sexta-feira, 27 de abril de 2012

Coração De Outono - Capítulo 7 - Território Inimigo.

(Contado por Aiyra)

Estava deitada em minha cama, pensando no quanto me arrependi por ter jogado aquele caderno no lixo. Nele continha os meus melhores desenhos, lembranças que jamais seriam resgatadas e que não voltariam mais. Foi um impulso e se eu tivesse pensado, com certeza não teria feito aquilo. Também pensei em como aquele beijo do Tom tinha sido bom, e não reclamaria se o ato fosse repetido. Mas que fique bem claro: não quero nada sério com ninguém! A minha vida já é uma desgraça comigo sozinha, imagine com alguém ao meu lado?
Meu celular começou a tocar, e apalpei a mesinha de cabeceira para pegá-lo. Ao atender, quase chorei de alegria. Era o Nick. Me sentei, e ele logo começou a me contar sobre como andavam as coisas por lá, e o quanto tinham mudado desde que fui embora. Lhe dei os detalhes de como era a casa, falei das pessoas que conheci e logicamente não pude deixar de citar o Bill. Como era bom ouvir a sua voz, e pra mim, era como se ele estivesse ali na minha frente. Conversa vai, conversa vem, e o Pedro entra no quarto.

- Tenho que desligar agora, Nick. – disse. – Depois te ligo. – desliguei.
- Nós vamos sair essa noite. – diz Pedro.
- “Nós” é muita gente. – me levantei, indo até a escrivaninha. – E eu não tô a fim.
- É um jantar importante, Aiyra. – ele se aproxima um pouco. – E se tornará ainda mais importante, se a toda a minha família estiver presente.
- Eu não tô nem ai!
- Por favor, esteja pronta em duas horas. – se retirou.

Ao mesmo tempo em que ele não tinha nenhuma autoridade sobre mim, tinha-a por completo. É complicado explicar, simplesmente acontece. Eu não tinha alternativas e sair para um jantar - denominado importante – vestida feito louca, não era muito legal. Não ia bancar a garotinha perfeita que ele sempre sonhou, mas também não poderia ser a revoltada numa ocasião como essa. Minha proposta não era agradar ninguém e por isso, tentaria usar o que estivesse mais próximo de um “jantar importante”, mesmo tento certeza de que não encontraria nada adequado no meio das minhas roupas. E isso é um grande problema.
Após tomar um banho quentinho e rápido, fiz logo a minha maquiagem. Passei um pouco de pó, para tirar um pouco o brilho do rosto; blush pêssego; muito rímel e gloss. Foi algo básico, mas que me fez sentir um tanto diferente do que eu costumo usar. Retornei ao quarto e me deparei com um vestido sobre a cama. Caramba, isso só pode ser brincadeira! O vestido – azul claro, com detalhes pretos; de manguinha curta; saia um pouco rodada; e cumprimento pouco acima do joelho – me fez pensar em que tipo de lugar eu estaria prestes a ir. A última vez que usei um vestido tão... Cheio de detalhes e meio fofo foi numa festinha de colégio, quando eu tinha nove anos. Esse tipo de roupa não faz o meu estilo e não combina comigo de maneira alguma! Isso está completamente fora de cogitação! Não mesmo! Nem pensar que irei usar isso!

- Linda! – diz Clarisse, com um largo sorriso. – Eu sabia que o vestido cairia perfeitamente em você.
- Está muito linda mesmo, querida. – diz Pedro. – Igualzinha a sua mãe. – Clarisse lhe dá uma leve cotovelada.

