quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Substituta - Capítulo 21


– Andrew, quer me dizer pra onde está me levando? – Ele ainda continuava a segurar minha mão, guiando-me pelos corredores do lugar.

– Será que você não pode parar de ser curiosa? – Disse divertido, rolei os olhos e continuei a acompanhá-lo, sem ter escolha.

Ele parou em frente à porta de seu camarim e a abriu. Deixou que eu passasse primeiro e entrou atrás de mim. Olhei ao redor, era exatamente igual ao meu. Andrew foi até sua mochila, tirando de lá um papel. Sentei no pequeno sofá ali presente, esperando-o passar os olhos no papel, provavelmente verificando se era aquele mesmo. Andrew me encarou, mordeu o lábio inferior e estendeu o papel em minha direção. Peguei e comecei a ler o mesmo.

– Só pra explicar, essa música era para você ver a diferença de pensamento entre o Tom e eu. – Sua voz se reduziu a um sussurro. – Porque eu queria que você me escolhesse. – Sorri docemente com seu comentário e votei a ler sua música.

According to you
De acordo com você
I'm stupid,
Eu sou estúpida,
I'm useless,
Eu sou inútil,
I can't do anything right.
Eu não consigo fazer nada direito.(...)
But according to him
Mas de acordo com ele
I'm beautiful,
Eu sou linda,
Incredible,
Incrível,
He can't get me out of his head
Ele não consegue me tirar da cabeça.

Senti minhas bochechas corarem violentamente com a última linha. Deixei o papel sobre meu colo e olhei para Andrew, ele mantinha a cabeça baixa desde que eu tinha começado a ler. Respirei fundo, não sabia o que fazer, muito menos o que falar. No quesito ‘consolar pessoas’ eu era terrível.

– É perfeita. – Comentei. – E, bem, eu não sei o que falar. – Sorri, sem graça. Andrew me encarou, mas preferi que não o tivesse feito. Seus olhos me diziam tanto. Eu não tinha visto o quanto ele estava mal por tudo que tinha acontecido entre nós. Me senti culpada.

– Eu não quero que diga nada, Àlex. – Sorriu triste. – Só te mostrei essa música, por que... Porque ela é para você, mesmo não estando mais comigo, eu ainda penso da mesma forma. – Franzi o cenho.

– O que quer dizer com isso? – Perguntei confusa. Sua expressão era sarcástica.

– Você quer mesmo que eu responda? – Assenti. Ele suspirou. – Eu não acredito na reabilitação do Tom, não acredito que ele seja capaz de amar alguém que não seja ele mesmo, e finalmente, só acho que essa obsessão que ele tem por você vai acabar quando outra mulher o recusar, como você o recusou. – Suas palavras decididas fizeram um coração dar uma fisgada. De repente, aquele aperto que eu sentia sempre no peito estava de volta. Aquele aperto tinha nome: Dúvida. E se ele estivesse certo? E se Tom não estivesse mesmo apaixonado por mim como ele dizia? Ele já havia provado que sabia bem ser um ótimo ator. Um lado meu acreditava plenamente no que ele dizia, a outra, simplesmente ficava na dúvida a cada palavra dita por aquela voz rouca e grave.

– Andrew. – Comecei. – Eu sei que você pode não ser dar bem com o Tom e tudo mais, só que, por favor, não diga essas coisas se ainda quiser ser meu amigo. – Me levantei, certificando-me que meu tom estaria sendo sério o bastante para que ele entendesse.

– Eu sei. – Lamentou. – Mas eu também não posso mentir, e como seu amigo, devo abrir seus olhos, Àlex. – Ele tentou impedir que eu saísse, segurou meus ombros levemente. Seus olhos eram suplicantes, tentavam me fazer acreditar em suas palavras, mas eu não queria, não podia.

– Eu entendo que esteja preocupado, mas só vai conseguir me afastar se continuar a fazer isso. – Me afastei rumo à porta. O ar ali dentro estava me deixando sufocada.

