dizer, mas nada me parecia realmente bom.

– Não precisa responder, eu estou sendo muito intrometida, se Ana descobrir que eu fiz essa pergunta nessa situação eu seria demitida. – Carina falou rápido, nervosa. Toquei seu braço.

– Calma, está tudo bem. É só que... Não conta pra ninguém que me viu sair do quarto do Tom, tudo bem? – Pedi, calma. Ela assentiu. Eu sabia que ela não contaria nada, mas eu precisava tomar cuidado, porque poderia ser Georg no lugar dela, e eu entraria numa fria.

– Não se preocupe com isso, eu sou um túmulo. Agora eu preciso ir. – A garota sorriu docemente e saiu em direção ao elevador.

Entrei em meu quarto com o coração a mil. Eu precisava ter mais cuidado daqui pra frente.

I feel it deep within
Eu sinto isso lá no fundo,
It's just beneath the skin
Está logo debaixo da pele
I must confess that I feel like a monster
Eu devo confessar que eu me sinto como um Monstro.

***
O horário do almoço tinha chegado rápido, eu em sequer estava com fome, por algum motivo. Mesmo com todos à mesa para comer, Tom ainda não havia descido, continuava em seu quarto alegando estar com dor de cabeça. Os outros não perceberam que aquilo não era uma coisa que Tom faria, só Bill estava pensativo, vez ou outra me olhava. Enquanto esperávamos a comida chegar a mesa, Bill me chamou para o bar, discretamente.

– Você percebeu, não foi? – Fui direta. Me sentei no banco alto no balcão.

– Ele anda esquisito antes mesmo de ir para Alemanha com você. Mas ele não conta nada, só disse que ele não anda bebendo nem usando nenhum tipo de droga. – Bill estava tão angustiado quanto eu, ele melhor que ninguém conhecia Tom e sabia que ele não estava bem. – Eu pesquisei sobre isso na internet. Isso se chama de Síndrome de Abstinência, e os sintomas são os mesmos do Tom: Irritabilidade, ansiedade, insônia, disforia, agitação. – Ele enumerou os sintomas com os dedos. - Enfim, tudo que ele anda apresentando. Eu não sou médico, mas sei que ele precisa de ajuda.

– Ele também me contou sobre não estar mais usando nada, isso me deixou feliz, mas eu não sabia que isso teria conseqüências.

– Preciso conversar com ele, Tom precisa de ajuda médica... – Interrompi Bill.

– Eu dei a ideia de uma clínica para ele, mas ele negou imediatamente. Eu não sei se conversar com ele seria uma boa ideia, Bill, o humor dele mudou repentinamente só de pensar nisso. – Coloquei a mão na cabeça e ficamos em silencio por alguns segundos.

– O que acha que devemos fazer? – Era muito ruim saber que nem mesmo Bill tinha ideia de como agir.

– Acho melhor ficarmos de olho nele, para que ele não faça nenhuma besteira. Já é ruim ele sem usar nada, usando será ainda pior. – Bill assentiu.

– Obrigada por ajudar, Àlex, é por isso que o Tom te ama tanto. – Ele piscou.

– Como assim? – Perguntei desentendida, e ele riu.

– Ele me falou sobre vocês. Eu sei que essa aproximação repentina dos dois não foi só por causa da banda. Só os outros mesmo para acreditar nisso. – Meu rosto estava vermelho, mesmo que eu não pudesse ver, mas a gargalhada do Bill me provou isso.

– Não conta pra ninguém, muito menos para o Georg, ele mataria o Tom. – Me deixei levar por Bill e ri também.

***
Passei a tarde fingindo ler um livro, enquanto os meninos, com exceção de Bill, se divertiam na piscina do hotel, aproveitando o clima quente. Vez ou outra eu olhava para a entrada da área externa, rezando para que Tom aparecesse pronto para tomar um refrescante banho de piscina, mas nada. Joguei o livro em cima da mesa ao meu lado e decidi ir até o quarto dele, mesmo Bill já tendo feito isso a menos de uma hora, muita coisa poderia acontecer e eu não queria arriscar. Segui para seu quarto, cumprimentando brevemente as pessoas que conhecia de vista. Bati a sua porta, tendo em mente meu plano de arrastá-lo até lá embaixo para se divertir um pouco. Após três pequenas batidas, um Tom visivelmente cansado abriu a porta.

