sexta-feira, 27 de abril de 2012

Coração De Outono - Capítulo 8 - Girando a roleta a seu favor.

(Contado por Aiyra)

Ir para o colégio, agora não me parecia mais um bicho de sete cabeças. Só de imaginar o rostinho do Bill cheio de raiva, já me dava um ânimo a mais para frequentar aquele lugar. Ter descoberto que ele usa droga, não é a coisa mais interessante do mundo, ou o segredo mais cabeludo que se pode ter. Mas isso atrapalharia muito na carreira de grande sucesso que seu pai teve trabalho para construir. Seria um enorme escândalo, sem contar o nome da família estampado em todos os jornais, e os clientes não ficariam satisfeitos por saberem que Gordon Kaulitz não sabe comandar o próprio filho, quanto mais uma empresa.
Desci as escadas, e vi a Anna sozinha na sala, deitada no sofá. Pelo horário, ela deveria ter ido para o colégio. Não queria me intrometer, pois sua mãe deveria saber o que estava fazendo e que estava muito atrasada para leva-la. Mas não resisti, e tive que me aproximar da garota, que me pareceu meio desanimada. E essa é uma coisa que não faz parte de sua personalidade.

- Anna, está tudo bem? – perguntei, me sentando ao seu lado.
- Minha barriga dói. – respondeu.
- Onde está a sua mãe?
- No ateliê. A babá me trouxe pra casa.

A Clarisse não poderia ter deixado sua filha sozinha naquele estado. Eu não tinha coragem de falar com ela, então achei melhor ligar para o Pedro, que havia acabado de sair para o trabalho. Procurei por seu número numa agenda telefônica. Disquei os números e aguardei. Sua secretária atendeu e disse que ele estava numa reunião muito importante, e que não poderia me atender.

- Avisa ao Pedro que a filha dele está praticamente morrendo! – apelei para o exagero de mentira. – Se ele demorar muito, encontrará o corpo da menina estirado no sofá!

Perder um dia de aula significava perder de ver o Bill me fuzilar com os olhos. A ligação foi repassada rapidamente. Lhe expliquei toda a situação, e ele disse que demoraria no máximo dez minutos para chegar. Tive que esperar, pois mesmo não tendo tanta intimidade com a garotinha, me sentiria culpada se a deixasse. Para facilitar um pouco mais as coisas, decidi procurar por remédios. Fui ao banheiro do quarto dela, e os encontrei numa bolsinha na estante do banheiro. Li os rótulos de alguns e peguei o que achava certo. Retornei à sala e ao chegar lá, vi o Pedro ajoelhado próximo ao sofá, acariciando o cabelo da Anna.

- O papai está aqui agora, tá? – diz ele. – Vai ficar tudo bem. – ela dá um sorrisinho meigo. – Vou buscar seu remédio e já volto. – ele se levanta.
- Eu trouxe... – mostrei o remédio.
- Obrigado. – pegou o frasco da minha mão. – Não está atrasada para o colégio?
- Já estou indo.

Coloquei novamente a mochila nas costas fui saindo. Antes de atravessar a porta, olhei para trás. Pedro sorria e tentava fazer com que a Anna se sentisse melhor. Ver aquilo foi o mesmo que reviver o passado e me coloquei no lugar dela por longos dois segundos.

***

Não consegui chegar a tempo para a primeira aula, e também não me importei nada com isso. A próxima aula era de química, e eu tinha que passar no meu armário para pegar o livro, depois iria pra sala. Aproveitei para guardar algumas coisas e pôr outras na mochila. Quando fechei a porta do mesmo, levei um leve susto ao me deparar com o Bill ali de braços cruzados, me encarando.

- O que foi? – perguntei. – Me ver ontem a noite não foi o suficiente?
- O que pretende fazer a respeito...
- Do seu segredinho? – o interrompi. – Ainda não sei, mas talvez eu possa usar isso a meu favor.
- Você não vai ter coragem de fazer nada contra mim.
- Tem certeza? – coloquei o livro na mochila. – Não me subestime.

Ele e sua mania de chegar mais perto. Aproximou-se de mim, lambeu os lábios, olhou para os lados, colocou as mãos nos bolsos e sorriu. Se não nos odiássemos, eu diria que ele estava tentando me seduzir de alguma maneira. Por dentro dei gargalhadas e me segurei pra não esboçar nada.

- Não vai demorar muito até eu consegui descobrir apenas um segredo seu. – diz ele, que me encarava.
- Isso vai depender de você. – cruzei os braços. – Mas eu realmente duvido.
- É melhor não me subestimar. – deu outro sorriso. – Posso te surpreender.
- Vá em frente e me surpreenda.

Bill se aproxima ainda mais de mim, encosta seus lábios na minha orelha e nesse instante senti um arrepio percorrer meu corpo. Isso ai já é sacanagem! Que golpe baixo! Agora as desconfianças de que ele tenta me seduzir, estão aumentando. Mas nada vai me fazer desistir de usar seu segredo a meu favor.

- Esse placar vai virar, Aiyra. – sussurra, e novamente me arrepio.
- Tenta. – sussurrei de volta.

