segunda-feira, 30 de abril de 2012

Coração De Outono - Capítulo 12 - A música e o armário de vassouras.

(Contado por Aiyra)

A aula chata de história praticamente me fazia querer encostar a cabeça na mesa e dormir. Nem ouvir música estava resolvendo aquele tédio infernal. Desejei estar deitada em minha cama, desfrutando de mais um sonho bom. Olhei de relance para o lado direito e lá estava ele, sentado na mesma fileira de cadeiras que eu estava. Bill Kaulitz e sua rara presença, já que na maioria das vezes preferia ficar no pátio com os outros dois mosqueteiros.
Ele escrevia algo no caderno, e parecia tão concentrado no que fazia que nem ao menos se importava em prestar atenção no que acontecia ao seu redor. Por alguns instantes eu quis me transformar numa mosquinha só pra descobrir o que tanto rabiscava. Às vezes esboçava tímidos sorrisos.
Não posso e talvez eu não consiga negar que ele é atraente, mas também não posso me deixar enganar. Bill parece ser – e deve mesmo ser – o tipo de pessoa que não gosta e não pensa em ninguém além de si próprio. Se bem que, ultimamente eu é que estou ficando assim. Mas isso não importa e porque estou pensando nisso agora? Tá perdendo o juízo com essa idade, Aiyra?
O sinal toca, avisando que finalmente era hora do intervalo. A porta se abre e os alunos vão saindo aos poucos. Alguns vão em direção ao refeitório, outros para o jardim próximo as quadras de esporte, onde poderão disfrutar melhor dos raios solares. Eu encontrei um lugar mais tranquilo e privilegiado. Me sentei num banco debaixo de uma das árvores do jardim e comecei a fazer aquilo que me acostumei desde que cheguei: ler um bom livro. O Tom veio se aproximando e me fez companhia.

- Vai à festa na casa da Bruna amanhã? – pergunta ele.
- O Pedro cismou que eu tenho que ficar de castigo. – disse. – Então é bem provável que não.
- Andou aprontando, não é?
- Não fiz nada de mais. – fechei o livro. – E quer saber? Eu vou nessa festa sim!
- Acabou de dizer que está de castigo.
- E dai? Se o Pedro pensa que vai me manter trancada dentro daquela casa, está muito enganado.

Eu não ia perder de me divertir numa festa animada, ficando deitada de barriga pra cima na cama olhando para o teto. Preciso extravasar a energia contida dentro de mim, e dentro de casa não dá pra fazer isso direito. Ficamos por ali mais alguns minutos. O intervalo termina e o Tom segue seu caminho, eu só volto pra dentro do colégio quando não havia quase alunos nos corredores. Parei um instante para beber água, quando ouvi uma conversa entre o Bill e seus amigos.

- Foi mau galera, mas o diretor me chamou em sua sala e preciso ver o que ele quer de mim. – diz Bill.
- Não quero nem imaginar o que você fez desta vez. – diz Gustav.
- Andei fazendo umas coisas, mas não sei exatamente do que se trata.
- De qualquer forma, estaremos no píer do lago Benner.

