sexta-feira, 27 de abril de 2012

Coração De Outono - Capítulo 10 - Acontecimentos de rua.

(Contado por 3º pessoa)

A essa altura ela estava encostada contra a parede, com as mãos imobilizadas pelo homem que continuava beijando-a. O medo a percorria, enquanto tentava frustrantemente se desvencilhar. Os outros dois estavam mais um pouco afastados apenas vendo a cena, rindo e fumando. Pensa rápido Aiyra, ele vai tirar seu sutiã! Pensa rápido, pensa! Quando a mão livre dele conseguiu encontrar o fecho do sutiã dela, uma luz – daquelas quando uma pessoa tem uma incrível ideia – se acendeu em sua mente. Num movimento rápido, Aiyra acerta com o joelho as partes intimas do homem. Com a dor, ele a larga e se encolhe um pouco.

- Vadia! – diz ele, com dificuldade. – Eu vou te matar, cachorra!

Perfeito! Pensou ela. Mais uma ameaça de morte nas minhas costas. Ela não iria ficar ali esperando que ele se recuperasse do chute e a matasse, então se aproveitou da situação e saiu correndo. Às vezes olhava para trás e numa dessas notou que dois dos três rapazes estavam seguindo-a. Ela nem sabia ao certo onde estava só tentava correr o mais rápido possível.
O certo é qualquer pessoa olhar para os dois lados da rua, se a mesma for de mão dupla pra não correr o risco de ser atropelado. No seu caso, estava tão desesperada que assim que avistou o primeiro carro vindo, se colocou na frente. O veiculo teria que parar, a não ser que o motorista quisesse atropelar alguém. A poucos centímetros de Aiyra, o carro fora freado. Os vidros eram escuros e não dava pra saber se era um homem ou uma mulher atrás daquele volante. Ela ficou tão distraída, tentando adivinhar se aquele ser humano iria ou não sair para lhe ajudar, que nem ao menos percebeu quando os dois rapazes chegaram perto.

- Pensou que iria escapar? – diz o loirinho, segurando seu braço.
- Me solta! – diz ela, novamente tentando se desvencilhar.

Talvez o destino tivesse trabalhando arduamente para que mais um encontro acontecesse. Não era a melhor hora, mas isso não era importante naquele instante. A porta do carro se abre e ao sair, Aiyra pôde ver que era ele, Bill Kaulitz. Não dava pra saber o que era pior: permanecer ali para ser estuprada ou acompanha-lo e no meio do caminho os dois tentarem se matar. Mas de uma forma inexplicável, a presença dele a confortou e ela sentiu um alivio um tanto grande. De algum jeito ela sabia que não correria risco algum se estivesse ao seu lado.
Que ela tinha aprontado alguma, disso ele tinha certeza. Aqueles homens não costumam ir atrás de ninguém atoa. Não era exatamente da sua conta e por um instante Bill pensou em deixa-la para se virar por conta própria, pois não seria uma má ideia vê-la se dando mal. Mas alguma coisa lhe dizia que não podia fazer isso, que não podia deixa-la sozinha. Ele conhece muito bem esse tipo de gente, e aqueles rapazes um dia lhe venderam drogas. Não seria nada difícil negociar com eles, um pouco de dinheiro e o problema – seja lá qual fosse – estaria resolvido.

- O que estão fazendo? – pergunta Bill.
- Essa vagabunda chutou as bolas do patrão! – diz o que a segurava.
- Vagabunda é a senhora sua mãe! – diz Aiyra.
- Soltem-na agora! – Bill ordena, com seriedade. – E também acho melhor começarem a ter mais respeito pela mulher dos outros – ele vai se aproximando. -, porque essa vagabunda que estão dizendo, é a minha namorada.

O que ele está fazendo? Aiyra se pergunta. Ela não queria pensar muito no que ele poderia estar tentando fazer, só queria se livrar logo daquilo e ir para casa.

- E desde quando um cara como você tem namorada? – diz o outro.
- Vou fingir que não escutei isso, por não ser da conta de nenhum dos dois! – fala mais alto. – O que estão esperando para deixa-la em paz?