– O que foi? – Perguntou mal humorado.

– Porque não desce para tomar pelo menos um soco comigo? Estão todos de divertindo lá embaixo! – Me encostei ao vão da porta, cruzando os braços esperando por sua resposta.

– Porque eu não estou a fim, okay? Será que você e o Bill podiam não vir me atormentar mais? Obrigada. – Ele estava pronto para bater a porta em minha cara, mas eu barrei.

– Está fazendo de novo! – Alertei, lembrando-o de nossa última conversa.

– Àlex, fica longe de mim se não quer que eu te ofenda. Eu preciso de um tempo sozinho, está bem? – Seu timbre era baixo, e ele não me encarava mais.

– Não, Tom! Eu não vou te deixar sozinho, quando vai entender isso? – Ralhei. – Você não pode ficar sozinho, precisa de ajuda, e se não quer ir para uma... Para um lugar que te ajude, deixe que, pelo menos, eu e Bill te ajudemos. – Sua expressão era derrotada, mas ele não desistia, eu podia ver a melancolia dentro de sua íris, agora não mais cintilante e cheia de vida.

– Eu não quero que você me ajude, não quero que ninguém me ajude, SÓ QUERO FICAR SOZINHO! – Com um grito ele bateu a porta tão fortemente que o estrondo ecoou por todo o corredor, chamando a atenção de qualquer um que estivesse por perto.

Ele precisava de ajuda.

[Tom’s P.O.V. ON]

Eu não queria tratar Àlex daquela forma, mas eu não podia deixá-la se aproximar e ver no que eu havia me tornado por causa de todas as besteiras que fiz. Eu não queria que ninguém visse no que eu tinha me tornado, nem eu mesmo aceitava, mas sabia que estava mal. Meu corpo tremia constantemente, era até vergonhoso, e a raiva repentina era terrível, mas nada de comparava aquela maldita necessidade de beber algo alcoólico, ou usar alguma substancia ilícita. Ultimamente eu me contentava somente com aspirinas, ou qualquer outro remédio que eu encontrasse por perto, mas não funcionava, o efeito era rápido demais e não me satisfazia por completo. Era um inferno. Não sei em que ponto da minha vida em pensei que tudo que tinha feito comigo mesmo seria a solução para alguma coisa. Todas aquelas conseqüências não valiam a pena. Eu queria poder estar junto com o pessoal, na piscina, tomando um refrigerante e conversando sobre qualquer besteira, ou tirando sarro do Georg. Mas nem mesmo isso eu fazia ultimamente. Era como se eu não conseguisse me concentrar em nada, tudo perdia o sentido rápido demais.

Eu só não podia fazer Àlex sofrer junto comigo, eu não podia ser egoísta.


[Tom’s P.O.V. OFF]


– Àlex, ele sumiu! – Bill despejou assim que eu abri a porta do meu quarto, quando já estava pronta para dormir.

– Como assim, sumiu? – Perguntei confusa. – Tem certeza que ele não está em algum lugar do hotel? – Me preocupei.

– Tenho. Pedi para os seguranças me ajudarem a procurar por ele por todo o hotel e ainda nas proximidades, mas nada. Jost e os caras já estão sabendo que ele sumiu, pensei que ele estivesse aqui com você. – Ele estava ofegante, e com uma expressão totalmente preocupada. – Estão todos lá embaixo reunidos, pensando no que fazer.

– Eu vou me vestir e já desço, okay? – Apressei-me em vestir uma roupa para encontrar os outros no saguão do hotel. Enquanto caminhava pelo corredor, passei em frente ao quarto de Tom, resolvi dar uma olhada, ver se encontrava alguma coisa que me desse uma pista de onde ele pudesse estar.

