sábado, 8 de outubro de 2011

Touched By An Angel - Capítulo 31 - O que é um beija-flor?

23 de dezembro de 2009 – 19hrs


Olhei para o anel no meu dedo, pensei em tirá-lo tantas vezes no decorrer desse um ano, toda vez que eu pensava era como se uma força maior, quase sobre natural, me tomasse e não me deixasse. Era como se ele, o anel, me fizesse lembrar, o meu real objetivo naquele país.

Olhei para a janela do meu apartamento e vi todas as luzes de Madrid, aquela cidade era espetacular. E mais uma vez lembrei, dele. Desde a nossa conversa na fonte não nos falamos mais, tentei de todas as formas me desligar de Bill, para o nosso bem. Não consegui, óbvio, eu tinha que me segurar mais um pouco, o esforço tinha que ser feito por mais seis meses,  eu teria que ficar longe do Brasil por mais 180 dias, pra quem tinha ficado um ano, isso eu tiraria de letra...Ou não...



Mais uma vez eu me fixei nas luzes de Natal das ruas, pessoas indo e vindo. Meu coração apertou, fechei meus olhos e lágrimas chegaram aos meus olhos e pensei em voz alta:

-Um ano sem vê-lo...Um ano sem Bill!



-Filha esta na hora, vamos? –Minha mãe me chamou, assustando-me, já abrindo a porta.



Enxuguei as lágrimas rapidamente para que ela não as visse. Peguei meu casaco e joguei nas minhas costas. Entramos no elevador e enquanto ele descia, minha mãe me olhou fazendo uma careta dizendo:

-Se isso ainda te dói tanto porque não voltamos para o Brasil? Pra que você quer ficar mais seis meses se martirizando aqui?

-Por que é preciso. E você mais do que ninguém sabe disso. –Eu disse sorrindo com tristeza para minha mãe.

-Acho que já deu tudo isso, Janice? –Minha mãe disse sem paciência- Chega! Acho que o que você fez já foi o suficiente. Admita que você...

-Mãe!  Não quero falar sobre isso, por favor! –Eu disse suspirando- O que papai queria? Eu ouvi o seu celular tocando, sei que era ele!

-O de sempre, que eu volte para casa e aquele monte de palavras mentirosas! –Minha mãe saiu do elevador quando ele parou no térreo. –Não quero olhar pra cara dele, nem pintado de ouro e cravado de diamante.

Sorri e entramos no táxi que nos esperava para nos levar a festa de Natal promovida pelo novo “affair” da minha mãe. Não fazia frio naquele começo de noite. O taxi demorou quinze minutos para chegar ao local da festa. Uma enorme casa, muito bem decorada, o homem grisalho veio nos recepcionar na entrada, com um lindo sorriso, reparei o modo carinhoso que ele olhou para minha mãe, meu pai nunca a teria novamente. Idiota!

Minha mãe se juntou ao Luiz, que passeava pelos convidados, apresentado-a, eu sorri em ver a cena romântica, como fiquei “abandonada”, avistei o garçom entrar na enorme sala, com várias taças de vinho na bandeja, atravessei a sala e fui em direção a ele. Estendi meu braço para pegar a taça e outra mão surgiu do nada, foi mais rápida e pegou a taça primeiro da bandeja.

Segui a mão intrusa e deparei - me com um rapaz com um sorriso sexy nos lábios, ele era charmoso, até demais, um belo moreno com olhos verdes e encarava-me com os mesmo muito brilhantes.

-Senhorita, se me permite! –Ele estendeu o braço e me ofereceu a taça que ele havia pegado, falando em um castelhano sensual.

Eu o olhei sorri e peguei a taça que ele me oferecia, percebi que seus olhos percorreram o meu decote, então incomodada eu disse:



-Gracias! – e me virei tentando me distanciar.



Mas o rapaz foi muito mais rápido e se colocou na minha frente, fechando a minha passagem. Sorrindo debochado, achando que estava agradando  com toda aquela cena de DON JUAN.



-Não posso deixar você escapar. –Ele disse baixo se aproximando. -Por favor, deixe-me convidá-la para acabarmos de tomar o nosso vinho perto da piscina. –Ele continuou na minha frente, fechando a minha passagem.

-Tudo bem! – Eu respondi cordialmente, estava sozinha naquela festa, e seria apenas uma taça de vinho, nada demais. Afinal, passar a festa toda sozinha, seria tedioso demais.

