sábado, 21 de abril de 2012

By Your Side - Capítulo 41 - Eu te amo misturado com chuva

Ele seria um péssimo pai.
Ele não sabia nem ser um ser humano direito. Eu ri sozinha.
Arrumei as roupas que estavam espalhadas no quarto, as minhas roupas e as de Tom, que ele havia jogado de qualquer forma quando eu o mandei arrumar e ele me ignorou completamente como sempre fazia.
Terminei de arrumá-las em silêncio. Ao mesmo tempo em que carregava o mp4, coloquei algumas músicas para ouvir, agora estava passando My Chemical Romance, Helena. Eu entrei no banheiro com meu lápis de olho e fiz uma maquiagem forte. Pensei em Bill. Vesti uma meia-calça cheia de rasgões com uma blusa sem manga preta de uma banda de rock. Não era Tokio Hotel. Pulseiras de prata, troquei o piercing para uma joia prateada também.
Saí do quarto. Eu estava me sentindo como antes, depois de me arrumar por um longo tempo e sair na rua apenas para caminhar e de vez em quando esbarrar com alguém que fosse da minha escola e me chamasse de “Gótica” ou qualquer coisa parecida. Aqui, eles não iriam me chamar assim. Mas era como se eu voltasse a ser a Creepy Bones de antes.
Esbarrei com alguém no corredor.
– Desculpe-me. – Sussurrei, até ver quem era. Aquela vadia nojenta me olhou com importância. Só se for na bunda dela. – Ah.
– Ele disse que ia pensar. – Disse Hilary.
– O difícil vai ser isso acontecer. – Revirei os olhos.
– Ele vai pensar em te largar e ficar comigo para criar o nosso bebê.
– Essa palavra é repugnante, Hilary.
Ela sorriu de forma cínica.
– Eu estava pensando nos nomes... – Ela continuou sorrindo, inclinou a cabeça para trás e acariciou a barriga – Se for um menino, acho que colocaria Tom, ou Thomas, para diferenciar. Miguel, Wulf, Henri... Mas se fosse uma menina, acho que colocaria Julie, porque Julia com A é repugnante. Me lembra pessoas nojentas.
– Vai pensar na puta que pariu.
Eu ergui o dedo do meio e passei por Hilary, esbarrando em seu ombro. Ela, ao invés de reclamar ou fazer alguma coisa nojenta, apenas gargalhou alto.
Eu deveria estar sendo ruim, mas eu não ligava muito para isso.
Peguei o elevador e depois o salão, corri para a piscina Leste. Eu não sei por que estava correndo. Eu não tinha direção nenhuma. A piscina estava fechada. Já estava escurecendo.
A música Helena estava na minha cabeça naquele momento, mas aí eu comecei a murmurar By Your Side, e depois troquei para Final Day. Eu não gostava da versão inglesa, porque não tinha a minha parte favorita “É essa a última chuva com você no telhado?” naquela versão. Eu me perguntei por quê estava cantando em inglês se eu sabia perfeitamente a música em alemão.
Olhei para o céu. Começou a chuviscar.
– Ah, não começa! – Murmurei. – Agora eu vou ter que trocar para Running through the monsoon, beyond the world, to the end of time, where the rain won’t hurt...
Eu não gostava muito de Monsoon. Nem da versão em alemão. Ri novamente, para mim mesma.
– Eu pensei que estava procurando uma menina chamada Julia, e não meu irmão gêmeo vestido para um show.
Me virei. Tom caminhava como um pinguim na minha direção. Eu continuei cantando.
I know, I have to find you now, can hear your name, I don’t know how. – Cantarolei baixinho, ele escutou e riu.
– Olha, aquilo que aconteceu… - Começou. Eu ergui a mão para que ele parasse.
– Eu não quero saber. Você... namorou com a Hilary também. Agora, parabéns, você vai ser pai.
Me virei de costas para Tom. Eu estava no topo da escada para a piscina, ainda debaixo do teto do hotel, mas a chuva caía quase em mim. Eu queria que parasse de chover, porque era verão, e se chovesse mais forte, corria o risco de começar a trovejar, eu não era a maior fã de trovões, e Tom já sabia disso. Dei alguns passos para o lado, para longe da escada, e me sentei no chão com os pés balançando na descida.
Parte dessa encenação foi porque Tom estava me observando.
Ele se aproximou, colocando-se do meu lado, mas ainda de pé.
– Você está chateada? – Perguntou.
– Estou confusa. – Respondi – Eu quero dizer... Isso vai mudar alguma coisa? Isso me obriga a pensar no futuro, e eu simplesmente não quero. Eu não quero pensar na possibilidade de ficar longe de você no futuro, porque alguma coisa pode nos separar.
Tom riu.
– Não ria, Tom! – Eu falei baixinho, quase rindo também.
– Todos eles – começou – todos os nossos amigos estão torcendo para que fiquemos juntos. Bem, você não quer pensar no futuro? Não vamos, olhe, aquilo ainda não nasceu, hoje é dia... eu nem sei que dia é hoje, mas estamos juntos agora.
– Não chame seu bebê de aquilo.
– Nem sei se vai ter um bebê ou não.
– Você vai matar a Hilary? – Arqueei a sobrancelha.
– Não, porque eu seria preso, a fama do Tokio iria ficar manchada e na prisão não tem mulhe... digo, você.
Ele riu, e eu ri ainda mais alto pelas “mulheres”.
– E, eu ainda sou um adolescente, a Hilary é uma vadia, ainda penso na possibilidade de usar algum dinheiro para suborná-la à abortar.
– Você pensa como uma criança! Como se as coisas fossem tão simples. – Disse. – Você... precisa ficar com ela.
Tom irritou-se.
– Preciso ficar com você.
– Eu não estou grávida.
– Posso resolver isso.
Rimos descontraidamente.
And when I lose myself, I’ll think of you. – Completei o que se passava na minha cabeça.
– Por que está cantando Monsoon?
– Porque está chovendo. – Respondi.
Ele deu alguns passos até ficar atrás de mim e se sentou no chão, passando cada perna de um lado meu, e seus braços envolveram minha cintura. O ar havia ficado frio. Ele beijou meu pescoço e eu inclinei a cabeça sorrindo.
Together we’ll be running somewhere new, and nothing can hold me back from you. – Cantou Tom, baixinho no meu ouvido.
– Não, eu já passei dessa parte, já estou em I’m fighting all this power...
– Você continua implicando comigo.
– É.
– Eu gosto de Monsoon. – Disse ele.
– Eu não gosto muito
– Por que você está cantando Monsoon?
Eu sorri, e ele ficou sem resposta. Poxa, estava chovendo. Nada me alegrava mais cantar Monsoon enquanto chovia. Ainda mais se eu estivesse correndo.
– A minha parte favorita é I just came here to say to you, I’m by your side, just for a little while. – Disse ele.
– Mas, Tom… Isso não é Monsoon.
– Ah eu sei. Mas agora a gente altera a música, porque além de estar chovendo, eu estou do seu lado.
– Uhm, você merece um prêmio, pela primeira vez, desde que me conheceu, acompanhou o ritmo do meu pensamento.
Danke Schön.
Ele entrelaçou nossas mãos ao mesmo tempo em que se inclinou para beijar meu rosto em um estalinho. Eu olhei em seus olhos.
– Julia, eu te amo.
Ele disse, e as palavras se misturaram com o silêncio. Abracei o silêncio, como ele estava fazendo. Sorri, e fiquei vermelha. Era a primeira vez que ele dizia aquelas palavras para mim. Eu não tinha motivos para não acreditar.
Ele se inclinou para me beijar. Me beijou docemente, como havia começado a fazer de uns tempos para cá. Esse beijo tinha um toque de “eu te amo” misturado com chuva, músicas fofas, perfume masculino, abraços e Tokio Hotel.
Começou a chover mais forte, e os pingos de chuva conseguiram chegar até meu rosto, me molhando. Também foi um beijo mais molhado do que os outros. Acabou mais rápido. Tom riu e passou a mãos pelas gotas de chuva no meu rosto.
– Você não está chorando, não é emocionante o suficiente para você chorar? – Ele perguntou rindo.
Eu balancei a cabeça.
– Ér, não. – Passei a mão pelo meu rosto onde a maquiagem deve ter escorrido, mas estava tudo certo. Ficou um silêncio por segundos que pareceram minutos. Eu estava esperando.
– Esse visual é maneiro.
– Obrigada. – Agradeci – Eu também te amo.
– Pensei que nunca fosse dizer isso.
Nós rimos juntos e eu me virei com dificuldade para algum lugar que eu não corresse o sério risco de cair como eu sempre fazia, passei as mãos em volta de seu pescoço e o beijei novamente.

