segunda-feira, 30 de abril de 2012

Coração De Outono - Capítulo 15 - Sentimentos... surgindo?

(Contado por 3º pessoa)
O que está acontecendo? Sem perceberem o que estavam fazendo, foram chegando cada vez mais perto um do outro. Bill podia quase sentir a respiração dela e por mais que quisesse se controlar – ou não -, encostou ainda mais seu rosto. Era como se um imã os atraísse.

– O que está fazendo? – pergunta Aiyra, num quase sussurro.

Os poucos centímetros que separavam seus lábios foram o suficiente para fazê-lo se lembrar do acordo que havia feito com seu pai. Se algo a mais acontecesse naquele lago, provavelmente sairia dali com outros pensamentos, e ele não estaria nem um pouco a fim de se explicar caso os planos tivessem que ser mudados em cima da hora.
Não Bill, você não pode fazer isso. Pensou. Mas ela está tão perto de você, então faça! E faça de uma vez! E mesmo com a mente confusa, sem saber se deveria ou não dar continuidade no que acabara de começar, o fez repensar no seu futuro e no que estaria perdendo se prosseguisse. Mais uma garota. Ela é só mais uma garota. Trate de se concentrar no que seu pai lhe pediu. Ele está certo e prometeu que te deixaria entrar na faculdade de música. Bill fecha rapidamente os olhos, balança a cabeça e se afasta.

– Nada. – responde ele.

Ele nada em direção a ponte e sai do lago, deixando-a sozinha. Aiyra fica na água, tentando entender o que havia acontecido, ou melhor, o que não havia acontecido. Por um instante uma parte dela o quis ali perto, a outra parte agradecia por ele ter ido embora. E depois de alguns minutos, ela também sai.

MANHÃ SEGUINTE...

Sentada numa das mesas mais afastadas do refeitório, Aiyra se concentrava – ou pelo menos tentava – na leitura do seu livro. Por vezes seus pensamentos eram desviados e levados de volta para a noite anterior. Não que ela quisesse que aquele beijo tivesse acontecido, mas se perguntava o porquê dele não ter prosseguido com o ato. Estavam tão perto um do outro, os lábios praticamente se tocando, e ela realmente podia sentir o calor do seu corpo, mesmo com o frio que vinha da água.
Do outro lado, enquanto degustava algumas batatas fritas, Bill a olhava disfarçadamente, tentando não levantar qualquer tipo de suspeita. Sua consciência mesclava o arrependimento – por não ter feito o que queria no momento – e o orgulho – por saber que era forte o suficiente para resistir a uma bela garota. No seu intimo, ele sabia que se não fosse por um impedimento, teria beijado-a sem problema algum. Afinal, pelo fato de se odiarem, no outro dia continuariam sendo inimigos mortais.

– O que acha disso, Bill? – pergunta Georg. – Bill? – o chama pela segunda vez. – Bill? – estala os dedos na sua frente.
– O que? – ele desperta do seu devaneio. – O que foi?
– Ultimamente anda bem distraído, não acha? – diz Gustav.
– Só acho que vocês são dois intrometidos! – respondeu. – Qual o problema d’eu me afundar nos meus próprios pensamentos? É proibido?
– Ei! – diz Georg. – Fica calmo. Só estamos preocupados, porque desde que chegou ao colégio hoje, você anda “brisando” com qualquer coisa.
– Estou cansado. – diz Bill. – Não dormi bem essa noite.

Ele se levanta da mesa e se retira. Após uma noite de pura diversão, sempre vem àquela fome incontrolável. Como não havia tomado o café da manhã em casa, Tom resolveu se deliciar com os lanches nada saudáveis da cantina. Procurava um lugar para se sentar, quando avistou de longe a Aiyra, sozinha. Ele se aproxima e se senta de frente para ela.

