sexta-feira, 27 de abril de 2012

Coração De Outono - Capítulo 9 - O passado nunca é totalmente passado.

(Contado por Pedro)

Nesse exato momento a Anna dormia feito um anjinho em sua cama. Aquela deveria ser a terceira ou quarta vez que fui até seu quarto para verificar se estava tudo bem. Me aproximei de sua cama, puxei um pouco o cobertor. Dei-lhe um beijinho na testa, e abri um pouco a cortina da janela, somente o suficiente para a claridade penetrar no ambiente e ela se sentir melhor ao acordar.
A Clarisse estava no ateliê e provavelmente só chegaria à noite. As encomendas de vestidos de noiva aumentaram e ela quase não tinha tempo para realizar outras atividades, como costumávamos fazer logo que nos casamos. E se eu for parar para pensar um pouco, nada mais estava como antes. Não digo só pelas duas mudanças de residência que fizemos, mas nós também mudamos muito.
Desde que a Anna nasceu, as coisas se modificaram de um jeito estranho. Não consigo mais ter aquele relacionamento afetivo, cheio de emoções com a Clarisse. Parece que nós... esfriamos um com o outro. Talvez seja pelo fato de trabalharmos muito para favorecermos o que não tivemos para nossa, ou melhor, nossas filhas. Mas está faltando algo. Está faltando uma peça desse quebra-cabeça.
Aproveitei o silêncio quase que ensurdecedor da casa, para me concentrar na leitura e análise de alguns relatórios da empresa, que não pareciam ter fim. Agora que tenho sociedade com um dos homens mais ricos da cidade, preciso saber exatamente o que fazer com os lucros. Posso dizer que tudo corria perfeitamente bem, até que o passado começou a atormentar o meu presente.

(Flashback)

Fazia exatamente cinco meses que estávamos casados. Nosso cantinho não era tão grande, muito menos cheio de luxo. Era uma noite chuvosa e nos encontrávamos sentados e abraçados à beira de uma minúscula lareira na sala. As luzes apagadas deixavam o ambiente um tanto quanto romântico. Eu não precisava de mais nada, além dela. Só de ver seus olhos brilhando e seu sorriso encantador, meu dia se fazia perfeito.
A mulher da minha vida. A pessoa com quem desejava passar todos os dias, aquela que, mesmo com o passar do tempo, faria meu coração acelerar com cada palavra e me faria rir feito um bobo por simplesmente pronunciar seu nome. Era com ela que eu queria ficar até meu último suspiro.

- Pedro, eu conheci uma pessoa e acho que estou amando. – diz ela, sem me olhar.
- Como assim? – perguntei sem entender.
- Olha, aconteceu de repente, mas não deu pra evitar. Foi mais forte que eu, me desculpe.
- Quem é? – senti medo da resposta. – Eu conheço?
- Não. – respondeu, mas não me senti aliviado. – Na verdade... Nem eu conheço direito.
- O quê?
- Só iremos conhecê-lo, ou melhor, conhecê-la daqui seis meses. – sorriu de um jeito sacana.

Senti meu coração palpitar mais rápido que o normal. Por um instante achei que ele tinha parado de bater. Recuperei a consciência e o riso saiu involuntariamente. Eu não conseguia controlar.

- E-Está grávida? – perguntei e ela balançou a cabeça positivamente, mantendo aquele sorriso maravilhoso nos lábios. – Eu vou ser pai? – disse, sem acreditar. – Eu vou ser pai! – repeti, me levantando e abrindo os braços. – Vou ser pai! – gritei, enquanto ela ria.
- O melhor pai do mundo! – diz ela, e me sento novamente ao seu lado.

Selamos nossa felicidade interminável com um beijo. Ser pai era tudo que eu queria e uma criança era exatamente o que faltava para nos tornarmos uma família de verdade.

- O que acha de chamarmos a nossa menininha de Aiyra? – sugeri.
- Claro! É lindo esse nome.
- Eu te amo Cassie. – coloquei minha mão sobre sua barriga. – E prometo que... Irei amá-las a cada segundo e que cuidarei das duas sempre.