Senti-me estranha, quase um ser de outro planeta. Teria a impressão de que por onde eu passasse, todos ficariam me olhando com cara feia. Mas e daí? Fodam-se todos eles! Até a Anna veio me elogiar, dizendo que eu estava bonita. Ela também não estava nada mal, usava um vestidinho preto e branco. Depois de uns minutinhos de conversa, fomos para a frente da casa, onde o motorista aguardava para nos levar ao local do jantar.
Ao chegarmos, descobri o porquê de estarmos todos daquele jeito. O jardim da casa era imenso e havia muitos carros – luxuosíssimos – estacionados. Quando entramos, fiquei boquiaberta com a imensidão, parecia uma daquelas mansões de filme americano. Fomos acompanhados até o salão onde aconteceria o jantar. No teto havia um lustre muito lindo feito de cristais, a mesa era exageradamente grande, e a música ambiente era tranquila e tocada por violinistas. Que chique.
Os homens usavam smoking e as mulheres, vestidos longos. Eram poucas crianças, mas todas elas pareciam combinar com seus pais. Eu, a única ovelha negra do evento, usava algo curto de cor chamativa em comparação aos outros.

***

Sabe aqueles momentos que você está com o estômago praticamente grudado nas costas, de tanta fome? Mas fica calado, pra não parecer mal educado? Então, eu me encontrava assim. Quietinha num canto, me entupindo de coquetel de frutas pra tentar enganar a fome. Os garçons serviam aperitivos que mal cabiam no buraco do meu dente, e estou em fase de crescimento! Preciso comer em boa quantidade.
A Clarisse me apresentou as suas amigas, que só sabiam falar sobre moda e no quanto queriam emagrecer para quando o verão chegasse. Depois o Pedro veio me chamar, dizendo que gostaria de me apresentar a alguém. Não poderia ser pior do que ficar entre aquelas dondocas, certo? Errado! Ele queria me apresentar ao seu mais novo sócio, simplesmente o dono do pedaço, um cara cheio da grana!

- Querida, este é o Gordon, meu sócio. – vi um homem elegante, de cabelos meio grisalhos e sorriso perfeitamente branco.
- Você é ainda mais linda pessoalmente. – diz ele, pegando minha mão para um cumprimento.
- Obrigada. – sorri sem graça.
- Qual é mesmo o seu nome?
- Aiyra.
- Já comentei que ela é uma ótima desenhista? – diz Pedro. – Precisa ver as maravilhas que ela faz. É um talento incrível! – por fora em sorria, mas por dentro me segurava pra não matar um certo alguém.
- Obviamente vou ter uma honra dessas qualquer dia. – diz Gordon, sorrindo. – Mas eu também quero apresentar-lhes alguém que me substituirá nos negócios, o meu filho. – ele olha ao redor. – Ah, aí está ele.

Virei-me para olhar, e achei que estava sendo enganada pelos meus olhos. Ele estava tão... Diferente, que me custei a acreditar naquilo. Bill usando smoking e todo arrumadinho, com uma postura totalmente diferente da que tinha no colégio. A me ver, ele também se surpreende, mas consegue disfarçar. Se aproxima, ficando ao lado do pai.

- Este é o meu grande orgulho. – diz Gordon. – Bill, este é o meu sócio, Pedro.
- É um prazer conhece-lo, senhor. – diz Bill, cumprimentando-o.
- E esta é Aiyra.
- Aiyra. – repete, me olhando nos olhos. – Também é um imenso prazer conhece-la, senhorita. – pegou minha mão e deu um leve beijo.

Alguém pode me explicar o que está acontecendo? Cadê aquele garoto arrogante e todo cheio de marra do colégio? Sinceramente, estou começando a pensar que valeu a pena ter vindo nesse jantar. Quem diria que esse idiota seria na verdade o filho de um multimilionário? É inacreditável. Mas... Onde está o Tom?
Fiquei com vontade de ir ao banheiro, então pedi licença e procurei por alguém que pudesse me explicar como chegar até lá. Um garçom me levou até o andar de cima, e me mostrou o restante do caminho.

- Obrigada. – sorri.
- Disponha, senhorita.

Me senti aliviada depois de usar o banheiro. Lavei as mãos e as enxuguei numa toalha branquinha. Não sou muito ligada a essas coisas de aparência, mas naquele lugar eu precisava ser “impecável”. Me olhei no espelho e nada estava fora de lugar. Sai, e tive a brilhante ideia de procurar pelo Tom. Ele não estava na festa, e como mora aqui, deveria estar socado em algum lugar. Fui abrindo algumas portas, e só encontrava um monte de quarto escuro.