Adentrei o quarto e caminhei calmamente, observando tudo que podia, sem deixar nada escapar de meus olhos. O celular dele estava em cima do criado-mudo, algumas peças de roupas estavam espalhadas pela cama e a única luz provinha do abajur ao lado da cama. Era um pequeno caos. Em meio às roupas pude ver um papel, que parecia ser mais um anuncio. Peguei, sem nem me importar se eu não poderia ler, era tudo que eu precisava. O panfleto era de uma nova boate, e a inauguração seria exatamente naquela noite. Bingo. É claro que ele estaria lá. Eu só não entendia por que. Ele tinha me tratado mal naquela tarde, alegando querer ficar sozinho e de repente desaparece e vai à inauguração de uma boate? Minha cabeça rodava, era muita informação de uma só vez. Guardei o panfleto no bolso da minha jaqueta e segui para o elevador. Eu não avisaria aos meninos, queria resolver de uma vez por todas isso com Tom. Se ele não melhorasse eu, juntamente com os garotos iríamos dar um jeito nele. Ele podia temer o quanto fosse à reabilitação numa clinica, mas se ele estivesse nessa festa fazendo o que quer que fosse de errado, eu seria forçada a tomar medidas drásticas, mesmo contra sua vontade. Passei pelo saguão do hotel me escondendo o quanto pude, os meninos estavam dispersos demais para perceber minha passagem. Pedi um táxi ao chegar à porta e dei o endereço da tal boate. Minhas mãos suavam antes mesmo de chegar lá. Eu poderia estar surtando, Tom não estaria fazendo nada de mal, certo? Ele prometera que não faria mais nada desse tipo, e era o que eu esperava dele. Eu só estava com medo dele ter tido uma recaída. Não. Não era só isso. Eu tinha medo de encontrá-lo com alguma garota, reviver cenas de quando éramos adolescentes as quais eu preferia esquecer, mas não podia. Alguma coisa dentro de mim me fez voltar no tempo, quando eu estava sempre indo atrás dele, quando eu sempre ia atrás dele. Eu rezava dentro daquele táxi para que ele não estivesse fazendo nada para me magoar. Com Tom era sempre assim, você nunca estava cem por cento certa de que ele está somente com você. Eu confiava nele, claro, mas ele era assim, era seu jeito de ser, um jeito que eu não poderia mudar, talvez nunca.

– Senhorita? – O motorista chamou. – Chegamos. – Agradeci e paguei, saindo em seguida com certo temor.

O medo havia voltado. E agora não era o medo de perdê-lo, e sim, de não conseguir perdoá-lo. Meu corpo tremia minuciosamente, minha mandíbula estava travada de puro medo. Eu estava ficando louca, só podia. A música era muito alta, as luzes alcançavam até o lado de fora da boate, que tinha uma fachada bem iluminada e bonita. Dois seguranças protegiam a entrada, checando os convites. Droga. Eu não tinha um. Me aproximei, tateando os bolsos, checando se eu tinha algum dinheiro, o suficiente para suborná-los. Nada ético, eu sei. Sem graça, me aproximei do segurança da esquerda dando um sorriso amarelo. Ele, completamente mais alto que eu, arregalou os olhos, mas quem se assustou foi eu. Pensei naquele momento que ele fosse me matar, ou sei lá o que. Ele segurou o pequeno rádio localizado no lado esquerdo, no bolso de seu paletó. Paralisei.

– A substituta do guitarrista do Tokio Hotel, o que está presente hoje, está aqui, chefe. – Ele estava entusiasmado ou era impressão minha? – Deixo-a entrar?

– Claro, o que está esperando? – Ouvi uma voz grave vinda do rádio.

– Pode entrar, senhorita. – Ele sorriu, tocando minhas costas e me indicando a entrada. – Fique a vontade, esperamos que se divirta. – Sorri sem graça, não pensei que seria tão fácil entrar ali. É, essa era uma das vantagens de se estar, agora, famosa.

A boate estava cheia, pessoas dançavam por todo lugar, com ou sem bebidas na mão. Tentei focar em lugares mais privados, era sempre onde Tom estava. Peguei um copo com whisky com um dos garçons que passavam por ali. Engoli o liquido de vez, senti minha garganta reclamar e meus olhos lacrimejarem, mas não me importei. Segui pela boate, olhando cada rosto ali presente. O andar de baixo estava limpo, agora faltava o andar de cima. Respirei fundo e segurei o corrimão da escada fortemente, sentindo o estômago revirar de ansiedade. Após algumas pessoas esbarrarem em mim e xingar-me, percebei que estava parada no meio da escada. Respirei fundo e subi correndo as escadas.

Não devia ter feito isso.

Postado por: Grasiele

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