segunda-feira, 30 de abril de 2012

Coração De Outono - Capítulo 20 - Romance à vista!

(Contado por Bill)

Ficar sentado na cama, olhando para o nada não era a melhor solução. Não pra mim, naquele momento. Eu queria conversar com alguém, dividir dúvidas e talvez sentimentos. Fiz uma seleção de pessoas para quem eu poderia dizer alguma coisa. O Gordon foi o primeiro a ser cortado dessa lista. Em seguida o Georg, que trataria de fazer uma piadinha com a minha cara. O Gustav não entenderia muito bem, então ele também não serve. A minha mãe... Bem, a dona Simone seria uma ótima escolha, se pelo menos estivesse em casa. E por mim, mas não menos importante, Tom Kaulitz, que apesar de não estarmos no falando normalmente, não acho que me negaria qualquer tipo de ajuda.
Me levantei e fui ao seu quarto. Antes de bater na porta, pensei muito bem no que estaria prestes a falar. Segui em frente e bati na porta. Entrei e ele tocava violão, a me ver foi logo tratando de dar seu aviso.

- Não tô a fim de ficar discutindo. – diz ele. – Se veio aqui pra isso, caí fora!
- Não. – disse e me aproximei. – Preciso conversar.

Só o Tom sabe que, quando digo que preciso conversar é porque existe algo realmente sério por trás daquilo. Não sei se posso definir isso como um problema, mas enquanto estiver atormentando minha mente, será um problema. E quanto antes eu conseguir resolvê-los, melhor.
Ele parou de tocar e colocou o violão de lado. Puxei a cadeira da escrivaninha e me sentei um pouco mais próximo a ele. Fiquei meio entalado, sem saber por onde começar e como transformar em palavras tudo que se passava em minha mente.

- Estou com um grande problema. – disse.
- Cara, você se meteu com drogas outra vez? – me encarava.
- Claro que não! Faz algum tempo que não compro nada.
- E o que foi agora?

Expliquei-lhe da maneira mais direta e simplificada que consegui. Mesmo sem citar nomes, tentei ser o mais claro possível. Não poderia faltar um pouco de humor e o Tom riu de algumas coisas, criticou outras. Me chamou de covarde e disse que eu deveria enfrentar o meu monstro e procurar a tal garota. Ele não é o melhor conselheiro amoroso do mundo, mas quebrava o galho perfeitamente.

- Não posso fazer isso. – me levantei e comecei a andar de um lado para outro. – Se lembra do que falei a respeito do combinado com o Gordon?
- Mas o que isso tem a ver? – se encostou à cabeceira da cama e parei.
- É ela. – confessei e vi a surpresa tomar conta do seu rosto.
- Mais que droga, Bill! – gritou comigo e se sentou. – Você ficou maluco?! Perdeu mesmo a noção de tudo, não é?! – continuava gritando. – Se o Gordon descobre uma coisa dessas...
- Ele não pode descobrir! – interrompi e fui até ele. – Por favor, você precisa prometer que não vai falar nada! – praticamente implorei.
- Só não vou falar nada porque ele viraria o demônio pro nosso lado.

Ficamos calados, olhando um para o outro e com vontade de rir. A situação não era nem um pouco engraçada, mas quando estamos juntos não conseguimos evitar. Sempre acabamos rindo da nossa própria desgraça.

- Como ela é com você? – pergunta ele.
- Ela... – sem perceber, sorri. – Ela me deixa louco na metade do tempo, e na outra metade eu só consigo imaginar o quanto é bom ter sua companhia. Ela é o tipo de pessoa que você poderia passar horas e horas conversando sem se entediar. E eu sempre fico confuso quando tô perto dela.
- Isso quer dizer que está apaixonado. – ele ri.
- Não tô não.
- Ok, então me diz como é o sorriso dela?

Pensei em várias coisas e comecei a falar antes que me esquecesse.

- O sorriso dela é lindo. – a imaginei. – Delicado... Contagiante... Às vezes tímido ou sarcástico... Sincero. Sim, o sorriso dela é muito sincero e parece que, quando ela sorri o restante do mundo se ilumina e...
- Bill... – me interrompe. – Quer saber como era o sorriso da última garota com quem fiquei? – assenti positivamente com a cabeça. – Era branco e grande. – nós rimos. – Você ta gostando dela e ponto. Não adianta mentir.
- Gostar dela é jogá-la diretamente na armadilha do Gordon! E eu não quero isso, Tom. Não tenho direito de magoá-la ou fazê-la participar de algo assim.
- Ela não precisa saber. – fez uma pausa. – Nem o Gordon.
- Como assim?

