quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Resumption - Capítulo 59

 P. O. V. Duda

Meus olhos, antes cansados, abriram-se lentamente sendo recebidos pela fraca luminosidade que invadia o quarto de Anne. Sentei-me na confortável cama, que me amparara durante o sono, sentindo minha pele ardendo nos locais machucados... Marcas de uma noite conturbada e dolorosa.
Respirei fundo me espeguiçando e levantei, meus pés tocaram o carpete felpudo e dirigi-me ao banheiro, onde lavei o rosto e fiz um gargarejo com o enxaguante bucal que estava sobre a bancada da pia. Olhei-me no espelho encontrando um rosto cansado, abatido e com pequenas olheiras abaixo dos olhos... Eu não me reconheci, aquela em frente ao espelho não era eu, não aquela garota forte e confiante que havia lutado para ter uma vida confortável e calma.


–O que houve com você, Maria Eduarda? - encarei-me questionando- Olha pra você... -ri sem humor- Não acha que precisa dar a volta por cima? -suspirei- Você vai superar, sempre supera.


Deixei que um sorriso fraco surgisse em meu rosto, eu estava destruída por dentro e não sabia por onde começaria a me reerguer, mas parada, sem procurar apoio, eu não iria à lugar algum e, mesmo que doesse, deveria seguir em frente... O primeiro passo: desfazer a cara de enterro.
Eu sabia exatamente onde Anne guardava suas maquiagens e, sem pensar muito, comecei a minha “reconstrução facial”. Não demorara muito até que aquele semblante de garota inabalável e confiante voltasse para o meu rosto, as olheiras esconderam-se atrás da maquiagem fazendo-me parecer saudável, como se rios de lágrima não tivessem corrido por ali.

Após terminar a leve maquiagem, sorri para meu reflexo me sentindo menos vulnerável e quebrada, guardei as maquiagens em seus devidos lugares e segui em busca de Anne. Minha amiga estava sentada no sofá conversando ao telefone com alguém e sorriu ao me ver parecendo um pouco surpresa.


–Está tudo bem, amor... -pausou- Claro que não estou mentindo! -revirou os olhos- Duda, telefone pra você! -estendeu o aparelho em minha direção.

–Alô, David?

–Graças à Deus, garota! -disse parecendo aliviado- Gustav ligou me contando tudo... Está tudo bem mesmo?

–Sim. -respondi sinceramente.

–Tem certeza? -pareceu desconfiado- Eu estive na sua casa e tem algumas coisas quebradas por lá...

–Eu caí... Mas não foi nada de mais, apenas alguns cortes superficiais. -pausei- Ann me ajudou com os curativos.

–Hm... -murmurou- Eu sinto muito pelo que aconteceu e juro que quando encontrarmos o Tom, teremos uma longa conversa...


Meu coração pulou ao ouvir o nome de Tom, flashs da noite anterior e de seus olhos raivos fixos em mim passaram por minha cabeça lentamente, me fazendo encolher.
E eu havia escutado direito? Tom não aparecera desde o ocorrido?


–Encontrar o Tom? -perguntei curiosa.

–Ele simplesmente sumiu do mapa, ninguém que conheçamos o viu, o celular está desligado...

–Talvez esteja na casa da mãe... -sugeri.

–Bill esteve lá e Simone disse que Tom não a procurou...


Bill? Por causa dos últimos acontecimentos eu havia esquecido completamente da volta de meu “namorado”. Será que ele soube de algo?


–O Bill, ele...

–Não, tomamos as devidas medidas pra que ele não soubesse nada além do que deveria... Mas você...

–Preciso contar. -completei- Eu sei!

–Ok, se precisar de algo é só ligar! -avisou- Até mais.

–Até. -murmurei.


Senti meu corpo cair sobre o sofá como um peso morto, o telefone escorregou de minha mão e meu coração batia pesado dentro do peito, aquela máscara que eu há pouco “colocara” não me fazia sentir mais confiante. Eu ainda tinha muito o que resolver, talvez Tom e eu nunca nos entenderíamos, mas eu precisava abrir o jogo com Bill e dizer tudo o que havia acontecido naqueles poucos dias em que estivera viajando, contar como eu me sentia e, principalmente, pedir perdão por tê-lo usado, por ter o enganado e nutrido a ideia de seguirmos com um relacionamento que não daria certo... Porque, infelizmente, não pertencemos um ao outro.

–Tudo vai se resolver, querida. -Anne me abraçou- Não se preocupe, Bill vai entender... -pausou- Camila, eu e os garotos estaremos sempre do seu lado, independente do que aconteça. -beijou minha bochecha.

–Obrigada por tudo, Ann. -choraminguei- Eu não sei o que seria de mim sem os seus conselhos.

–Eu sei... -disse convencida- Também não sei o que seria de mim se não tivesse você... Tudo o que tenho de melhor na vida surgiu depois que você entrou na agência acompanhada pela Mila, vocês são meus bebês. -sorriu abertamente.