– Não te vi na sala hoje. – diz ele. – Estava matando aula?
– Dormi demais e cheguei atrasada. – responde, fechando o livro. – Caramba! – diz, depois de ver a bandeja com toda aquela comida. – Você não tem um estômago, tem um buraco negro!
– Tô com fome. – ele ri.
– É, eu percebi. – também ri. – Bom, tenha uma boa digestão. – ela se levanta.
– Aonde vai?
– Ao banheiro. Quer me acompanhar?
– Se perguntar pela segunda vez eu aceito.

***

Aiyra andava apressadamente e ao dobrar o corredor, esbarrou de frente com Bill. Os dois ficaram se olhando por alguns segundos, até ela se lembrar que eles se odiavam – ou achavam.

– Por acaso você é cego? – diz ela.
– Não foi minha culpa! – diz ele.
– Claro que não. Nunca é. – foi sarcástica.
– Garota, fingi que eu não existo, ta?
– Não precisa nem repetir o pedido.

Cada qual para o seu lado e eles seguem seu caminho.

–--
(Contado por: Pedro)
No escritório, sentado em minha confortável cadeira de couro, atrás de uma mesa consideravelmente grande, e com meus óculos de grau, eu reavaliava um futuro investimento que a empresa estaria prestes a fazer. Além de vender carros, o Gordon e eu estávamos pensando em expandir os horizontes e passar a vender motos também. Talvez fosse um bom negócio e nos rendesse algum dinheiro a mais. Não era exatamente o que queríamos, mas precisamos inovar de vez em quando, e as promoções ou agrados não estavam mais convencendo os clientes como antes. Eles sempre ficam atrás de coisas novas e temos que dar o que desejam.
Repousei novamente aqueles papéis sobre a mesa, e retirei os óculos para descansar um pouco as vistas. Suspirei. Nunca pensei que fazer parceria com um homem de nome tão importante fosse me dar todo esse trabalho. O meu horário de expediente aumentou em duas horas, e agora preciso estar com os olhos ainda mais abertos para todo o dinheiro que entra e sai. Na semana que vem as coisas ficarão ainda mais corridas, já que novos funcionários serão contratados e farei entrevista com cada um dos candidatos para escolher os quatro melhores currículos.
A secretária repassa uma ligação vinda do colégio da Anna. Logo imaginei que ela tivesse se sentido mal outra vez, e se fosse mesmo verdade, trataria de ir num bom médico para descobrirmos o motivo disso. Mas o assunto não era nada semelhante a isto, muito pelo contrário. A diretora pediu educadamente que eu fosse até lá, para podermos conversar melhor, pois por telefone não poderia ser resolvido.
Larguei o que estava fazendo, peguei as chaves do carro e me dirigi ao colégio. Em menos de quinze minutos havia chegado, e me encontrava sentado de frente para uma mulher de quarenta e poucos anos, cabelos negros e presos num coque, roupas devidamente comportadas e uma aparência boa. Ela disse que ultimamente a Anna vinha tendo um tipo de comportamento que não costumava ter antes. Por um instante, cheguei a me sentir meio ofendido.

– Esperai. – disse. – Está dizendo que a minha filha criou uma “amiga imaginária” – risquei as aspas no ar. -, e por isso ela pode ter algum tipo de problema psicológico? É isso?
– Claro que não. – responde. – Por favor, senhor Burke, não entenda errado. Sei muito bem que essas coisas acontecem nessa fase da vida, e só estou tentando descobrir quem é a quarta pessoa que a Anna pinta em todos os seus desenhos. – ela me entrega algumas folhas.

Olhei cada um dos desenhos e por fim acabei descobrindo de quem se tratava. Não era nenhuma amiga imaginária ou uma estranha com quem a Anna se relacionava sem que chegasse ao nosso conhecimento.

