quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Substituta - Capítulo 19


– Eu queria agradecer a dedicação de vocês a essa turnê, principalmente a você, Àlex. – Josh levantou a taça de champanhe em minha direção. Repeti seu gesto sorrindo. – Salvou nossas vidas... E a de Tom também. – Senti Bill apertar meu braço assim que abaixei minha cabeça, sorrindo minimamente.

Me perdi no meio daquele discurso. Não parecia que 6 meses haviam se passado. Foi tanta loucura, tantas decepções, alegrias, e no final, só mais decepção, dessa vez, comigo mesma. Eu não acreditava que uma pessoa pudesse viver como um zumbi, até isso acontecer a mim. Os últimos 3 meses haviam sido... Monótonos. Estava tão mal que às vezes eu me pegava ansiosa, imaginando que Tom estaria ali, nem que fosse só para brigar comigo, ou para me ignorar. Nada conseguia chamar minha atenção, nada era engraçado, nada se comparava a ele. Às vezes a vontade de dar um tiro na minha própria cabeça era mais forte, pena que eu não tinha uma arma. Meu próprio subconsciente me traía. Eu prometia não pensar mais nele e me focar na minha carreira, mas tudo parecia estar ligado a ele; as músicas, as pessoas, os momentos, os lugares, tudo. Talvez o problema estivesse comigo, talvez eu não conseguisse tirar ele da cabeça. Eu achava que precisava mais estar naquela clínica do que ele. Eu precisava me desintoxicar de Tom. Eu não podia ser tão vulnerável a uma pessoa desse jeito, era ridículo. Aquilo só podia ser uma obsessão. Se eu estava acordada eu pensava nele, se estava dormindo eu sonhava com ele. Era inevitável não me perder em lembranças e sentir o perfume dele por perto. Colocava minhas roupas para lavar milhões de vezes, pra mim, aquela roupa estava completamente impregnada com seu cheiro. No fundo eu sabia que não iria adiantar, visto que eu não poderia excluí-lo da minha vida de uma hora para outra, sendo que passamos a maior parte da nossa vida juntos, embora não tanto fisicamente.

– Àlex? – Gustav tocou meu ombro. – Está tarde, todos estão subindo para dormir. Vai ficar aqui sozinha? – Encarei seus olhos doces, sorrindo em seguida.

– Eu vou subir também. – Levantei-me e ele me esperou. Fomos juntos, em silêncio, até o elevador.

– Você está com saudade dele, não é mesmo? – Perguntou calmamente.

– Do que está falando? – Me fiz de desentendida.

– Eu sei que você se fez de durona quando ele foi pra clínica só pra não parecer fraca na frente da gente. Mas quer saber? Nesses últimos meses que ele não esteve aqui, você estava perdida. Dava pra ver escrito na sua testa. – Gustav não me encarava, e eu agradeci por isso. Ele estava certo, eu estava perdida, essa era a palavra certa.

– Alguém mais percebeu isso? – Perguntei divertida.

– Na verdade... Todo mundo. – Sorriu. – Mas não se preocupe, ninguém vai te julgar por isso. Todo mundo sabe que vocês se pertencem.


Aquelas palavras haviam me deixado perturbada, devo confessar. Eu sei que Gustav tinha dito aquilo na maior inocência possível, porém, eu não conseguia acreditar... Eu não queria acreditar. Eu queria poder pensar um pouquinho só em mim mesma. Como uma pessoa só, não como eu e Tom, não, nada disso.

Todo mundo sabe que vocês se pertencem.

Eu não entendia como uma simples frase mexia tanto comigo. Era meio perturbador saber que as pessoas pensavam desse jeito, quando eu estava desesperadamente tentando esquecê-lo. Não era animador. E como um disco arranhado, a frase dita tão naturalmente por Gustav me perseguiu a noite inteira.

***

– Uma turnê mundial, tem noção? – Jost comentava empolgado. – Eu cheguei a pensar que não conseguiríamos terminá-la... Você sabe por quê. – Disse a última parte mais baixo para que eu não escutasse. Eu encarava a janela do avião, vendo sol fraco se pondo. Hoje eles estavam demais. Sempre que tocavam no assunto Tom ficavam cochichando para que eu não ouvisse, o que evidentemente, não funcionava.

Estava mas calada que o normal. Isso ao era uma coisa muito comum para mim. De repente, eu me peguei pensando em versos, os quais eu poderia muito bem usar em uma música. Levantei a cabeça rapidamente, fazendo Bill e Jost, que estavam ao meu lado no avião, se assustarem um pouco.

