quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Substituta - Capítulo 15


– Não, meu pai não! – Tomei o celular da mão de Tom e disquei o número de minha mãe.

Ela tinha voltado para a Alemanha com meu padrasto, aquele desgraçado, e meu pai também, há dois anos. Eu achei uma péssima ideia, da parte de meu pai claro, já que eu não tinha a melhor relação com minha mãe.

– Mãe! – Não esperei nem mesmo que ela dissesse nada. – Como o papai está? – Meus olhos arderam como nunca antes, minha garganta parecia estar fechada, até respirar doía.

– Filha, eu senti...

– Como. está. o. papai? – A interrompi, respirando fundo para não deixar nenhuma lágrima escapar. Eu não tinha tempo pra conversas mentirosas com minha mãe, a razão de estarmos conversando era meu pai, e só.

– Eu não sei exatamente. – Sua voz tinha um tom triste, parecia que se importava. Como eu disse, só parecia. – Eu estive no hospital assim que me avisaram, mas pelo que eu soube, ele estava em cirurgia. Marcos não queria que eu ficasse muito tempo lá, então eu voltei pra casa! – Assim que eu ouvi ela falar sobre Marcos, meu padrasto, todo o ódio reprimido pareceu não caber mais dentro de mim.

– COMO ASSIM VOCÊ FOI EMBORA POR CAUSA DO MERDA DO MARCOS? E SE MEU PAI... – Eu não queria nem mesmo pensar na possibilidade de meu pai morrer. Isso me fez não agüentar mais e chorar. – E se meu pai precisar de alguém? – Tom levantou, abraçando-me de lado. Com a mão livre agarrei sua camisa, talvez para não cair.

– Entendo que você esteja com raiva, querida, mas não pode descontar no Marcos por causa de suas birras? – Suas palavras indignadas me deixaram com o triplo da raiva que sentia antes.

­- Não posso descontar no Marcos? – Disse sarcasticamente. – Se você quer considerar como birra o fato dele ter abusado de mim quando eu era uma criança, tudo bem. Só não me pergunte por que eu me afastei de você. Que eu saiba as mães tem o dever de proteger seus filhos e não chamá-los de mentirosos! – Desliguei sem obter resposta, o problema é que eu não precisava de uma, sabia que minha mãe sempre defenderia Marcos, não importa o que eu fizesse ou dissesse.

­- O que você acabou de dizer? – Senti Tom tremer sob minha mão. Eu não conseguia encará-lo, era humilhação demais para mim. Eu nunca havia contado isso para ninguém, além da minha mãe e do meu pai, que ficara tão transtornado a ponto de bater tanto em Marcos e deixá-lo dias no hospital, ainda jurando-o de morte caso chegasse perto de mim novamente. Nunca tive provas contra Marcos por não contar nada antes, e além do mais, ele não havia feito nada que comprovasse isso, além, é claro, de me deixar traumatizada.

– Foi exatamente o que você ouviu! – Continuei olhando para o chão, envergonhada. Tom saiu de perto de mim do mesmo instante, socando a primeira mesa que viu pela frente. Me sobressaltei com o barulho, chorando baixinho. Eu sabia que essa hora iria chegar.

– Não acredito nisso! – Ouvi seu resmungo baixo.

– Preciso ir para o hotel. – Me desencostei da mesa e segui para a porta, não me importando se o show ainda não tinha acabado, nem me lembraria mais disso se não fosse pelo som extremamente alto. Tom agarrou meu braço, sem exercer força sobre o mesmo.

– Não, Àlex. Vamos conversar. – Seu tom sério fez meu coração palpitar. Essa era a hora que nos separaríamos de novo. Eu podia sentir.

– Pra que conversar Tom? – Senti o toque de sua mão em meu queixo de forma terna, delicada. Olhar em seus olhos foi inevitável depois de tal gesto.

– Eu quero te ajudar, não sei como, mas quero. – No fundo de sua íris castanha pude ver a pena que sentia de mim. A vontade de desmoronar nunca me pareceu tão convidativa. Segurei o choro, fechando os olhos fortemente, sendo falha ao deixar cair uma lágrima.

– Não tenha pena de mim, por favor. – Implorei. – Eu preciso ser forte agora, pelo meu pai. – Abri os olhos e me deparei com um par de olhos castanhos cheios d’água. Tom me puxou, abraçando-me fortemente, apoiando o queixo em minha cabeça. O agarrei como se dependesse daquele abraço para sobreviver. Talvez dependesse mesmo.

– Vamos pra Alemanha agora! – Sua voz embargada, porém firme, soou como músicas para meus ouvidos.

***

[Ana’s P.O.V. ON]

– O pai dela o que? – Só podia ser uma tremenda brincadeira de alguém muito sem graça. Aquilo não podia acontecer. Não agora. – Tudo bem, Tom, eu vou dar um jeito nisso! – Desliguei o celular e me virei para Jost.

– Que cara é essa, Ana? – Jost arregalou um pouco os olhos por causa da provável cara de nada que eu estava.

– O pai da Àlex sofreu um acidente grave, o Tom vai pra Alemanha com ela. – Eu teria rido da expressão assustada de Jost, se a situação não fosse bastante delicada. – Agora, Jost. – Me irritei devido a sua lentidão para processar os acontecimentos.

– Como assim, agora? Ele não pode fazer isso, ele tá ficando maluco? E a Àlex, meu Deus! – É, parecia que ele tinha entendido o que estava acontecendo. – Meu Deus, a turnê! – Colocou as mãos na cabeça, já começando a ficar desesperado.

