terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Sparks Fly - Capítulo 57 - I'm sorry, but I love him.

(Contado pela Savannah)

Já estava parada em frente ao apartamento, com as chaves em mãos. Não tinha certeza se a melhor coisa a se fazer era entrar, ou dar meia volta. Se o Pablo estivesse acordado, ele com certeza perguntaria onde passei a noite, e o principal, com quem. Eu não poderia simplesmente responder que não houve chá algum na casa dos Kaulitz, e que acabei transando com o Tom. Isso seria... Terrível. E pensando bem, repeti o mesmo ato que havia me machucado há algum tempo atrás.

Respirei fundo, ainda criando coragem. Vamos Savannah, uma hora ou outra você precisará atravessar essa porta e encará-lo. Será que não tem mesmo uma segunda opção? Não dá pra apagar a memória dele, e sei lá, fingir que nada aconteceu? Bem que eu queria mesmo que muitas coisas fossem apagadas. Mas enfim... Naquele momento, nem que eu quisesse, nem que um pedido fosse feito a uma estrela, nem mesmo se algo muito sério estivesse acontecendo, eu poderia adiar a conversa que precisávamos ter.

Finalmente coloquei a chave na fechadura, girei a maçaneta devagar. Primeiro coloquei a cabeça, me certificando de que não havia ninguém ali na sala. Fui entrando devagar, tentando ser o mais discreta possivel. Fechei a porta com cuidado, e quando me viro...

- Ai que susto! – gritei, colocando a mão na boca logo em seguida.
- Desculpa se assustei a senhorita. – diz a cozinheira, que segurava uma jarra de suco. – Essa não era a minha intenção.
- Está tudo bem. – a outra mão estava sobre meu peito, verificando se o coração continuava batendo. – Cadê o Pablo?
- Ele continua dormindo. – responde, indo colocar a jarra na mesa. – Mas se quiser, posso ir chamá-lo.
- Não, não precisa.

Fiquei bem aliviada ao ver que não era ele atrás de mim. Recuperada do susto, fui a caminho do quarto. Aquela era a segunda fase de um plano que fora bolado de última hora. Com o mesmo cuidado que tive antes, abri a porta do quarto. Pablo dormia feito um bebê. Estava abraçado a um travesseiro, e o lençol cobria apenas sua cintura, deixando à mostra suas pernas torneadas e os músculos dos braços. A respiração estava tranqüila, e nem parecia se preocupar com o mundo lá fora.

Aproveitei seu momento de descanso, e fui pro banheiro. Tirei toda minha roupa, e vesti um roupão de ceda branco. A maquiagem que estava meio borrada, também foi retirada. Baguncei um pouco os cabelos, pra dar aquela impressão de que eu havia acordado naquele instante. Retornei ao quarto, e me sentei vagarosamente na cama. Estava prestes a me deitar, quando ele começa a se mexer, e acaba despertando. Fingi também ter acordado, e espreguicei meu corpo.

- Bom dia. – diz ele, ainda com voz de sono.
- Bom dia. – bocejei.

xxxx

Nos sentamos à mesa. Coloquei o lenço sobre minhas pernas, e comecei a me servir. Pablo não parava de me olhar, como quem quisesse perguntar algo. Eu sinceramente não queria que ele perguntasse nada, mas se isso acontecesse, tentaria agir da forma mais natural possivel. O silêncio entre nós era torturante e dava para se ouvir apenas os talheres. Dei um gole no suco de laranja, depois comi um pedaço do bolo de cenoura. Debaixo da mesa, um dos meus pés começava a balançar, de agonia.

- Fiquei te esperando até as duas da manhã. – finalmente ele abriu a boca pra dizer algo. – Passou a noite fora? – deu um gole em seu café.
- As meninas queriam fazer algo semelhante a uma despedida, já que a Becca vai demorar a voltar. – disse. – Mas não passei a noite fora.

A cozinheira me olhou, como quem dizia “Pode tentar enganar esse idiota, mas nós duas sabemos que você passou a noite fora. Aposto que foi com o guitarrista gostosão, não foi?”. Desviei meu olhar do seu.

- E como foi o chá? – perguntou.
- Foi... Divertido.
- Engraçado.

Engraçado? O que é engraçado?

- O que é engraçado?
- Ontem, quando acompanhei um amigo até o aeroporto, vi uma garota igualzinha a Becca.

Droga, ele descobriu! Tudo bem, eu confesso. Não houve chá algum, a Becca deve estar se divertindo com seu esposo numa hora dessas. Mas vou deixar bem claro que a culpa é todinha do Tom! Ele quem pediu pra Rute me ligar e marcar o tal chá. O que eu posso fazer? A carne é fraca, querido. Duvido que conseguisse resistir a todo aquele charme, todos aqueles músculos, aquele perfume que parece hipnotizar, e o beijo? Não dá pra resistir ao beijo dele. E o olhar? Não, definitivamente não tinha como recuar.

- Sério? – disse. – Deve ter sido impressão sua, porque a Becca esteve o tempo inteiro com a gente. – dei um sorriso forçado.
- E o rapaz que estava com a moça, também se parecia muito com o esposo dela.
- Acho que você estava vendo coisa demais. – disfarcei, dando mais alguns goles no suco.
- É, talvez eu esteja vendo mesmo.