Ele colocou o braço em minha cintura a enlaçando, conduzindo-me para fora da casa, em direção da piscina. Quando nos aproximamos do jardim, nos sentamos em um banco e começamos a conversar, o rapaz se revelou até que uma companhia muito agradável,  fazia me sorrir com seus comentários, bom para falar a verdade, nem era tão divertidos assim, eram as taças de vinho que começaram a vir em sequencia que me fizeram acreditar que ele era divertido. O rapaz notou a minha fragilidade e foi se aproximando cada vez mais, me envolvendo em uma atmosfera que eu não estava gostando.

-Esta calor aqui fora ou é impressão minha?-Eu disse sentindo todas as taças de vinho queimar dentro do meu corpo.

-Tire o casaco! –Ele sugeriu

Levantei-me e ele também, ele segurou na gola do meu casaco e me ajudou a tirar –lo.

-Que linda a sua tatuagem! –Ele disse tocando-a com as pontas do dedo – O que é? Um pássaro e uma flor?

-Não é apenas um simples pássaro! –Eu disse ainda de costas para ele. – É um beija flor!

-Não conheço! –Ele disse dando pouca importância a ela -Mas ficou muito bem na sua pele.

-Obrigado! –Eu apenas respondi voltando a me sentar no banco, pois já estava um pouco zonza.

-Meu tio disse que você é brasileira! –Ele disse sentando-se ao meu lado novamente -Conte-me mais sobre você!

Ele disse se aproximando de uma forma perigosa do meu rosto. Para desviar me virei de costas, então senti seus dedos gelados tocarem a minha pele e desenhar a minha tatuagem. O que me incomodou e mais uma vez eu disfarcei e levantei-me indo para perto da piscina.
  

Ele se aproximou de mim e disse:

-Me conte a historia dela, o que sei é que sempre atrás de uma tatuagem tem sempre uma historia de rebeldia e atos impensados.



Eu o ouvi e não pude deixar de sorrir daquela bobagem toda.



-Por incrível que pareça a minha foi feita em um ato muito consciente. –Eu respondi seca.

-Um amor do passado, que você quis ferir o seu pai e acabou se ferindo muito mais do que imaginava. – ele continuou tentando decifrar a minha tatuagem.

-Não... –Eu disse ainda séria. –Eu não quis ferir ninguém. Apenas o amei e foi só!

-Um cego! –O rapaz disse sorrindo.

-Que?–Eu disse o olhando nos olhos.

-Que esse rapaz que você amou só pode ser um cego para deixar escapar uma mulher tão maravilhosa como você. –Ele disse quase tocando meus lábios. – Desde o primeiro momento que eu te vi, desde o primeiro instante que coloquei meus olhos nos seus, eu tive a certeza que você era a mulher que há tempos eu procurava. Afinal, os sábios sempre disseram que tudo começa com o primeiro olhar, que é através dele que conhecemos a alma de uma pessoa. –ele tocou meus lábios finalizando – Seus olhos são lindos,Janice...Azul...Sabia que é a minha cor favorita?

Abri meus olhos e me afastei de repente dele, balançando a cabeça e perguntei confusa:

-O que você acabou de dizer?

-Eu disse que os seus olhos são lindos, são azuis, e que o azul é a minha cor favorita.

Eu sorri nervosa, me aproximei do rapaz e comecei a falar:

-Não...Os sábios não sabem de nada...nada. Quem disse que o amor começa a partir de um olhar? Nunca ouvi uma idiotice tão grande em toda minha vida. –Eu disse elevando meu tom de voz chamando atenção de algumas pessoas que estavam próximas à piscina.

-Tantas pessoas que olham para você e dizem eu te amo e no outro dia te trapaceia, engana e magoam, quantas pessoas que te olha nos olhos fixamente e daqui um segundo, ao virar a esquina esquecem da sua existência, num simples piscar de olhos. -eu sorri e continuei - Olhos são apenas...OLHOS! E ninguém precisa deles para enxergar nada...Nada...amor nasce aqui dentro. –Eu olhei para o belo rapaz e bati no meu peito. –Aqui dentro!

O rapaz olhou para o lado sem graça, observando que as pessoas haviam parado de conversar e agora prestavam atenção em mim.

-De que vale os olhos, se você não consegue captar a alma, a essência interior do ser humano? Do que vale os olhos se você não consegue perceber as coisas mais delicadas e especiais do dia-a-dia. Do que vale os olhos se você não consegue captar a doçura e beleza de um pequeno beija-flor?



Eu olhei para o rapaz e depois olhei para as pessoas paradas ao meu redor.  Eu coloquei minha taça de vinho na bandeja do garçom e me virei para ir embora, mas antes me virei para o espanhol e disse uma última frase:

  
-Não! A sua cor favorita não é azul, nunca mais diga uma bobagem dessas!

Postado Por: Grasiele

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