segunda-feira, 30 de abril de 2012

Coração De Outono - Capítulo 17 - O começo é a porta da biblioteca.

(Contado por Aiyra)
Noite de jantar na mansão Kaulitz e eu me encontrava sentada na cama, de frente para o guarda-roupa que estava com as portas abertas. Não fazia a menor noção do que usar e pra ser bem sincera, eu nem tinha uma roupa adequada. Nunca tenho. Pra falar a verdade, quando se trata de jantares, comemorações ou qualquer coisa muito sofisticada, eu não sei como me vesti. Não fui criada freqüentando esse tipo de lugar e agora me vejo desesperada.
Me levantei e comecei a olhar de uma a uma as roupas que tinham ali dentro. Nada era bom o suficiente e tudo era muito casual. A vergonha de ir até o quarto ao lado e pedir uma pequena – grande – ajuda para a Clarisse, era enorme. Além de não nos falarmos normalmente, eu a tratava com indiferença, assim como o restante das pessoas. Acho que preciso aprender a ser um pouco mais falsa. Isso seria bem útil numa hora como esta.
Desci até o escritório do Pedro. Bati na porta e entrei logo em seguida. Ele parecia rever alguns papéis e eu estava ali para atrapalhar – como sempre faço. Só atrapalho. Fui para próximo de sua mesa e ele ficou me olhando, esperando que eu falasse algo.

- Algum problema? – pergunta ele.
- Não tenho roupa. – disse.
- Como assim? E o que você anda usando por ai? – deixou os papéis de lado. – Não vai me dizer que resolveu fazer nudismo?
- Quero dizer que não tenho roupa adequada para ir à sua comemoração.
- Ah. – pareceu aliviado. Ficou calado, talvez pensando. – Acho que temos um probleminha, não é?
- Probleminha? – cruzei os braços. – Temos uma avalanche de problemas! Não posso ir à casa dos Kaulitz usando calça jeans e uma camiseta! A não ser que você queira.
- Claro que não! – ele se levanta. - O que acha de sairmos para comprar algo?
- Há essa hora? – olhei para o seu relógio sobre a mesa. – A comemoração é daqui três horas.
- Esqueceu-se que a Clarisse é dona de um ateliê?

De carro, fomos ao ateliê da esposa dele. Como a Anna não poderia ficar sozinha em casa, ela nos acompanhou com aquele seu imenso entusiasmo e um sorriso de dar inveja a qualquer um. Nunca vi uma garota sorrir e rir tanto igual a ela. Demoramos no máximo uns dez minutos para chegar.
A Clarisse me recebeu como sempre, cheia de simpatia. Onde esse pessoal tomou aula pra ser tão legal assim? Ela me ajudou a escolher alguns vestidos e deu algumas dicas. Entrei na cabine para experimentar, e por mais que a boa vontade dela fosse enorme, nenhum daqueles vestidos estavam ficando bem em mim. Pensei em desapontar o Pedro mais uma vez e dizer que não iria a lugar nenhum.
Restava apenas um. O último. Aquele que decidiria o futuro daquela comemoração. Se ele não ficasse legal, eu com certeza desistiria. Encarei o vestido, respirei fundo e rezei. O vesti e me olhei no espelho. Eu parecia um desastre ambulante. Já estava considerando a possibilidade de iniciar algum tipo de tratamento, se é que pra feiúra tem tratamento. Eu não posso ser desse planeta!

- Pedro, nada está ficando bom. – disse.
- Querida, porque você não vem até aqui para vermos?

Abri a cortina, dei alguns passos e fiquei de frente para os três. O Pedro se ajeitou na poltrona vermelha, a Anna ficou boquiaberta. Meu Deus! Isso está horrível em mim! A Clarisse sorriu. Eles ficaram calados, o que aumentou ainda mais meu nervosismo.

- Por favor, falem alguma coisa!
- Você está linda, filha. – diz Pedro.
- Mamãe, eu quero um desse. – disse a Anna.
- Eu tinha certeza que esse vestido ficaria perfeitamente bem em você. – diz Clarisse.
- Estão brincando comigo? Tem certeza que ficou bom?
- Você será a mais linda da comemoração. – disse Pedro, e sorri.

O próximo passo era ir num salão e arrumar o cabelo. Eu não queria que fosse algo muito armado, então a cabeleireira só fez alguns cachos nas pontas. A maquiagem foi a mais leve possível. Voltamos para casa e eu só tive o trabalho de colocar novamente o vestido, o sapato de salto, perfume... Essas coisas que não levam tanto tempo.

