sexta-feira, 27 de abril de 2012

Coração De Outono - Capítulo 1 - Aiyra Burke.

(Contado por Aiyra)

Era noite de lua cheia, e o clima ultimamente anda bem frio. Estava deitada em minha cama, de barriga para cima. A cortina da janela estava aberta, e a única iluminação do quarto vinha de um poste lá da rua. O vento batia na árvore, que se movia e com a luz, formava desenhos estranhos no teto e na parede.
Suspirei, fechando os olhos por um instante. Meus pensamentos se perdiam em meio às bagunças e coisas erradas que andei fazendo por ai, mas não queria pensar muito, pra não ficar paranoica. Virei minha cabeça para o lado direito, olhando na direção do relógio sobre a mesinha de cabeceira. A hora se aproximava das duas e quatorze da madrugada, e nem sinal de sono. Mesmo sabendo que era tarde e que ele provavelmente estaria no vigésimo sono, me sentei e peguei o celular, discando os números.

- Espero que seja algo muito importante. – diz ele, com voz sonolenta.
- Estou com insônia – disse, já imaginando sua reação.
- Ah, vai tomar no cú, porra! – gritou, com raiva. – Me acorda as duas da matina pra dizer que perdeu o sono?
- Eu preciso conversar com alguém. – coloquei uma mecha do cabelo atrás da orelha.
- Tá me achando com cara de psicólogo? – cocei o braço. – Vai contar carneirinhos, vai.
- Na verdade... Estava pensando em dar uma volta.
- Que desgraça, velho! – gritou outra vez. – É nisso que dá ter uma garota como amiga. – eu ri. – Começa a se masturbar, isso funciona quando perco o sono.
- Nick!
- Tá legal, tá legal! – cedeu. - Nos encontramos daqui quinze minutos, no lugar de sempre.

Não dá pra negar que o Nick adora falar palavrões, e que a maioria das coisas que aprendi foi com ele. Nos conhecemos por acaso num festival de música, onde ele tocava bateria numa banda, e foi amizade à primeira vista. Não sei se isso existe de verdade, mas nos damos tão bem, que nem ao menos parece que estamos andando juntos há pouco mais de um ano.
Já estava vestida, e só me dei o trabalho de colocar um casaco de cor vermelha. Calcei meu all star e passei um pouco de perfume. Peguei meu celular e certa quantidade em dinheiro. Sai do quarto, passando pelo corredor com o máximo de cuidado possível para não acordar a minha mãe. Cerca de dez minutos depois, cheguei ao parque – praticamente abandonado – onde costumamos nos encontrar. Pra mim é uma espécie de refúgio. Nick estava sentado num dos balanços, fumando um cigarro. Ele assoprou a fumaça e sorriu pra mim. Me aproximei, e me sentei ao seu lado. Fui me balançando devagarzinho, enquanto o silêncio pairava entre nós.

- Me chamou até aqui pra ficar calada? – pergunta ele, dando mais uma tragada em seu cigarro.
- Só não queria ficar com insônia, sozinha. – disse, e ele soltou a fumaça.
- Filha da mãe!
- Eu também te amo, tá? – lhe dei um leve soco no ombro. – Estou pensando em fazer uma nova tatuagem. O que acha?
- Até que enfim. – mais uma tragada. – O bebê estava mesmo precisando expandir seus horizontes.
- Está chamando quem de bebê? – parei de me balançar e o encarei. – E só pra você saber, meus horizontes são bem expandidos. – ele ri.
- Nós dois sabemos que você não faz nada de interessante nessa vida, garota.
- Claro que faço!
- Sexo selvagem não conta. A minha gatinha precisa mesmo é de um pouco de adrenalina.
- Tipo...?

Imaginei que fosse dizer para eu experimentar outros tipos drogas. Usei êxtase e heroína algumas vezes, mas como a grana estava baixa, não quis correr o risco de ficar com uma divida ainda maior. Até hoje não consegui pagar o Jess, pois sua proposta era de que se eu transasse com ele, a divida estaria liquidada. Obviamente recusei. Nunca venderia meu corpo.

- Participar de um racha. – disse ele, jogando seu cigarro no chão e o apagando com o pé. – É divertido e você tá precisando de grana.– achei interessante. – Mas quer saber, esquece isso que te falei.
- Por quê? – fiquei curiosa.
- Primeiro porque o dono da parada é o Jess, e da última vez que vocês se encontraram, ele te jurou de morte. – me olhou. – E segundo, porque na área deles, garotas só servem pra uma coisa. – seu olhar malicioso fez brotar um sorriso em mim. – Se bem que... – seus olhos percorreram-me dos pés a cabeça. – Você se encaixaria nos padrões.
- Está me chamando de...
- Gostosa. – me interrompeu. – E muito marmanjo pagaria qualquer preço pra tirar sua roupa.
- Não sou uma prostituta.
- E se fosse, pode apostar que eu estaria falido.

Essa era basicamente o tipo de brincadeira que na maioria das vezes nos rendia longas conversas. O Nick não é do tipo que disfarça, ou pensa antes de falar algo. Não existe meio termo no seu vocabulário, e isso é só mais uma das várias coisas que admiro.

***

Passava das três e meia da madrugada, e parecia que estávamos ali cerca de vinte ou trinta minutos. Eu ria com as histórias e experiências pelas quais o Nick havia passado. A maioria delas envolvia alguma garota, que o ferrava no final. Der repente uma sensação estranha tomou conta de mim. Fiquei com falta de ar por alguns segundos, que mais parecia ter sido a eternidade. Veio aquele aperto no coração e os olhos se encheram de lágrimas.