O rapaz solta o braço dela e lhe dá um leve empurrão, impulsionando-a a ir de encontro ao Bill. Ventava um pouco e ao se aproximar, não demorou muito até que ele sentisse o seu cheiro. Não era apenas perfume, era como se fosse um cheiro próprio, um tipo de marca que só ela tinha.

- Você está bem? – pergunta a ela, acariciando seu rosto. Aiyra assente positivamente com a cabeça, ainda sem entender o motivo de ele estar agindo daquele jeito. – Então entra no carro. – ela obedece. – E quanto a vocês, acho melhor não mexerem mais com ela, ok?
- Esperai! – diz o loiro. – O que a gente vai falar para o patrão?
- Diga a ele que resolvo isso depois.

Bill entra no carro e dá partida. O percurso sem rumo se iniciou e eles não trocaram uma palavra se quer nos primeiros minutos. Aiyra esfregou uma mão na outra, demonstrando estar com frio, e ele liga o aquecedor. Não pareceu ter adiantado muita coisa, mas isso era fácil de explicar. Com essas roupas curtas só poderia estar sentindo frio mesmo. Bill pensa consigo mesmo, enquanto olhava disfarçadamente para as pernas dela. Num gesto de cavalheirismo – o que não costuma ter – ele diz:

- Tem um casaco no banco de trás. – voltou seu olhar para a estrada.
- Que ótimo! Assim você para de olhar as minhas pernas.

Ela se inclina um pouco e pega o mesmo, vestindo-o logo em seguida. E como era previsto, o casaco fica grande. Aiyra prende o cabelo e coloca o sinto de segurança. Para não ficarem naquele silêncio todo, ela toma a liberdade de colocar uma música para tocar e ele desliga o som poucos segundos depois.

- Ok. – diz ela. – Pelo menos fala alguma coisa.
- Não sou obrigado a falar contigo. – permanecia sério.
- Então tá. – novamente liga o som, e outra vez ele desliga. – Garoto chato!
- Acabei de salvar sua vida, deveria me agradecer.
- Ah, quer dizer que esse circo é por falta de agradecimento? – ela o encara. – Tá legal... Obrigada. – ele a olha. – Mas isso não significa que alguma coisa tenha mudado. Eu continuo te achando a pessoa mais imbecil do mundo e te odiando. – ele solta uma leve risada.
- Que bom, porque eu realmente não queria que nada mudasse.

Alguns breves e contáveis minutos calada, e Bill começava a compará-la ao burro do Shrek. Ela havia “desobedecido” uma ordem sua e ligou o som pela terceira vez. Além de estar cantando, perguntava para onde estavam indo e nem ele sabia ao certo. Mais que droga, que garota irritante! Pensa ele, desejando que ela tivesse um botão de desligar. Foi se segurando, aguentando até não conseguir mais.

- Dá pra calar a boca?! – grita ele.
- Cala a boca você! – grita de volta. – Tá pensando que é quem? – ele freia bruscamente o carro, fazendo seus corpos irem para frente e voltarem ao mesmo lugar. – O que foi? Parou por quê?
- Desce do carro. – destravou as portas. – Desce da droga do carro agora!

Com raiva e não se preocupando com o que poderia acontecer, ela abre a porta e sai. Bill acelera novamente, e vendo pelo retrovisor que ela ficou parada no meio da rua, sente algo diferente. A parte boa de sua consciência ordenava que desse marcha ré e se fosse preciso, a obrigasse a voltar para o veiculo. A parte má lhe dizia que seguir em frente era o melhor a se fazer, e que ela se danasse sozinha. Ele fechou os olhos e pela primeira vez na vida sentiu um arrependimento inexplicável. Acabou optando por ouvir a sua parte boa.

- Vocês se odeiam, Bill. – dizia a si mesmo. – E não é sua obrigação leva-la em segurança pra casa.

Mas se não o fizesse, ficaria se perguntando como ela estava e se havia chegado bem ou não. Pra não correr esse risco, parou o veiculo ao lado dela. Abaixou o vidro...