– Acho que podemos resolver tudo contanto a turnê. Temos uma semana aqui ainda, podemos adiar o show por esse tempo, isso dará tempo para desmontarem o palco e tudo mais, quiçá até montar na próxima cidade. – Jost respirou fundo e sentou-se novamente, mais calmo.

– Você tem razão. Estou preocupado mesmo é com a Àlex. – Ele passou a mãos pelo cabelo, bagunçando-o.

– Vou ligar para Carina, ela conseguirá as passagens para Àlex e Tom. – Carina é minha assistente há 3 anos, ela saberia resolver ou driblar qualquer um para conseguir o que fosse preciso. – Aproveito e mando-a junto com aqueles dois, não quero que aconteça nenhum imprevisto com a tensão da situação.

[Ana’s P.O.V. OFF]

***

A viagem foi longa e cansativa. Se não tivesse um motivo maior, no caso meu pai, pensaria duas vezes antes de sair às pressas desse jeito. Tom não saíra do meu lado em momento algum e isso me deu mais forças, de certa forma. Liguei para minha mãe assim que cheguei ao aeroporto, peguei as informações necessárias para encontrar meu pai no hospital e nem sequer disse que já estava na Alemanha, não queria encontrá-la. Pegamos um táxi e fomos direto para o Magdeburgo, não era uma cidade grande, e eu agradeci por isso naquele momento.
Eu estava exausta, carregando uma pequena mala juntamente com Tom, e parada na frente do hospital. De repente um medo excruciante me dominou. E se eu entrasse lá só para receber a pior das notícias que eu poderia sequer imaginar? Tom segurou minha mão.

– Não tenha medo. – Disse ao pé do meu ouvido. Apertei sua mão, sentindo meu coração apertar mais a cada passo que eu dava.

Fomos de mãos dadas até a recepção do hospital. Tremendo, eu soltei a mão de Tom para pegar o pequeno papel em minha bolsa com o número do quarto do meu pai.

– Christopher Listing, quarto 203, por favor. – Minha voz trêmula me assustou um pouco. Senti Tom passar um braço por minha cintura, provavelmente preparado para receber a pior notícia e me segurar.

– O que a senhorita é dele? – A recepcionista perguntou docemente.

– Filha. Única. – Mostrei minha identidade para comprovar.

– Ele passou por uma bateria de exames, e agora está no quarto, dopado. Não pode receber visitas ainda. – Meu coração pôde se acalmar um pouco com a declaração dela. Pelo menos ele não tinha passado por nenhuma cirurgia. – O médico dele quer conversar com você.

Pedi para que Tom ficasse na sala de espera enquanto eu fosse conversar com o médico. O medo que eu tinha antes, parecia ter diminuído agora, pelo menos meu pai estava vivo, e isso era o que importava. Fui para a sala do médico, encontrando-o sentado em sua cadeira olhando alguns exames.

– Com licença. – Adentrei a sala com cautela. Ele retirou os óculos e me olhou. – Sou a filha do paciente Christopher Listing. – Ele se levantou, estendendo a mão para mim.

– Que bom que chegou. Precisamos conversar sério sobre seu pai. Sente-se. – Indicou a cadeira a frente de sua mesa para mim. Meu coração disparou.

– Ele não corre risco de vida, certo? – Cerrei os olhos, com medo da resposta.

– Não, seu pai não corre risco de vida. – Soltei o ar, mais tranqüila. – Mas... Sinto informar que ele está... – Arrgalei os olhos.

– Está o que doutor, pelo amor de Deus, me fale logo. – Sim, eu estava desesperada.

– Ele sofreu uma lesão medular na lombar, Srta Listing, irreversível.

– E o que isso significa? – Eu não tinha entendido nada do que ele tinha dito. O doutor respirou fundo e voltou a colocar os óculos.

– Isso significa que ele está paraplégico. Sinto muito, fizemos tudo a nosso alcance, mas como eu disse, foi uma lesão irreversível.

***

Depois de muito conversar o Doutor, sai da sala dele como um zumbi, sem nenhuma reação. Era tudo surreal de mais para mim, parecia um pesadelo, algo do qual eu assistia de fora. Cheguei a sala de espera, onde Tom estava, instintivamente, já que eu estava morta em pé. Tom batucava com os dedos em sua perna, impaciente. Parei na porta e fiquei olhando-o perdido em pensamentos. Assim que ele notou minha presença levantou-se rapidamente, indo em minha direção.

– E então? – Ele colocou a mão em meu ombro.

– Porque nada na minha vida pode dar certo, Tom? – Continuava sem expressão, mas sentia as lágrimas quentes descendo por meu rosto. – Me explica, por quê? – Tom não me respondeu, só me puxou para um abraço apertado. O choro se intensificou.

– Quer me contar o que aconteceu? – Perguntou calmo. Respirei fundo, afastando-me minimamente.

– Meu pai, Tom. Ele está... Paraplégico. Não vai poder mais andar. – Voltei a abraçá-lo fortemente. Não vi sua expressão, mas sabia que ele estava surpreso de mais, pois estava paralisado.

– Eu nem sei o que te dizer, Àlex. É horrível isso. – Agarrei sua camisa, e ele levou uma mão a meu rosto, suspendendo-o para olhar-me nos olhos. – Mas saiba que eu estarei aqui, não importa quantas coisas ruins aconteçam, eu estarei aqui pra não te deixar cair.

Só Deus sabe como foi bom escutar aquilo.

Postado por: Grasiele

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