quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Resumption - Capítulo 57

–Não vou mais acompanha-los na turnê. –soltei.
–Você o que? –Tom perguntou afastando rapidamente seu rosto de meu pescoço.


Eu podia sentir a tensão se formando, tinha certeza de que ele estava surpreso e que em poucos minutos ficaria “puto”, mas o que eu poderia fazer? Tom havia pedido para que eu dissesse a verdade e, como sempre, o fiz.
–Eu vou ficar. –respondi sentando-me na cama.

–Por quê?

Porque eu simplesmente não aguento mais!
–Camila precisa de companhia. –pausei e, antes que ele dissesse qualquer coisa, voltei a falar. –E esse não é o único motivo.

–Ah, não? –perguntou visivelmente alterado. –O que mais está a impedindo?

Senti meu peito inflar, tudo o que eu estivera guardando sairia como um turbilhão de palavras incontroláveis, eu precisava me livrar do que me machucava, mesmo que as consequências fossem as piores.
–Eu não quero ficar me escondendo, isso está me matando por dentro. –suspirei sentindo meus olhos arderem. –Não vou aguentar ter você tão perto e não poder tocá-lo...

–Então porque não coloca um ponto final no seu namoro com o Bill? –perguntou parecendo esforçar-se para manter calma.

–E-eu não quero que ele sofra. – gaguejei.

–Você já parou pra pensar que tudo seria mais fácil se você contasse sobre nós para ele?

–Mais fácil pra quem?-perguntei sarcasticamente. –Pra você, Tom?

Eu me ouvia falar coisas que sequer conseguia controlar, as palavras saíam sem esforço algum e meu coração parecia aliviar-se.
–Você está insinuando que eu não me importo com o meu irmão? –perguntou apertando um de meus braços.

–Eu não disse isso! –puxei meu braço com força e suspirei. –Você sabe que tudo que mais quero é ficar livre disso tudo, mas só de pensar no quanto o Bill sofrerá meu peito dói...

–Eu não tenho tanta certeza de que seja realmente isso. –bufou. –Você quer abraçar o mundo, quer ter tudo nas mãos.

–Tom...

–Não se contenta em me ter na palma da sua mão e quer ter o meu irmão também. –pausou – Me fez acreditar esse tempo todo que eu preciso de você. –despejou. –Você me provocou, porque sabia que não descansaria enquanto não a tivesse. –riu sem humor- Não acredito que eu caí na sua.

Eu estava me sentindo um lixo, pior do que antes. Tom estava fazendo-me sentir a pior pessoa do mundo e me perguntava o porquê daquilo... Eu tinha sido tão cruel?
–É realmente irônico, não? Eu me sinto um idiota, completamente usado e enganado. –pausou. –Perdeu a língua?

Eu não conseguia dizer uma palavra sequer, meu peito parecia querer sumir de tão forte que se comprimia, o ar faltava em meus pulmões e no lugar do alívio de ter dito o que me incomodava, agonia e raiva surgiram.
–Não acredito que me deixei envolver com alguém como você: tão dissimulada, suja e manipuladora. –xingou. –Eu nunca senti tanto nojo de alguém.

Aquilo foi a gota d’agua para mim e, sem pensar duas vezes, minha mão voou em direção ao rosto de Tom, atingindo-o em cheio. Eu não medi a minha força e nem mesmo sei como tive tanta precisão, já que o quarto estava completamente escuro.
Levantei rapidamente da cama, eu não ficaria nem mais um minuto ouvindo aquilo tudo, eu não aguentaria e tive medo da reação de Tom porque, assim como eu, poderia estar tomado pela raiva e não medir seus atos. Meus pés descalços tocaram o chão frio, saí em direção à porta e ouvi passos rápidos atrás de mim, o que me fez correr e colidir em um vaso de planta, que se espatifou no chão, quebrando em mil pedaços... Eu não me importei em ter meus pés perfurados pelos cacos de vidro, sequer pensei duas vezes.
Continuei a minha fuga encontrando a escada e desci segurando o corrimão, eu estava desesperada para encontrar a chave de meu carro e corri pela sala tropeçando e caindo sobre o tampo da mesa de centro da sala, que quebrou... Institivamente protegi meu rosto colocando a mão sobre ele e a dor que senti foi horrível, mas pequena se comparada com a minha dor interior. Tateei o chão e, por sorte, encontrei a chave do carro.
Levantei-me sentindo meu corpo inteiro arder e segui até a garagem, ouvindo passos vindos da escada. Apertei o botão do alarme, que revelou a localização exata do carro e corri, entrando no mesmo e trancando as portas... Senti-me a salvo por alguns segundos, o desespero estava diminuindo e a razão voltava aos poucos.
–Onde você pensa que está indo? –ouvi a voz de Tom e senti o pânico me possuir.

Eu estava com medo, me sentindo desprotegida e tão nervosa que sequer tinha lembrado de um detalhe: o portão não abriria sem energia elétrica. O desespero em sair dali me fez rezar como nunca antes e, como um milagre, voltou a luz, o que me fez agradecer e apertar o controle da garagem.
–Desce desse carro! –Tom gritou batendo no vidro ao meu lado, seus olhos estavam vermelhos e seu rosto sustentava uma expressão nervosa.

