segunda-feira, 30 de abril de 2012

Coração De Outono - Capítulo 14 - O luau.

(Contado por Bill)

Estava quase na hora do sinal tocar e os alunos começarem a sair. Eu havia matado a última aula pra pensar um pouco no que estaria prestes a fazer e quais os tipos de conseqüência que me trariam. Sentado no capô do carro, fumando tranquilamente um cigarro, eu a vi passar e se sentar num dos bancos acompanhada por aquele cara, que no dia anterior também apareceu por ali. Namorados? Pensei. Fingia estar olhando para qualquer outro lugar, e na verdade observava disfarçadamente ela dar cada sorriso ou gargalhada por algo que ele havia lhe contado. O rapaz não era estranho e tinha quase certeza que o conhecia de algum lugar, só não conseguia me lembrar de onde.
Georg e Gustav se aproximaram, quando eu estava prestes a entrar no carro. Continuei o que estava fazendo, abri a porta, me sentei atrás do volante e dei mais uma tragada no cigarro, jogando-o no chão em seguida. Dei mais uma olhada de relance para ela, depois para o horizonte e logo os meninos estavam ali.

- Festa da Bruna hoje, você vai? – pergunta Gustav.
- Ainda não sei. – respondi.
- Como assim? – diz Georg. – Você não costuma perder nenhuma festa que ela dá.
- Não estou tão animado assim, só isso. – coloquei o cinto de segurança.
- Se resolver qualquer coisa, avisa. – diz Gustav, e os dois se retiram.

Eu realmente não estava tão a fim assim de ir numa festa ou qualquer outro tipo de lugar que tivesse música exageradamente alta, mas ficar em casa não resolveria nada e só me faria sentir mais tédio. Pensando bem, até que não seria uma má idéia sair para me divertir. Estou mesmo precisando de um pouco disso. Relaxar a mente e esquecer o mundo por algumas horas.
Liguei o rádio, colocando um cd qualquer. Girei a chave, dando partida no carro e indo para casa. Durante o percurso, me lembrei das coisas que a Aiyra havia dito na detenção. Não que eu quisesse ficar me lembrando dela ou algo semelhante, mas os pensamentos simplesmente foram surgindo e não pude evitar. Era como se ela e aqueles olhos não quisessem mais sair da minha mente. Sem falar da fragrância do seu perfume, que parecia estar em todo o lugar por onde quer que eu passe.
Alguns minutos depois, cheguei e me deparei com a minha mãe sentada no sofá da sala, vendo mais uma daquelas revistas de decoração. A cumprimentei e subi os primeiros degraus da escada, mas precisei tirar algumas dúvidas. Era o tipo de curiosidade que não costumava me “atacar” e que der repente me bateu. Dei a volta no sofá, colocando o casaco no braço do mesmo, e me sentei ao lado dela.

- Mãe... Posso lhe fazer uma pergunta?
- Claro, filho. – ela fecha a revista, colocando-a sobre a mesinha de centro. Ajeita sua saia, cruza as pernas e me olha. – Em que posso ajudá-lo?
- Acha que sou uma pessoa estranha, fria, ou até mesmo difícil de lhe dar?

Pela sua reação, foi um tanto quanto inesperada aquele tipo de pergunta e não estranhei ela ter ficado calada por alguns segundos. Não costumamos conversar sobre personalidade e de uma hora pra outra eu chego fazendo isso. Mesmo sabendo que mães sempre tem a capacidade de dizer que seu filho é tudo aquilo que ele de fato não é, consigo acreditar na dona Simone. Ela tem o poder de me fazer sentir melhor e não mentir.

- Bom... – ela respira fundo, tentando encontrar as palavras certas e tive medo de ouvir a resposta. – Você é tão calado, orgulhoso e às vezes nem parece ter sentimentos, assim como seu pai. Mas eu sei que ai dentro há alguém que sofre por ter que ser assim. – faz uma pausa. – Apesar de o seu pai ser mais rígido contigo do que com o Tom, você não precisa ser como ele quer. Só basta... Ser você mesmo e deixar que o resto apenas aconteça.

Saber que sou tão parecido com o Gordon, não me deixava nem um pouco orgulhoso. Da mesma maneira que os pais dele agiam, ele tenta repetir comigo. A parte ruim disso tudo é que está funcionando, e a parte pior ainda é que eu não faço nada para impedi-lo.

