quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Substituta - Capítulo 18


Caí ao pé da escada, machucando os joelhos nos degraus. As pessoas em volta pararam só para me observar. Ótimo, como era sortuda. Com a ajuda do corrimão, me levantei, limpando meus joelhos por cima da calça, com certeza estavam machucados. Caminhei mancando por todo o espaço do andar de cima, e nada. Ele estava ali, o segurança mesmo disse, então porque eu não conseguia encontrá-lo? Já estava quase desistindo de procurá-lo ainda mais, minhas pernas agora reclamavam de tantas vezes que já tinha dado volta só no andar de cima. Encostei-me a uma parede, cruzei os braços e respirei fundo. Encostei minha cabeça a mesma, ouvi sem querer uma conversa vinda do banheiro, do lado da parede onde estava encostada.

– Nossa, Tom! Você está fraco para essas coisas! – Uma voz enjoada reclamou. Meu sangue ferveu no mesmo instante. Adentrei o banheiro sem dar importância para se estava sendo bruta demais. A cena que eu presenciei me deixou decepcionada, não com raiva, mas triste. Uma morena vulgar estava passando as mãos nas costas de Tom, enquanto ele colocava tudo pra fora. Eu sabia o que tinha acontecido ali.

– Tom! – Chamei, preocupada.

– O que você está fazendo aqui? Nunca ouviu falar em bater na porta não? Mal educada! – Eu não sabia o que me irritava mais, o fato dela estava tocando em Tom, ou a voz dela. Estava em um impasse.

– É melhor você calar a boca antes que eu chame o segurança e você nunca mais entre em boate alguma, palhaça. – A empurrei para longe dele, tomando seu lugar. – Você não sabia que ele não pode sequer ver bebidas ou drogas? – É claro que todos sabiam do problema que ele enfrentava, os jornais e revistas já haviam comentado mais de um milhão de vezes sobre isso. Não que eu esperasse que ela soubesse ler, claro. – O que você ainda está fazendo aqui? Vaza! – Fiz minha melhor cara feia, fazendo-a sair dali mais que depressa. Tom lavava o rosto, visivelmente bêbado. Rezava para que ele não tivesse usado droga. – Vamos sair daqui. – Passei seu braço por cima do meu ombro, tentando agüentar seu peso, levando-o para fora da boate. As pessoas cochichavam entre si sobre situação, eu tentava ao máximo ser rápida ao sair dali.

– Preciso sentar, Àlex. – Pediu Tom, com a voz arrastada. Sem ter lugar, coloquei-o sentado na calçada, quase deitando na mesma, se não fosse por mim segurando-o.

– Eu não sei o que você tem na cabeça, Tom. – Ralhei. – Os garotos estão preocupados com você. Será que você não tem o mínimo de consideração por eles? – Ele me encarou, os olhos cheios de lágrimas e um biquinho se formado, parecia uma criança.

– Eu fiquei com aquela mulher, Àlex. – Confessou. Fechei meus olhos, uma vontade louca de chorar me atingiu. – Desculpa. – Tom abaixou a cabeça, olhando para um saquinho com um pó branco em sua mão. Arregalei os olhos e tomei da mão dele rapidamente.

– EU NÃO ACREDITO NISSO! – Gritei, dando-lhe um tapa ardido no braço. Ele levantou cambaleando.– VOCÊ NÃO USOU, NÃO É? – Seus olhos ainda estavam arregalados por minha reação.

– Me devolve.– Estendeu o braço para pegar o pacote de minhas mãos, não deixei. – Devolve, Àlex! – Sua expressão agora era séria, sua boca estava contraída numa linha fina.

– Não, porque eu faria isso? – Olhei para o conteúdo maldito daquele saquinho. – Quer saber? Olha só o que eu vou fazer com isso! – Rasguei o plástico e joguei no meio da rua, vendo o vento dissipar aquele pó. Assim que me voltei para ele me arrependi, sua mão veio forte contra meu rosto, fazendo-me lembrar do dia na conferência de imprensa. Dessa vez eu não cai no chão. Coloquei minha mão sobre o local do tapa, com as lágrimas escorrendo por meu rosto. Realmente havia doido. Ele segurou meu braço fortemente, me sacudindo.

– Porque você fez isso? – Falou perto de meu rosto, fazendo-me temê-lo.

– Porque você fez isso? – Repeti sua pergunta, deixando explícito toda a minha mágoa. Ele me soltou, passando as mãos pela cabeça, ainda irritado. Ele não podia estar normal.

Por sorte, um táxi passava por ali. Estiquei meu braço, pedindo para ele parar. Entrei no carro, sem nem mesmo chamá-lo, mas ele me acompanhou sem dizer nada. Eu também não estava disposta a ouvir. Abracei meus próprios braços e me encolhi no banco, chorando silenciosamente. Estava tão cansada das idas e vindas de Tom. Porque era pedir demais ter uma vida normal? Desde criança eu já tinha desistido. Nada na minha vida era fácil, e se uma coisa dava certo, outra dava completamente errado. Eu só tinha que escolher.

