terça-feira, 22 de maio de 2012

Bonequinha De Luxo 2 - Capítulo 17 - Fraquezas e perdas

 Narrado por Maia

Desde que a divulgação do CD novo da nossa banda começou, eu não tinha mais vida. O Bill tinha brincado, há um tempo atrás, que, uma vez dentro desse meio, não tem mais volta. E a pressão sobre nós, tanto da parte da gravadora, dos empresários, quanto da imprensa e de alguns fãs, é absurda. Eu achei que ele estava só tentando brincar comigo, mas, vi que ele estava falando sério. E, sempre que eu tinha a oportunidade, dava uma escapada e sempre descarregava um pouco da tensão que eu estava sentindo nas minhas duas principais válvulas de escape: Uma mistura que eu fazia, com energético e alguma bebida alcoólica, tipo... Vodca, e cigarro. Eu sei que estava me destruindo, mas, não estava agüentando mais. Ninguém sabia dessa mistura perigosa e eu tomava o máximo de cuidado para não ser descoberta. Para disfarçar o meu hálito, eu sempre comia uma barra de chocolate. E para o cheiro de cigarro, eu usava um spray que era próprio para isso. Além dessas duas coisas, eu ainda estava tomando café o tempo inteiro. Tinha pegado essa mania do Bill, então, o dia que eu dormia cedo (Tipo... Onze horas da noite, por exemplo) era muito raro. E o dia que eu conseguia dormir direito, era ainda mais raro. Além disso, por causa da minha rotina puxada, eu não estava conseguindo me alimentar direito. E, por causa da minha perda de peso e minha aparência cansada, a imprensa, óbvio, tinha um prato cheio. Praticamente todo santo dia, tinha alguma revista falando coisas do tipo "Parece que Maia, da The Sour Ladies, está sob a influência do namorado, Bill, do Tokio Hotel, por causa da magreza". Eu evitava de me encontrar com o Bill, porque sempre que nos falávamos, mesmo que fosse por telefone, acabávamos discutindo e brigando mesmo. Quando ele aparecia, de surpresa, lá em casa, eu mandava a Charlie distrai-lo enquanto eu saía e esperava até ele ir embora. A Charlie, por mais que eu tentasse esconder tudo dela, sabia o que eu estava fazendo, contava para o Bill, que tentava me ajudar e, como eu andava irritada demais, acabava perdendo a paciência e, por isso, discutíamos.

Durante a festa de lançamento do nosso CD, eu não conseguia manter um copo cheio. Tanto que, quando eu percebi, o efeito do álcool já estava começando a ficar crítico. As meninas tentaram me impedir, mas, eu não quis saber. Quando eu estava indo na direção do garçom que servia a vodca, fiz um sinal para que ele viesse na minha direção e, quando eu estendi minha mão para pegar um dos copos sobre a bandeja, uma mão se fechou sobre o meu pulso e, logo, ouvi a voz do Bill dispensando o garçom. Eu perdi a paciência e disse à ele, irritada:

– O que foi? Vai ficar me controlando agora?

Ele não me disse nada, apenas me arrastou pelo braço para fora dali. Me forçou a entrar no carro dele e, logo, percebi que ele estava me levando para a casa. Durante o caminho inteiro, ele não disse uma única palavra sequer. Quando ele destrancou a porta (Ele tinha a chave do apartamento), me deu passagem e, quando eu me joguei sobre o sofá, ele me censurou com o olhar. Perguntei:

– Não vai me passar o sermão?

– Me responde uma coisa, Maia. Você está vendo que está se destruindo, agindo desse jeito? Perdi a conta de quantas vezes a Charlie me ligou, pedindo para ajudá-la a cuidar de você.

– Eu não preciso de ajuda. Estou muito bem.

– Ah, estou vendo isso! - Ele disse, num tom irônico. - Agora mesmo, por exemplo, você mal consegue ficar de pé. Você acha que eu não sei que você anda fumando escondida... Fica bebendo o tempo inteiro, mesmo que disfarce com sucos, não dorme mais... Eu estou preocupado com você. Aliás, não só eu, mas, todo mundo, inclusive a sua família, lá no Brasil e seu irmão, que mora nos Estados Unidos.

– Eu não pedi para ninguém se preocupar comigo.

– Você não é mais aquela Maia que eu conheci e me apaixonei.

– Sinto muito. - Respondi, num tom frio.

– Não está dando mais para agüentar esse seu comportamento. Agindo desse jeito, você está me fazendo mal também, porque eu fico preocupado com você, morrendo de medo que te aconteça alguma coisa e eu não consiga te ajudar...

– Quer terminar comigo? Tudo bem. Seja feliz com alguém que realmente te mereça. Me desculpe se eu não era quem você pensava... - Eu disse, me levantando do sofá. - Acho melhor mesmo a gente terminar. Não quero mais te magoar e muito menos, te fazer ficar mal por minha causa.

Antes de ir para o meu quarto, eu o vi baixando a cabeça, pelo canto do olho.