– Esta é a Aiyra. – disse, com um sorriso.
– Desculpe... Quem?
– A minha filha, do meu primeiro casamento.
– Ah, então quer dizer que todo esse tempo a Anna vinha desenhando a meia irmã dela?
– Isso mesmo.
– Eu realmente peço desculpas por tirá-lo do trabalho para vir resolver algo aparentemente bobo, mas o senhor sabe que nos preocupamos com as crianças e não queremos que nada aconteça com nenhuma delas.
– Eu sei. – me levantei. – E fico feliz por terem essa preocupação. – ela sorri. – Posso levar os desenhos comigo?
– Fique à vontade.

***

Cheguei em casa quando a hora do jantar já se aproximava e como um passarinho raro encontrei a Clarisse, dando algumas ordens a cozinheira. Lhe dei um beijo e fui ao quarto da Anna. Ela estava brincando com suas bonecas e a me ver, veio correndo me abraçar.

– A sua diretora me chamou no colégio hoje. – disse, e ela me pareceu preocupada.
– Eu não fiz nada, papai. – se defendeu. – Eu juro que não fiz nada.
– Sei disso, meu amor. – beijei sua testa. – Ela só queria falar umas bobagens.

Iria aproveitar aquele momento pai e filha para brincar um pouco com ela. Fazia um longo tempo que não ficávamos juntos assim.

–--
(Contado por: Aiyra)
E mais uma vez eu encarava aquela folha em branco que parecia quase implorar para receber um rabisco se quer. Eu ainda tinha medo de começar e não conseguir terminar, tinha medo de fracassar. Sei que só vai passar quando eu finalmente tentar, mas não tenho certeza se estou realmente pronta pra isso. Tanto tempo se passou e durante esse tempo não pratiquei nenhuma vez. Era como se eu precisasse de um estimulo a mais para dar o primeiro passo, como se eu precisasse de alguém, de alguma inspiração, de um olhar de fora. E como sempre, eu não sabia quem poderia fazer isso por mim.
Respirei fundo, fechando os olhos e tentando me lembrar de algo que eu desejasse colocar naquela folha. Nada. Ninguém. Na verdade... Havia sim alguém, mas não tive coragem o suficiente. E porque justamente ele? Com tanta coisa bela pelo mundo, porque logo ele veio em minha mente? Não consigo entender. Ainda não.
Assustei-me ao ouvir as batidas na porta, em seguida a Clarisse entra pra avisar que teríamos visita para o jantar. Visita? Mas que tipo de louco aceitaria jantar nesta casa com esta família? Me perguntei. Independente de quem fosse, troquei de roupa – vestido com estampa delicada, cardigan azul marinho e sapatilha branca – e desci. Ao chegar à sala de jantar, me deparei com aquele ser de outro planeta sentado bem na cadeira ao lado da que eu ficaria. Como se não me importasse com sua presença, fui ao meu lugar.
Aquela foi a primeira vez que o jantar não se concluiu completamente calado. O Pedro e o Bill conversaram sobre absolutamente tudo, exceto negócios. Contaram piadinhas, riram, se divertiram o quanto puderam. A Clarisse e eu boiamos durante toda a conversa, ela por não se interessar tanto e eu, por não ter dado a mínima mesmo.
Depois da refeição, a Clarisse foi colocar a Anna para dormir. O Pedro recebeu um telefonema urgente do segurança da empresa e me deixou sozinha com o Bill, para minha infelicidade.

– Está bonita. – disse Bill, colocando as mãos nos bolsos.
– Não, não precisa puxar assunto. – disse. – Só estou aqui pra lhe fazer sala, mas daqui a pouco o Pedro vem.
– Caramba, Aiyra! Estou tentando parecer legal, mas... Como você é hostil!
– Não precisa parecer legal, porque você não é. – cruzei os braços. - Nós dois sabemos disso.
– Já disse que você não sabe nada sobre mim.
– E também não quero saber.
– Então pára de dizer essas coisas.

Fiquei calada.

– Eu... Não vim aqui pra ver o seu pai, muito menos pra jantar. – novamente puxa assunto.
– Veio fazer o quê, afinal?
– Ver você.

Continua...

Postado por: Grasiele

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