segunda-feira, 30 de abril de 2012

Coração De Outono - Capítulo 18 - Primeiro amor.

(Contado por Aiyra)
Domingo de manhã, mais precisamente oito e quinze. Eu estava deitada na cama, olhando para o teto e desejando que algo de interessante me acontecesse naquele dia. Nem que fosse um sorriso a mais ou uma lágrima que surgisse do nada sem ser convidada. Essa minha vida monótona começava a me deixar extremamente chateada. Nada de novo acontece, nem mesmo algo velho! Como o Nick diria “você precisa expandir seus horizontes”. Mas como é que farei isso? Para onde expandir?
Ouvi o celular tocar, olhei na tela e pensei comigo mesma. Não morre mais. Atendi sem muito ânimo, mas esperando que ele dissesse algo que me fizesse ter vontade de me levantar daquela cama pra cair na gandaia. E que o Pedro me desculpe, mas não ficarei trancada em casa em pleno domingo de Sol, ainda mais se eu realmente tiver algo pra fazer.

- Estou parado em frente à sua casa. – diz Nick. – Vem abrir a porta pra mim.
- Tem certeza que quer entrar? – perguntei.
- Absoluta.
- Ok, mas tá todo mundo dormindo. Não podemos fazer barulho.
- Relaxa, não faremos muito barulho. – disse ele. – A não ser que você queira. – senti uma pontinha de malicia em suas palavras.
- Vou escovar os dentes e já tô indo.

Desci as escadas com aquela coragem e abri a porta. Com um sorriso no rosto, Nick entrou e me deu um beijo no cantinho da boca. Era o inicio da sessão de provocação. Subimos para o quarto e fechei a porta. Temi que a Anna acordasse e entrasse ali, como costuma fazer, sem aviso prévio.
Ele tirou o casaco, jogando o mesmo sobre a cadeira da escrivaninha. Depois se livrou dos sapatos e deitou em minha cama, como se ela fosse sua. Colocou as mãos atrás da cabeça, e pude notar seus músculos e a nova tatuagem. Incrível a capacidade que ele tem de ficar mais lindo a cada dia. Preciso dessa poção mágica. Fiquei encostada na escrivaninha, com os braços cruzados e o olhando.

- Vem cá. – diz ele, dando batidinhas no colchão. – Você sabe muito bem que eu não mordo. – deu um meio sorriso mega malicioso. Me aproximei e me deitei ao seu lado. – Como anda a vida?
- Sem graça. – respondi. – E prestes a subir pelas paredes, de tão carente que estou.
- A situação está tão feia assim?
- Acho que nem sei mais como se faz. – ele riu.
- Se quiser, posso te ensinar. – nos olhamos.
- Porque vocês homens são assim, hein? – me sentei. – Fingem que o sexo é algo insignificante.
- Muito pelo contrário, significa muito. – ele também se senta. – Mas a culpa não é nossa, se vocês mulheres são sentimentais.
- Nós somos sentimentais?
- Claro! “Ah, meu amor, diz que me ama e a gente transa a noite todinha”. – imitou uma voz feminina.
- E vocês?! “Ah, ah, ah”... – gemi. – “Vai querida, rebola um pouquinho mais... Ah, ah... Gozei”. – ele caiu na gargalhada.
- Eu só acho que as pessoas não deveriam levar esse tipo de coisa tão a sério. – ele se encosta à cabeceira da cama. – Sei lá, acho que sexo deveria ser como... Como algum esporte individual, onde no final os adversários dão um aperto de mão e nunca mais se falam.
- Que horror! – fiquei indignada com o machismo dele. – E depois vocês não gostam de ser chamados de imaturos.

Conversamos por mais algumas horas e o Nick foi embora antes que o Pedro o visse ali dentro do meu quarto. Não quero nem imaginar o que ele teria feito se algo assim acontecesse, seria a maior confusão.
Quando a hora no relógio se aproximava do meio dia, a campainha tocou. Eu estava na sala com a Anna, e ela me mostrava os inúmeros desenhos que andou fazendo. Em alguns deles, eu estava presente e achei a coisa mais fofa. O Pedro se encontrava sentado numa das poltronas, tomando uma taça de vinho. A Clarisse folheava uma revista de moda. A empregada passou e foi atender.