**

– Que cara é essa? – Jude perguntou, impedindo que o sol batesse em meu rosto. Abri os olhos lentamente.

– A de sempre, por quê? – Tomei mais um gole da minha cerveja, deitada na cadeira na beira da piscina de casa, com meu mau-humor no nível máximo.

– Desculpa, senhora “estou-esperando-meu-namorado-gostoso-sair-da-rehab”. – Ela sentou ao meu lado, tomando a garrafa da minha mão e sorvendo um longo gole do líquido gelado. – Você precisa de sexo, sério! – Riu. Levantei somente para lhe lançar um olhar mortal. – Quem sabe o Andrew não possa te ajudar com esse probleminha? – Piscou maliciosa.

– Porque você não vai se ferrar, Jude? Sério, se mata! – Arranquei a garrafa da sua mão e segui para dentro de casa.

Era tudo que eu precisava, piadinhas sem graça logo quando eu estava, novamente, confusa. Joguei-me no sofá, com os pensamentos a mil. Não via logo a hora de Tom sair da maldita reabilitação, não via hora de conversarmos e colocarmos tudo em pratos limpos, eu queria parar de ficar com um pé atrás com ele o tempo todo. Bufei e me joguei no sofá, liguei a TV e engoli o resto da cerveja. Senti o lugar ao meu lado afundar, apontando que alguém havia sentado ali.

– Foi mal. – Jude disse, estendendo outra Heineken para mim. Peguei a garrafa, mas não a olhei. – Não devia ter dito aquilo, sei que está ainda está mal esperando o Tom sair da rehab. Mas eu pensei que tivesse superado esse lance com o Andrew. – Franziu o cenho quando a encarei.

– E superei. – Disse desanimada. – Só que ele ainda não superou. Tivemos uma conversa desagradável hoje sobre o Tom. – Ela murmurou um ‘ah’.

– Por isso o mal-humor? – Balancei a cabeça afirmando, enquanto virava mais uma vez a garrafa. – Que droga.

– Completamente. – Suspirei. – Agora eu tô com a mente a mil. Ele disse umas coisas sobre o Tom que me deixaram insegura.

– Ah, Àlex, é claro que ele diria isso, ele ainda gosta de você. Ninguém vai ser bom o suficiente. A não ser ele, claro. – Rimos. Jude estava certa, ele só estava preocupado comigo, não podia o culpar por isso, mas eu também não podia ficar duvidando do Tom. Bem, talvez só um pouquinho.

– Mas desde quando a senhora ‘eu-não-sou-de-ninguém’ é filosófica desse jeito pro lado do amor, huh? – A cutuquei e ela fez uma careta.

– Culpa do seu priminho! – Reclamou. Arregalei os olhos, quase cuspindo o líquido em minha boca. – Merda, falei demais! – Eu não agüentei e comecei a rir da cara enfezada que ela fez em seguida.

– Vocês dois estão no rala-e-rola, é? – Debochei. Era simplesmente hilário demais pensar nos dois juntos... Daquela forma.

– Cala a boca, Àlex. – Ela levantou rindo. – Vai ficar bêbada, vai, e me deixa em paz. – Caminhou até as escadas e foi para seu quarto, me deixando sozinha na sala.

**

Percebi que tinha que almoçar sozinha aquele dia. Mas graças a Deus, Bill havia me ligado para que eu fosse até sua casa para um almoço. Tratei de me vestir o mais rápido que pude, meu estômago roncava. Disse a Jude que iria sair e a deixei assistindo em seu quarto, não perdendo a chance de zoá-la mais um pouco com a história com o Georg. Rindo, fui até minha garagem e peguei meu carro, rumando até a casa de Bill, não era longe. Seria um pouco difícil entrar lá e não encontrar Tom, ainda era esquisito ver Bill sozinho por ai, sem a companhia do irmão gêmeo. Eles eram tão inseparáveis que me peguei pensando no quão ridícula eu era por achar que não agüentaria a saudades do Tom, Bill deveria estar pirando. Desliguei o rádio que tocava uma música qualquer assim que parei em frente à grande casa dos Kaulitz. Peguei minha bolsa e saí, acionando o alarme por precaução. Bati levemente três vezes na porta, esperando calmamente em frente a mesma, balançando o corpo suavemente só para passar o tempo.