***
Assim que paguei o taxista, entrei no hotel sem nem mesmo olhar para os meninos, preocupados com, não só o sumiço de Tom, mas com o meu também. Fui para meu quarto, deitando em minha cama e enfiando o rosto no travesseiro. Não, dessa vez tinha sido demais. Eu entendia o fato de Tom estar com todos esses problemas, e eu não desistiria de ajudá-lo, mas eu também tinha que pensar em mim, ser egoísta pelo menos uma vez em minha vida. Doía sequer pensar nisso, deixá-lo era simplesmente esmagador, era como se eu precisasse sentir seu perfume todos os dias, e isso era ridículo. Desde quando eu tinha me tornado tão dependente dele? Bem, talvez no primeiro dia que tínhamos nos encontrado, na casa do Georg, logo quando eu fui para Magdeburgo. E agora eu pude perceber que nossa relação me trouxe mais coisas ruins do que boas. Eu tinha que ficar filtrando memórias, bloqueando a maioria só para não reviver momentos ruins. Era como se para uma lembrança boa, existissem três ruins. Alguém batia insistentemente a porta, pensei eu não atender, mas era irritante.

– O que foi? – Perguntei mal humorada. Georg ficara sem graça.

– Você sumiu, e quando chegou passou por nós sem nem explicar. Fiquei preocupado, Àlex. – Ele tocou meu rosto com cuidado. Eu o abracei fortemente, não agüentando segurar as lágrimas. Me sentia idiota por chorar, mas era inevitável, não era algo que eu pudesse controlar.

– Acabou, Georg. Ele precisa de ajuda. – Ele me afastou um pouco, com o cenho franzido em dúvida.

– O que acabou?

– O que poderia ter acontecido entre nós dois, eu desisto. Ele não quer se ajudar, nem deixar que alguém o ajude. – Voltei a abraçá-lo. – Ajuda ele, Georg.

– Nós vamos ajudar ele, Àlex, não se preocupe. – Garantiu.


[Tom’s P.O.V. ON] - Clínica de Reabilitação. 3 dias depois…


Eu não me lembrava de nada do que aconteceu naquela noite desastrosa, se não fosse pela revista em minhas mãos. A foto de Àlex me dando um tapa no braço, e depois, eu acertando um tapa em seu rosto. Era demais para mim. Porque eu havia feito aquilo? E porque eu não conseguia me lembrar? Estava um pouco tonto pelo sedativo que tomei na noite anterior, por não conseguir dormir por conta própria. Nada que me atrapalhasse de ver as fotos, e o rosto decepcionado de Bill a minha frente.

– Ela me deixou, Bill. – Comentei, perdido em pensamentos. – Ela nem sequer quis falar comigo.

– E com razão! – Disse firme – Espero que agora você pelo menos deixe a garota em paz, deixe-a seguir a vida dela, Tom. Sabe que eu não me meto em sua vida, mas agora já é demais. Olhe pra essa revista, você acha que ela deveria mesmo querer falar com você?

– Você tem razão. – Por mais que eu não quisesse admitir, ele estava certo. Mas eu a amava, como eu poderia estar feliz a vendo longe de mim?

– Esse tempo que você vai ficar aqui nessa clínica, pense em tudo isso. Pense na banda, no nosso sonho que se tornou realidade, pense nos caras, na nossa família... Em mim, Tom. E, por favor, esqueça a Àlex. O Listing estava certo quando não o quis junto com ela, e eu o apoio agora, então, nada de pedir ajuda pra mim. – Ele foi curto e grosso. Como sempre foi. Só agora eu podia pensar com mais clareza em tudo que eu havia feito com ela. Era injusto ainda querer que ela gostasse de mim.

– Você não vai me esquecer aqui, não é mesmo? – Se eu me sentia fraco? Imagina! Ele riu da minha pergunta.

– Como se eu conseguisse, seu mala. – Bateu de leve em minha cabeça. – Mas você precisa disso aqui, e se for pro seu bem, eu apoio. – Ele me deu um abraço curto.

– Sinto dizer, mas o horário de visitas terminou. – A enfermeira, a mesmo que me deu os medicamentos, avisou.

– Tudo bem, já estou indo. – Bill tocou meu ombro. – Fica bem. – Senti meu peito apertar por ter que ficar longe dele, nem sabia por quanto tempo isso seria.

A parte boa era que a clínica é em L.A., numa parte mais afastada, era calmo. Eu iria gostar se não tivesse que ficar separado de todos, mas eu mesmo fiz isso comigo, não é? Teria que agüentar as conseqüências.

[Tom’s P.O.V. OFF]


– Então, Alex. – Ana começou. - Eu consegui o produtor pra você. – Minha boca se abriu. Será que eu tinha escutado direto? Ana estalou os dedos em minha frente. – Alô, Àlex. Está me ouvindo?