Lhe dei as costas e fui para a sala. Me sentei atrás do Tom, e ele estava ouvindo música num volume tão alto nos seus fones, que eu conseguia entender quase que perfeitamente as palavras que o cantor pronunciava. Dei um chute em sua cadeira, e logo ele se vira, tirando os fones.

- Porque não estava na festa do seu pai ontem? – perguntei.
- Não gosto desse tipo de coisa. – respondeu. – Meu negócio é balada com música eletrônica e muita mulher. – eu ri.
- Foi isso que fez? Ficou na boate?
- É, fiquei completamente perdido com uma loira.
- Filho da mãe! Porque não me avisou? Eu teria ido com você.
- Vai por mim, você não gostaria de ver o que eu estava fazendo. – achei meio nojento ele ter dito aquilo. - Mas soube que você estava muito bonita.
- Quem te contou?
- Um passarinho negro.
- Sei.

***
(Contado por Bill)

No intervalo, estava no refeitório e a vi chegar com o Tom. Os dois se sentaram numa mesa um tanto afastada das outras. Ela pediu um suco de laranja, enquanto ele pede uma Coca-Cola. Fiquei observando-os por alguns minutos, e eles riam.

- Eles estão tão próximos, não é? – diz Georg.
- Será que o Tom já pegou? – diz Gustav.
- Claro que não. – disse. – Ela não faz o tipo do Tom.

Achei que aquela era uma ótima hora para chegar mais perto e lhe mostrar do que sou capaz. Joguei uma pequena pasta branca diante de ti, e me sentei na sua frente. Coloquei meus braços sobre a mesa e fiquei olhando-a.

- Aí está. – disse, com um meio sorriso.
- O que é isto? – perguntou.
- Um pequeno relatório sobre sua vida.
- Bill...
- Não se mete, Tom! – o interrompi. – Isso é assunto meu e dela.

Ela não acreditava que aquilo poderia ser mesmo um relatório. Mas assim que ela me deu as costas no corredor, fiz algumas ligações e pedi que me trouxessem qualquer tipo de informação sobre Aiyra Burke. Disse que era caso de vida ou morte, e a poucos minutos do intervalo, o relatório chegou.

- Espera de verdade que eu caia nessa? – diz ela.
- Se não quiser ler – peguei a pasta e a abri. -, eu mesmo faço isso por você.

Os dois ficam calados. Ela parecia pensar se deveria deixar ou não eu prosseguir.

- Tá legal. – ela encosta-se à cadeira. – Vá em frente, gatinho.

Comecei dizendo a data do seu nascimento, a hora, os minutos e até mesmo o hospital em que ocorrera o parto. Ela fez cara de quem achava estranho, mas aquilo não era o bastante para convencê-la.

- Você ganhou uma bolsa de estudos numa das melhores escolas de artes da sua cidade. – prossegui. – Pouco depois de ter completado seis anos, seus pais se separaram e você foi “abandonada” – risquei as aspas no ar. – pelo seu pai. – ela se ajeita na cadeira e muda sua expressão, ficando mais séria. – Aos oito anos, você abandonou a escola de artes, mas retornou aos nove, por muita insistência de sua mãe e...
- Parabéns! – ela me interrompe. – Quem foi que te passou essas informações?
- Eu ainda não terminei. – disse. – Aos dezesseis anos, conheceu um cara apelidado Nick, e ele foi a maior influência por você ter usado dois tipos de drogas. – continuei. – E voltando ao assunto da mamãe... Ela foi assassinada dentro de casa com dois tiros, um na cabeça e outro no peito.
- Já chega, Bill. – diz Tom. – Acabou!
- Bom – fechei a pasta. -, tem mais alguns detalhes que eu poderia citar, mas eles não são tão interessantes assim.
- Se acha muito esperto, não é? – diz ela.
- Eu disse pra não me subestimar, não disse?

Vi seus olhos lacrimejarem e ela olha para cima, talvez numa tentativa de impedir que as lágrimas escorressem pelo seu rosto.

- Como descobriu essas coisas? – pergunta ela.
- É segredo. – sussurrei. – E isso me faz lembrar que estamos empatados. É muito engraçado como as coisas são, não é? – ri sarcasticamente. – Ontem estava me chamando de maconheiro, e hoje descubro que você fez a mesma coisa.
- Cala a boca! – ela se levanta para sair.
- Espera! – chamei e ela se vira. – Não quer levar contigo? – mostrei a pasta. – Eu tenho outra cópia guardada.
- Você sabe muito bem onde enfiar isso, não sabe? – eu ri e ela foi andando.
- Garota escrota! – gritei de volta.
- É incrível como você consegue me surpreender a cada dia, Bill. – diz Tom.
- Porque não vai atrás da sua amiguinha e me deixe em paz? – ele se levanta e vai atrás dela.

Senti-me aliviado por saber que ela não poderia mais abrir a boca pra falar nada sobre mim, a não ser que quisesse muito que eu espalhasse por ai as coisas que aconteceram em sua vida. Provavelmente ela não iria querer algo assim. Então, o jogo acabou de virar e pelo que parece quem está no comando da parada sou eu!

Postado por: Grasiele

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