domingo, 2 de outubro de 2011

Touched By An Angel - Capítulo 7 - Prendia o choro.. Por AMOR!



Dois meses depois ...



Em uma quinta-feira ensolarada pulei da cama muito cedo, quando entrei na cozinha meus pais estavam tomando café, dei o meu melhor bom dia a eles.

-Nossa, para estar nessa felicidade a essa hora da madrugada você deve estar chegando agora de uma noite regada à bebida e a cigarro? – Meu pai me olhou com aquele olhar critico que só um pai consegue ter.  – Eu não disse que não queria você na balada em dia de semana? Isso vai acabar te matando, acabando com os seus estudos e com a sua carreira.

-Pai , Poupe o sermão! – Falei sem deixar que meu pai tirasse o meu bom humor - Não estou chegando da balada. Acabei de acordar e estou indo para o hospital.

-Hospital? -Meu pai olhou para minha mãe desconfiado.  – Hoje não é dia de ir ao hospital.

-Eu sei, mas tenho que resolver algumas coisas perto do hospital e vou dar um oi para o pessoal! Volto antes do almoço!

Dei um beijo no meu pai e na minha mãe, peguei minhas coisas, sai da cozinha, entrei no carro e segui para o hospital.

-Será que isso tem haver com aquele rapaz? – Hélio disse olhando para Jackeline, mal humorado.

-Que rapaz?- Ela se fez de desentendida.

-O rapaz que ela fala 24 horas por dia! Parece que não tem outro assunto dentro dessa casa.-Ele se irritou mais com o descaso da esposa.

-Bill? – Jackeline disse olhando com reprovação. Pois, sabia que Hélio não gostaria de ver a filha envolvida com Bill.

-Sim,o cego! –O pai de Janice disse levantando se da mesa e finalizando a conversa.

 ...

-Oi, Lena! – Cumprimentei quando entrei na recepção do hospital. – O Bill esta dando aula?


-Não! Bill não esta dando aula. –Lena disse levantando os olhos do computador.

-Mas ele vem para o hospital hoje?- Insisti vendo-a parar de digitar e virar a cadeira em minha direção.

- Sim,ele já esta aqui no hospital. Mas, não está como professor. – Ela disse levantando e indo em minha direção e falou baixo. - Hoje ele esta fazendo uns exames complicados e chatos então, ele vai passar o dia e talvez à noite também.

-Jura? Ele não me disse nada! - Meu coração apertou.

-Não espere isso dele.- Ela disse ainda séria.

- Isso o que?- Perguntei já com medo da resposta.

-Não espere que Bill diga sobre sua deficiência, sobre seus exames ou sobre qualquer coisa que faça você ficar com dó dele.

Baixei meus olhos quando ela disse aquilo. Depois que o conheci de verdade.Nunca mais senti pena dele. Nunca o olhei com olhos de piedade. Ele podia confiar em mim. Por que ele não disse dos exames?

- Qual o quarto dele?- Perguntei olhando para Lena.

-Você não pode entrar.Só a família!

-Poxa, Lena! Por favor, eu sou a professora dele, amiga e queria desejar boa sorte. Só isso!

Quase implorei para Lena. Realmente eu queria subir e falar alguma palavra de conforto. Eu precisava muito vê-lo!

- 483! – Lena disse bufando- Promete que não vai ficar zanzando de um lado para outro? Se te pegarem lá em cima eu vou ouvir do chefe.

- Prometo que vou me comportar!

Sorri feliz para Lena, peguei o elevador e subi até o quarto 483 e bati devagar.

-Entre! –Uma voz mandou.

Abri a porta devagar e entrei . Encontrei um homem, uma mulher e um rapaz sentados em um enorme sofá verde.

-Oi? Sou a Janice amiga do Bill. – Disse apresentando-me.

- Olá, Janice! Entre Por favor! – a mulher disse em um português quase incompreendível.- Sou Simone ,mãe dele.Ele nos falou muito de você.

- Falou? Mesmo? – Abri um imenso sorriso e completei em alemão afinal, seria bem melhor nos comunicarmos dessa forma.

-Sim, o sotaque dele está melhor a cada dia.- A mulher disse sorrindo e falando também em alemão.-Mesmo tendo aulas apenas dois meses. Ele treina e estuda muito em casa.

- Ele se esforça muito! Ele é um rapaz de ouro. Percebo que tudo o que ele se propõe a fazer, quer fazer sempre bem feito.  Bill quer sempre fazer o seu melhor.


Não sei por que uma emoção forte tomou conta de mim e meus olhos encheram-se de água. Disfarcei e olhei para o senhor sentado ao lado da mãe do Bill e o cumprimentei também, em alemão.

-Oi, Como vai?

- Oi ,Janice obrigado por tudo que esta fazendo pelo meu filho.

- Imagina!Eu não estou fazendo nada. Na verdade é ele que esta fazendo por mim. Estou aprendendo muito com ele. Ele é um rapaz incrível.Ele é um amigo muito querido!

-Amigo? Tô sentido essa amizade! –O rapaz disse sorrindo.

- Esse é o irmão do Bill. Tom – Simone olhou feio para o rapaz e nos apresentou.

-Olá, vocês se parecem bastante...Sei que são irmãos...mas, as semelhanças são... -Disse estendendo meu braço e recebendo o cumprimento de volta.