- Está perdida? – me virei pra saber quem era.

Bill estava encostado numa parede, com um copo em mãos e um meio sorriso nos lábios.

- Não. – respondi. – Na verdade... Estou surpresa – me aproximei. -, por saber que o valentão do colégio não passa de um cara elegante, cheio da grana. – ele ri. – Como foi mesmo que seu pai lhe chamou? Ah, lembrei. “Orgulho”. – risquei as aspas no ar.
- As aparências enganam.
- É, elas realmente conseguem enganar qualquer um.
- Confesso que também me surpreendi ao ver que a novata intrometida, é uma patricinha desenhista.

Ele acabou de me chamar de patricinha? Foi isso mesmo que ouvi? Esse garoto só pode ter perdido o medo de morrer! Quem ele pensa que é pra ficar me chamando de patricinha assim? Está vestido como um pinguim e eu sou a patricinha?
Estava pronta pra começar a xingar a mãe dele, mas a dona Simone não merecia uma coisa dessas. Ela não merecia um filho desses de jeito nenhum! Em pensamento, contei até cinco. Me controlei pra não voar em cima dele e deixar as marcas das minhas mãos em seu pescoço.

- Gatinho, eu acho que está me confundindo com uma dessas vacas que você anda pegando por ai. – disse.
- Não, eu não costumo cometer esse tipo de erro. – diz ele, dando dois goles na bebida. – Até porque, eu precisaria ter pegado você pra um erro tão grave assim acontecer.
- Claro. – eu ri. – Porque eu sou do tipo que abre as pernas facilmente pra qualquer imbecil, ainda mais se ele for um maconheiro filhinho de papai.

Sua expressão mudou. Bill coloca o copo em cima de uma mesinha do corredor, abre uma daquelas portas, me segura pelo braço e me arrasta pra dentro do quarto. Fecha a porta, e me coloca contra a parede. Estava tão perto de mim que se quisesse, poderia me beijar. Ele me olhava com aqueles olhos misteriosos, e por um instante quis desvendar os segredos por trás dos mesmos.

- Quem foi que te contou isso? – perguntou.
- Olha Bill, se ficar tão perto assim de mim, vai se difícil resistir. – provoquei.
- Provocar não vai me fazer mudar o assunto. Fala logo!
- Ah – mordi o lábio inferior. -, é segredo. – sussurrei.
- Se abrir essa boca – praticamente colocou o dedo na minha cara - pra falar qualquer coisa...
- Se não quiser perder esse dedo, é melhor recolhe-lo! – ele o tirou. – Mas você vai fazer o quê? Vai me bater, como faz com o pessoal do colégio?
- Experimenta. – diz ele, quase sussurrando. – Experimenta falar o mínimo que seja, pra ver o que lhe acontecerá.
- Está me ameaçando, Bill? – fui cínica. – Pois saiba que esse tipo de coisa não funciona comigo, tá? – o afastei de mim. – E vai se foder, maconheiro idiota! – fui andando na direção da saída.
- Patricinha! – lhe mostrei o dedo do meio.

Só descobri que ele mexia com essas coisas, quando o vi com seus amigos no intervalo das aulas numa área mais afastada do colégio, usando a tal da maconha. Achei que tinha sido coisa da minha mente, mas vejo que não.
Antes de voltar para o evento, o olhei. Sua expressão de raiva era explicita no rosto, e aposto que se ele tivesse uma arma, teria descarregado todas as balas em mim. A cada segundo, tenho mais certeza de que deveria mesmo estar presente nesse jantar. É impressão minha, ou tenho um Kaulitz inteiramente em minhas mãos? Acho que acabo de esconder um belo trufo na manga. E com certeza pretendo usar isso a meu favor de algum jeito.

Postado por: Grasiele

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