(Contado pela Kate)
Cheguei em casa, e me enfiei dentro do quarto. Queria ligar pra Laura e contar sobre a conversa que tive com o Bill, mas tinha certeza que ela começaria a rir e me chamaria de louca. Então preferi manter segredo. Deitei-me na cama, e fiquei olhando pro teto. Por mais incrível que pareça, naquele momento eu não estava pensando em absolutamente nada. Olhei pro relógio na mesinha de cabeceira; 10h45. Daqui mais ou menos uma hora eu teria de sair para buscar o Brian no colégio.
Com um pouco de preguiça, me levantei e fui pro banheiro. Fechei a porta, e comecei a me despir. Ao ver aquela lingerie, me veio a cena do beijo que a Laura me deu. Fechei os olhos e balancei a cabeça, como numa tentativa de esquecer aquilo. Os abri, e outra cena me veio em mente; eu transando com o Bill. Pensei estar enlouquecendo mesmo, e deu até vontade de gritar. Respirei fundo, tirei a lingerie, liguei o chuveiro, e deixei que a água morna caísse sobre meu corpo. Fiquei ali debaixo por mais ou menos quinze minutos. Sai enrolada numa toalha branca. Abri o guarda roupas, e escolhi algumas peças. Passei desodorante, creme hidratante para o corpo, e protetor solar. Vesti-me, e me pus em frente ao espelho. Penteei o cabelo e decidi deixar solto, já que o dia estava meio quente, e o vento um pouco forte. Fiz uma levíssima maquiagem, coloquei meu perfume, e sai do quarto.
(Roupa da Kate: http://www.polyvore.com/cgi/set?id=23393261)
Na cozinha, a Brenda começava a preparar o almoço dos O’Connell. Naquele dia o senhor C almoçaria em casa. Um milagre. Avisei que iria buscar o Brian, e logo parti. Algum tempo depois chego ao colégio, e não demora muito para o sinal tocar, e aquele bando de criancinhas começa a correr. Notei que a “minha” criança não havia aparecido ali. Fiquei preocupada, e fui até a sala dele. Uma professora me avisou que o garoto estava na diretoria. “O quê que esse moleque aprontou agora?”. A diretora me recebeu com muita educação, e disse para eu me sentar, pois queria conversar comigo. O Brian ficou sentado num banco do lado de fora.
- Ele fez alguma coisa? – pergunto.
- O Brian bateu em um dos coleguinhas. – respondeu calmamente.
O que a gente deveria dizer quando escuta algo assim? Se fosse meu filho, o chamaria no mesmo instante, e lhe daria uma boa bronca. Mas como – felizmente - não era...
- Como a mãe dele nunca aparece por aqui – ela continuou. -, achei que seria bom falar com você, já que convive bastante com ele. O Brian é um garoto calmo, e realmente não sei o que o levou a fazer isso.
- E ele não disse nada?
- Não. Permaneceu o tempo inteiro calado.
- Eu... Eu vou conversar com ele. E isso não se repetirá.
- Obrigada.
- Obrigada a você, por ter avisado.
Me despedi da diretora e fui encontrar o pequeno. Peguei sua mochila, segurei em sua mão, e saímos do colégio. Se voltássemos para casa naquele momento, não teria como conversarmos direitinho. Resolvi levá-lo até um parque que havia ali por perto. Nos sentamos num banco, e comecei a falar.
- Você sabe o porquê da sua diretora querer falar comigo? – perguntei, olhando pra ele.
- Não. – responde, enquanto tomava sorvete.
- Ela disse que você bateu em um dos seus amigos. Isso é verdade?
Ele ficou calado, e continuou com o sorvete.
- Se você fez aquilo, deveria ter um bom motivo. – continuei. – Quer me contar o que aconteceu?
Aquele silêncio dele estava me deixando um pouco irritada. Mas me controlei.
- Prometo que não contarei pra ninguém. – disse. – Esse será o nosso segredo. Mas se não quiser falar pra mim, terei de contar pra sua mãe, e talvez ela não reaja tão bem.
- Ele disse que você iria me abandonar como as outras fizeram.
Meu coração partiu.
- E eu tive que bater nele, porque isso é mentira, não é Kate? Você não vai me abandonar, vai?
- N-Não... – gaguejei um pouco. – Não irei te abandonar. Mas também não precisava bater nele.
- Desculpa.
- Tem que pedir desculpas a ele, e não a mim. – ele abaixou um pouco a cabeça. – Por favor, não faça mais isso, ok?
- Um-hum. – me abraçou.
- E se aquele moleque falar mais alguma coisa é só me avisar. – rimos. – Vamos pra casa?
- Não! Vamos ficar mais aqui!
