quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Coração de Porcelana - Capítulo 7


And I remember
All those crazy things you said
You left them riding through my head
You're always there
You're everywhere
But right now I wish you were here
Avril Lavigne – Wish You Were Here


— Do que você está falando, Tom? – Tentei disfarçar. — Não fizeram nada comigo. – Minha voz ainda era meio tremula, mas eu acho que dava pra enganar.

— Não minta pra mim. – Ele disse com uma voz firme.

Pois é, eu achei errado.

Não queria que Tom ficasse sabendo que eu apanhei de uma mulher de 40 anos. É humilhação demais. Tudo bem que Tom sabe que eu nunca soube brigar, mas eu quero ter dignidade, poxa.

— Não estou mentindo, Tom. – Dei uma tossida. Pois é, toda vez que eu quero disfarçar alguma coisa dou uma tossida. É automático. Será que Tom sabe disso?

— Você tossiu. Está mentindo. Quem foi? – Eu podia mentir de novo, né?
Falar que eu preciso tomar um xaropinho de morango, ou que aquela filha da puta me bateu tanto que meu pulmão quer pular para fora do meu corpo.

Tentei me ajeitar na cama, mas doeu. Soltei um gemido abafado.

— Mas que porra Thammy! – Ele disse nervoso. — Você gemeu. O que aconteceu com você? – Eu estava conseguindo tirar Tom do sério.

— Você vai insistir até a morte, né? – Bufei enquanto Tom pronunciava um ‘Uhum’

— Foi a mulher do Jörg. – Passei minhas mãos sobre as marcas de suas unhas que estavam em um dos meus braços.

— O que ela fez com você? – Ele estava ficando cada vez mais nervoso. — Fale Thammy! Quero ouvir você falando o que ela te fez – Ele gritou.
— Ela me bateu. – Sussurrei na esperança de Tom não ouvir e deixar para lá.
Mas não foi isso que aconteceu.

— Isso não vai ficar assim. – Ele disse e desligou o telefone.

Nildete pediu para eu não contar pro meu pai, mas será que isso servia para o Tom também?

O que o Tom vai fazer? Vai ligar para o Jörg e falar que a mulher dele me bateu?
Se ela ficar sabendo que eu contei para o Tom, pode me bater de novo.
Olha eu com medo de uma mulher tão velha que serviu vinho para Jesus na santa ceia.
Eu odeio não saber brigar. Quando eu voltar para casa vou fazer aulas de Karatê.
Tentei ligar para o Tom para pedir que ele não faça nada, mas ele não atendeu.
Eu não queria que ele me vingasse. Só queria que ele estivesse aqui para me abraçar e dizer que vai ficar tudo bem.

Eu ia tentar ligar para Tom de novo, mas a minha barriga deu uma roncada monstruosa. Eu que não desceria iria para a cozinha correr o risco de dar de cara com a Nildete.
Cheguei com certa dificuldade á porta do quarto, eu iria pedir a Rita para me trazer um sanduiche ou algo assim.
— RITAAAAAAAAAAAAAAA! – Eu gritei. Se Nildete aparecesse era só dar uma portada na cara dela.
Não demorou muito até que a senhorinha veio correndo até mim. Ela tinha cara de medo, vai ver ela estava achando que eu iria brigar porque ela não me defendeu.
— Você pode me trazer algo para comer? Almoço, janta, sanduiche, qualquer coisa. – Ela apenas balançou a cabeça e desapareceu do meu campo de visão.
Encostei a porta do quarto e fui tomar um banho.
Ao acabar, coloquei uma roupa que cobrisse todo o meu corpo para não correr o risco do meu pai ver.
Nesse meio tempo, Rita já tinha me trazido um sanduiche, um copo de suco e algumas frutas. Comi tudo e me bateu um sono monstruoso.
Olhei para o relógio e eram 08h30min da noite. O sono estava mais forte do que a minha vontade de esperar ficar mais tarde, então me joguei na cama e apaguei.

~x~
Acordei com Rita gritando algo como ‘Você não pode entrar lá, não sei quem você é!’
Estranhei mas não fui lá ver. Lá embaixo tinham um monte de empregados, Rita ficaria bem.
Olhei no relógio, uma e meia da tarde. Como eu dormi. Se tivessem me dopado eu não dormiria tanto.
Sente o exagero.
Levantei da cama e parecia que meu corpo doía mais do que ontem.
Acendi as luzes e puxei a manga da minha blusa. As marcas das unhas dela ainda estavam no meu braço e tinham alguns lugares roxos, por que eu fui ser tão branca?
Me sentei na cama com as mãos na cabeça enquanto os gritos de Rita ficavam mais próximos.
Levantei a cabeça e encarei a porta, parecia que estavam vindo para o meu quarto.
E eu estava certa, por que a porta foi escancarada e a imagem de Tom apareceu.
Dormir demais dá alucinações? Eu acho que dá sim.
Tom veio de Leipzig para Berlim por minha causa?
— Tom? – Murmurei. Meus olhos já estavam marejados e os de Tom também.
— DONA THAMMY! – Rita entrou afobada no meu quarto.
Dona Thammy? Ela me faz sentir como uma velha.
— Me desculpa dona Thammy. Eu não consegui segurar esse menino aí e... – Ela parou de falar e ficou encarando eu e Tom — Puxa, vocês se parecem. – Continuou olhando assustada mas logo parou e voltou a expulsar Tom — Menino, eu vou chamar os seguranças. –
— Rita, Tom é o meu gêmeo. – Comecei a rir da sua cara de espanto.
— Irmão? – Sua boca formava um ‘O’ perfeito. — Por isso vocês são tão parecidos. – A ficha dela caíu. — Ai meu Deus, ele é filho do seu Jörg também? – Agora ela estava deseperada. — Me desculpe Seu Tom, eu não sabia, é que... – E ela disparou a se desculpar mas Tom a interrompeu.
— Tudo bem. – Ele olhou para Rita e sorriu fraco. E ela logo deu um jeito de ir embora deixando eu e Tom sozinhos.
— O que você está fazendo aqui? – Se eu tinha perdido um pouco a vontade de chorar com a confusão de Rita, com certeza essa vontade voltou em dobro agora.
— Você acha que eu deixaria você aqui com essa mulher sabendo que ela encostou em você? – Ele se aproximou e me abraçou.
De repente me senti completa. Um sorriso se abriu em meus lábios enquanto eu apertava mais Tom contra o meu corpo. Queria senti-lo. As lágrimas caíam molhando a blusa dele. Meu coração batia forte e rápido.
Tom veio, veio por mim.
— Eu senti tanto a sua falta. – Falei quando nos separamos.
— Eu também. Você nem sabe o quanto. – Passou os dedos sobre meu rosto e parou em cima de uma marca que Nildete tinha deixado. — Eu vou matar aquela desgraçada. – Fechou as mãos em punho. — Onde mais ela te machucou? – Tom estava muito nervoso, eu estava assustada.
— Tom por favor... – Supliquei.
— Mostre, Thammy! – Ele elevou o Tom de voz.
Devagar eu tirei a blusa de frio ficando só com uma blusa de manga curta por baixo, relevando os machucados e marcas que Nildete deixou.
Tom passou os dedos por todos eles e voltou seu olhar para os meus olhos.
— Ninguém. Nunca mais. Vai encostar um dedo em você. – Ele disse pausadamente com um tom meio psicótico.
Tom se virou rapidamente e saiu do quarto. Corri desesperada atrás dele. Ele estava alterado, não queria nem pensar no que ele faria se encontrasse a Nildete.

Postado por: Grasiele

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