– Àlex! – Bill me cumprimentou com um beijo na bochecha, abrindo espaço para que eu entrasse. – Que bom que veio mesmo.

– Era isso, ou comer macarrão instantâneo sozinha. – Comentei. – Além do mais, eu sei que o macarrão que você faz é divino. – Nossos sorrisos desapareceram por um instante.

– É, pena que o Tom não está aqui com o molho secreto dele, não é? – Sorriu tristemente.

– É melhor você aproveitar os dias de folga dele, hein, daqui a pouco ele tá por aqui enchendo teu saco novamente. – Brinquei, fazendo-o rir.

– Você tem razão. – Me puxou até a cozinha. – Tem alguém aqui que quer vê-la. – Não pude conter a surpresa ao chegar ao ambiente extremamente cheiroso e encontrar Simone Kaulitz cozinhando. Virei um pouco o rosto e sorri abertamente para Bill, Simone estava tão concentrada na comida que não tinha notado nossa presença.

– Assim eu vou ficar mal acostumada, olha só quanta comida! – Me aproximei dela, que estava compenetrada próxima do fogão. Virou-se para mim, sorrindo, como Bill, o sorriso era o mesmo, contagiante. Me abraçou tão apertado que eu me senti de volta a adolescência, aquilo era muito comum naquele tempo. Mas com o afastamento entre mim e Tom aquilo era uma cena rara demais para mim.

– Achei não viesse. – Comentou. – Fiz a salada de batatas que você tanto gosta. – Indicou a bandeja em cima da mesa decorada e minha boca encheu-se de água.

– Não precisava se incomodar, Simone. – Sorri sapeca. – Mas eu amo isso!

– Vou deixar vocês duas conversando, preciso ligar para outra pessoa. – Bill deixou a cozinha, animado como uma criança. É sempre assim. Sorrimos cúmplices, talvez estivéssemos tendo o mesmo pensamento.

– Senti falta de você, schatz. – Simone sentou, enquanto eu fazia o mesmo, só que no balcão de mármore. – Eu fiquei tão triste quando se separou do Tom. – Seu tom triste me partiu o coração, nós nem tínhamos conversado naquela época, foi tudo tão rápido que eu não tive tempo de dizer adeus antes de me mudar para Califórnia.

– Eu deveria ter conversado com você antes de vir para cá. – Suspirei. – Mas eu estava tão magoada, só quis deixar tudo pra trás. Não devia ter te deixado no meio daquela bagunça sem entender nada, Simone. Por isso eu peço desculpas, você sempre foi como uma mãe que eu sempre quis ter. – Ela deixou a cabeça cair um pouquinho para o lado, dando-lhe mais ainda um ar materno que eu amava.

– Bill me contou que vocês voltaram. – Ela sorriu. – Não sabe como eu contei os dias para isso. A cada dia eu pedia a Deus que abrisse a cabeça dura do Tom, que ele enxergasse que não podia existir outra garota a não ser você. A cada dia ele aparecia com cada uma. – Torcei os lábios em reprovação. – Tipicamente aquelas que fariam tudo por fama, e que conseguiam isso com ele. Eu nunca gostei de nenhuma.

– É a cara dele. – Lamentei.

– Claro que eu sabia que ele só fazia isso pra tentar achar uma melhor que você, Àlex. – A encarei. – Patético, eu sei, mas é só o Tom, não é? Aquele eu conheço há 22 anos. – Sorri sem graça, abaixando a cabeça. – Mas, de qualquer forma, obrigada. – Franzi o cenho.

– Pelo que exatamente? – Perguntei curiosa, analisando sua expressão.