- Me desculpem por chegar a essa hora. – diz Bill.
- Não precisa se desculpar. – diz Pedro. – Fique à vontade.
- Eu só passei para convidar a Aiyra pra almoçar comigo. – o Pedro me olhou e sorriu.
- E porque você não fica para almoçar conosco. – Pedro sugere.
- Querido, por favor, não estrague as coisas. – diz Clarisse.

A Clarisse arrastou o Pedro e a Anna para a cozinha, me deixando sozinha ali na sala com o Bill. Cruzei os braços e esperei que ele dissesse algo.

- Eu sei que fui um completo idiota ontem, mas estou tentando concertar a situação.
- Você não fez nada.
- Exatamente. – diz ele. – Eu não fiz nada, quando poderia ter feito tudo. Então, por favor, me deixa reparar o erro.
- Não houve erro algum, Kaulitz.
- Ah não? E porque está me chamando de Kaulitz ao invés de Bill?
- Este é o seu sobrenome, não?
- Até ontem você nem se lembrava disso!
- Acordei pra vida!

Ele ficou um tempo calado.

- Você quer ou não sair comigo? – insistiu.
- Não é tipo um encontro, é?
- Não. – respondeu. – Ainda não.
- Hum.
- Vou considerar esse “hum”, como um sim.

Não sei quais são as intenções dele, e por que de repente cismou que precisamos nos tornar “amigos”. Eu também não sabia se queria descobrir. Vindo do Kaulitz, talvez eu devesse esperar qualquer coisa. Sob muita insistência da Clarisse e do Pedro, acabei aceitando o convite. Minha fama de mal educada não poderia se estender mais, e almoçar com ele não deveria ser tão ruim assim. O que de tão grave poderia acontecer?

***
Chegamos num restaurante francês, tão luxuoso quanto sua mansão num dos bairros mais ricos da cidade. Chegava a ser constrangedor estar naquele lugar. Pessoas comendo delicadamente, e conversando baixinho. Uma música lenta tocando, e só de ouvir, me deu sono. Me perguntei o que eu estaria fazendo ali e porque cargas d’água resolvi aceitar almoçar com ele. E qual o problema de almoçar num restaurante “comum”? Tinha que ser justamente este?

- Jura que não existe um restaurante menos... Sofisticado, para almoçarmos? – o olhei.
- Não gostou daqui? – pareceu preocupado com a escolha.
- Poderia pelo menos ter me avisado antes, e eu teria me vestido melhor.

Estava usando uma calça jeans skinny, blusa branca com um desenho e all star. E vamos combinar que esse não é o tipo de roupa adequada. Não quando você olha em volta e vê a maioria das mulheres usando vestido, e os homens com roupas sociais. Até parecia um daqueles jantares que o pai dele costuma dar. Nada disso combina comigo, pelo menos não agora.
O convenci a sairmos dali e fomos a outro lugar, onde pude me sentir muito mais a vontade. Fizemos o pedido e enquanto isso, o Bill começou a puxar assunto. Num instante eu não estava entendendo nada, n’outro eu continuava sem entender. Ele me convidou para sair e se desculpou por deixar parecer que é tão confuso em suas decisões. Aceitei o pedido, mesmo não me importando. É a vida dele, as escolhas dele, os segredos dele. Não tenho que pedir justificativa, já que não temos nada um com outro e não espero termos.
Na metade do almoço, nós estávamos dando gargalhadas e nos divertindo com histórias que aconteceram na infância. Não contávamos detalhes de nossas vidas, mas sabíamos que estávamos nos conhecendo muito mais que desejávamos ou pudemos imaginar. Com a conta paga, saímos e caminhamos até um parque próximo. Nos sentamos num dos bancos.
O tempo agora passava depressa e falávamos sobre livros em comum que lemos, e de gostos musicais. Lugares favoritos que fomos quando crianças e que gostaríamos de ir novamente. Parando para reparar, o Bill não era tão idiota ou imbecil quanto eu achava que fosse. Dentro dele ainda havia um garoto que guardava vários segredos, mas também guardava alguém que... Por alguma razão tinha medo de mostrar para o mundo.