–--
(Contado por: Bill)
Os convidados foram chegando aos poucos e eu ia cumprimentando cada um deles, do jeito mais simpático que eu conseguia. O sorriso no meu rosto era fixo e por alguns instantes senti medo de não conseguir tirá-lo quando tudo acabar.
Um garçom passou e peguei uma taça de champanhe. Conversei sobre negócios com vários empresários ali presentes, e em pouco tempo aquele lugar começou a me sufocar. Eu precisava de algo “novo”. Todos os assuntos que estavam em minha mente, acabaram. Era gente demais pra pouco pensamento. E como não sou fã desse tipo de festa, fico entediado com muita facilidade.
O pianista tocava algo calmo, o que me deixava com sono. Disfarcei e bocejei duas ou três vezes. Vi um importante empresário conversando com o Gordon e me juntei a eles. Não era o melhor papo do mundo, mas me distrairia por mais algum tempo. Olhei de relance para a porta e a vi entrar com sua família. Estava linda, ainda mais com aquele sorriso. Usava um vestido vermelho de comprimento um pouco acima do joelho, ombro único e meio justo ao corpo. Seus olhos brilhavam como duas esmeraldas e como seria esperado, ela se destacava entre as outras mulheres do local, que usavam cores neutras.
Sorri. Não consegui deixar de sorrir ao olhá-la. Esse tipo de coisa ultimamente anda sendo mais forte que eu. Como se sua presença me fizesse perder os sentidos, como se ela fosse o principal motivo d’eu ainda não ter dado alguma desculpa para não estar ali. E de certa forma, ela era mesmo.

***
(Contado por: 3º pessoa)
As horas iam passando devagar e no decorrer da comemoração, Aiyra passou um bom tempo conversando com Simone sobre obras de artes e livros. Nisso as duas tinham um excelente gosto. A senhora Kaulitz se ofereceu para mostrá-la alguns quadros novos e caros que havia comprado num leilão, e a enorme biblioteca da mansão. Elas foram primeiro a biblioteca, já que lá também continha alguns quadros. Enquanto contemplavam o lugar, uma das empregadas apareceu.

- Senhora Kaulitz, poderia vir comigo um minuto? – pergunta a moça.
- Claro. – diz Simone. – Fique à vontade, Aiyra.
- Obrigada.

No meio do caminho, a mãe dos gêmeos encontra Bill, que já havia inventado a desculpa da dor de cabeça para se livrar do restante da comemoração. Ela não o deixou escapar e lhe fez um pedido.

- Mãe, não estou me sentindo muito bem. – ele tentava sustentar a mentira.
- Esse truque não funciona comigo, Bill. – diz ela. – E não custa nada ir ajudar a garota.
- Ela por acaso tem algum problema de visão? Não sabe procurar livros sozinha?
- E você, não sabe ser mais educado?
- Mãe!
- Vá fazer companhia à garota e não seja como seu pai.
- Farei isso apenas por que está me pedindo.

E ele por acaso tinha outra saída? Até tinha, mas preferia pensar que não. Bill foi a biblioteca, onde encontrou Aiyra olhando para a imensidão de livros nas prateleiras de madeira vindas diretamente da Inglaterra. Ele chegou com aqueles passos quase imperceptíveis, e praticamente disse ao pé do ouvido dela:

- Precisa de ajuda? – ela se vira rapidamente.
- Precisaria de uma arma nesse exato momento pra atirar num certo idiota que gosta de assustar as pessoas. – responde e ele ri.
- Me desculpa, não tive a intenção de assustá-la. Só vim lhe fazer companhia.
- Obrigada, mas não é necessário. Pode voltar para o salão.
- Na verdade, a minha mãe me obrigou, então... Tenho que ficar.

Aiyra continua observando os livros, depois para em frente a um quadro. Naquele instante era seu preferido. O desenho da torre Eiffel, um verdadeiro encanto. Desejou que não tivesse ninguém ali, para que pudesse fechar os olhos e se imaginar andando pelas ruas de Paris. Mas infelizmente tinha a presença de um certo alguém, o que não a impediu de observar e admirar mais.
Ela também folheou alguns livros e se interessou muito por vários deles. Se tiver outra oportunidade, pegará os nomes deles para comprar. Por enquanto ficaria somente na vontade de tê-los. Sobre a mesa da biblioteca havia um livro consideravelmente grande, então ela se aproxima para olhá-lo.

- E este livro aqui? – ela o abre.
- Não é um livro. – responde Bill, que também se aproxima. – É um álbum de fotografias. – Aiyra começa a olhar. – Essa é a foto do primeiro encontro dos meus pais.
- Ah, que bonitinho.

