segunda-feira, 30 de abril de 2012

Coração De Outono - Capítulo 13 - O amigo reaparece.

(Contado por 3º pessoa)

Deus, como ele é lindo! E daí em diante ela se viu completamente perdida nos seus olhos castanhos escuro. O ar, que antes já parecia ser insuficiente, agora sim parecia estar realmente acabando. O calor aumentava a cada segundo e o suor começava a escorrer pelo rosto dele. Centímetros os separavam um do outro, espaço o suficiente para ele – ou ela – se aproximar um tanto a mais e finalmente selar os lábios. Era incrível aquela capacidade com que seus olhos conseguiam hipnotizá-la assim, tão facilmente.
Bill pigarreou, desviando seu olhar do dela e terminando de puxar a blusa. Aiyra recupera a consciência, respira fundo, soltando um suspiro em seguida. Os dois não sabiam ao certo o que ocorria entre eles, e também tinham medo de descobrir. Não era tão simples e fácil ter que admitir algo que os próprios não entendiam com clareza. Tudo era muito confuso. Um misto de gostar e odiar, ao mesmo tempo, tomava conta de ambos. E com toda aquela frieza que cultivaram e carregaram durante tempos fazia com que seus sentimentos se fechassem em algum lugar no fundo do peito, e tivesse receio de colocar a “pontinha do pé” para fora.

- Não foi tão difícil assim, foi? – diz Aiyra, quebrando o silêncio chato. Bill não responde, apenas a olha rapidamente e volta seus olhos para as frestas da porta. – Não se sente incomodado com essa roupa escura, nesse calor infernal?
- Quer que eu tire a minha roupa também?
- Até que... – o olhou com malicia, de propósito. – Não seria uma má idéia.

Convencido de que acabaria se sentindo mal naquele cubículo, Bill ergue os braços e Aiyra levanta sua roupa. Respirar ali dentro estava complicado demais e eles até evitavam ficar trocando palavras. Ele passou a mão pelo rosto, tentando limpar um pouco daquele suor e, de uma forma inexplicável não conseguia cheirar mal. Muito pelo contrário, seu cheiro era bom e a partir daquele momento se tornaria inesquecível para ela.
As horas haviam passado rapidamente e fazia quase uma hora que se encontravam ali dentro. Além da fome, a vontade de respirar um ar fresco batia de minuto a minuto. Mais algumas trocas de olhares – muitas vezes disfarçadas – e os dois estavam prestes a abrir aquela porta e se entregarem.

- Vai ficar me olhando assim por muito tempo? – pergunta ela.
- Talvez.
- Vou acabar pensando que...
- Seus olhos são lindos. – a interrompe.
- O quê? – ficou surpresa.
- Seus olhos...
- Eu entendi. – Aiyra esboça um leve sorriso no canto dos lábios. – Só não... Esperava. – faz uma pausa. – Mas quem é você e o que fez com o Bill? Ele nunca me faria um elogio desses, ou melhor, ele nunca me faria qualquer tipo de elogio.
- Acha que sabe tudo sobre mim, mas só conhece aquilo que lhe permito conhecer.

Antes que pudesse responder, eles ouviram o toque de celular na sala. O faxineiro retira o aparelho do bolso e atende. O rapaz conversava com alguém sobre a limpeza nas salas de aula, que já estavam desocupadas. Ao desligar, o faxineiro recolhe todas as suas coisas e se retira.
Bill abre a porta e sai primeiro, indo verificar se a barra estava completamente limpa, e após seu sinal, Aiyra pôde deixar o armário das vassouras. Ela se abaixa um pouco, colocando as mãos nos joelhos.

- Caramba! – diz ela. – Como é bom poder respirar esse ar fresquinho.
- É melhor sairmos daqui antes que nos vejam. – diz Bill.

***
(Contado por: Aiyra)

Devidamente vestidos, caminhávamos lado a lado pelo colégio, cruzando os dedos e rezando para não encontramos ninguém que nos comprometesse. Ao dobrarmos um dos corredores, demos de cara com o diretor. Sugeri que saíssemos correndo, antes que ele se aproximasse ainda mais de nós. Mas o Bill infelizmente não quis fazer isso. Iríamos nos encrencar ainda mais.