- Sei o caminho de casa. – ela mente, pois não fazia ideia de onde se estava. – Pode ir embora!
- Quer mesmo que eu vá até ai e a force a entrar?
- Experimenta encostar um dedo em mim e arrebento a sua cara! – foi ignorante.
- Deus, me dê paciência. – ele olha pra cima. – Deixa de ser orgulhosa, garota e entre logo!
- Não preciso de você!
- Mais que desgraça! – ele sai. – Entra na porra do carro! – grita.
- Eu te odeio, Kaulitz. – disse, enquanto se encaravam.
- Sério? Isso vai mudar completamente minha vida. – foi sarcástico.

Talvez tivesse razão e nem ao menos soubesse. Talvez aquilo fosse mesmo mudar sua vida de alguma maneira. Não era possível prever o futuro, mas muita coisa pode acontecer em pouco ou muito tempo. E após rodarem por mais de vinte minutos, finalmente o automóvel fora estacionado do outro lado da rua. Eles permaneceram calados. Ela, pensando que apesar de qualquer coisa o Bill quis ajudar. Ele, tentando entender e encontrar quais as razões que o levou a voltar. Os dois sabiam – ou achavam – que uma simples carona não iria mudar em absolutamente nada entre eles e se fosse possível, poderia piorar as coisas.

- Porque fez aquilo? – ela rasga o silêncio. – Porque desceu do carro pra me ajudar?
- Você precisava. – responde.
- Fez isso duas vezes. – se olham. – Poderia ter me deixado lá.
- Vou me lembrar disso da próxima vez.

Abandonar alguém praticamente no meio do nada não é exatamente uma de suas diversões favoritas. Bill não tinha qualquer tipo de resposta pelo ocorrido, não sabia o motivo concreto, ou bem no fundo soubesse. Tinha certeza que não era apenas para tê-la ainda mais em suas mãos, era muito mais que isso, mas não dava pra dizer, mesmo que quisesse e tentasse.
Era madrugada. O vento soprava e anunciava que assim que amanhecesse, faria muito frio. Aiyra começa a tirar o casaco dele, quando é interrompida.

- Não tem que devolver agora. – diz Bill. – Está meio frio lá fora.
- Não quero ficar com nada que te pertence. – termina de tirar o casaco e o coloca no banco de trás. Abre a porta e antes de sair... – Valeu pela carona.

Bill espera até que ela atravesse a rua e entre em casa. Continua parado ali por mais dois ou três minutos, sem saber que estava sendo observado pela Aiyra por uma pequena fresta da cortina de uma das janelas.

***

Ele fecha a porta do quarto, jogando o casaco em cima da cama e indo à varanda. A Lua estava bonita e seus pensamentos logo começaram a se perder. Ela mexe com ele. De alguma forma ela mexe muito com ele. Talvez fosse seu jeito marrento, ou o modo como fala, quem sabe não são seus olhos? Bill tinha que admitir que ela é dona de belos olhos, não somente pela cor, mas por eles esconderem algo que um dia ele acabaria descobrindo.
Se deita na cama de barriga para cima e fica olhando para o tento. Havia um cheiro diferente naquele espaço, e ao olhar para o lado, se depara com o casaco que há poucos minutos cobria o corpo dela. Seus olhos se fecharam e suas narinas aspiraram aquele perfume.

- Vocês se odeiam. – repetiu para si mesmo. – E isso nunca vai mudar.

Bill se levanta, começa a tirar sua roupa e vai andando para o banheiro. Liga o chuveiro e entra debaixo da água fria, ficando ali por mais ou menos quinze minutos. Se lembrou do exato momento em que a viu parada em frente ao carro, com aquele olhar meio aflito. Balança a cabeça, tentando se desfazer daqueles pensamentos.
Ao sair, ainda com uma toalha enrolada em sua cintura, vai à escrivaninha. Abre a gaveta e pega a caixinha azul. Eu preciso parar com isso. E precisava parar antes que acabasse com sua própria vida, perdendo todos os seus sonhos sem nem ao menos tê-los conquistado.

Postado por: Grasiele

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