- Então a senhora acha que eu deva mudar, é isso?
- Faça o que for melhor pra você, querido. – sorriu com ternura, se levantou, me deu um beijo na testa e saiu.

Subi para o quarto, ainda tentando descobrir o que era melhor pra mim. Joguei o casaco sobre a cama, tirei a roupa e fui para o banheiro. Necessitava passar vários minutos debaixo da água quente do chuveiro pra aliviar qualquer tipo de tensão do corpo. Sai após meia hora, e me assustei ao ver o Gordon ali no quarto, sentada na cadeira próxima a escrivaninha.

- Como anda o nosso combinado? – pergunta ele, sério. – Está conseguindo o que lhe pedi?
- Não é tão simples assim. – disse me aproximando do guarda-roupa e abrindo o mesmo. – Lhe contei que não nos damos muito bem, não é?
- Pois é melhor que comece a se dar muito bem com aquela “mina de ouro”. – riscou as aspas no ar, e escolhi uma peça de roupa. – Do contrário, dê adeus à sua faculdade de música.
- Pensa que é fácil convencer uma garota assim, da noite para o dia? – vesti uma blusa preta. – E além do mais, não sei se esse plano vai dar certo. Também não gosto dessa história de usá-la para fins financeiros.
- Seu objetivo não é gostar – ele se levanta. -, mas fazer. E não banque o bom moço logo agora, Bill. Nós dois sabemos que dentro deste corpo existe um coração de pedra, e que você conseguirá cumprir essa tarefa com um simples estalar dos dedos, basta querer.

***

Liguei para o Gustav, avisando que em pouco tempo estaria chegando á festa. Só demorei pra tomar outro banho e trocar de roupa, após isso não levei nem quinze minutos para estar me aproximando da casa que era quase à beira de um lago. A única coisa que dava a distância entre os dois era um bosque com pinheiros.
Estacionei o carro, e fui cumprimentando todo mundo que conhecia e via pela frente. O lugar era iluminado com tochas grandes de fogo, a música eletrônica fazia com que ninguém ficasse parado, e havia comida e bebida à vontade. Enquanto falava com alguns amigos, olhei de relance para um dos lados e lá estava ela, usando um vestido curto de cor azul claro e dançando como se aquela fosse sua última noite. Coloquei a mão no peito ao sentir algo estranho. Algo que nunca senti antes e que me deixou com certo medo, por não saber do que se tratava, se poderia ser bom ou ruim. Pra variar, ela estava acompanhada por aquele cara.

–--
(Contado por: Aiyra)

O meu dia não foi um dos melhores, pois antes de vir pra cá tive mais uma daquelas terríveis brigas com o Pedro. Ele insistia em dizer que eu estava de castigo, e sinceramente, não iria ficar em casa só porque ele queria. Consegui vir para a festa da Bruna depois de receber uma grande ajuda da Clarisse, que se intrometeu e o convenceu a me liberar. E cada vez mais venho me simpatizando com ela, ou pelo menos com o jeito que vem que tratando.
Dançava com o Nick e o celular dele toca. Não dava pra ouvir nada com todo aquele barulho, e ele só descobriu que o aparelho tocava, pois vibrava em seu bolso e isso fez uma boa diferença. Conversa vai e conversa vem...

- Preciso ir agora. – diz ele, após desligar e ao meu ouvido. – Tenho um serviço pra fazer.
- Agora? – perguntei. – Não pode deixar pra amanhã?
- Eu disse que vim a trabalho e não posso vacilar.
- Mas é tarde!
- Relaxa, pequena. – sorri. – Amanhã estou de volta e terminaremos de festejar de outra forma. – sorriu maliciosamente. – Quer que eu te leve pra casa?
- Não. – respondi. – Vou ficar mais um pouco.

Nick vai embora e fico parada na pista de dança, sendo empurrada pelo pessoal que se divertia. Me sentia sozinha e estava a fim de espairecer, e isso só tem graça com ele. Foi a razão por eu ter brigado com o Pedro e tê-lo desafiado, pois do contrário, não teria queimado ainda mais o meu filme.
Fiquei sabendo que ali perto tinha um lago, e fui até lá. Tirei a sapatilha, me sentei na ponte e coloquei os pés dentro da água. A Lua estava cheia e apenas sua claridade iluminava aquela parte, o que era suficiente. Aproveitei o momento sozinha, pra pensar na vida e no quanto ela havia mudado em tão pouco tempo.