Os meninos se despediram, e me escondi atrás de uma pilastra para que o Bill não conseguisse me ver ao passar. Minha intenção não era segui-lo, eu só queria agradecer pelo que havia feito por mim e também achei estranho ele estar indo em uma direção que não daria na diretoria. Ele ia pra qualquer outro lugar, menos encontrar o diretor. O modo como andava – como se não quisesse ser visto por ninguém – também me fez querer saber para onde estava indo e o que poderia estar aprontando. E seria uma boa oportunidade para virar o jogo e controlar a situação.
Devo tê-lo seguido por mais de cinco corredores de tamanho médio, sem contar a escada de poucos degraus que subi. Mais alguns passos e o vi entrar numa sala, e o que veio em minha mente é que ele poderia estar usando aquele local como esconderijo para experimentar suas drogas sem ninguém ficar se intrometendo. Claro, num lugar como este ninguém o encontraria.
(..)Cheguei um pouco mais perto e estava prestes a abrir a porta, quando comecei a ouvir algo. Um som calmo, delicado, tranquilizador. Para ser um tanto mais exata, era o conjunto de notas tocadas ao piano que formava aquela bela melodia. Devagar para não atrapalhar ou ser notada, entrei. Bill estava sentado diante do instrumento e tocava como se nada mais tivesse importância. Como se existisse apenas ele e o piano. Como se os dois tivessem conectados de alguma maneira e nada significasse mais que aquilo. Era belo e incrivelmente lindo.
Fechei os olhos e apenas apreciei a música, criando fantasias nos pensamentos. Tive boas sensações e foi ai que percebi que, dentro dele havia muito mais do que um dia eu poderia se quer imaginar. Inacreditável e indescritível vê-lo daquele jeito. Deduzi que ninguém tocaria algo assim sem nem um tipo de sentimento, e pelo que me parecia, ele colocava todos os seus para fora.
Assim que ele parou, não consegui me controlar e aplaudi. Sei lá, talvez fosse a única coisa que eu pudesse fazer depois de ouvir algo tão bonito. Bill se vira rapidamente, assustado com minha presença.

- O que faz aqui? – pergunta, se levantando e fechando o piano. – Por acaso estava me seguindo?
- Claro que não. – disfarcei, colocando uma mecha de cabelo para trás. – Eu só estava... – ele me olhava, não muito convencido. – Na verdade... Eu estava te seguindo sim, ok? – me rendi. – Mas foi sem querer.
- E posso saber por que fez isso? – cruzou os braços, esperando pela resposta.
- Te agradecer. – ele fez cara de quem não entendeu. – Por ontem. – fiz uma pausa, e fui me aproximando. – Aquele livro é bem importante pra mim e...
- Não foi nada. – interrompeu, e começou a arrumar um monte de papel sobre o piano.

O lugar não era muito grande, mas era repleto de instrumentos e outras “relíquias”. Era perfeito pra quem curte esse tipo de coisa, e quem sabe, até meio perigoso já que guarda coisas consideravelmente valiosas para a instituição. Dei algumas voltas, observando as coisas ali dentro e tive a recomendação de não tocar em nada. Tudo estava muito bem conservado e em minha opinião, não deveriam estar escondidas.

- Não sabia que gostava de tocar. – disse, pegando um daqueles troféus da estante e examinando com cuidado.
- Ninguém sabe. – responde, tirando o objeto da minha mão e o devolvendo ao devido lugar. – Quero dizer, agora só você sabe. – sorri.
- Ou seja, isso é um segredo? – peguei uma bolinha de vidro, e dentro da mesma havia água e várias outras bolinhas coloridas.
- Já disse pra não tocar em nada! – pegou a bolinha e me encarou. – E... Talvez seja um segredo.
- Talvez? – ele suspira.
- Por favor... Não conte nada a ninguém.

Eu não estava pensando em contar nada, mas não seria uma má ideia. Ele descobriu tanto a meu respeito e me tem em suas mãos. Essa descoberta seria um bom trufo para me livrar de qualquer ligação com o Bill, e também não seria ruim se eu começasse a fazer chantagem. Isso poderia me ajudar, e muito.

- Porque eu ficaria calada? – perguntei indo olhar e mexer na papelada que ele havia arrumado. – Você sabe muito sobre mim e a qualquer momento pode abrir a boca para o mundo.
- Eu não faria isso.
- E eu não confio em você. – descobri que eram partituras.
- Estamos empatados. – ele volta para perto do piano e se senta. – Também não confio nem um pouco em você, mas nunca disse que sairia espalhando suas coisas por ai, disse?
- Não. – me aproximei dele e me sentei ao seu lado.
- Então...?
- Vamos fazer um trato.
- De que tipo?
- O meu silêncio pelo seu. – ele dá um meio sorriso. – Não contaremos a ninguém sobre o que sabemos um do outro e zeramos o jogo. – ele fica calado. – Vamos fingir que nunca descobrimos nada.
- Ok.

