Eu não me preocupei com Bill. Ele provavelmente demoraria bastante e mesmo que chegasse naquele instante e me visse abraçada junto de Tom, não havia problema. Eu não iria contar nada para ele, mas também não iria mentir.
Perdida em meus pensamentos, acabei dormindo. Acordei algum tempo depois. Tom estava dormindo. Fiquei olhando-o por um bom tempo. Ele parecia um anjo. Eu me sentia estranha pensando daquele jeito. Eu ainda não tinha conseguido me acostumar com a idéia de que eu e o Tom estávamos juntos. Eu sempre o tive como um cara estúpido, infantil e idiota, que tinha se tornado meu inimigo no exato momento que começou a fazer da minha vida um inferno com as suas brincadeirinhas estúpidas.
Mas tudo tinha mudado e era possível perceber isso só pelo modo como ele tinha me tratado desde que eu tinha chegado à Alemanha. É lógico que ele ainda me infernizava, porém muito menos do que antes. E isso era bem estranho, levando em conta o ódio que eu sentia por ele e ele por mim. Tentei esquecer isso. As coisas tinham mudado e eu estava gostando do jeito como estavam.
Fui até a sala e encontrei Bill deitado no sofá, assistindo tevê:
– Como foi com a Sabine? – Perguntei sentando na poltrona.
– Perfeito. – Ele olhou para mim - A gente foi comer em um restaurante perto do shopping. Depois ficamos andando por lá um tempo e fomos ao cinema. Eu não consegui prestar muita atenção no filme, mas era um com o Ben Stiler.
Eu o interrompi:
– E você não conseguiu prestar atenção no filme por que...
– Você é bem lerda.
– Obrigada. Então?
– Ah, a gente ficou se beijando – Ele deu o maior sorriso do mundo.
– Ah, claro – Eu ri da minha própria ignorância.
– Então, saímos de lá e fomos tomar um sorvete. A gente ficou conversando bastante. Ele é super inteligente, educada, simpática e bonita.
– E você está apaixonado por ela.
Ele me ignorou:
– A gente foi dar um passeio pelo parque. Depois disso eu a levei para casa e voltei para cá.
– Foi ótimo para um primeiro encontro.
– Não foi um encontro.
– Aham – Concordei, sem querer discutir. – Não que isso seja ruim, mas eu realmente queria saber como uma pessoa se apaixona em um dia.
– E eu como alguém se apaixona pelo pior inimigo. – Ele voltou o olhar para a tevê. Fiquei em silêncio um pouco e pude ver um sorriso vitorioso nascer em seu rosto.
– Eu não estou apaixonada pelo Tom – Ele voltou a me olhar.
– Não pense que eu não vi vocês dois juntos na cama hoje. E o jeito como você olha para ele e ele para você. – Eu corei. – Viu?
– Viu o quê? Eu não gosto dele ok? A gente só parou de se odiar! – Disse furiosa. A idéia de eu estar amando o Tom não era lá a das melhores.
– Se você diz... – Ele voltou os olhos para tevê.
Bufei de raiva e fui até a cozinha. Fiz um sanduíche e fiquei comendo lá mesmo enquanto pensava no que o Bill tinha me dito. Na real, aquilo era tudo verdade. E quem eu queria enganar, a final? Terminei meu sanduíche e fui até a sala.
Fiquei vendo tevê junto de Bill por um bom tempo até ficar completamente entediada. Nisso, meu celular tocou e eu sorri satisfeita. Era a Sabine. Fui até o quarto:
– Oi Sabine linda.
– Oi amiga! Tudo bom? – Fechei a porta.
– Tudo ótimo e por aê?
– Melhor ainda. O Bill é tão fofo.
Eu ri:
– E você está apaixonada por ele – Sorri comigo mesma. Até que eles formavam um bom casal.
– É... – Sorri mais do que nunca.
– Ai que linda! – Eu gritava toda feliz. Ela riu.
– Calma amiga.
– To calma pow. – Nós rimos.
– Aposto que ele já te contou tudo.
– Já. Mas se quiser contar de novo, eu não me importo de ouvir. Vocês ficam lindo juntos. – Sorri comigo mesma. Era bom ver que o Bill tinha achado alguém de quem gostou e era melhor ainda saber que essa pessoa também gostou dele.
– Ah, então vou contar de novo – Nós rimos e eu pude perceber o quanto ela estava feliz. Isso era bom. Ela começou a me contar tudo e a dizer o quanto o Bill era perfeito e tal. Eu só ria.
– E foi isso – Ela terminou então de contar a história – Ele não é perfeito?
– É, Sabine! – Eu ri.
– Mas é meu – Nós rimos juntas – Mentira. Mas pode ser um dia...
Nós ficamos conversando por um bom tempo. Era bom saber que eu tinha feito uma amiga verdadeira. Combinamos de eu ir na casa dela, mais tarde. Ela morava sozinha e nós íamos fazer uma noite só das meninas. Ficou combinado de eu ir para lá umas sete horas. Já eram cinco.
Fui até a sala novamente:
– Vocês já podem se casar – Disse para o Bill, rindo, enquanto sentava ao seu lado no sofá.
– Ãhn?
Revirei os olhos:
– Esqueça.
Ficamos um tempo conversando. Ele deitou em meu colo e eu fiquei acariciando seus cabelos. Nós vimos alguns desenhos animados e rimos bastante. Era bom ficar ali com o Bill. Eu tinha sentido tanta falta daquilo.
Deram seis horas. Fui tomar um bom banho. Sai de lá só depois de meia hora. Eu pude pensar em tudo o que estava acontecendo. Sequei-me e sai do banheiro de toalha mesmo. Coloquei um shorts, uma rasteirinha e uma blusa regata, porque estava muito calor lá fora. Peguei uma bolsa e coloquei o essencial: material de higiene, um pijama, uma roupa para amanhã, tênis, chinelo e blá blá blá, já que eu ia dormir lá. Coloquei algumas revistas, esmaltes, chapinha, babyliss e tudo o que alguém pode imaginar, afinal, ia ser uma noite de meninas, não é?
Fui até a sala novamente. Já eram sete horas. Encontrei o Tom lá:
– Onde você vai dona Jen? – Perguntou Bill.
– Na casa da Sabine. Vou dormir lá, papai. – Sorri para ele e nós rimos. – Tranca aqui para mim, Bill – Fui andando até a porta. Mandei um beijo no ar para eles – Tchau Tom, tchau Bill. Amo vocês. Tenham juízo e não façam nada que eu não faria – Sorri uma última vez e fechei a porta atrás de mim.
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