quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Resumption - Capítulo 60

–Nós precisamos conversar. -disse não contendo as lágrimas.

Levantei do sofá sem olhar para trás, eu sabia que os olhos castanhos de Bill estavam confusos, esperando por uma explicaçãoo imediata.
Subi as escadas respirando pesadamente, minhas pernas pareciam pesar muitas vezes mais que o normal e meu peito comprimia-se. Eu estava fazendo um esforço por Bill, ele merecia ouvir a verdade mesmo que doesse... Não me importava o quanto seria massacrante receber seu olhar de desprezo, queria me livrar daquele fardo que carregava em minha mente.
Poucos minutos depois estava sentada em minha cama olhando para os próprios pés buscando palavras, pensando numa maneira menos dolorosa, mas eu sabia que não seria nada fácil e a culpa era minha.
O pouco peso do corpo de Bill caiu ao meu lado afundando o colchão, suas mãos grandes e macias seguraram as minhas, acariciando meus dedos levemente.
–Então, sobre o que quer conversar? -sua voz doce soou suavemente, quase como um carinho para os meus ouvidos.

Eu não conseguia responder, soluços escapavam de minha boca e grossas lágrimas escorriam de meus olhos.
–Hey, o que foi? -perguntou segurando em meu queixo com uma das mãos, enquanto me abraçava de lado. -Porque está chorando?

–E-eu não mereço o seu carinho, Bill. -disse entre os soluços.

–Não diga isso, Duda. - pediu, seus dedos passeando por minhas bochechas afim de secar as lágrimas que insistiam em cair.

–Como posso ter sido tão suja? -perguntei choramingando- Eu usei você pra tentar esquecer um sentimento, mesmo sabendo que não adiantaria de nada.

–Você não...

–Eu não medi as consequências, fui impulsiva e envolvi você... Eu me sinto tão mal, parece que tem um buraco aqui -apontei para meu peito- dói tanto que não consigo nem respirar direito. -pausei- Nunca senti nada assim, é horrível e o pior de tudo é que a culpa é toda minha.

Aquele "bolo" que havia em minha garganta parecia me esguelar, a cada palavra que saía de minha boca eu sentia como se uma faca estivesse me apunhalando cada vez mais fundo... Havia um grande buraco se formando em meu peito, eu me sentia vazia, com a alma machucada, sangrando e, ainda assim, minha dor não era nada comparada com a dor que Bill sentiria. Eu me sentia extremamente fraca, indefesa e com medo, não queria encarar os olhos de Bill e enxergar o desprezo, a dor e o julgamento.
O silêncio foi o que obtive como reação à tudo o que eu havia dito, os gritos de indignação não vieram à tona como eu imaginara, os braços de Bill me envolviam em um forte abraço e eu não estava entendendo...

Não era para eu estar sendo xingada?
Bill deveria estar com nojo de mim, não é?
E porque manteve seus braços firmes em minha volta?


Você não vai falar nada? -perguntei receosa- Por favor, me xingue! -gritei implorando por uma reação.

–Xingar você? -concordei com um aceno- Por que eu faria isso?

Franzi o cenho expressando a confusão que suas palavras e ações causavam à minha mente. Pensei que Bill ficaria chateado, triste e até mesmo irritado, mas parecia que eu estava errada e isso, de certa forma, me deixou aliviada e ao mesmo tempo preocupada.


Você ouviu bem tudo o que eu disse? -perguntei com a voz falha.

–Com a maior atenção do mundo. -respondeu me observando atentamente.
E entendeu o que eu quis dizer, certo?

–Claro que sim! -beijou minha bochecha- Eu sei que você e o Tom ficaram juntos enquanto estive viajando.


Meu queixo caiu e meus olhos se arregalaram enquanto cada palavra era dita por Bill... O que estava acontecendo afinal?


Você não está chateado por isso?

Duda, eu não estou chateado, nem irritado e não vou xingar você em hipótese alguma. -disse segurando meu rosto, seus olhos presos aos meus- Eu sempre soube que você e o Tom foram feitos um para o outro... Mesmo sendo dessa forma estranha. -riu divertido.


Bill é, de fato, a pessoa mais surpreendente e carinhosa que eu conheço na minha vida. Bem no fundo eu tinha esperança de que tudo ficaria bem, mesmo que doesse... Mas eu tive a impressão que o sentimento transmitido pelos olhos castanhos brilhantes de Bill não era dor e sim alívio.
Eu estava me sentindo melhor, uma parte daquela dor sufocante havia evaporado junto de minhas lágrimas, dando lugar à um sorriso e um olhar curioso... Alguma coisa ocorrera naquela viajem, algo bom.