Narrado por Bill

Eu amava a Maia. Sabia que ela estava fazendo aquilo tudo porque não estava agüentando mais a pressão sobre ela. Além de estar estressada por causa do trabalho e da imprensa, ainda tinham as minhas fãs que não aceitavam o nosso namoro, mesmo depois desse tempo todo em que estávamos juntos. Eu estava sofrendo por vê-la acabando com a própria vida daquele jeito. Eu morria de medo de que, numa dessas vezes que ela exagerasse na bebida, acabasse entrando em coma ou então, que alguma coisa ainda pior acontecesse. Mesmo que ela e eu não tivéssemos mais nada, eu ia tentar ajudá-la de alguma maneira. Assim que cheguei na minha casa, fui direto para o meu quarto, tomei um banho, deixando a água quente me ajudar a relaxar e, quando saí do banheiro, o Tom estava sentado na minha cama, me encarando. Ele sabia que tinha alguma coisa errada acontecendo e, talvez por isso, só me estendeu o telefone e disse:

– Tem cinco horas de diferença da Alemanha para o Brasil. Agora, lá são... Nove da noite. - Ele consultou. - Acho que você deveria ligar para os pais dela e conversar com eles. Os dois precisam saber o que está acontecendo com a Maia.

Peguei o aparelho e disquei o número de telefone da casa dela, no Brasil. Depois de três toques, ouvi a voz da irmã da Maia, Dafne, e eu disse:

– Dafne? É o Bill, tudo bem?

– Tudo. E você? - Ela perguntou, animada, do outro lado da linha. O Tom se levantou da minha cama e, quando passou por mim, para me deixar sozinho, pôs a mão no meu ombro, num sinal de apoio.

– Tudo. Seus pais estão em casa? - Perguntei.

– Só meu pai. Minha mãe está na casa da minha tia. - Ela respondeu. - Quer falar com ele?

– Por favor. - Respondi.

– OK. Vou passar o telefone para ele. - A Dafne falou. Houve uns breves instantes de silêncio, e, de repente, ouvi a voz dela, distante, falando "É o Bill. E ele quer falar com você.". Logo, ouvi um barulho e a voz do pai da Maia me disse, em alemão (Eu tinha descoberto, através da Maia, que os pais dela estavam tendo aulas, justamente para poderem conversar comigo):

– Bill? O que foi? Aconteceu alguma coisa com a Maia?

– Está acontecendo, Sr. Queiroz. - Eu respondi, suspirando e me sentando sobre a cama. Contei tudo para ele, que ouviu e, por fim, me fez um único pedido:

– Por favor, venha com a Maia para Belo Horizonte. Eu sei que vai ser difícil, ainda mais que vocês dois estão enrolados com os discos e tudo mais, mas... Eu preciso ter a minha filha do meu lado. E eu tenho certeza que a Helena também vai querer isso.

– Eu vou conversar com os empresários, explicar o que está acontecendo e, provavelmente, no final da semana, estaremos aí. - Prometi.

– Tudo bem. - O ouvi dizendo, do outro lado da linha.

Na manhã seguinte mesmo, fui até o escritório do David e do John, que era o empresário das meninas e conversamos por um longo tempo. Eu expliquei o que estava acontecendo com a Maia e que iríamos para o Brasil. Tanto o David quanto o John entenderam e nos apoiaram nessa decisão. O segundo passo era ligar para o Marco Antonio, irmão da Maia, e pedir para que ele me ajudasse a convencer a irmã a ir para o Brasil. Dois dias depois, o Marco Antonio chegou à Hamburgo e ele foi comigo até o apartamento que as meninas dividiam. Nós três conversamos por, uma hora, pelo menos, e a Maia, mesmo resistente até o final, concordou em ir para o Brasil. Quando o Marco nos deixou a sós, a Maia me perguntou, quase num sussurro:

– Por que você fez isso?

– Eu te amo. Mesmo depois do que aconteceu outro dia, ainda me importo e preocupo com você. Só quero o seu bem, pode ter certeza disso. E... Se você ainda não percebeu isso... Você é a minha vida. Eu simplesmente não consigo ficar longe de você. Se alguma coisa te acontecer... Não sei o que eu faço. Maia... Eu estou te implorando. Me deixa te ajudar. Eu sei que não vai ser fácil, mas... Me deixa tentar, pelo menos.

Ela me encarou e eu não ousei desviar o olhar daqueles olhos castanhos que eu amava tanto. Pelo menos, não até conseguir uma resposta:

– Eu aceito sua ajuda com uma condição.

– Que condição?

– Que você também pare de fumar. - Ela exigiu.

– Maia, não é questão de...

– É questão de chantagem sim. Você realmente acha que eu não me preocupo com você também? O piercing da sua língua e o cigarro são uma combinação perigosa, sabia? Aumentam ainda mais as chances de você ter um problema sério de saúde.

Suspirei e falei:

– Vamos fazer um trato, então. Nós dois vamos fazer o mesmo tratamento. Se quiser que eu largue o cigarro... Tudo bem. Eu largo. Contanto que você faça o mesmo.

Ela concordou com a cabeça e perguntei:

– Temos um trato?

– Temos. - Ela respondeu.

Eu sabia que ia ser difícil para ela, assim como seria comigo, mas... Eu estava ao lado dela. E isso seria um incentivo e tanto para ela. E para mim também.

Postado por: Grasiele

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