(Flashback)

Me assustei ao ouvi a porta da sala ser batida com força. Me levantei e fui verificar quem havia chegado. A empregada que tirava a poeira dos móveis, disse que fora a Aiyra e que ela aparentava estar com muita raiva. Eu queria ir até lá, mas tinha receio dela me tratar com a hostilidade de sempre e não querer conversa. Fiquei um pouco pensativo, mas no fim decidir ir ao seu quarto.
Estava no corredor que dava acesso ao seu quarto, e quando fui me aproximando da porta, ouvi sons de coisas se quebrando. Ao entrar no mesmo, me deparei com a Aiyra brigando sozinha, como se estivesse com raiva de alguém e arremessando tudo que via pela frente, na parede.

- Ei, ei, ei, ei! – cheguei mais perto e consegui pegar uma caixinha de vidro das suas mãos antes que fosse jogado contra a parede. – O que é isso? Ficou louca?
- Me deixe em paz! – gritou, com raiva.
- Pra você quebrar o quarto inteiro? – coloquei a caixinha sobre a escrivaninha. – É claro que não!
- O quê que é? – quando ela cruzava os braços e me olhava daquela maneira, me tirava do sério. – Vai querer me impedir de extravasar minha raiva, é isso?
- Quer extravasar sua raiva? – perguntei. – Comece a dar murros na parede, mas não quebre nada!
- Você não tem coisas mais importantes pra fazer, do que ficar me enchendo o saco, não?
- Aiyra... – abaixei mais o tom de voz, para talvez, ela pensar em fazer o mesmo e me aproximei. – O que houve?
- Não é da sua conta! – foi se sentar na cama.
- Eu só... Só quero te ajudar, filha.
- Por acaso eu disse que precisava da sua ajuda?
- Quer saber – levantei um pouco as mãos, como se estivesse me rendendo. -, eu tô cansado. Eu sinceramente cansei de ficar tentando melhorar as coisas, porque você não colabora e só complica! – alterei a voz. – Eu cansei de bancar o pai bonzinho, enquanto você me joga pedras! Se não quer resolver nossos problemas, por mim tudo bem. Eu desisto! Nesse exato momento estou abrindo mão de tudo, absolutamente tudo! – ela permanecia calada, e me olhava um tanto assustada. – Não vou mais me esforçar, pois vejo que meu esforço está sendo inútil.

Já ia sair, mas voltei para completar...

- Ah, e você está de castigo.

***

Retornei à sala e me sentei no sofá. Fiquei pensando no que acabara de acontece e se talvez eu não tivesse sido um tanto quanto rígido. Eu sei que aos poucos a minha paciência parece estar se acabando, mas eu não posso desistir. No fundo eu sei que não tenho o direito de desistir, mesmo ela me tratando daquela maneira.
Naquela mesma tarde, a Clarisse chegou mais cedo em casa. Achei até estranho, mas ela disse que precisava de um tempinho com a Anna. Sentada ao meu lado e tentando me consolar de todas as formas possíveis, Clarisse acariciava meu braço com a ponta das unhas.

- Eu comprei um carro pra ela. – disse. – Um modelo novo que chegou à concessionária e que foram encomendados apenas três pra esta cidade. Um dos melhores carros que eu já vi, mas que ficará guardado por um longo tempo por conta dessa maldita discussão.
- Eu sinto muito, querido. – suspirei.
- O quê que eu faço, Clarisse? – a olhei. – Por favor, me diga o quê que eu faço pra acabar com isso de uma vez?
- Você sabe o que deve fazer. – ela fez uma pausa. – Conte a verdade. Conte toda a verdade.
- Não posso fazer isso.
- Pedro – ela se ajeita no sofá, e continua me olhando. -, me desculpe pelo que irei dizer, mas... A mãe dela está morta. Você é a única família que essa garota tem, e se quiser que as coisas comecem a dar certo, precisa dizer como tudo aconteceu. – segurou minha mão esquerda. – Meu amor, você tem que mostra-la quem é o verdadeiro vilão dessa história.
- Estamos falando sobre algo que aconteceu há tanto tempo, e a mãe dela sempre foi um exemplo.
- Exemplo? Que tipo de exemplo era aquele?
- Clarisse, eu não posso. – me levantei. – Não dá. Eu não consigo.
- Tudo bem. – ela também se levanta. – No seu lugar, eu pensaria um pouco mais nesse assunto. – passa sua mão em meu rosto, levemente. – E independente da sua decisão, sabia que estarei aqui. – me dá um selinho. – Agora irei ver como a Anna está.