Até ficarmos completamente molhados, não demorou muito. Subimos juntos até meu quarto e começamos a nos trocar. Ele estava lá do outro lado do quarto de frente para mim. Eu tirei a blusa e escolhi outra de manga, também da cor preta. Tom me olhou com aquele sorriso sacana e se aproximou. Nota: ele já estava sem camisa, e aquela visão dele vindo para cima de mim com AQUELE sorriso, já estava nos meus sonhos mais pervertidos.
Até conseguir me abraçar e começar com aqueles beijos que traçavam uma trilha, demorou, porque eu fiquei o empurrando. Vesti minha blusa, e ele tentou tirá-la.
– Não, Tom! – Brinquei.
– Você fala como se eu fosse um cachorro.
Nem vou comentar que quando eu era menor, tinha um cachorro com o nome Tom, porque sabe, Tom é nome de cachorro.
– Vamos fazer sexo, Julia.
– Eu não faço sexo para resolver meus problemas.
– Larga de ser complexa. – Ele riu – Já resolvemos o problema, agora vamos para o sexo!
Eu ri sarcasticamente e neguei.
– Argh, eu vou te dar um soco.
Eu o encarei com desafio.
– Vem. – Desafiei.
Por um momento, achei que ele fosse mesmo me dar um soco quando ele se inclinou, mas aí ele apenas me jogou por cima de seu ombro.
Brigamos de uma forma mais fofa dessa vez, nada que nos afastasse. E ficamos no quarto pro resto do dia. Eu estava escrevendo no meu fichário, e vendo quantas frases eu havia escrito desde que havia chegado à casa dos meninos. Para recordar aquele dia, eu escrevi mais uma frase. Não seria a última vez que eu escrevia naquele fichário.

Esse beijo tinha um toque de “eu te amo” misturado com chuva, músicas fofas, perfume masculino, abraços e Tokio Hotel.

– O que está escrito aí?
– Está em português.
– Eu sei! O que está escrito?
– Não interessa.
– Julia...
Eu te amo. – Disse na outra língua.
– O que?
– É tipo “vai se ferrar”, em português.

Postado por: Grasiele

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