– Cla-claro. – Pisquei algumas vezes. – Isso quer dizer que...

– Isso quer dizer que assim que a turnê do Tokio Hotel terminar, você volta pra L.A. e se reúne com o resto da banda para entrar em estúdio. – Num impulso, pulei nos braços de Ana, abraçando-a.

– Eu não consigo acreditar, Ana. É tão... Tão... Irreal. Obrigada, obrigada. – Comecei a despejar as palavras em cima dela, até eu mesma já estava confusa. Ela riu desconcertada quando a soltei. Eu não estava diferente.

– Acho que você precisa fazer algumas ligações, certo? – Ela leu meus pensamentos. Corri para meu quarto, pronta para ligar para os outros três lá em Los Angeles. Eles iriam surtar.

[Ana’s P.O.V. ON]

Sentei em minha mesa olhando para meu celular. Sentia falta das ligações sem sentido de Jared, das coisas idiotas que ele me dizia só pra acabar com meu tédio. E agora estava acabado. Há algum tempo eu já vinha pensando nisso, acho que ele também. Depois da noite que saímos para jantar, na fatídica noite com Bill, o clima entre nós já não era o mesmo. Era como se fossemos mais amigos do que namorados, quase não tínhamos tempo um para o outro, e conversas por telefone não são lá muito legais quando se já está há um bom tempo sem ver a pessoa. Pelo menos não para mim. Por isso, talvez, eu tenha ficado tensa com a aproximação de Bill. Não sei se queria me envolver com uma pessoa famosa novamente. Era como se eu pedisse para me machucar de novo, nunca lidei bem com a distância, por isso exista uma lacuna imensa entre minha família e eu.

– Pensando em que? – Me sobressaltei ao ouvir a voz de Bill. Ele havia voltado de Los Angeles há um dia, quase não tinha escutado sua voz, o que era bem estranho.

– Nada em especial. – Pirragueei e dei a volta na mesa para sentar em minha cadeira. – E você está quieto demais. – Tentei ao máximo não encará-lo, organizando alguns papeis na mesa.

– É, ainda estou tentando me acostumar com a ideia de Tom distante, em uma clinica. Nós nunca ficamos muito tempo separados. – Ele, por sua vez, se sentou na poltrona um pouco distante de mim. Desconcertado. – Ana... – Começou. – Eu queria pedir desculpas pelo dia em que te chamei pra sair... Não é que eu não quisesse, afinal você é uma pessoa incrível, mas eu não sabia que você tinha namorado. É que desde que chegou eu queria, sabe, ter uma oportunidade de conversar com você a sós, não me leve a mal. Mas a gente pode ser amigo, ou se você não quiser não precisa, eu só queria pedir desculpas mesmo. – Ele falou tão rápido que saiu tudo embolado. Franzi o cenho tentando processar o bombardeio de palavras, mas me perdi ao ver suas bochechas rosadas e seus olhos cerrados. Ele estava com vergonha! Céus, porque ele não podia fazer uma coisa errada para me fazer parar de olhar para ele? – Ana?

– Ahn... Oi. – Sacudi a cabeça, reorganizando meus pensamentos.

– Então... Me perdoa? – Ele arqueou uma sobrancelha, esperando minha resposta. Ele estava acabando comigo.

– Não tem porque, Bill. Você não fez por mal. – Quase comentava o fato de não estar mais namorando, mas cada coisa há seu tempo. Bill sorriu, passando por mim e depositando um beijo demorado em minha bochecha. Meu corpo todo se arrepiou com aquele contato mínimo.

– Tchau, Ana. – Disse já na porta da minha sala.

Eu tinha que me controlar melhor.

[Ana’s P.O.V. OFF]

Depois de ouvir gritos histéricos no telefone e quase ficar surda, desliguei o mesmo, exausta, mas feliz. Eu queria comemorar, mas sentia falta de uma pessoa. Queria contar para Tom o que havia acontecido, queria sair, só que minha vontade era mínima. Me sentia culpada por não ter ido vê-lo antes de que ele fosse para a clinica, mas meu orgulho foi maior. Como eu era estúpida. Faltava somente 3 meses até que a turnê acabasse, e ansiedade de voltar para L.A. me consumia, não só por conta de gravar o CD, mas por ter a chance de ver Tom. Mas o que eu estava fazendo? Era pra que eu esquecesse ele, não é? O melhor que eu fazia era deixá-lo seguir a vida dele em paz, aposto que ele devia estar ocupado com muitas atividades na clinica. Talvez nem tivesse tempo pra pensar em mais nada, quanto mais em mim. Agora eu tinha que pensar em quando eu chegasse em Los Angeles. Teria que conversar cara a cara com Andrew, recompensar o tempo perdido com meus amigos, eles mereciam isso.

E eu também.

Postado por: Grasiele

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