- Por mim, tudo bem.
Brian foi brincar, e fiquei ali sentada só observando. Meu celular começa a tocar; era Laura.
- Oi. – disse.
- O que está fazendo?
- Observando uma criança brincar.
- Ah, esqueci que virou babá.
- É meio triste, eu sei.
- Me diga onde está, que irei até ai.
Passei o endereço do local, e em poucos minutos ela estava sentada ao meu lado.
- Ele parece ser um anjinho. – disse ela.
- Só parece mesmo. – nós rimos.
- Haverá uma festa nesse final de semana, tá a fim de ir?
- Não sei se vai dar. Talvez estarei cuidando dele.
- É uma pena, porque eu queria levar você. – sorriu. – E como andam as coisas com seu visinho?
- Conversamos essa manhã, e ele me contou o que houve.
- E ai?
- Acho que sua alma estava em meu corpo no momento em que transamos.
- Como assim?
- Se da forma que ele me contou é mesmo verdade, eu estava parecendo uma piriguete. – ela riu.
Olhei em direção do parque e não vi o Brian. Comecei a ficar um pouco aflita, e olhei em volta. Ele corria na direção contrária em que eu estava. Me levantei rapidamente, e fui atrás dele. O alcancei, e o garoto estava conversando com o Bill.
- Oi Kate. – diz Bill, que se encontrava agachado, para conversar melhor com o Brian.
- Oi. – respondi, um pouco sem graça.
- Será que a sua mãe deixaria você ir ao boliche comigo essa noite? – pergunta ao Brian.
- Não sei. – responde ele. – Mas a Kate pode ir junto?
Com um meio sorriso, Bill me olha.
- Se ela quiser. – responde.
- Vamos Kate! – Brian se aproxima de mim.
- É, vamos Kate. – Bill se levanta.
- Não vai dar. – respondo.
- Vamos! – o garoto insiste.
- Brian... Eu não sou a sua mãe, e deve pedir a ela primeiro.
- Aposto que se você for, ela nem vai se importar. – diz Bill, e coloca as mãos nos bolsos.
- Por favor. – Brian faz biquinho.
- Tá legal, eu vou. – tento não olhar muito para o Bill.
A Laura aparece logo em seguida, um pouco ofegante.
- Poxa, você me deixou sozinha naquele banco. – diz ela. – Opa! – olha pro Bill. – Não vai me apresentar seu amigo?
- Este é o Bill, meu visinho. Ou melhor, visinho dos O’Connell. – apresentei.
- Ele é o garoto com quem...
- Exatamente. – tentei desviar o assunto antes que ela começasse a falar coisas.
- Sou a Laura. – ela estende sua mão.
- Então você é a Laura. – diz Bill, cumprimentando-a.
- Já ouviu falar de mim?
- Mais ou menos. – ele olha pra mim, e desvio novamente o olhar. – Bem, estávamos combinando de irmos ao boliche essa noite. Não gostaria de ir conosco?
- Claro! – responde ela, sorrindo.
- Então nos encontraremos às 19h00. Pode ser?
- Sim. – diz Laura.
Bill se despede do Brian, e logo em seguida vai embora. Enquanto voltávamos para o banco, Laura e eu conversávamos.
- Nem dá pra acreditar que você fez aquele alarme todo, sabendo que seu vizinho é mó gatinho! – diz ela.
- É que não nos damos muito bem.
- Tem certeza? Porque não foi isso que pareceu. – nos sentamos.
- Eu mal o conheço!
- E daí? Pessoas vivem tendo aventuras sem conhecer umas as outras. E nesse caso, eu adoraria ter várias outras aventuras.
- É impressão minha, ou ficou interessada nele?
- Você sabe muito bem que a meu tipo de fruta é outro. E sabe principalmente quem eu quero. – me olhou de cima a baixo, e sorriu maliciosamente.
- Ele tem um irmão. – olhei para o nada. – Gêmeo.
- Isso daria uma ótima fantasia sexual. – disse com a voz mais descarada possivel.
- E sabe que ele até se parece com você?
- Por quê? Ele é gay? – ficou empolgada.
- Não. – ri. – Mas é meio descarado, e não mede alguns esforços pra conseguir o que quer.
- Só presta assim. Mas é uma pena que não seja gay.
Continuamos conversando por alguns minutos. Chamei o Brian, peguei sua mochila, segurei em sua mão, e fomos pra casa. A Laura nos acompanhou até o condomínio, mas não chegou a entrar. Depois se despediu de mim com um abraço apertado e um beijo no rosto. Também deu um beijinho no rosto do Brian, e apertou as bochechas dele. Ela entrou num táxi e foi embora.
Postado por: Grasiele
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