Tom compartilhou comigo um dos seus planos mais idiotas que já ouvi em toda minha vida, mas que poderia dar certo. Eu não tinha nenhuma garantia de que tudo acabaria bem no final, e o que eu poderia fazer era simplesmente experimentar e deixar que o destino faça o resto. Por menos que eu quisesse concordar, sabia que no meu intimo, em algum lugar dentro de mim, ela era uma das poucas coisas que realmente me interessavam.
–--
(Contado por: Aiyra)

Era fim de tarde. Depois de um banho demorado e relaxante, procurei uma roupa que me deixasse o mais confortável possível. O clima estava quente e não dava pra usar calça jeans ou all star. Acabei desistindo da busca e coloquei a primeira coisa que encontrei, um vestido de tecido leve e cor clara. Me pus em frente ao espelho e enquanto ajeitava o cabelo, notei a enorme semelhança que tenho com a minha mãe. Não somente a cor dos olhos e cabelo, mas também o modo como me visto, tentando não chamar muita atenção.
Me lembro de todas as vezes que saímos juntas e as pessoas perguntarem se éramos irmãs. Olhávamos uma para a outra e sempre riamos, confirmando que sim. Me lembro de fazer compras e chegando numa das lojas gostamos da mesma blusa. A saída que encontramos foi comprá-la e dividi-la. Essa era uma de várias roupas que compartilhávamos sem problema algum.
Às vezes fico tentando imaginar o que ela estaria fazendo naquele exato momento, se estivesse viva. Aposto que independente do que seja, estaria sorrindo. Ela sempre sorria, em qualquer situação. Foi uma maneira que encontrou para amenizar as dificuldades diárias. “Sorria, mesmo que o mundo esteja contra você. Sorria, para mostrar o quão forte consegue ser. Sorria, apenas sorria”. A frase que ela não se cansava de repetir e que hoje se tornou o motivo pelo qual ainda sorrio. Como um jeito de mostrá-la que estou bem, mesmo sabendo que não é tão verdade assim.
Fui despertada do meu devaneio e traga a realidade, quando o Pedro bateu na porta e entrou no quarto. Ao olhá-lo, não pude deixar de me lembrar da época em que ainda éramos uma família completa e feliz. As coisas tinham mudado tão rapidamente, que não consigo recordar o exato momento que o teto começou cair e o chão desabar. Qualquer coisa, eu me lembrava de qualquer coisa, menos o dia que eles tomaram a decisão de que iriam se separar.

- O Bill está lá embaixo e quer falar com você. – diz ele.
- Bill? – estranhei.

Desci até a sala e ele estava parado próximo a porta de saída, com as mãos nos bolsos e distraído, olhando para alguma coisa ali no cômodo. Me aproximei e ele virou o rosto para me olhar. Sorriu e disse:

- Quer dar uma volta?

***
Caminhávamos pela calçada, tomando sorvete e conversando. Ele se desculpou por ter sido meio ignorante comigo, tentou explicar o que estava acontecendo. Eu já sabia e fiquei envergonhada. Ele não precisava dar qualquer tipo de explicação sobre sua vida sexual, isso é algo que só diz respeito a ele mesmo. As pessoas não têm que ficar se intrometendo nesse tipo de coisa. É uma escolha dele e se está feliz assim, quem sou eu para questionar.

- Tá legal, Bill. – disse. – Eu já sei de tudo.
- Já sabe? – me pareceu muito surpreso e assenti positivamente com a cabeça. – E como descobriu?
- Ah, isso não foi tão difícil assim. – respondi e dei uma lambida no sorvete.
- Não está com raiva de mim?
- Porque eu ficaria? – paramos de caminhar e nos sentamos ali na calçada mesmo. – É sua opção sexual e não tenho direito de opinar.
- Opção sexual? – me encarou. – Esperai. Tem certeza que estamos falando sobre a mesma coisa? – fiquei em dúvida naquele momento. – Porque eu estou tentando achar o melhor jeito pra dizer que...
- Você é gay. – interrompi e completei.
- Eu sou o quê?
- Gay. – repeti.
- Mas eu não sou!
- Entendo que seja difícil assumir no inicio. Mas não precisa ficar envergonhado pra falar sobre isso comigo. Eu tinha vários amigos gays em minha antiga cidade e eles eram realmente incríveis.
- Não, eu acho que você não entendeu. – deu uma leve risada. – Eu não tenho nada contra os gays, mas não sou um deles.
- Bill...
- Aiyra, você deve ter confundido tudo. É sério, não gosto de homens.

Me senti a pessoa mais envergonhada do planeta! Queria largar o sorvete no chão, cavar um buraco no asfalto e nunca mais olhar na cara dele. Aquele era o tipo de erro que eu nunca poderia ter cometido. Como fui boba de achar que o Bill era gay. Mas não tinha como adivinhar e além do mais, ele deu motivos de sobra pra eu pensar isso dele.