- O que fazem nessa área? – pergunta o diretor, chegando mais perto. – Não deveriam estar aqui.
- Estamos perdidos – diz Bill.
- E ainda bem que o encontramos, porque esse colégio parece um labirinto. – disse.
- Sei. – olhou para nós dois. – Não acredito nessa historinha de vocês.

DETENÇÃO

Então, fomos levados para a biblioteca onde ficaríamos por pelo menos meia hora, como forma de castigo por estarmos numa área “restrita” do colégio. Não bastava ficar presa no armário das vassouras, eu ainda tinha que aturar o Bill na detenção. É nessas horas que a gente começa a perceber que o planeta realmente conspira contra você. E isso tudo só está acontecendo graças a minha maldita curiosidade que novamente conseguiu me controlar, mas obviamente não posso confessar esse tipo de coisa. Eu tinha que colocar a culpa em alguém, e ninguém melhor do que ele.

- Viu só o que você fez? – disse. – Culpa sua estarmos aqui!
- Como é que é? – Bill pareceu indignado. – Ninguém mandou você me seguir.
- Eu não estava te seguindo! – quase gritei.
- Falem mais baixo! – reclama a bibliotecária.
- Se não tivéssemos ficado presos naquele lugar, isso não estaria acontecendo.
- Mas bem que você gostou de ficar presa lá comigo, confessa. – provocou. – Até a blusa tirou.
- Só tirei a blusa por que estava calor! – justifiquei. – E nem venha com essa, pois você também tirou a sua.
- Claro! Você pediu, eu tirei.
- Dá pra vocês falarem mais baixo?! – a bibliotecário chegou perto de nós. – Aqui não é a casa da mãe Joana, e sim uma detenção! – ela se retira.
- Se eu pedir pra se jogar do penhasco, você fará? – falei mais baixo.
- Só se você vier junto.
- Idiota!
- Chata!

Encostei-me na cadeira, cruzando os braços e mantendo a expressão de brava. Queria que os minutos passassem o mais rápido possível, mas quanto mais eu desejava, menos acontecia. Toda vez que eu olhava para o relógio parecia que os ponteiros nem tinham saído do lugar. Agoniada, tratei de procurar algo pra fazer enquanto a hora não passava. Meu pé começou a balançar freneticamente, e os dedos das mãos serviam para fazer batuques sobre a mesa.

- Pára com isso! – diz Bill, e eu o encarei.
- Cale a boca e me deixe em paz!
- Qual o seu problema, hein?
- O problema é que a minha vida é uma droga e como se isso não fosse o suficiente, alguma entidade lhe enviou pra terminar de bagunçar tudo!
- Não tenho nada a ver com a sua vida! – sua vez de alterar a voz. – E pára de colocar a culpa de tudo em mim! Não escolhi ficar trancado naquele armário com você, muito menos ter te conhecido. Por mim, você não passaria de outra garota qualquer, mas esse seu jeito irritante lhe impede de ser isso!
- O que quer dizer?
- Quero dizer as coisas simplesmente aconteceram e não deu pra evitar, e que você tem a metade da culpa que eu também carrego!

Por menos que eu quisesse, tinha que concordar. As coisas aconteceram de uma maneira tão rápida, que nem ao menos percebemos que estávamos ligados um ao outro. Seja pra brigar ou para se ajudar no momento de uma dificuldade. Ficamos calados, e eu principalmente, por não ter argumentos. Ele estava certo e eu errada, e não tinha como mudar aquilo, pelo menos por enquanto.
O silêncio era tanto, que dava para ouvir o tic-tac do relógio. Eu me segurava pra não puxar um assunto qualquer. O meu orgulho não me permitia ser legal com ele depois do que acontecera. Mas quem me conhece, sabe que o meu cinismo às vezes fala mais alto.

