sexta-feira, 27 de abril de 2012

Coração De Outono - Capítulo 6 - Na Boate.

(Contado por Pedro)

Há algum tempo atrás, estava pensando em ir visitar a minha filha, e meu desejo aumentou ainda mais quando soube que sua mãe fora assassinada dentro de casa. Fiquei preocupado em saber como ela estava e se algo lhe aconteceu. Achei que não havia ocasião melhor para retornar a minha antiga cidade somente para vê-la. Logicamente esperava uma boa recepção, totalmente diferente daquela, mas fiquei muito feliz ao ver que estava tão linda quanto antes. Não havia mudado quase nada. Continuava sendo a minha garotinha de personalidade forte, com aqueles belos olhos expressivos e cabelos longos.
A ideia de trazê-la para morar conosco foi inteiramente da Clarisse. Não vou negar que eu também queria muito que isso acontecesse, mas teria preferido se fosse algo de sua livre e espontânea vontade. Forçá-la a vir só fez com que sua raiva de mim aumentasse. Mas eu não poderia deixa-la sozinha, não outra vez. Eu não resistiria vê-la se magoar novamente pela minha partida.
Desde que a Aiyra chegou, venho tentando reconquistar aquilo que nunca deveria ter sido perdido. Não tem sido nada fácil e até acho que pode ficar ainda pior, se eu não continuar insistindo. Ela é uma garota durona que não cede logo na primeira investida, e está sempre na defensiva comigo. Não tiro a sua razão. Eu a abandonei numa fase em que era pra eu ter ficado ao seu lado, ajudando na construção de sua personalidade e vendo-a crescer. E ela era tão jovem, que mal poderia compreender o que se passava entre mim e sua mãe.
Cometi inúmeros erros, eu confesso. Não podia ter ficado tantos anos sem dar um sinal de vida ou afeto, mas mesmo afastado, sempre procurei me manter informado sobre como andava sua vida. Enviava-lhe anonimamente presentes em datas comemorativas, para evitar que mais mágoas pudessem ser atraídas. Estávamos distantes sim, só que isso nunca me impediu de amá-la.
Só de saber que agora poderei lutar para ter de volta o seu amor, fico animado. Se ao menos ela soubesse o verdadeiro motivo por eu ter partido, talvez me perdoasse ou me daria uma segunda chance para reparar todas as bobagens. E mesmo que isso não aconteça, mesmo que ela não queira, será sempre o meu anjo.


Estava passando pelo corredor, quando ouvi o despertador dentro do quarto da Aiyra tocar. Pensei em bater na porta, para lhe dar mais um aviso de que deveria se levantar e se preparar para a aula, mas seria meio chato da minha parte. A Clarisse levou a Anna para o colégio, e depois iria para o seu ateliê. Aquilo significava que eu teria uma manhã para colocar meu plano de “reconquistando a Aiyra” em prática. Não era exatamente um plano, mas sim algumas coisas que eu poderia fazer para diminuir aquele abismo entre nós.
Desci até a cozinha e dispensei a cozinheira, lhe dando a manhã de folga. Fui ao escritório e pesquisei na internet algumas receitas fáceis de panqueca, waffles... O típico café da manhã que provavelmente agradaria. Eu não sabia preparar muita coisa, mas por ela, eu tentaria de tudo se fosse possível. Pus um avental, e coloquei a mão na massa. Tinha que fazer rapidamente, já que ela não poderia se atrasar para a aula.
Como as receitas não eram difíceis, não demorei tanto tempo assim. Ainda consegui arrumar a sala de jantar, e deixar tudo bonitinho para recebê-la. Quando terminei de colocar o último prato com as panquecas, Aiyra aparece. Ela fica parada, olhando pra mim, enquanto eu sorria.

- Bom dia! – disse contente, e ela não respondeu. – Eu preparei o café da manhã, e espero que goste. – ela coloca sua mochila numa cadeira e se senta n’outra. – Ainda gosta de panquecas, não é?
- Por acaso colocou...
- Tomate? – a interrompi. – Não. Eu sei que não gosta de tomate. – me sentei de frente para ela. – Deveria experimentar o bacon. Está uma delicia.
- Sou vegetariana.
- Desde quando? – fiquei surpreso.
- Desde muito tempo.
- É sério? – continuava sem acreditar. – Então não deve comer as panquecas, porque são de frango.

Mais uma vez ela ficou calada.

- Eu como no caminho da escola. – diz ela, se levantando, pegando a mochila e saindo.
- Quer uma carona? – também me levantei e fui atrás. – O meu trabalho fica a caminho e...
- Para! – quase grita e se vira pra mim. – Para de fazer isso! Não fica tentando se aproximar ou criar diálogos entre a gente, porque isso NUNCA – pôs ênfase. – vai dar certo!
- Eu só quis...
- Não queira! – interrompeu. – Porque eu não quero!

Ela sai de casa, batendo a porta. Foi ai que percebi o quanto estava diferente. Não era mais a minha garotinha. Estava crescida e sua personalidade cresceu junto. Seria muito mais complicado do que eu tinha imaginado. Mas não dá pra desistir agora, de jeito nenhum!