–AWN. -apertei-a- Assim eu choro. -ri.

–Nein, vai estragar a maquiagem! -riu- Hora de acordar pra vida, mocinha...

–Que horas são? -perguntei levantando do sofá.

–Pouco mais de 13hs.

–O que? -perguntei assustada- Não acredito que dormi tanto tempo!

–Vamos sair pra almoçar. -Anne disse ignorando meu comentário.

–Aonde nós vamos? -perguntei sentindo medo da resposta.

–Para a sua casa, Gustav está preparando o almoço... -respondeu calmamente- Além disso você precisa resolver algumas coisinhas.


Engoli em seco processando a informação. Claro que eu estava disposta a conversar com o Bill, mas não naquele mesmo dia, não me sentia suficientemente preparada e, mesmo sabendo que ele é compreensivo, estava sentindo medo da reação que poderia ter após eu dizer tudo à ele... Tom havia perdido o controle em uma conversa tensa como aquela que teria com Bill e a reação foi a pior possível, não queria presenciar algo como o que ocorrera na madrugada anterior.
Segui Anne até o quarto, sentei-me na cama observando minha amiga ir ao closet e voltar em seguida com algumas peças de roupas em mãos.


–Essas são as únicas roupas que, talvez, sirvam em você... O número do meu manequim aumentou. -confessou.


Montei um look confortável e esperei Anne sair do banheiro já arrumada. Saímos do apartamento indo em direção à garagem, já que, provavelmente, o estofamento do meu carro estivesse úmido e com mau cheiro depois da madrugada passada.


–Duda, o que você vai fazer com o seu carro? -Anne perguntou enquanto manobrava o carro.

–Eu ainda não sei... Acho que vou mandar lavar e vender.

–Vender? -minha amiga perguntou confusa.


Apenas murmurei um sim e foquei minha visão no vidro ao meu lado. Algumas ideias surgiam repentinamente em minha cabeça e eu pensava seriamente em colocá-las em prática, talvez o que eu estivesse realmente precisando era de um tempo longe de tudo e de todos, sem contato com a banda, com o meu trabalho... Alheia àquilo que estava, de certa forma, me sufocando.
Os garotos viajariam pelo mundo durante os meses seguintes e eu queria me distanciar do lugar ao qual eles estarão eternamente ligados: o país natal. Para mim não havia outra forma de esquecer, ou pelo menos tentar, se não buscasse um novo destino... Eu sabia que Anne e Camila relutariam em me deixar partir, mas eu não me ausentaria de suas vidas, apenas ficaria longe por algum tempo e, assim que me sentisse suficientemente forte, voltaria para aquele que sempre foi o meu sonho, minha vida tranquila e estável na minha amada Alemanha.


–Duda, chegamos! -Anne me chamou para a realidade.


Descemos do carro e pouco tempo depois estávamos entrando em minha casa. Assim que abri a porta braços me prenderam em um abraço apertado.


–Gott, está tudo bem com você? -a voz doce de Bill bailou em meus ouvidos.


Senti minhas pernas fraquejarem em uma fração de segundos, mas os braços finos de Bill me seguraram, firmando-se em minha cintura.
Eu estava me sentindo a pior pessoa do mundo por estar recebendo um carinho tão sincero dele sem merecer, Bill sempre fora tão puro e amoroso comigo... Eu não o mereço!


–Tudo bem. -disse recuperando o equilíbrio.

–Tem certeza? -perguntou afastando-se e me olhando minuciosamente.

–Que tal nós entrarmos? -Anne perguntou.


Bill concordou me guiando em direção ao sofá e sentou-se ao meu lado, ainda me analisando. Seus olhos castanhos voltaram-se com preocupação para as minhas mãos.


–Eu fiquei tão preocupado quando me contaram o que aconteceu e o David me deixou nervoso por não ter explicado direito... -tagarelou- Dói muito? -perguntou encostando levemente em minha mão.

–Um pouquinho... -mordi o lábio tentando conter a vontade de chorar- Há outros machucados que doem mais. -sussurrei.

–O que? -perguntou franzindo a testa.


Aquele par de olhos castanhos confusos prendiam-se aos meus procurando por resposta, as mãos macias de Bill acariciavam levemente minhas mãos enquanto aguardava pacientemente que eu dissesse algo.
Meu coração pulsava lenta e dolorosamente, eu sabia que havia chegado a hora daquela conversa definitiva, não poderia mais adiar, não tinha forças para continuar mentindo e nem queria. Era hora de expor todos os meus sentimentos, o momento certo para deixar que o coração falasse mais alto, sem interrupções e intervenções da mente... Apenas deixar o coração guiar.


–Nós precisamos conversar. -disse não contendo as lágrimas.

Postado por: Grasiele

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