Eu nunca havia visto-o naquele estado, era como se aquele não fosse o cara que eu conheci, como se algo ruim o tivesse possuído... Seu olhar me matava por dentro.
Liguei o carro dando ré e saí pela rua cantando pneu, eu não tinha noção de onde eu iria, principalmente porque eu não tinha dinheiro e nenhum documento. Dirigi sem rumo pela cidade, mas parecia não sair do lugar... Eu segurava o volante firmemente, meus olhos estavam inundados, soluçava sem parar e meu coração parecia enferrujado, cansado de bater... Eu me sentia desligada de tudo, perdida no mundo.
A lua cheia, que antes iluminava o céu, estava coberta por grossas nuvens acinzentadas que, em poucos minutos, deixaram gotas grossas de chuva escapar, inundando a cidade... Era estranho como a mudança repentina do clima se parecia com a tempestade de sentimentos que eu enfrentava naquele momento.
Eu estava me sentindo cansada, com o corpo, alma e coração doloridos e meus olhos não aguentavam mais manterem-se abertos e, sem escolha, dirigi em direção ao edifício de Anne, estacionando em frente ao mesmo e esperando até que a noite acabasse. Não queria estar lá, não queria que aquela briga tivesse acontecido, mas tudo era consequência de minha fraqueza... Se eu não tivesse me deixado levar pelo meu lado extremamente emocional, talvez estivesse tudo bem e não teria que passar por todo aquele sofrimento.
Respirei fundo e olhei-me no espelho retrovisor encontrando meu rosto inchado, olhos e nariz avermelhados. Desci meu olhar para as mãos vendo o estrago que os cacos de vidro haviam feito e sequer me preocupei com a dor... Meus braços, pernas e pés estavam muito piores.
Olhei no relógio, passavam das cinco horas da manhã e me perguntei como havia rodado tanto tempo pela cidade sem perceber. Faltava pouco tempo para que eu pudesse descer do carro e ir de encontro ao meu porto seguro, o apartamento aconchegante de Anne... Eu pedi ao céu que David não estivesse lá para me fazer um interrogatório, já bastaria a preocupação de minha amiga.
Recostei-me no banco e fechei os olhos por alguns minutos, tudo o que eu enxergava eram os olhos de Tom me olhando com ódio. Perguntei-me inúmeras vezes como havia chegado a ponto de quebrar minha promessa de nunca mais chorar por homem algum... Não era a primeira vez que meu castelo tinha sido atingido, levara algum tempo para que eu o reestruturasse e, sem pensar, deixei-o ser destruído.
Tom era a esperança de que eu poderia passar por cima de todo o medo e receio, a esperança de que o príncipe não se transformasse em algo pior do que um sapo e acabei me afundando em uma ilusão.
As horas haviam passado rapidamente e, quando olhei novamente para o relógio, era sete horas, exatamente o horário que Anne costumava levantar para tomar café e, em seguida, sair para trabalhar. Saí do carro sentindo a chuva encharcar minha blusa, liguei o alarme do carro e sem pressa atravessei a rua, sendo recebida pelo porteiro, que me olhava surpreso e, ao mesmo tempo, preocupado.
–Senhorita Müller? –acenou –Céus, o que houve?
–Nada de mais, apenas um acidente doméstico. –respondi entrando no hall. –Anne está em casa?

–Sim... Quer que interfone?

–Não será preciso. –sorri e segui para o elevador.


Pouco tempo depois cheguei ao andar de Anne e toquei a campainha de seu apartamento, ouvi passos do outro lado e, em seguida, a porta se abriu revelando minha amiga de pijama e com um semblante cansado.
–Duda? –seus olhos arregalaram-se- Gott, o que aconteceu com você? –lágrimas começavam a cair por suas bochechas.

Anne puxou-me para um abraço apertado e, sem perceber, lágrimas grossas escapavam de meus olhos. Separamo-nos segundos depois, entramos no apartamento e minha amiga me observava ainda chorando.
–O que houve? Porque você está assim? –perguntou desesperadamente.

Deixei-me cair no sofá e contei tudo à Anne, sua expressão ia mudando de preocupação para surpresa, até, finalmente, tornar-se raivosa.
–Eu não acredito que o Tom disse essas coisas horríveis! –socou o sofá- Ele merece muito mais do que o tapa que você deu nele. –pausou- Se eu soubesse que aquele moleque ia fazer uma merda dessas, não teria pensado duas vezes em afastá-lo de você.

–A culpa não é sua, Anne...

–Aquele cachorro, sem vergonha! –xingou e suspirou em seguida –Ok, não vale à pena pensar nele agora... Precisamos cuidar de você e desses seus machucados.


Anne guiou-me para o seu banheiro, pediu para que eu tomasse um banho relaxante e, após deixar uma toalha sobre a pia, saiu encostando a porta. Lavei-me cuidadosamente, a água quente batia em minha pele causando ardência nos cortes espalhados pelo meu corpo e, após lavar meu cabelo, desliguei o chuveiro e sequei-me, seguindo para o quarto.
–Duda, aqui tem um conjunto de lingerie novinho, vista e logo eu volto com os curativos. –disse colocando as peças íntimas sobre a cama.

Alguns minutos depois minha amiga reapareceu com um kit de primeiros socorros e pôs-se a limpar meus machucados, que arderam um pouco, mas nada que eu não pudesse aguentar.
–Pronto! –riu olhando para minha expressão de alívio. –Agora você se veste enquanto vou buscar um chá, algo para você comer e um antigripal.

Não tive tempo de dizer à ela que estava sem apetite, pois já tinha se retirado do quarto. Vesti uma roupa bem confortável que Anne havia separado e logo ela apareceu com uma bandeja contendo uma pequena xícara de chá, biscoitos doces e o antigripal.
–Eu sei que você deve estar sem apetite, mas precisa comer alguma coisa. –disse antes que eu protestasse.

Fui observada pelos olhos atentos de minha amiga até que eu terminasse o meu “café da manhã” e senti o sono me dominando aos poucos, Anne, percebendo meu cansaço, fez-me deitar em sua cama e, pouco tempo depois, relaxei em um sono profundo.

Postado por: Grasiele

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