– Por não ter desistido dele, schatz.

– Chegou quem faltava. – Olhamos para Bill parado no portal da cozinha ao lado de Ana, que sorria tímida.

– Que bom, então posso servir o almoço? – Simone levantou animada.

– Pode sim. – Bill beijou a testa da mãe e seguiu para pegar os pratos necessários, entregou alguns para Ana ajudá-lo e deixou a cozinha novamente para montar a mesa. Fui até Simone e a ajudei com as panelas.

– Eu nunca desistiria dele, Simone. – Declarei, antes de deixarmos a cozinha.

**

Depois do almoço, de muita conversa, e memórias, voltei a dirigir meu carro, mas dessa vez fui pra longe de casa. Liguei o rádio, [Soltei a música] o sol estava tímido no céu, abri a janela e deixei o vento bagunçar meus cabelos. Precisava arejar um pouco, respirar ar fresco e pensar um pouco sobre a vida, sozinha. Tinha me divertido tanto com aquele almoço, me fez sentir em casa depois de tantos anos. Aquele tempo conversando sobre o passado me fizeram pensar no futuro, inevitavelmente. Tom sairia da clínica, nós conversaríamos e provavelmente nos entenderíamos. Mil possibilidades passavam por minha cabeça. Eu sabia que o amava, queria ficar com ele, e pelo que ele havia demonstrado, parecia querer o mesmo que eu. Então porque eu tinha medo o futuro? Ele parecia ser tão bom! Mas para descobrir eu teria que me arriscar. Teria que me jogar de cabeça nessa história de amor, nessa história de amar Tom. Seria intenso, disso eu tinha certeza. Pra qualquer outra garota poderia não passar somente de uma noite, era assim que ele as tratava, eu já tinha passado por isso. Mas tudo que ele fazia, de um simples sorriso a um beijo, me deixava tonta. Eu tinha enfrentado tantas por ele, ele tinha mesmo ficado do meu lado. Nós tínhamos história para contar, muitas na verdade, e teríamos muitas ainda a viver. Só tínhamos que parar de viver como duas crianças assustadas, com medo de todo aquele sentimento, de tudo que o futuro nos reservava. Ele era traumatizado e eu também, tínhamos feridas ainda abertas. A separação de seus pais, o abuso do meu padrasto, tudo aquilo influenciava no que nós éramos, toda nossa personalidade era baseada naquilo. Eu estava disposta a superar se ele ficasse ao meu lado, e ele poderia ter certeza que eu o ajudaria também. Eu nunca sequer havia pensado em um final feliz, isso não era verdade. Mas poderíamos pelo menos ter uma vida legal, realizar nossos sonhos, idealizar outros. Continuei dirigindo pela cidade, observando as pessoas ali, tão felizes, pareciam completas. Me perguntei por quanto tempo eu pensei que poderia ignorar o fato de amar Tom de verdade. Eu fugi, ele veio atrás de mim. E no fundo eu havia adorado aquilo, tê-lo perto novamente, poder pelo menos ver seu sorriso de longe já era o suficiente para mim. Um sorriso singelo surgiu no canto de minha boca. Eu o queria agora comigo, a saudade estava me afogando aos poucos, ia fazer uma semana que eu o havia visitado, mas depois de tê-lo visto de novo eu me tornei uma fraca. Tinha conseguido controlar todo o sentimento por ele nos meses que estava finalizando a turnê com o Tokio, mas agora eu me sentia tão dependente de novo que chegava a ser patético. Eu só queria vê-lo mais uma vez, sabia que ele não iria demora de se livrar daquela clínica, ele era forte, nunca duvidei. Só mais uma vez.

Just hold me
Simplesmente me abrace
Closer, baby
Junto de você, baby
And make me
E me faça
Crazy for you
Louca por você
Crazy for you
Louca por você

Aquele refrão me fez ter uma súbita corrente de adrenalina. Eu iria visitar Tom novamente. Eu queria. Eu precisava.

Postado por: Grasiele

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