- Não está gostando da festa? – virei a cabeça para ver quem era.
- Perdi o ânimo der repente. – voltei a olhar para a água.
- É, também aconteceu comigo. – Bill se senta ao meu lado. – A noite está calorosa e linda, não está? – ele olhava pra cima. – Eu particularmente prefiro o frio, mas a Lua cheia também me encanta, e você?
- Tanto faz.
- Como? – me olha.
- Tanto faz. – repeti.
- Não. – dá uma leve risada. – Digo, como assim? Tanto faz?
- Gosto dessa palavra. – olhei as poucas estrelas no céu. – Uso quando não quero responder ao que perguntaram.
- Ah.

Ficamos calados, e enquanto eu balançava os pés devagar, ele se levanta e começa a se despir. Me assustei com sua atitude e não entendia o motivo da mesma. Lhe perguntei o que estava fazendo, e disse que sentiu uma vontade incontrolável de nadar. Bill pula no lago, fazendo com que um pouco de água respingue em mim. Me levantei com raiva.

- Você é doido? Doente? Ou o quê? – disse, quase gritando.
- Tanto faz. – respondeu.
- Tanto faz? – coloquei as mãos na cintura.
- É. – riu. – Gosto dessa palavra. Uso quando não quero aceitar os fatos. Aprendi com uma garota há alguns minutos, e além de belos olhos ela tem um sorriso lindo e fica ainda mais bonita com raiva.
- Está me cantando? E como sabe do sorriso dela? – cruzei os braços. – Ela nem sorriu.
- Aposto nisso, que ela ainda vai sorrir pra mim.
- Eu duvido, porque ela não teve um dia legal.
- Eu não. – ele mergulha novamente e volta a superfície. – A água está uma delicia, não vai entrar?

Claro que não! Em hipótese alguma eu tiraria minha roupa e pularia naquela água que parecia estar fria, mesmo com todo aquele calor. Mas o Bill insistiu tanto, chegou a me molhar pra tentar me convencer, e cedi. Fiquei de costas, e tirei o vestido, deixando-o num lugar seguro para não se molhar. Saltei no lago, antes que me arrependesse. Como eu havia previsto, a água estava fria.

- Me arrependi de ter pulado. – disse.

Olhei em volta e não o encontrei. Meu Deus, será que cai justamente em cima dele e o matei afogado? Chamei por seu nome algumas vezes, e nada.

- Tá legal, Bill – disse mais alto. -, você já pode aparecer. Isso não tem a menor graça.

Ele não ter respondido ao meu chamado me fez começar a ficar com medo. Outra vez chamei por seu nome, e fui surpreendida pelo próprio, me assustando. Minha vontade era de afogá-lo por ter feito aquilo.

- Idiota! – ele ria. – Isso não foi nada engraçado.
- Foi sim. – fiquei com mais raiva, e mesmo assim, deixei escapar um sorriso.
- Viu, eu disse.
- O quê?
- Que ela tinha um lindo sorriso.

–--
(Contado por: Bill)

Ela ficou calada, talvez sem saber o que dizer. Nesse meio tempo, ficamos mais próximos um do outro. Não sei exatamente se foi um impulso, ou se queríamos mesmo que aquilo estivesse acontecendo. Seus olhos brilhavam e senti novamente aquela sensação de algumas horas atrás. Nossos olhares se cruzaram e pude reparar no quão bonita ela é, e como ficava ainda mais bela sob a luz do luar.
O coração dentro do peito acelerou e as minhas mãos tremeram. Meus olhos percorreram cada centímetro do seu rosto e parei nos seus lábios. O que está acontecendo? Sem percebermos, fomos chegando mais perto. Agora eu quase podia sentir sua respiração e por mais que eu quisesse controlar – ou não -, encostei ainda mais meu rosto.

- O que está fazendo? – pergunta ela, num quase sussurro.

Continua...

Postado por: Grasiele

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Arquivos do Blog