quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Coração de Porcelana - Capítulo 6


In my head there's only you now
This world falls on me
In this world there's real and make believe
This seems real to me
Let Me Go – 3 Doors Down

— Thammy, como você cresceu. – Meu pai me recebeu com um abraço apertado.
— Oi pai – Sorri fracamente. Eu pensava o tempo todo em Tom. Meu peito apertava.
Uma dor que não era minha, Tom estava sofrendo. Eu estava péssima.
— Vem, vou te apresentar a Nildete. – Me pegou pelo braço e me puxou para dentro da sua enorme casa. Era linda, com a decoração bem moderna. A casa dele dava umas 50 da casa em que eu morava com minha mãe e Tom em Leipzig.
— Amor, ela chegou. – Meu pai gritou olhando em direção à cozinha. Segundos depois pude ouvir barulho de salto alto e vejo a figura de uma mulher, com seus provavelmente, 39, 40 anos. Não sou boa com isso. Ela tinha um corte de cabelo mil vezes melhor que o meu. Ela também tinha uma tatuagem nas costas, escrito umas coisas que eu não fazia ideia do que eram.

Nildete

— Olá, querida. – Ela me deu um abraço e dois beijos na bochecha, igual aquelas mulherzinhas chiques de filmes. — É um prazer te conhecer. Espero que nos demos bem.
Eu apenas sorri enquanto a observada atentamente.
Não sei, ela tinha cara daquelas madrastas malvadas de filmes. Não gostei dela. Mas vai ver é só neura minha.
— Tenho certeza que se darão bem. – Meu pai disse. — Desculpa meu anjo, mais preciso voltar ao escritório, é rápido. — Avisou. — RITA! – Gritou me assustando. Então uma senhora apareceu.
— Sim senhor Kaulitz – Ela tinha a voz suave e transmitia paz.
Que profunda que eu fui.
— Mostre a Thammy o quarto dela. – Deu um beijo na minha bochecha. — Volto logo. – Apenas assenti com a cabeça, queria falar o menos possível. Eu não estava bem.
Nildete saiu da sala sem dizer mais nada e voltou para o buraco da onde ela tinha vindo me deixando sozinha com a senhorinha, acho que ela se chamava Rita.
— Venha comigo senhorita. – Ela subiu as escadas e a seguia devagar carregando duas das minhas quatro malas, as outras estavam lá embaixo, eu pegaria depois.
Ela parou em frente à primeira porta do corredor e a escancarou me dando a visão de um quartolindo e bem maior do que o da casa da minha mãe.

(Quarto da Thammy : http://www.ionline.com.br/wp-content/uploads/2011/10/como-decorar-quarto-feminino.jpg)

Mas eu ainda preferia o meu quartinho em Leipzig. Sabe aquela parada de ‘não há lugar como nosso lar?’ Acreditem, é verdade.
Agradeci a Rita e entrei no quarto deixando minhas malas no canto da parede. Logo apareceu outro empregado trazendo as malas que faltavam, agradeci e as coloquei junto com as outras sem me preocupar em guarda-las no closet.
Eu estava cansada pela viagem de Leipzig à Berlim, então tomei um banho e me joguei na cama.
~x~
Acordei com o toque do celular. Dei um pulo da minha cama e fui até minha bolsa que estava jogada junto com as malas, peguei o aparelho e atendi sem olhar no visor. Não importa quem fosse eu falaria com qualquer pessoa que me lembrasse de casa.
— Alô? – Falei empolgada quase num grito.
— Thammy, por que você saiu daquele jeito da festa criatura? Eu ouvi boatos que o Tom bateu no Bill. Verdade isso? – Alice gritava do outro lado da linha.
Ao tocar no assunto da briga, flashes vieram a minha mente. Bill com a boca sangrando, o olhar de fúria do Tom, ele dizendo que me ama...
— Verdade. Tom deu um soco na boca do Bill. – Respondi me sentando na cama.
— QUE ISSO! VOU AÍ À SUA CASA PRA VOCÊ ME CONTAR TUDO!
— NÃO! ESPERA! – Gritei antes que ela desligasse o telefone.
— O que foi? – Ele agora falava mais baixo.
— Eu não estou em casa. – Respondi com o tom de voz baixo.
Com toda a correria, não avisei a Alice que iria viajar. Ela com certeza vão ficar uma fera.
— Eu vou te encontrar, onde você está?
Respirei fundo antes de responder.
— Estou em Berlim. – Disse de uma vez só.
— VOCÊ ESTÁ ONDE? COMO VOCÊ VAI PARA BERLIM SEM ME AVISAR?! TÁ NA CASA DE QUEM? FAZENDO O QUE? QUERO RESPOSTAS THAMMY. RESPOSTAS!
Alice sabia muito bem como fazer um drama.
—Respira mulher! – Brinquei. — Estou na casa do meu pai. Decidi me afastar um pouco do Tom. – Suspirei triste.
— Ah. – Deu uma pausa. — Se você acha que isso foi o melhor para vocês. – Seu tom de voz era compreensivo.
— Não acho que foi o melhor, foi o necessário. – Uma lágrima já escorria do meu rosto.
— Quanto tempo vai ficar aí?
— Não sei, um ano, talvez. – E mais um suspiro triste foi solto por Alice.
— Vou sentir sua falta. – Sua voz era chorosa.
— Eu também. – Suspirei. — Mas pare com isso. Vamos nos falar todos os dias. – Disse tentando parecer um pouco mais animada.
— Claro! – Alice sim parecia animada. — Mas me diz. Como é sua madrasta? – Deu uma risadinha.
~x~