- Desculpa. – disse, com as bochechas queimando de tão vermelhas de vergonha.
- Tudo bem. – ele ainda ria. – Não acredito que pensou mesmo isso de mim.
- Nem eu, mas a culpa é toda sua!
- Como sempre. – fez uma pausa. – Te procurei pra explicar e dizer o porquê de estar te evitando. – permaneci quieta. – Só fiz aquilo por que... Eu tinha terminado um relacionamento e não queria parecer estar te usando de alguma forma, entende?
- Um-hum. Mas... Você ainda gosta dela?
- Não. – respondeu. – Na verdade aquilo foi um terrível erro. Um daqueles momentos de carência que a gente acha que vai ficar sozinho pro resto da vida e acaba pedindo a pessoa errada em namoro.

Por alguma razão, fiquei mais aliviada por saber que ele não gosta dela. E agora sim entendo o que ele fez e acho que eu teria feito o mesmo se também estivesse acabado de sair de um relacionamento relativamente complicado. Continuamos conversando, rindo do meu mico e percebi que aquela seria uma resenha para o resto do ano.
Voltamos para minha casa quando já estava escuro, queríamos continuar falando mais algumas bobagens, então resolvemos nos sentar na grama. Os assuntos pareciam não faltar e quanto mais eu o escutava mais tinha vontade de ficar ali. Contávamos estrelas e ele me mostrava algumas constelações. Falamos de ex-namorados e experiências que deram errado.

- E o que mais te atrai numa mulher? – perguntei.
- Acho que... O sorriso e as mãos. – responde. – Mas gosto do olhar também. E você? O que mais te atrai num homem?
- Não sei, acho que ele precisa ser bem diferente de mim e ao mesmo tempo parecido.
- Em mim, por exemplo. O que mais te chamou atenção em mim?
- Pergunta difícil. – disse. – Mas eu gosto das suas mãos. – ele ergue a mão esquerda para olhá-la. – Elas são... – fiz um gesto, para que ele encostasse sua mão na minha. – Grandes.
- A sua é macia. – diz ele. – Pequena e delicada.

Bill entrelaçou nossos dedos e eles pareciam ter se encaixado perfeitamente. Nos entreolhamos e ele aproximou seu rosto, encostando seus lábios nos meus. Descobri naquele instante que por causa dele meu coração tem dúvidas se para ou continua batendo. Aquele beijo não foi como o primeiro. Tinha algo a mais que eu não conseguia explicar ou definir. Só posso dizer que era calmo, como se não quiséssemos que acabasse.

- Bill... – afastei um pouco meu rosto. – Você sente algo quando nos beijamos?

Ele fica em silêncio, talvez pensando em algo para responder.

- Sente? – insisti na pergunta.
- Sinto uma mistura de todas as coisas possíveis.
- Ódio também? – ele sorri.
- Coisas boas.
- Sorvete é bom. – brinquei.
- Então eu sinto sorvetes também. – nós rimos. Ele voltou a olhar para as estrelas e suspirou. – Eu acho que... Estou gostando de você.
- Isso sim é melhor que sorvete.
- Eu já nem sei o que é melhor que você. – silêncio. – Provavelmente nada.

E o Pedro resolve aparecer justamente quando o Bill está sendo a pessoa mais fofa da face da terra. Ele alegou estar meio tarde para ficarmos ali, pois poderia ser perigoso. Nos olhou com aquele olhar que diz “eu sei exatamente o que vocês estão fazendo”. E pensando bem, estava mesmo ficando tarde. As horas passaram rápido demais.
Trocávamos as últimas palavras, em frente a porta. Eu tentava não falar muito alto ou algo que me comprometesse depois com o Pedro.

- Eu só queria te fazer um pedido. – diz Bill. – Que por enquanto ninguém do colégio fique sabendo sobre nós.
- Nós? – sorri. – Já existe... Nós?
- Não sei. – ele fica envergonhado. – Você quer que exista?
- Só se você quiser.
- É o que eu mais quero agora.

Bill novamente pegou minha mão e a apertou contra seu peito.

- Está sentindo? – imaginei que falasse sobre as batidas de seu coração, que eu sentia agitadas por detrás da camisa. Assenti positivamente. Ele olhou para baixo e segui seu olhar como um imã. Ele acariciava minha mão e meu coração pulava sem parar. – Não sinto isso por muitas pessoas. – diz ele. – Talvez não sinta por ninguém e, no entanto, você sempre me faz ficar assim.

Eu ali colada a ele, sentindo as batidas do meu coração, sentindo as batidas do seu coração e comprovando que ele realmente possuía um. Me senti flutuar, sair de órbita, partir para outro mundo. Um mundo onde ele agora pertencia a mim.

Postado por: Grasiele

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