- Porque você é assim? – perguntei.
- Assim como?
- Do jeito que você é. – o olhava. – Comigo é um completo idiota, mas na frente de outras pessoas, um cavalheiro.
- São as circunstâncias. – responde, me olhando. – Ou talvez seja porque eu goste de você. – ele ri.
- Jeito estranho de demonstrar que gosta.
- Mas e você? – ele passa levemente a língua nos lábios. – Porque você é assim?
- A vida. – respondi, enquanto olhava as unhas. – Passei e presenciei muita coisa, e tive que me tornar isso daqui.
- Algum acontecimento em especial? – fez uma pausa. – Tipo... O assassinato da sua mãe.

Eu não estava acreditando naquilo. O Bill havia mesmo tocado nesse assunto? Quanta coragem. E antes que eu respondesse...

- Olha, eu sei que não deveria estar falando disso, mas... Desculpa. – fiquei ainda mais surpresa pelo pedido. – Eu não quis descobrir tanta coisa sobre sua vida, só que eu não tive escolha. Você praticamente me obrigou.
- Ãhn?! – não havia entendido.
- Quando ameaçou contar – olhou para os lados. – da maconha – sussurrou. -, me senti quase que na obrigação de saber algo de você pra não correr o risco de ser entregue.
- Então...
- Você acabaria estragando tudo. – interrompeu. – Acabaria atrapalhando a carreira do meu pai.

Isso sim era ainda mais inacreditável. O Bill estava preocupado com a carreira do pai, ao invés de se preocupar com o que aconteceria com ele se continuasse usando aquele tipo de coisa.

- É disso que tem medo, Bill? – apoiei os braços na mesa. – Tem medo do que pode acontecer com o seu pai e não com você?!
- Ele trabalhou duro pra conquistar o que tem hoje e não seria justo eu acabar com tudo.
- E é justo você acabar com sua própria vida?

Ele não responde de imediato, parecia pensar numa resposta.

- Você nunca entenderia. – diz ele. – E também não consigo explicar.
- Ok, mas... – num impulso, segurei sua mão. – Você tem que parar. Você precisa parar antes que custe a sua vida!
- Resolveu se preocupar comigo agora? – ele tira a mão dele. – Sei me cuidar sozinho.
- É? Pois não parece.
- Não venha me dizer o que fazer, porque você também cometeu esses erros.
- E quando percebi que estava acabando comigo mesma, coloquei um fim. – me encostei novamente à cadeira. – Mas quer saber? Vá em frente e se mate aos poucos!

***

Descia as escadarias do colégio, caminhando e pensando na conversa que tive com o Bill agora a pouco. Confesso que fiquei meio preocupada com ele, mas apenas pelo fato de saber que se eu tivesse continuado, talvez estivesse na mesma situação. Não sei exatamente dos problemas dele e também não quero saber. Como o próprio mesmo disse “não tenho nada a ver com sua vida”, porque eu me intrometeria?
De longe, avistei um rapaz encostado no carro, com os braços cruzados. Parei um instante, cerrei os olhos pra tentar enxergar melhor. Não pode ser! Pensei. O coração acelerou, e um enorme sorriso se formou nos meus lábios.

- Nick! – gritei, terminando de descer os degraus e correndo em sua direção. Ele sorria, e abriu os braços pra me receber. O abracei com toda força e quase senti uma lágrima escorrer pelo meu rosto. – O que está fazendo nesse fim de mundo? – perguntei, me afastando um pouco para olhá-lo. – Como me encontrou? E porque demorou tanto?
- Calma, bebê. – ele ri. – Retome o fôlego.
- Bebê? – lhe dei aquele soquinho no ombro.
- Te responderei qualquer coisa, mas antes eu quero saber como que você está e como andam as coisas por aqui.

Isso era tudo que eu precisava no momento! Reencontrar o Nick me fez sentir viva novamente, como se tivesse uma razão pra continuar seguindo em frente. A felicidade era tanta, que eu mal conseguia falar. Só queria olhar bem aquele rosto pra ter certeza de que nunca o esqueceria. Ele não faz idéia do quanto precisei e preciso dele. Tá na hora de recuperar o tempo que foi perdido.

Postado por: Grasiele

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