quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Coração de Porcelana - Capítulo 10


I'm breathing Cause I know that
You'll always be there
And when you feel like falling
Soon I'll be there
I'll always be there
Dragonfly – Kerli

Eu fiquei lá, estática olhando para a porta. Meu corpo não obedecia aos meus comandos. Eu queria ir para aquele quarto e não deixar que Tom fizesse aquilo, mas eu simplesmente, não conseguia. Eu só fiquei sentada na cama, feito uma estátua.
Quando eu pensei que não poderia ficar pior, Nildete começou gemer.
Eu sei que ela estava fazendo para provocar, para me deixar com raiva. Mas o que ela estava conseguindo era me machucar.
Meu coração foi apertando, como se tivesse ficando pequeno, pequeno, pequeno. A única coisa que eu consegui fazer foi deitar de lado com a cabeça virada para a porta, e chorar.
Chorar. Isso era o que eu mais fazia nesses últimos dias.
Eu perdi a noção do tempo. Eu não sabia se estava deitada naquela cama há minutos, horas ou dias. Eu só estava deitada, completamente vazia. Eu nem se quer me mexia.
Os gemidos cessaram e eu ouvi barulho de porta batendo, mas nem com isso eu movi um músculo. Mas que diabos estava acontecendo comigo? Era como se eu estivesse dormindo acordada.
Que ironia.
Tudo parecia passar em um segundo. Tom apareceu na porta, ele estava com outra roupa e com as tranças um pouco úmidas.
Ao ver Tom na porta, ‘acordei’ e me sentei na cama.
Ele me encarava com as costas encostadas no canto da porta e um olhar triste.
Era a minha vez de fazer algo por ele. Mesmo que pouco. Queria mostrar que sempre estaria lá por ele e para ele.
O chamei com a mão e encostei minhas costas na cabeceira da cama. Tom veio rápido deitou a cabeça no meu colo.
Comecei a passar a mão pelas suas tranças e às vezes tocava em seu rosto. Ele fechou os olhos e abraçou minhas pernas.
Tom parecia um bebezinho deitado daquele jeito. Fiz carinho nele até ele adormecer.
Aquela posição está desconfortável para mim e eu estava com uma tremenda fome. Então eu tentei tirar a cabeça dele do meu colo, mas quando eu estava quase conseguindo ele acordou. Mas, acordou mais ou menos sabe? Quando a pessoa acorda, mas nem percebe que acordou.
— Thammy. – Ele disse com os olhos fechados, completamente sonolento.
Eu nem precisei responder, já que ele dormiu de novo.
Desci as escadas e fui para a cozinha.
Pedi para Rita arrumar comida para mim e me sentei.
Minha vida está muito sem sentido esses últimos dias. Se você me perguntar que dia é hoje ou que horas são, eu com certeza não conseguirei te responder.
Eu só fico dentro de casa, chorando. Já estou cansada disso.
Eu estava perdida nos meus pensamentos, quando escuto o maldito barulho do salto alto daquela vadia.
— Thammy, querida. – Falou sarcasticamente. — Acho que você iria gostar de saber que seu irmão é muito gostoso. – Deu um sorriso malicioso enquanto se escorava no balcão da cozinha.
— Olha aqui sua filha da p... – Fui interrompida por meu pai chegando à cozinha.
Pelo menos ele estava em casa, assim Nildete daria um pouco de sossego.
— Ah, que bom que vocês estão se entendendo. – Ele colocou a pasta em cima da mesa e nos olhou com um sorriso satisfeito.
— Claro, a Thammy é um amor. – Ela disse falsamente chegando perto de mim e passando a mão nos meus cabelos.
Eu forcei um sorriso que mais deve ter parecido uma careta.
— Onde está o Tom, Thammy? – Meu pai perguntou pegando sua mala em cima da mesa.
— Dormindo. – Respondi simplesmente.
— Ok. Eu vou tomar um banho, estou exausto. Tchau meninas. – Deu um beijo no topo da minha cabeça e um na boca da Nildete e sumiu de nossas vistas.
Nildete gargalhou assim que meu pai subiu as escadas e depois saiu da cozinha. Bufei colocando o prato na pia e indo para o meu quarto.
Abri a porta devagar e vi que Tom ainda dormia, eu não queria acorda-lo. Peguei uma roupa do closet e fui para o quarto do Tom. Tomei um banho e me joguei na cama.
Eu dormiria ali no quarto dele mesmo.
Virei de cara para a parede e me entreguei ao sono.
~x~
Senti uma respiração no meu pescoço e assustei me sentando na cama rapidamente.
Olhei para o meu lado e vi Tom que estava com os olhos arregalados. Eu devo ter o assustado.
— Desculpe, me assustei. – Dei um sorriso sem graça e me deitei de novo, agora de frente para ele.
Me acomodei perto do Tom e peguei no sono novamente.
~x~

