quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Coração de Porcelana - Capítulo 9


Let the butterflies cry,
Let them cry for you.
You just dry your eyes,
Because the world is wonderful
Buttlerfly Cry - Kerli

Eu não podia acreditar. Eu devo ter ouvido errado.
Ela queria o Tom. O meu Tom?

— Nunca. – Tom respondeu a olhando com desprezo.
A essa altura do campeonato eu já estava sentada na cama com as mãos sobre a cabeça chorando e me mexendo freneticamente.
— Tem certeza, Tom? – Ergueu uma sobrancelha. — Tudo bem, a escolha é sua. – Deu uma pausa. — Mas você vai adorar ver sua irmãzinha na cadeia. – Me olhou. — Ela é tão linda, não é mesmo? Os policiais vão ama-la, literalmente. – Deu uma gargalhada. — Como eu sou muito boazinha. Darei um tempo para você pensar. – Passou a mão pelo rosto do Tom levando outro tapa. — Tchau Thamyzinha. – Deu mais uma gargalhada e saiu do quarto.
— O que vamos fazer Tom? – Olhei em sua direção. Meu rosto estava encharcado e meus olhos deviam estar inchados.
— Thammy. – Veio em minha direção e me abraçou. — Por favor, não chora. Não suporto te ver chorar. – Deitei em seu colo enquanto ele mexia no meu cabelo. — Vai ficar tudo bem.
— Não vai não, Tom. Vamos ser presos. – Coloquei as mãos no rosto enquanto chorava mais.
— Não vamos. – Ele respondeu e olhou para baixo.
Me levantei na mesma hora e o encarei.
— Você não está pensando em... – Minha ficha caiu. — Não, Tom! – Voltei a chorar. — Você não vai se deitar com ela. Nós damos um jeito nisso, por favor, não. – O abracei enquanto chorava mais.
Eu ficaria desidratada.
— Me desculpe. – Ele sussurrou. — É por você. – Deu um beijo na minha bochecha e saiu do quarto.
Me joguei na cama. Chorei tudo ou mais do que podia.
Quando eu já não tinha mais lágrimas. Senti por Tom. Ele estava fazendo isso por nós. Eu não faria nada, Tom pagaria por tudo, tendo que dormir com aquela mulher nojenta.
Se não conseguisse fazê-lo mudar de ideia, precisava apoia-lo, ficar ao seu lado. Era o mínimo que eu podia fazer por ele, que estava se sacrificando por nós. Passei a amar muito mais o Tom depois disso.
Saí do meu quarto e fui até o de Tom, abri a porta devagar e olhei lá dentro. As luzes estavam apagadas por isso eu não via nada direito, só sabia que tinha alguém deitado na cama e não se mexia. Tom provavelmente estava dormindo. Não iria incomoda-lo.
— Thammy. – Tom me chamou enquanto eu fechava a porta devagar. Abri-a de novo.
— Achei que estava dormindo. – Eu sussurrava mesmo sabendo que Tom estava acordado, eu devo ser retardada.
— Vem aqui. – Ele me chamou.
Entrei no quarto e fechei a porta ficando no total breu. Enquanto eu ia em direção à cama, tropecei em alguma coisa e soltei um grunhido.
— Você é muito desastrada. – Tom falou, rindo logo depois.
— Eu sei. – Bufei e me sentei na cama.
— É pra deitar aqui comigo.
— Já está tarde, você deve estar querendo dormir. Falamos-nos amanhã. – Quando ameacei levantar da cama, senti Tom segurar meu pulso.
— Dorme aqui comigo. – Me puxou e me deitou na cama antes mesmo que eu respondesse.
— Tom, você sabe que não precisa fazer aquilo. Nós damos um jeito, sei lá. Se formos presos arrumamos um advogado. – Eu falava rápido e quase sem respirar.
— Não, Thammy. Não vou correr o risco de sermos presos sendo que eu posso evitar. – Tom falava calmo como se tivesse explicando a uma criança o porquê de não poder andar descalço ou de não comer muito doce.
— Eu não quero que faça isso, Tom. – Minha voz saiu tremula. Eu estava começando a chorar.
Tom me abraçou passando a sua mão delicadamente sobre as minhas costas, subindo e descendo.
Mas o que é que eu estava fazendo? Tom que passaria por tudo e eu ainda estava aqui chorando na sua cabeça? Eu sou muito egoísta.
Eu não sei como Tom me aguenta.
Levantei-me bruscamente depois de perceber como eu estava sendo egoísta e fraca.
Fraca por deixar que Tom passar por tudo sozinho, por precisar que ele me defenda. Por fazer ele se preocupar comigo. Fazendo-o parar a vida dele. Eu o fiz sair de Berlim, largar a escola, largar nossa mãe, os amigos dele e até mesmo as vadias com quem ele saía, para vir aqui me defender de uma mulher de 40 anos.
— O que foi, Thammy? – Tom perguntou depois de ver minha reação. — Por que está desse jeito? – Se sentou na cama me observando.
— Tom, a culpa é toda minha. – Eu estava parada na sua frente olhando para o nada.
— O que? Não! Nada disso é culpa sua. – Ele respondeu.
— Não, Tom. Pare de ser amoroso comigo. É tudo culpa minha. – Eu falava desesperadamente. — Se eu não tivesse contado para você que a Nildete tinha feito aquilo, você não viria para cá e nada disso teria acontecido. Eu fiz você deixar tudo para trás. Eu sou uma fraca. – As lágrimas já escorriam rapidamente pelo meu rosto. — Eu apanhei de uma mulher de 40 anos sem conseguir me defender. – Levei minhas mãos ao rosto enxugando as lágrimas.
— Pare com isso, Thammy! O que você está falando? Nada disso é culpa sua. Eu vim porque eu quis. Mamãe está bem, está com Gordon. E os outros não importam. Eu não deixei tudo para trás porque meu tudo estava aqui. Você é meu tudo, Thammy. – Eu continuava na mesma posição, só ouvindo Tom falar. — E você não é fraca. Você é doce, eu amo isso em você. Você não consegue fazer mal as pessoas nem mesmo para se defender ou se vingar, por isso eu estou aqui para te defender e até mesmo te vingar. – Tom me puxou e me colocou no seu colo. Coloquei meus braços em volta do seu pescoço o apertando mais.
— Eu não quero que você diga essas coisas nunca mais. Está bem? -
Eu apenas murmurei um ‘uhum’ enquanto Tom me deitava na cama e se deitava ao meu lado.
— Eu amo você. – Sussurrei
— Eu também amo você. – Ele respondeu antes de cairmos no sono.

~x~
Eu e Tom estávamos no meu quarto depois de tomarmos café, relembrando coisas da nossa infância, quando a porta é escancarada por Nildete.
— Oi amores. – Disse irônica. — Está na hora, Tom. – O encarou. — Te espero no meu quarto. – Ela disse isso e saiu. Como ela poderia dizer essas coisas com essa facilidade?
Tom olhava com ódio para o chão.
— Você não precisa, Tom. – Fechei os olhos sentindo uma lágrima escorrer.
Tom se levantou e veio em minha direção.
— Vai ficar tudo bem. – Deu um beijo estalado na minha bochecha e saiu em direção ao quarto de Nildete.

Postado por: Grasiele

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