– Alguém tem papel e caneta, ou, sei lá, um notebook? – Os dois se olharam, ainda tentando entender alguma coisa da minha mudança repentina de humor. – Vocês tem? – Perguntei novamente. Eles se moveram, parecendo procurar. Bill foi o primeiro a tirar da bagagem de mão um caderninho e uma caneta.

– Sempre levo para o caso de surgir uma inspiração. – Sorriu, me entregando o caderninho. Agradeci e pus-me a escrever, concentrada.

Bill e Jost evitaram ficar encarando o que eu fazia, o que foi de grande ajuda, não gostava muito de atenção quando eu estava em meu momento de inspiração. Escrevia tão rápido, rabiscava tanto o papel, que meus dedos começaram a doer um pouco, mas eu não estava nem perto de terminar. Eu tina tanto pra falar naquela música que eu nem mesmo sabia por onde começar. Saí escrevendo tudo que passava por minha cabeça, depois resolveria como colocar na ordem certa. Certamente eu não parecia uma pessoa normal, murmurava palavras, ouvia como elas soavam, tentava formar em minha cabeça um ritmo legal. Eu precisava escrever aquela música, as palavras estavam entaladas em minha garganta, sentia como se estivesse tirano um peso de minhas costas. Era uma sensação boa, a qual eu não sentia há um bom tempo. Nem sei quanto tempo, afinal, eu levei para terminar de escrevê-la, mas o sentimento de dever cumprido valeu à pena.

***

Ao ser deixada por um motorista contratado pela banda em frente a minha casa, eu nem reconhecia mais minha vida. Podia ver cinco paparazzis tirando fotos quase em cima de mim, fora os que estavam de longe. Sorri minimamente, e adentrei a casa, ouvindo tudo silencioso demais. Coloquei as malas ao lado da porta e tirei o leve casaco que usava, podendo respirar fundo e dizer: Lar, doce lar. Joguei-me no sofá, fechando levemente os olhos, sentindo falta dos outros três, mas, pelo silêncio, não devim estar ali.

– SURPRESA. – Ouvi duas vozes conhecidas gritarem perto de mim, assoprando pequenas cornetas em seguida. Abri os olhos já sorrindo, vendo Jude e Peter com chapeuzinhos de aniversário nas cabeças. Jude se jogou em cima de mim no sofá, fazendo-me dar um pequeno grito, logo depois rindo.

– Promete que não vai mais deixar a gente por tanto tempo? – Peter pediu sentado ao meu lado, fazendo bico. Apertei suas bochechas e sorri docemente.

– Tudo conspira para que nós não fiquemos separados, pelo contrário. – Expliquei, vendo os olhos dos dois brilharem.

– Quase não acreditamos que conseguimos um contrato. – Jude comentou, enquanto Peter assentia confirmando.

– E como você acha que eu fiquei? – Olhei por cima do ombro de Jude, avistando Andrew encostado a parede, nos observando calado. Tentei sorrir, mas eu não sabia como agir ainda. Era a primeira vez que eu estava cara a cara com ele e estava nervosa. Tudo bem que nós nos resolvemos, mas as coisas já pareciam estranhas. – Andrew. – Chamei. Ele sacudiu a cabeça, parecendo acordar de um transe. Sorriu de lado e se aproximou, sentando ao lado de Jude.

– Eles queriam fazer uma festa surpresa. – Balançou a cabeça negativamente e sorriu minimamente. – Mas você conhece esse dois, não seria uma festa, e sim, a terceira guerra mundial. – Jude rolou os olhos.

– Ele não deixou que fizéssemos uma festa porque ficou cheio de preocupação. Disse que você deveria estar cansada e não queria uma recepção muito barulhenta. – Sorri em agradecimento para ele. Algumas coisas nunca mudariam.

– Andrew está certo. Eu estou morta. – Me remexi no sofá, deixando meu corpo mais caído ainda sobre ele.

– Mas eu quero saber de tudo que aconteceu. Nós precisamos estar preparados, sabe? Daqui a algum tempo, seremos nós que estaremos em turnê. – Disse Jude divertida, levantou-se e caminhou até a cozinha.

– Prometo contar tudo pra vocês, mas antes, quero tomar um banho e descansar um pouco. – Repeti o ato de Jude e segui para meu quarto.

Visto que já era noite, e eu estava com o corpo pedindo por descanso, vesti minha camisola e sentei em minha cama, checando minhas mensagens, já que meu celular havia sido esquecido por mim desligado desde o vôo. Uma mensagem de voz de Ana, perguntado se eu havia chegado bem. Mandei uma mensagem rápida para ela, para que não ficasse preocupada. Me joguei de costas na cama, sentindo a coluna doer um pouco por todas as noites mal dormidas.