Ele abriu o jornal, e começou a ler. Por alguns instantes pensei ter me livrado, e soltei um suspiro bem baixinho. Pablo me olhou, e ficou encarando. Aquilo começou a me incomodar, e resolvi perguntar se havia algum problema. Mas fiz isso, de uma maneira educada.

- É que... Você está usando apenas um brinco. – diz ele.

Coloquei a mão no lóbulo da orelha, e notei que havia perdido um dos brincos de pérola que ele tinha me dado no final do ano passado. Tá, isso poderia ser algo normal, já que muitas pessoas perdem brincos. Eu poderia ter perdido o meu no meio da rua, ou no quarto do Tom, enquanto estávamos... Ai meu Deus! Será que o meu brinco caiu na casa dele?!

- Perdeu o brinco, enquanto descia as escadas da casa do Tom, ou enquanto transava com ele? – perguntou de um jeito irônico, que não me agradou nada.
- O quê?
- Sei que não teve chá algum, pois a própria Becca me cumprimentou antes de pegar o avião para sua lua de mel.
- E-Ela... – gaguejei.
- Também sei que você não dormiu em casa, e que o único lugar onde poderia estar era na cama do Tom.
- Está me ofendendo desse jeito.

Foi ai que vi uma reação do Pablo, que nunca vi antes. Ele se levantou irritado, derrubando tudo que estava sobre a mesa, no chão. Depois fez questão de virar a própria mesa. Não sei até onde ele pretendia chegar, mas se queria me assustar, com certeza já tinha feito isso. Fiquei sem reação no momento, e meu coração quis sair pela boca. A cozinheira ficou de longe, apenas observando, e também temendo o que ele poderia fazer.

- Eu não sou idiota! – gritou.

Pablo se aproximou, colocou as mãos sobre os braços da cadeira, e me encarou, bem de pertinho.

- Você sempre foi sincera comigo. – diz ele. – Por que agora está mentindo?

Minha voz? Ela tinha desaparecido.

- Responde! – gritou de novo. – É tão difícil assim, dizer que passou a noite inteirinha transando com aquele imbecil?!

Seu tom de voz me deixava ainda mais assustada. Fechei os olhos, desejando que aquilo acabasse logo.

- Olha pra mim. – disse ele. – Olha pra mim! – abri os olhos. – Poderia ter sido um pouco mais sincera comigo, como sempre fui com você.

Depois disso, ele se afastou. Meu corpo inteirinho tremia. Pablo pegou uma das chaves, e saiu do apartamento. A cozinheira veio rapidamente com um copo de água.

- A senhorita está bem? – perguntava.

Eu queria responder, mas cadê a voz? Senti meus olhos se encherem de lágrimas, e aos poucos elas foram escorrendo por meu rosto. Minha respiração voltou, como se eu tivesse me afogado e alguém me reanimado.

- Por favor, diga alguma coisa. – a cozinheira também estava bem desesperada.
- Eu... Eu... Eu estou bem. – respondi.
- Beba a água. – me entregou o copo.

xxxx

Recuperada do susto, decidi que já era de parar com todo aquele joguinho, que não estava levando ninguém a lugar nenhum. Peguei a mala de cor vermelha, e a coloquei aberta sobre a cama. Iniciei as “viagens” até o closet, para recolher todas as minhas coisas. Primeiro fui colocando as roupas ao lado da mala, para depois ir arrumando-as com calma.

Enquanto isso, eu não conseguia parar de pensar no exato momento em que o Pablo “explodiu” e foi descarregando tudo que provavelmente estava entalado em sua garganta. Por um lado, até que concordo por ele ter feito todo aquele escarcéu, mas... Como nunca tinha o visto assim antes, me surpreendi. Ele sempre foi tão calmo, tão compreensivo, e der repente me apronta uma dessas. É ou não é pra ter medo e querer ir embora?

Me certifiquei de que não tinha esquecido nada, e no instante em que estava fechando o zíper, o Pablo entra no quarto.

- Savannah... O que está fazendo? – pergunta, e joga a chave em cima da cômoda.
- Eu... Eu decidi voltar pro Brasil. – respondi.
- O-O quê? – continuou lá, parado. – Olha, eu sei que devo ter exagerado, mas... Mas por favor, não vá.
- Pablo...
- Me desculpa! – interrompeu, e se aproximou. – Eu não queria ter dito aquelas coisas – segurou minhas mãos. -, porque você realmente não merecia ouvi-las.
- Sei disso. Só que não dá mais. – me desvencilhei. – A quem estamos querendo enganar? Sabemos que não há nada além de amizade entre nós, e continuar mentindo nos fará sofrer ainda mais.
- Eu te amo.
- Sinto muito, mas... – fiquei sem jeito. – Eu amo o Tom.

Dizer aquilo foi, até agora, a coisa mais difícil que já fiz na vida. Eu não posso deixar que a mentira continue crescendo, então é melhor cortá-la por aqui. Não queria machucar ninguém, mas também não posso me machucar. Se pra seguir o meu caminho e ser feliz ao lado da pessoa que amor, for preciso magoar uma outra, infelizmente terei de fazer isso.

Postado por: Grasiele

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