Hoje faz três meses que estou em Berlim com meu pai.
Falo todos os dias com Alice, minha mãe e meu gêmeo.
Tom me ligou pela primeira vez no segundo dia em que eu estava aqui. Pediu para que eu voltasse algumas vezes, mas depois desistiu. Não tocamos mais no assunto de beijo, nem de briga nem de amor além do fraternal. Conversávamos sobre assuntos aleatórios. Tom sempre me vazia rir. Eu sentia muita falta dele. Falta de vê-lo, de senti-lo, de tudo.
Meu pai estava sendo ótimo. Não trabalhava tanto quanto costuma para ficar comigo. Ele também deixou de sair com Nildete para me fazer companhia. Confesso que ela não gostou nada disso. Ela não fala comigo. Não troca uma palavra. Ela não falaria comigo nem para pedir ajuda se tivesse enfartando.
Meu pai queria me matricular em uma escola por aqui. Mas eu insisti tanto que ele me deixou ficar sem estudar enquanto passo esse tempo aqui.

Eu estava descendo as escadas mexendo no meu Ipod procurando alguma música que preste. Meu pai estava trabalhando e Nildete, perdida pela casa.
Eu não prestava atenção no caminho, aonde tinha chão eu tava andando, até que fui assustada por um barulho de vaso quebrando. Olhei arregalada e vi o vaso chinês que estava todo espatifado no chão.

Barulho de salto alto. Merda.

— Mas que barulho foi... – Ela parou de falar quando viu os pedacinhos do vaso chinês espatifado no chão. Olhou para mim, olhou para vaso, olhou pra mim...
Fodeu!
— MAS QUE MERDA É ESSA! VOCÊ QUEBROU MEU VASO CHINÊS THAMMY! – Pelo menos ela falou comigo, né? Não. — VOCÊ SABE QUANTO CUSTOU, SUA VADIA! –
Ela me chamou de que? Acho que estou com problema de audição, preciso de um Telex. Me chamou de vadia?
— Ei, olha lá como fala comigo. – Dei um passo para frente.
— Olhe você como fala comigo. Desde que você veio para cá foi um inferno. Meu marido não saí mais comigo e só fica com você. Também vive perguntando daquela desgraçada da sua mãe. – Ela se aproximou me olhando com ódio.
— DESGRAÇADA É VOCÊ! MINHA MÃE É MUITO MAIS MULHER DO QUE VOCÊ CONSEGUIRÁ SER UM DIA, SUA MÚMIA! – Puta merda, com tantos nomes ofensivos, eu fui chamar a mulher de Múmia?
Nildete não disse mais nada. Só se ouviu o barulho de tapa ecoando pela sala.
Ela tinha me batido.
E não parou só no tapa. Ela me puxou pelos cabelos me jogando no chão.
Porra, que mulher forte para a idade dela. E como eu nunca soube brigar não tinha como revidar.
Ela puxava meus cabelos, me dava tapas e até mesmo chutes. Eu sentia dor por todo o corpo, meu rosto estava encharcado de lágrimas.
— Dona Nildete, o que está acontecendo? – Rita chegou à sala olhando assustada para a cena.
— SAIA DAQUI RITA! E SE CONTAR PARA JÖRG O QUE VIU, ESTÁ NA RUA, ENTENDEU? – Ela gritou com Rita que balançou a cabeça saindo correndo da sala.
Nem para me ajudar. Velha raquítica.
Nem mesmo meu xingamento por pensamento me fez esquecera dor que consumia meu corpo todo. E olha que eu amava xingar por pensamento
— Agora você tome muito cuidado comigo. E se contar para o seu pai, já sabe. – Me lançou um olhar furioso e saiu da sala.
Me levantei com muita dificuldade e fui para o meu quarto. Deitei na cama para ver se aliviava minhas dores para eu conseguir tomar banho. De repente o celular que estava no meu bolso vibra.
Tom.
— Alô? – Disse tentando normalizar a voz e a respiração.
— Thammy. – Tom estava ofegante. — Eu senti, eu senti. – Deu uma pausa e eu só ouvia sua respiração desregulada. — O que fizeram com você?
Postado por: Grasiele

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