–Tem certeza de que está tudo bem? -concordou- Me sinto melhor sabendo que não está magoado comigo... Bill, eu sempre vou amar você, não quero perder o meu melhor amigo. -fiz bico.
–E quem disse que eu vou deixar o meu lugar de melhor amigo? -perguntou fingindo indignação- Vai ter que me aguentar pro resto da vida, querida! -beijou minha bochecha demoradamente- E, mesmo que me abandone, vou amar você até o fim dos tempos.


Impressionante o poder que Bill tem de me fazer sorrir e chorar ao mesmo tempo, a doçura e o modo carinhoso como ele me trata faria qualquer garota suspirar e eu tinha certeza de que logo aquela garota especial apareceria na vida do meu melhor amigo... Tudo o que eu queria era vê-lo feliz, sempre sorrindo.
Senti os dedos cumpridos de Bill cutucarem minhas bochechas e apertá-las em seguida, o que me fez rir do jeito criança dele.

–Tenho uma coisa pra contar... -disse mexendo em meus cabelos.

–O que? -perguntei curiosa.

Bill remexeu-se na cama me deixando impaciente, bufei e em seguida fi-lo deitar sua cabeça em meu colo... Enquanto uma de minhas mãos brincava com seu cabelo, meu melhor amigo segurava a outra acariciando-a.

–E então?

–Conheci uma garota... -suas bochechas enrubesceram- Em Stuttgart.

Eu sabia que havia algo, ou melhor dizendo, um alguém que deixara meu amigo diferente... Antes eu estava nervosa demais para perceber que Bill estava mais feliz, agitado e seus olhos brilhavam radiantes.
Ouvi tudo o que meu melhor amigo dizia sobre Angel, a garota fazia jus ao nome e era perfeita para ele, parecia que o destino dera um empurrãozinho para que tudo se ajeitasse sem que ocorressem mais estragos. Me senti feliz por ver Bill bem, por ter seu perdão e sua amizade.


Estou louca para conhecer essa garota! -falei animadamente após Bill ficar quieto.

–Ela vai nos acompanhar na turnê! -disse sorridente e o meu sorriso se desfez- O que foi?

–Não vou viajar com vocês...

–Por quê? Por causa do Tom? Vocês vão se acertar, eu tenho certeza disso e daí vamos todos juntos viajar pelo mundo conhecendo lugares diferentes, fazendo compras em Paris...

–Não posso deixar a Camila sozinha.

–E você precisa de um tempo só seu, eu sei... -completou.

–Desculpe por não ir...

–Vai ser triste não ter você por perto, mas se você precisa de tempo é o que terá. -sentou e me abraçou- Nós temos a vida inteira pela frente e poderemos viajar sempre que quisermos...

–Com licença... -a voz de Anne soou após batidas leves na porta- O almoço está pronto!


Levantamos juntos da cama e, após lavarmos as mãos, seguimos para a sala de jantar onde Camila, Gustav, Georg e David nos esperavam. Apenas um lugar estava vago, o de Tom... Senti-me um pouco desconfortável ao lembrar dele, mas tinha meus amigos por perto e não queria deixá-los preocupados com qualquer lágrima que eu deixasse escapar.
Comi pouco, mas o almoço estava uma delícia... Gustav preparara um arroz de forno vegetariano, Anne fez um suco de abacaxi com hortelã e a torta de chocolate foi preparada por Camila.
Anne e eu lavamos as louças, depois juntamo-nos aos outros na sala... Conversamos durante a tarde inteira, todos pareciam bem animados por causa da turnê, inclusive Camila e Anne.
A dor que eu sentia havia diminuído, mas continuava forte e ter todos os meus amigos me apoiando fazia-me esquecê-la por algum tempo... Era como se eu fosse cedada por algum tempo e depois a dor voltasse com toda a força, mas eu precisava deles mesmo que não fosse uma cura definitiva.

Eu sabia que algum dia estaria melhor, mas para que isso ocorresse eu deveria me afastar de tudo que me fizesse lembrar o ocorrido.
Eu sabia que uma cicatriz se formaria e que poderia sangrar, mas eu deveria ser forte para aprender a lidar com a dor.
Eu sabia que meu coração poderia ser remendado, mas eu não tinha a cura.
Eu sabia que mesmo muito tempo longe e com minha mente livre de qualquer lembrança, os olhos raivosos de Tom sempre ficariam em minha mente.
Eu não sabia para onde iria, mas sabia que a volta era certa.
Eu esperava que tudo pudesse ser resolvido quando eu voltasse.
Eu queria voltar e poder correr para os braços de Tom, mas eu não sabia se ele estaria lá para mim e se eu me permitiria perdoá-lo... Tudo dependia do tempo, do modo como viveríamos e enxergaríamos nossas vidas.
Será que poderemos recomeçar? Será que reconstruíremos nossas vidas juntos? Só o tempo irá dizer...


Postado por: Grasiele

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