Mais algumas folhas foram passadas. Tinha fotos de mais encontros, de casamento, passeios, ultra-sonografia, das primeiras semanas de gravidez, da barriga da Simone no decorrer dos meses e como a mesma cresceu. Tinha fotos do nascimento dos gêmeos e de como o Gordon parecia feliz por estar sendo pai. Fotos do primeiro aniversário, dos primeiros passos... Uma em especial fez com que Aiyra não conseguisse controlar o riso: Bill segurando um pratinho de comida e com o rosto todo lambuzado.

- Caramba, como você era fofo! – ela comenta. – O que foi que aconteceu contigo? O que te fez virar isso que é hoje? – ele ri.
- Mas eu ainda sou fofo.
- E depois eu é que estou sendo iludida.
- Quando a foto do bebê mais sexy chegar, eu te mostro o que é fofura.

A foto do bebê mais sexy era dele, quando tinha acabado de sair do banho. Deveria ter oito ou nove meses e se encontrava completamente pelado, com um sorriso no rosto. Aiyra riu ainda mais.

- Não acredito que te vi pelado. – diz ela, ainda rindo.
- Diz a verdade, você bem que gostou, hein? – foi um tanto malicioso.
- Ai que nojo! – eles riem. – Você era uma criança. Ou melhor, ainda é.
- E novamente a pessoa mais experiente do mundo fala.
- Ok, eu vou confessar que você foi mesmo uma coisinha bonitinha.
- Valeu. E você também não deve ter sido muito feia.
- Tá brincando? – ela o olha. – Pra sua informação, ganhei o concurso de bebê mais bonito.
- Até parece. – ele solta uma gargalhada.
- Duvida? Qualquer dia desses eu te mostro as fotos.

O riso dela fazia com que ele perdesse a noção de tudo e sua voz poderia ser escutada por horas seguidas, sem que enjoasse. E sem nem ao menos notarem, os dois se divertiam com a presença um do outro.

***
Sentados lado a lado no sofá da biblioteca, os dois continuavam conversando...

- Não sabia que gostava tanto assim de música. – diz Aiyra.
- É uma das minhas paixões secretas. – diz Bill.
- Isso significa que há outras?
- Outras o quê?
- Paixões. – ela se ajeita. – Outras paixões secretas.
- Talvez.

O tempo passava meio depressa e eles ainda não tinham se dado conta que havia uma proximidade maior. O jantar? Esse fora esquecido no momento que os dois se encontraram naquele lugar.

- E você, tem algum tipo de paixão secreta? – pergunta ele.
- Sinceramente... Tenho. – faz uma breve pausa. – Eu amo... – olha pra ele. – Desenhar. Ou melhor, amava.
- No passado?
- É uma história... Longa e complicada.

Ficam em silêncio por um tempo.

- Você acha mesmo que eu tenho cara de quem beija mal? – ela ri.
- Bill, se você ta querendo me beijar, é só falar. – ela o olha. – Tipo, “Aiyra, eu tô a fim de beijar você, e ai, será que rola?”. – os dois riem. – Não precisa jogar essa indireta.
- Não foi uma indireta.
- Caramba, então você quer me beijar? – fica surpresa.
- NÃO! Quero dizer... – gagueja. – Talvez... Tanto faz.
- Tanto faz?
- Aiyra, dá pra parar de fazer pergunta?! – ele se levanta.
- Você quem começou! – ela também se levanta.
- E estou terminando.

Aiyra não entendeu absolutamente nada.

- Esperai. – ela se aproxima dele. – Você quer ou não?
- Eu não posso! – responde ele.
- Não pode? – fica confusa.
- Não, não posso.
- O que há demais num beijo? Ok, agora ficou parecendo que eu também quero.
- Você quer?
- Você não pode. E além do mais, você deve mesmo beijar muito mal. – coloca as mãos na cintura.
- É um desafio?
- Não sei. Você acha que é? – cruza os braços.
- Acho que estamos parecendo dois adolescentes bobos.
- Verdade. – ela pega sua bolsa, caminha em direção a porta e se vira – Mas... Porque você não pode?
- Porque eu sou um imbecil, e acabaria te magoando.
- Tem razão. Você é um imbecil. – ela se retira.

Ele volta a se sentar. Solta um suspiro e começa a pensar se o que estava prestes a fazer era mesmo a coisa certa. Já não sabia mais que caminho seguir e pelo quê lutar.

Postado por: Grasiele

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