- Aiyra? – Nick se levantou, veio até mim, e se ajoelhou na minha frente. – Aiyra, o que foi? – ergueu minha cabeça.
- E-Eu não sei. – respondi, quase chorando.
- Calma. – diz ele, preocupado. – Fica calma. – me abraçou.
- Eu quero sair daqui, Nick. – disse, e ele enxugou a única lágrima que escorreu pelo meu rosto.
- Quer ir pra minha casa? – perguntou e assenti positivamente com a cabeça.

Entramos no seu carro, e ele ligou o som num volume baixo, só pra tentar descontrair um pouco. Não demoramos muito e logo estávamos chegando à rua de sua residência, e o veiculo sendo estacionado na garagem. Essa era a segunda vez que eu frequentava sua casa, mas isso não era motivo e nem me impedia de ir logo me sentando e colocando os pés sobre o sofá-cama.

- Ia dizer pra ficar à vontade – diz ele, jogando as chaves em cima da mesinha de centro. -, mas vejo que não é necessário. Vou tomar um banho e já venho.

Achei estranho esse negócio dele querer tomar banho há essa hora, mas não me importei. Fui para a cozinha, e apertei o interruptor para ligar a luz. Olhei para os quatro cantos, e sai abrindo todos os armários. Abri a geladeira e encontrei um pedaço de torta de chocolate. Era tudo que eu precisava. Me sentei próximo ao balcão, e comecei a comer.
Depois da fome, veio a sede. Novamente abri a geladeira para procurar algo liquido, e só vi uma jarra de água. Não era exatamente isso que eu queria, mas não dispensei. Peguei a jarra, e ao me virar, me deparei com o Nick, usando apenas uma cueca boxer de cor preta.

- Costuma ficar vestido assim, quando tem visitas?
- Essa é a minha casa, e fico vestido do jeito que eu quiser. – respondeu.
- Então tá. – coloquei a água no copo e bebi.

Voltamos pra sala, e ficamos sentados lado a lado, assistindo um filme horrível. Eu o olhei, e me bateu uma vontade de beijá-lo. Pode ser estranho, mas já ficamos por diversão. Ele me olhou de volta, mordeu os lábios, e acariciou seu membro por cima da cueca.

- Tarado. – disse rindo.
- O tarado que você tá doidinha pra pegar.
- Não provoca, Nick.
- Se eu te beijar agora, vai fazer o quê? – perguntou.
- Retribuir.

Não foi preciso mais palavras. Como sempre, era um beijo caloroso que, na maioria das vezes me deixava excitada. Nossas línguas brincavam uma com a outra. N’outro segundo estava em cima dele, sentindo sua mão por debaixo da minha blusa, se aproximando dos meus seios. Nos beijávamos cada vez mais com intensidade. Em movimentos rápidos, tirei toda a minha roupa. Suas mãos percorriam e apertavam as minhas coxas de maneira desesperada, quase que grosseira. Nick retirou meu sutiã e deslizou a língua por meus mamilos, deixando-os cada vez mais sensíveis ao seu toque.
Gemi baixinho, e pude senti-lo ficar excitado. Me levantei e fiquei ajoelhada na sua frente, o encarando com aquela minha expressão desafiadora que sempre fazia. Arranquei sua boxer lentamente, e apreciei cada segundo. Fui até ele, e lhe dei um beijo caloroso, enquanto minha mão brincava com seu membro. Percorri seu corpo com a língua, até chegar à parte que o controlaria bem. Dava pra ver no seu rosto que eu o levava a loucura com cada toque, cada vez que deslizava minha língua e o encarava. Uma pausa foi feita, porque ele se levantou pra pegar um preservativo. O colocou rapidamente, e me sentei sobre seu membro, gemendo em seguida. Começou devagar, mas aos poucos fomos assumindo uma velocidade que nos levava à completa loucura. Gemíamos tão algo, que por vezes abafávamos os gemidos com beijos.

- Vamos pra cozinha? – perguntou sussurrando no meu ouvido, ofegante.

Essa é uma das minhas bobas fantasias, transar na cozinha. Fomos para o cômodo, onde me sentei sobre a mesa, e o Nick se colocou entre as minhas pernas. Voltou a penetrar com a mesma intensidade de antes, e a cada segundo eu me arrependia por não ter feito isso antes.
Estava chegando ao ápice, quando meu celular começou a tocar. Com o susto, Nick me penetrou com tanta força, que cheguei a gritar de dor. Não iriamos parar, mas algo me dizia que era importante. Recuperei o fôlego, e fui atender.

- Alô?

***

A rua estava tomada por carros policiais e periciais, sem contar os curiosos. O carro do Nick nem parou direito, e eu já estava abrindo a porta e correndo na direção da entrada de casa. Parei e naquele instante meu mundo desabou. A minha vida estava caída no chão, e uma poça grande de sangue a rodeava.

- Mãaaaae! – gritei e corri até ela.

As lágrimas escorreram como uma cachoeira, e eu desejava que nada daquilo fosse verdade. Fui levada até a ambulância que estava do lado de fora, para medirem minha pressão. O Nick se aproximou com os braços prontos pra me acolher. O abracei com força, descarregando tudo que conseguia. Sua mão afagava meu cabelo, e tentava me confortar dizendo “Eu tô aqui”, mesmo sabendo que não adiantaria muita coisa.
Algumas horas depois, quando o corpo já estava no IML, os policiais disseram que os vizinhos ouviram algo que poderia ser uma discussão, em seguida vieram alguns gritos e dois disparos de tiro. O caso seria investigado cuidadosamente, mas independente do resultado, nada a traria de volta.

Postado por: Grasiele

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