– Eu sei que você está cansada e acabou de chegar de viagem, mas será que poderíamos conversar? – Andrew perguntou na porta do meu quarto. – Será rápido, prometo. – Como alguém poderia dizer não aquele rostinho inocente? Sorri e pedi para que ele entrasse. Cobri minhas pernas com o edredom e Andrew sentou-se ao meu lado.

– Eu nem sei por onde começar. – Admiti, respirando fundo.

– Eu também não. – Ele riu. – E olhe que eu treinei essa conversa durante todo o tempo que você esteve fora. Mas é tão difícil ter que falar tudo assim.

– Acho que eu devo começar. – Quebrei o silêncio. – Já faz tempo desde a última vez que conversamos. As coisas ainda continuam as mesmas, eu não menti em nada que eu disse.

– Eu acredito em vocês, Àlex. De verdade. É só que... – Andrew parou de me encarar, olhando para o outro lado, parecendo calcular suas palavras. – Eu entendo que você esteja com o Tom, ou sei lá, acho que agora não está mais. – Assenti– Só que não é fácil pra mim te esquecer. Não me leve a mal, eu tentei. Juro. E continuo tentando. Tentei com outras pessoas. Foi aí que eu percebi o que você está passando. Você pode tentar dizer que não, que todos a sua volta estão enganados, eu digo isso o tempo inteiro também, mas uma coisa que você não pode é enganar a si mesma. Sabe por quê? Porque você sente isso. Você não pode esconder isso de si mesma... Dos outros, talvez, mas não de você, Àlex. – Pela primeira vez na minha vida alguém entendia o que estava passando. Eu não fiquei feliz em saber que eu era o motivo pelo qual Andrew estava assim. Ele não era o mesmo, eu tinha que admitir. O brilho constante no olhar dele não estava mais ali. Meus olhos se encheram de lágrimas. Eu não fazia o tipo de garota fraca, mas eu precisava chorar um pouco, me livrar daquele nó em minha garganta. Abracei Andrew rapidamente, sem deixar outra opção a ele, a não ser me abraçar de volta.

– Porque não podia ser simples? Porque eu não posso estar apaixonada por você e sim pelo Tom? – Perguntei como uma criança curiosa, me sentindo idiota logo após.

– As melhores coisas nunca são fáceis, Àlex. E se for fácil, desconfie. – Ele riu baixinho. – Minha avó que disse. Isso faz de mim uma pessoa careta? – Ri, mesmo em meio a lágrimas.

– Nada nunca vai te fazer careta, Andrew. Nada. – E foi ali que eu adormeci. Nos braços de um dos caras que eu mais adorava.

***

Depois de alguns dias da minha chegada, já estávamos em estúdio compondo, gravando algumas músicas já prontas, aperfeiçoando-as, e principalmente, aprendendo. Tudo era conhecido por nós, mas ao mesmo tempo era novo. Sem contar o assédio da mídia. Eu ainda não tinha aprendido a lidar com isso. Eles eram perigosos, e a menor palavra que você falasse gerava uma polêmica sem tamanho. Apesar de eles ajudarem com o processo de tornar a banda mais conhecida, tudo poderia ser destruído por eles mesmo em questão de segundos. É como dizem, todo céu tem um pouco de inferno. E eu estava provando um pouco do meu. Era impossível me livrar de comentários maldosos dos tablóides, sobre eu ter usado Tom como alavanca para o sucesso da minha banda. E o pior é que nada que eu dissesse me livraria disso, as pessoas acreditavam demais neles, e é claro que isso só fazia com que os fãs do Tokio Hotel ficassem com mais raiva de mim.

– Amanhã será lançado o primeiro single. Empolgados? – Ana perguntou, já sabendo de cor e salteado a resposta. Ela riu do burburinho animado que se instalou no estúdio. – Era o que eu imaginava. – Além de estar animada, eu estava ansiosa também. Depois da conversa com Andrew, eu percebi que não poderia ficar fugindo de Tom para sempre. Era como Andrew havia dito.