Fala sério! Eu estava sendo muito boazinha com ele e desde quando passei a “gostar” desse tipo de coisa? Ao invés de dar o troco, eu resolvo ficar calada? Aiyra Burke e Bill Kaulitz tendo um segredo “juntos”? Isso só pode ser algum engano. Quando foi que o meu lado bom começou a tomar conta de mim e eu nem percebi? Eu nem sabia que existia esse tal lado bom aqui dentro.
Bill voltou a tocar e fiquei imaginando que o limite estava prestes a ser atingido. Nós dois no mesmo ambiente por muito tempo nunca dá certo, e de uma forma muito inexplicável, conversamos alguns minutos sem trocar farpas. Ouvimos um barulho e ele se virou. Por debaixo da porta dava pra saber que tinha alguém do outro lado e que pretendia entrar ali.

- Droga! – diz ele, se levantando. – Acho que nos pegaram.
- O que isso significa? – também me levantei.
- Que se não encontrarmos um jeito de sair daqui agora, pararemos na sala do diretor.

Num ato sem pensar Bill segurou minha mão, recolheu sua papelada e me arrastou. Corremos até o fim da sala, desviando das coisas pelo caminho e paramos em diante de uma porta branca e estreita. Ali era um antigo armário de vassouras, que fora desocupado e transferido. Era a nossa única salvação e pela situação em que nos encontrávamos, não tínhamos condições de discutir pra ver quem ficaria do lado de fora e se ferraria sozinho.
Entramos naquele espaço pequeno que mal nos cabia, e ficamos frente a frente, com nossos corpos praticamente colados um no outro. Poucos centímetros nos separavam um do outro. Estava meio escuro e pelo tamanho, dava sinais de que faria calor se ficássemos mais que trinta minutos. Vimos pelas frestas detalhadas na madeira um rapaz entrar com o carrinho de limpeza.

- Que merda! – diz ele, sussurrando. – Esqueci que hoje é dia de limpeza.

Aquela não era uma boa notícia e alguma coisa precisava ser feita para que o faxineiro fosse embora o mais rápido possível. O difícil era bolar um plano de dentro de um armário onde eram guardadas as vassouras. Com os minutos passando, o ar ficando quente e o faxineiro nem na metade do serviço, eu começava a pensar o pior. E se quiséssemos trocar qualquer tipo de palavra, tinha que ser através de sussurros ou leitura labial.

- Dá pra chegar um pouquinho mais pra lá? – perguntei.
- Claro, quando eu desenvolver minha habilidade de atravessar paredes, esse lugar ficará bem folgado pra você. – usou aquele tom sarcástico que me tirava do sério.
- Idiota!
- Chata!

Ficamos calados, apenas nos olhando. Depois de segundos não consegui me controlar e comecei a rir. Não era nem um pouco engraçado, mas eu também não começaria a chorar só por estar presa. Ele deixa aquela armadura de garoto durão e se rendo, dando algumas risadas. Ao perceber que não conseguiríamos parar, Bill coloca sua mão em minha boca, tampando-a.

- Shhhhiiiii. – diz ele, baixinho e me olhando nos olhos. – Vamos acabar sendo descobertos. – controlei o riso e ele tirou a mão.

Estava ficando cada vez mais quente. Os minutos passavam e nada do rapaz ir embora e se duvidasse, era bem capas que morrêssemos ali dentro. Exagerei, confesso. Mas eu não aguentaria por muito tempo. E vendo que o calor só aumentava, resolvi tirar a blusa, pra quem sabe, resolver parte dos problemas.

- Ficou maluca? – diz Bill, enquanto eu me contorcia para desabotoar os botões.
- Não vou derreter só porque você quer. – disse. – Agora me faz um favor. Termine de desabotoar pra mim e puxe a blusa, porque não vou conseguir fazer isso sozinha.
- O quê?
- Ficou surdo depois que entrou aqui, foi? Anda logo, Bill!

Ele desabotoou os quatro últimos botões, foi abaixando a minha roupa pelos ombros, em seguida pelos braços e pude sentir o calor de suas mãos. Ergui um a cabeça e o olhei. Bill retribuiu ao olhar, meus olhos percorreram seu rosto e ele passou a língua nos levemente nos lábios. Deus, como ele é lindo! E dai em diante me vi completamente perdida.

Postado por: Grasiele

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