Tom! – Nildete entrou no quarto acordando a mim e ao meu irmão. — Ah Thammy, que bom que você está aí. – Disse com um sorriso diabólico. Isso significava que meu pai já tinha saído para trabalhar.
— O que você quer? – Tom falou se sentando na cama e coçando os olhos.
— Isso você já sabe, vem. – Ela respondeu para Tom, que me deu um sorriso fraco e foi para o quarto da Nildete. Mas ela ainda estava no quarto me encarando. De repente ela chegou perto de mim e me puxou pelo braço me jogando no quarto dela onde Tom já estava.
— Que merda é essa? – Tom gritou quando me viu dentro do quarto com um olhar assustado.
— Hoje vai ser mais divertido. Thammy assistirá tudo de camarote, não é ótimo? – Deu um sorriso malvado e tirou os sapatos.
Eu ainda estava com os olhos arregalados parada no meio do quarto.
— O QUE? NÃO! VOCÊ ESTÁ LOUCA? ELA NÃO VAI VER NADA! – Tom veio para perto de mim e ameaçou me tirar do quarto. Mas Nildete entrou na frente da porta
— Você não decide nada aqui, Tommy. – Disse ironicamente.
Ela me lançou um olhar que eu não soube distinguir.
Eu estava parada como uma boneca de pano. Não falava nada, não me movia, para onde me levavam eu ia. A única coisa que eu fazia era chorar silenciosamente.
De repente meu estômago começou a revirar, senti um enorme mal estar. Nildete percebeu que eu queria vomitar e saiu da frente da porta.
— Não vai vomitar no meu quarto, desgraçada. Saia! Você fica Tom. – Ela fechou a porta assim que eu saí.

Corri para o banheiro e vomitei tudo o que eu tinha comido pelo menos nas ultimas três semanas. Tudo bem, exagero, mas eu vomitei muito.
Escovei os dentes e me sentei na cama. Mas me assusto quando ouço meu pai gritando do quarto.
Merda! Merda! Merda!
Ele deve ter visto Tom na cama com a Nildete, e ele pensará mal do meu irmão, sendo que a culpa é toda da safada da mulher dele.
Mas o que ele estava fazendo em casa? Ele não tinha ido trabalhar? Por Deus!
Saí correndo do meu quarto e fui para o quarto do meu pai.
Entrei e vi Jörg com os olhos marejados, Nildete cobrindo o corpo com um lençol e Tom com uma cara assutada colocando as calças.

— Você. – Apontou para Nildete. — Fora da minha casa. – Ele disse devagar e com um tom de voz calmo.
— Agora, você. – Apontou para Tom que já estava vestido, em pé do lado da cama. — Meu próprio filho. – Passou as mãos pelos cabelos. — Você vai voltar para Leipzig, sozinho. – Sua serenidade me assustava.
Eu estava assuatada. Preocupada com Tom, nada disso era culpa dele.
Mas peraí, ele disse que Tom voltaria para casa sozinho?
Sozinho = Sem mim.
Eu ficaria aqui?

— Não! – Tom elevou o tom da voz. — Thammy irá comigo.
Postado por: Grasiele

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