As melhores coisas nunca são fáceis

Apesar de pensar muito sobre o assunto, percebi que mais cedo ou mais tarde Tom sairia daquela clínica. Minhas visitas aos meninos agora eram freqüentes, e além do mais, estávamos morando na mesma cidade, uma hora ou outra nós toparíamos um com o outro. Eu nem sequer tinha mandado um cartão confirmando estar viva para ele, somente o ignorei esse tempo todo. Tom podia ter agido como um idiota e não merecer nem sequer um olhar meu, mas eu era apaixonada por ele, então, para que me enganar? Grande parte dos problemas dele tinha haver com drogas e bebidas, e com ele na clínica isso poderia ser resolvido. Em uma conversa com Bill alguns dias antes, ele deixou claro nas entrelinhas que sabia que Tom não se esforçaria para ficar melhor se eu continuasse o ignorando desse jeito. Como tirar a razão das palavras de Bill? Eu estava agindo como uma criança assustada, embora eu ainda estivesse assustada depois de constatar que eu sentia mesmo algo forte por Tom, que o amava. Mas isso não era motivo para me afastar, eu estava sendo egoísta no momento que ele mais precisava de mim, e se eu o amasse de verdade ficaria ao lado dele, mesmo que não da maneira que eu queira.

– Será que eu poderia sair agora que terminamos? – Perguntei, já com a bolsa em meu ombro. – É que eu tenho um compromisso agora. – Ninguém ali sabia da minha visitinha a Tom, embora eu desconfiasse que eles tivessem captado alguma coisa por meu nervosismo.

– É, pode sim. – Disse Caleb, nosso produtor. Acenei com a cabeça antes de deixar o estúdio e ir até Tom.

[Tom’s P.O.V. ON] - No dia anterior, à noite.

Meus pensamentos estavam a mil. Nenhum dia dentro daquela clínica havia sido tão turbulento para mim. Eu não estava bem antes, e depois da notícia de que Àlex viria me visitar, tudo tinha piorado. De repente uma ansiedade me atingiu, fazendo-me querer alguma coisa para beber, ou um cigarro, qualquer coisa. E, bem, eu não conseguiria nada disso por aqui. Nem mesmo jogando charme para a enfermeira gostosa que estava deitada em meu peito naquele momento. Ela era ingênua, bonita, e estava na minha... Fazer o que? Eu sou homem e ninguém pode me culpar. Pelo menos uma distração no meio daquilo tudo. Porém, nem mesmo quando eu estava com ele as coisas pareciam melhores. Era tudo sobre Àlex o tempo inteiro. Eu queria melhorar por causa dela, queria sair dali por causa dela, e o mais importante, eu a queira. E depois de tanto tempo sem dar notícias, a mulher da recepção apenas chega e me diz que ela viria me visitar no outro dia? Como ela podia bagunçar as coisas tão rapidamente desse jeito? Ela tinha um poder tão sobrenatural sobre mim que era até desconcertante falar sobre isso, eu, Tom Kaulitz deixando uma baixinha daquelas fazer um estrago tão grande.

– Tom? – Carla, a enfermeira, chamou. – Eu estava falando com você. – Reclamou, logo abrindo um sorriso malicioso. – Você está tão aéreo, e ainda me parece tenso. – Sorriu de lado. Tudo bem, eu retiro a parte do ingênua. Ela passou as unhas por meu peito, mas eu segurei seu pulso.

– Será que você poderia sair agora? – Tentei me manter calmo, ela não tinha nada haver com o meu mal humor repentino. – Eu tenho que acordar cedo amanhã e não quero ficar com sono o resto do dia.

– Você nunca reclamou antes. – Protestou.

– É, mas agora eu estou reclamando. – Levantei, indo para o banheiro.

– Isso tudo por causa da visita da dona golpista amanhã. – Fechei minhas mãos em punho, tentando me controlar. – Aposto que ela vem aqui só para tripudiar em cima de você.

– O que? – Me virei para ela, já não suportando ouvir sua voz.

– Soube que a banda dela lança um single depois de amanhã. E ela está fazendo sucesso, e, bem, o Tokio Hotel está fora da mídia há um bom tempo, gatinho. – O descaso em sua voz era evidente, aposto que ela estava dizendo aquilo para me fazer ter raiva da Àlex.

– Escuta aqui. – Apontei o dedo para seu rosto, vendo-a arregalar os olhos. – Você não conhece a Àlex, portanto, feche a porra dessa boca, antes que eu faça você ser demitida, vadia. – Disse, com todo o ódio reprimido dentro de mim.

– Você não me achava vadia quando me levou pra cama seguidas vezes. – Deu um sorriso vitorioso, mas não mais que o meu.

– Aí é que se engana. – Me aproximei. – Eu te levei pra cama justamente por isso. Você e todas as outras, porque só há uma mulher diferente de todas vocês. E ela virá aqui amanhã. – Passei por ela, vendo sua expressão indignada. – É melhor você ir embora logo, eu quero dormir em paz. – Declarei, me jogando na cama de qualquer jeito.

Eu mal podia esperar por amanhã.

Postado por: Grasiele

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