***

Já era noite, e mesmo que o Pedro tenha dito que eu estava de castigo, não me importava. Eu não queria e nem iria ficar presa em casa, só porque ele queria. Não mesmo, de jeito nenhum! Então peguei o celular e liguei para o Tom e combinamos de nos encontrarmos na boate. Tomei um banho rápido e me vesti com um short jeans claro, uma blusa preta larguinha com alguns paetês e sapatilha de tachinhas.
O próximo passo seria sair de casa sem que ninguém percebesse. Isso era meio difícil, e o resultado foi que acabei apelando para um velho truque. Fiz uma corrente com os lençóis que encontrei no quarto, jogando a mesma pela janela. Venci o medo de altura e desci devagar, fazendo o possível para não olhar pra baixo.
Quando já estava a certa distância da casa, chamei um táxi. Cheguei à boate em menos de dez minutos. Por saber que sou amiga do Tom, o segurança permitiu que eu entrasse facilmente. Lá dentro procurei pelo Tom, que bebia no bar. Me aproximei dele, lhe dando um beijo no rosto.

- Uau! – diz ele, se levantando. – Você está... – segurou minha mão e me fez dar uma voltinha.
- Gostosa? – completei e nós rimos.
- Lembre-se que foi você quem disse. – deu uma piscadinha.

Ainda segurando minha mão, fomos para a pista de dança. As horas passavam voando, e num segundo eu estava bebendo, n’outro estava vendo o Tom se agarrar com uma garota qualquer. Voltei ao bar para pedir mais uma bebida e comecei a pensar que se eu ficasse bêbada, gostaria muito que o barman me levasse pra casa. Não bastasse o sorriso lindo, tinha um corpo incrível e uma simpatia inexplicável.
Enquanto fiquei de costas para o balcão, observando o movimento da pista, olhei de relance para o lado e vi o Bill no maior amasso com uma morena. Senti raiva, não por vê-lo acompanhado, mas por estarmos no mesmo local e eu ter que me controlar para não voar em cima dele e arrebentar aquele rostinho. Ele e sua acompanhante vieram até o bar e pediram duas bebidas – caras.
Minha presença só fora notada, quando o barman veio me entregar o que eu havia pedido. No maior cinismo do mundo, acenei e lhe joguei um beijinho. A garota que estava ao seu lado não gostou muito, e eu ri ao ver a expressão dela. Bill veio até mim...

- Não bastasse no colégio, ainda tenho que te encontrar aqui? – diz ele.
- Ah, olha pelo lado bom gatinho – beberiquei a bebida. -, nesse lugar você não corre o risco de ser morto.
- Está me fazendo uma ameaça, Burke?
- Eu? Mas é claro que não! Imagina se eu faria algo assim. – sorri. – É lógico que estou te ameaçando. Mas fica tranquilo, porque quando eu for executar o serviço não terá nenhuma testemunha. – ele ri.
- Talvez fosse melhor eu começar a me preparar.
- Talvez sim, Kaulitz. – disse num quase sussurro. Lhe joguei outro beijinho, me levantando dali e saindo.

Apesar de a noite estar muito boa, eu não queria bancar a vela e ficar me intrometendo nos rolos alheios. Me despedi do Tom – e do barman – e sai da boate. Fiquei sabendo que havia um ponto de táxi há dois quarteirões e fui andando. Pra cortar caminho, resolvi passar por um beco meio escuro e consideravelmente assustador. Estava quase chegando ao final do mesmo, quando avisei um trio de rapazes fumando que resolveram se engraçar comigo.

- Está perdida, boneca? – diz o primeiro.
- Podemos te ajudar a chegar a chegar em casa com segurança. – o segundo me deu um tapa no bumbum.
- Volte a tocar em mim, e não será homem pra tocar em mais nada! – disse e eles riram.
- Garota de personalidade, hein? – diz o terceiro, que resolve se aproximar mais que os outros. – Mas relaxa, porque ninguém aqui vai fazer nada que você não queira.

No inicio eu não estava com medo, mas depois de me segurarem e tocarem em lugares que não deveriam, comecei a temer por minha própria vida. O loirinho que parecia ser o “cabeça” do trio veio até mim e me forçou a beijá-lo. Caramba, não é que esse desgraçado beija bem?! E ele também não era de se jogar fora. Não estava tão escuro assim e eu consegui ver o rosto de cada um. Senti a mão do loirinho acariciar as minhas costas por dentro da blusa, depois a mesma tentou achar o fecho do meu sutiã. Eu vou ser estuprada! Foi a única coisa que pensei.

Postado por: Grasiele

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