- Tem algum segredo que não contaria a ninguém, por receio do que os outros vão dizer? – perguntei.
- Todo mundo tem. – ele responde.
- Me conta. – fiquei curiosa. – Pode dividir comigo, se quiser.
- Música. – faz uma pausa. – Sou fascinado por música e gostaria de seguir na carreira.
- Talento não lhe falta.
- Não é tão simples assim. – ele olha para baixo. – Não depende apenas de mim.
- É seu desejo, e depende exclusivamente de você!
- E o seu segredo? – me olha e deixo escapar um sorriso.
- Bom... – suspirei. – Não é exatamente um segredo, é mais um desejo bobo. – fiquei meio sem graça e desviar o olhar. – Eu queria... Ser beijada na chuva. – confessei e ele ri. – Eu disse que era bobagem, só que me parece tão... Sei lá, romântico. – o olhei outra vez. – Tem mais algum desejo?
- Eu queria que... Chovesse agora.

Fiquei calada. Não por ter escutado aquela super direta, mas por ter ficado com raiva mesmo. Raiva por ele sempre fazer a mesma coisa e depois fingir que não aconteceu. O quê? Era algum tipo de brincadeira? Até parece que é bom ficar brincando com os sentimentos dos outros. Não que eu sinta algo por ele, mas isso não é nada legal. Que direito ele acha que tem pra ficar fazendo essas coisas?

- Porque você sempre faz isso? – perguntei, um pouco mais séria.
- Isso o quê?
- Isso que acabou de fazer! – quase alterei a voz e ele ficou quieto. – Quer saber? Esquece, Bill. – me levantei. – É melhor eu ir pra casa.

***
(Contado por: Bill)
Se eu não conseguisse me controlar, acabaria estragando tudo! Por mais que uma voz dentro de mim gritasse pra eu jogar tudo para o alto e fazer o que estava me segurando, eu realmente tinha medo. Não queria que ela descobrisse o quão cafajeste sou e como tive coragem de brincar com algo tão sério. Querendo ou não, concordei em ajudar o Gordon, mas nunca poderia imaginar que os planos sempre mudam.
Só agora percebi que gosto da companhia dela e que estou a um fio de estragar tudo – só pra variar um pouco mais. Como citei uma vez, Aiyra é diferente das outras garotas e se eu deixar que ela se afaste agora, não terei como descobrir o que a faz tão única. Ela não vai entender absolutamente nada e talvez isso não fosse necessário. Não sei.

- Espera, Aiyra! – segurei seu braço. – Por favor, não vai não.
- Olha Bill... – ela se desvencilha e coloca uma mecha de cabelo atrás da orelha. – É melhor a gente parar, entende? Não somos amigos nem nada, então... Vamos fingir que nada aconteceu nesses últimos dias, e que ainda somos inimigos mortais.
- Não, não faz isso. – disse. – Desculpa se eu só faço tudo errado! É que... Desde que você chegou, a minha vida começou a desandar.
- O que quer dizer com isso? Que só trago azar?
- NÃO! – quase gritei. – Quero dizer, sim. – ela fez cara de quem não entendia. – Eu não sei! – nem eu entendia. – Viu só, você me deixa confuso!
- Você é louco! – novamente ela se vira para ir embora.
- Que droga! – gritei e ela se assustou. – Não quero que vá embora!
- Eu só trago azar e você precisa de um tempo sozinho com sua confusão.
- Se eu quisesse ficar sozinho, não teria te convidado para sair.
- E o que você quer? – cruzou os braços.
- Quer saber o que eu quero? – ela assentiu positivamente com a cabeça e me aproximei. – Eu quero...

Naquele instante eu queria ela. Eu só sabia que deveria prosseguir, que eu queria prosseguir. Mas e o acordo com o Gordon? Que se dane, minha entrada no inferno já está garantida mesmo!
Me aproximei um pouco mais. Acariciei seu rosto e ela fechou os olhos. Encostei levemente meus lábios nos seus, depositando um selinho demorado. Me afastei o suficiente para olhá-la e contemplei aqueles olhos que me fazem perder a noção do tempo. Talvez fosse isso, os olhos. Ou será sua personalidade, ou o conjunto de todas essas coisas? Não sei. Meus lábios novamente encontraram os seus e aprofundamos o beijo.
Foi ai que senti pela primeira vez na vida, como se um turbilhão de sentimentos estivesse me atacando naquela hora. Era uma mistura de coração acelerando, sensação estranha no estômago e uma vontade incontrolável de que aquilo nunca chegasse ao fim.

Postado por: Grasiele

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