–--
(Contado por Aiyra)

Eu não sabia o motivo do Pedro estar agindo daquela maneira. Nossa relação acabou quando eu tinha seis anos e ele atravessou aquela porta para nunca mais voltar. Se ele pensa que pode me conquistar com um pedaço de bacon, está muito enganado. As coisas não são tão simples assim, e não pretendo facilitar. Sua atitude me machucou profundamente, e apagar isso agora, seria como trair a minha mãe.
Cheguei ao colégio, e fui diretamente para o refeitório. Não dava pra assistir uma aula se quer, com a barriga roncando de fome. Pedi um suco de laranja e um sanduiche natural. E enquanto a refeição não chegava, eu abria a mochila e procurava meu celular. Acordei com muito mais sono do que quando fui dormir, e acabei jogando tudo que vi pela frente dentro dela.
Ao invés de ter colocado o caderno escolar, coloquei o meu antigo de desenho. Digo antigo, pois faz um longo tempo que não paro para fazer nada, nem ao menos uma folha. Se duvidar, é bem capaz que eu tenha me esquecido de como se manuseia um lápis num desenho. Antigamente eu tinha uma fonte de inspiração, uma razão para continuar pintando, mas agora... Agora não há mais nada.

- Caderno de desenho? – pergunta Tom, vindo se sentar comigo. – Não sabia que desenhava.
- E não desenho. – respondi. – Não mais.
- Posso ver?
- Um-hum.

Ele começou a folhear, vendo cada rabisco que eu tinha feito. O jeito dele me fazia lembrar o Nick, e algumas vezes eu até comparava-os, encontrando algumas semelhanças entre os dois. A diferença é que o Nick não saia batendo em ninguém.

- Ficou com raiva de mim também por eu ter batido naquele nerd?
- Você está crescido, sabe o que faz – ele fecha o caderno – e não deve satisfações a mim.
- Você desenha muito bem. – muda de assunto. – E acho que um talento assim não deveria ser desperdiçado.
- Não dá pra desenhar nada quando a inspiração acaba.
- Deveria tentar.
- Eu... Não quero tentar.

Peguei o caderno, me levantei, fui até a lixeira mais próxima e o joguei dentro. Fiquei olhando por alguns segundos, em seguida virei às costas e voltei para a mesa.

- Tem algum compromisso essa noite? – ele passa a língua pelo piercing.
- Não. – respondi. – Mas se continuar tentando me seduzir, aposto que encontrarei algo pra fazer rapidinho. – nós rimos.
- Isso significa que eu posso te convidar pra sair?
- Você não vai querer me bater?
- Só se você quiser. – deu um meio sorriso malicioso.
- Te espero às nove.

MAIS TARDE... ÀS NOVE DA NOITE...

Terminei de me arrumar, e só estava colocando um casaco. Me olhei mais uma vez no espelho, baguncei um pouco o cabelo, passei perfume, e já estava pronta. Coloquei o celular no bolso, e sai do quarto. Passava pela sala, onde encontrei o Pedro e a Clarisse, sentados juntos e abraçados, conversando.

- Vai sair a essa hora? – pergunta Pedro. – Não acha que está muito tarde?
- Não acha que já estou bastante crescidinha e que sei me cuidar muito bem sozinha?
- Pode ser perigoso! – diz ele.
- Amor, deixe que ela se divirta um pouco. – diz Clarisse. – A cidade não é tão perigosa assim.

E pela primeira vez na vida, estou começando a gostar dela. Peguei uma chave reserva e a levei comigo. Ao sair de casa, vi o Tom encostado no seu carro, com uma mão no bolso e a outra segurava um cigarro. E por falar nisso, que belo carro ele tem.

- Nossa – diz ele, jogando o cigarro no chão. –, que sexy. – soltei uma leve risada. – A senhorita está pronta pra diversão?
- Prontíssima.

Fomos até uma boate no centro da cidade e entramos com facilidade no local, pois o Tom era bastante conhecido por ali. Lá dentro a música eletrônica animava, enquanto as pessoas se acabavam de tanto dançar. Mesmo sendo um horário consideravelmente cedo pra esse tipo de festa, ninguém ali parecia se importar com isso.

- Vem comigo. – diz Tom, ao pé do meu ouvido, por conta da música alta.

Fomos ao primeiro anda, onde as coisas eram mais tranquilas e tinha pouca gente. Nos sentamos um de frente para o outro no bar, e ele pediu duas bebidas. Enquanto as mesmas não vinham, Tom não parava de olhar para mim.

- O que foi? – perguntei. – Está tentando encontrar um novo jeito de me seduzir com esse olhar? – ele ri.
- Na verdade... Estou pensando num jeito de me aproximar e te beijar, sem parecer atrevido.
- Porque não parte para a prática, ao invés de ficar só na teoria?

Eu não pretendia cair no seu charme, mas os segundos passavam e eu me via cada vez mais “enfeitiçada” por aquele piercing nos lábios. Ele vem até mim, me faz levantar, coloca sua mão direita em minha cintura e me puxa pra perto, colando nossos corpos. Sua mão esquerda foi parar em meu pescoço e em questão de milésimos, estávamos nos beijando.
Nossas línguas se entrelaçavam como se já se conhecessem há algum tempo, pareciam intimas. Aquele era um beijo caloroso, que me fazia querer um pouco mais daquilo. Talvez ir um pouco mais além.

Postado por: Grasiele

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