-Somos gêmeos! –Ele disse sorrindo e puxando sua mão.

-Gêmeos? Bill nunca me disse que tinha um...

-Olha quem chegou!

A enfermeira entrou junto com outro enfermeiro empurrando a maca e ele estava deitado com os olhos com curativos. Meu coração bateu descompassado ao vê-lo deitado naquela maca. Tão Frágil.Tive uma vontade louca de ir até ele e abraçá-lo!

Os dois enfermeiros o colocaram na cama e depois o ajeitarem, ela virou se para Simone e falou baixo baixo:

- Dona Simone, ele terá muito  enjoo, doerá um pouco os olhos, eles também ficaram um pouco inchados e essa noite ele ficará aqui em observação. O doutor Jost não o liberou. Amanhã cedo ele estará aqui para vê-lo.

-Tudo bem! Eu entendi! –Simone disse aproximando do filho e beijando sua testa.

- Ele esta sonolento. Deixe-o descansar!  Bill não pode ficar agitado. Recomendo que só a senhora fique aqui para o bem dele. –A enfermeira recomendou e nos deixou.

-Mãe, já que ele esta bem, eu preciso ir embora preciso estudar e tenho prova hoje à noite! Qualquer coisa me ligue. –Tom foi até Bill lhe deu um beijo na testa.

- Eu também querida, agora que ele esta bem preciso voltar para a empresa e resolver algumas pendências. Volto à noite para vê-lo. – O pai foi até ele e também o beijou.

Tom e o Gordon se despediram e foram embora .Ficamos somente Simone e eu!  Eu sentei na cadeira perto da porta para não atrapalhar nem Simone, muito menos Bill. Desde que ele chegou não consegui dizer uma única palavra.Talvez se eu tentasse, não aguentaria e acabaria chorando!

-Meu filho, você esta bem? Seus olhos doem? –Simone disse fazendo carinho nos cabelos negros dele.

-Estou bem ,mãe! –ele disse baixo e sonolento. – Queria um suco ou algo para beber, estou morrendo de sede.

-Vou providenciar. - Ela disse beijando as mãos do filho e virando para falar-me.

- Janice, você fica com ele eu vou pedir um suco para ele com a enfermeira.

-Janice? – Ele disse alto, ao mesmo tempo que colocou as mãos na cabeça sentindo uma pontada.

-Bill? Você não pode ficar agitado. –Ela disse preocupada com o filho. – É, esqueci de dizer. Ela esta aqui, meu amor.

-Janice? –Ele me chamou.

-Oie! – Eu disse em português. – Tinha que resolver algumas coisas aqui perto e resolvi passar para falar com alguns pacientes. Disseram-me que você estava fazendo alguns exames e esperei para dar um olá. Fiz mal?

- Eu não sei! – ele disse tão baixo que quase não ouvi.

- Simone se quiser vou pegar o suco para ele e já pego um analgésico para a dor de cabeça.

- Obrigada,querida! - Simone agradeceu.

Fui até o balcão da enfermaria e pedi o suco e o remédio para ele. Quando retornei a porta estava entre aberta e ouvi a voz de Simone.

-Não fale assim,Bill. Ela não esta aqui por dó. Esta por que gosta de você. Tem carinho por você. Ela é um doce. Bem que você falou!

Então, ele disse para a mãe que eu era um doce. Adorei ouvir isso. Como não ouvi mais nada. Bati na porta e entrei e entreguei o suco e o remédio para Simone.

-Está aqui! – Sentei -me na cadeira perto da cama.

Simone deu o suco para ele na boca com o canudinho. Eu olhei aquela cena e meus pensamentos foram tão longe. Como eu desejei ser aquele canudo! Como desejei incontrolavelmente beijar aquela boca. Colocar minha língua dentro daquela boca e...

-Simone, vou um pouco lá fora. Está muito quente aqui dentro. – Disse para Simone.

Depois que coloquei meus pensamentos em ordem. Entrei para o quarto e o vi dormindo.O analgésico foi eficaz. Pois, Bill dormiu a tarde toda. Simone não saia do lado da cama. Sentou-se numa grande poltrona e ali descansou também.

Eu não consegui relaxar, se ele precisasse de algo estaria ao seu lado para ajudá-lo. De repente com o barulho do celular, Simone acordou assustada.

-Oi? Oi Tom...Calma...Fala devagar! Você o que? Tom eu não acredito! Juro que eu não acredito! E agora? A Carolina vai ficar com quem? Ligue para o seu pai e peça para ele ir para casa, só depois que ele chegar você vai para a faculdade. Não deixe Carolina sozinha de jeito nenhum.- Simone desligou o celular e disse nervosa: - Eu não acredito!

-O que foi Simone,esta tudo bem?-Perguntei vendo-a bufar e andar de um lado para o outro no quarto.

- Tom conseguiu brigar com a empregada e ela foi embora. E agora não tem ninguém para ficar com Carolina, a irmãzinha de Bill de dois anos. Era tudo o que eu precisava. Tom e nem Gordon vai saber cuidar dela. Trocar as fraldas. São dois zeros a esquerda.  E as outras duas empregadas eu não confio.Vou ligar para minha irmã e pedir...

- Pode ir. Eu durmo com ele aqui. – Eu disse para Simone.

-Você o que? –Simone virou-se e perguntou.

- Eu cuido dele.E-Eu ouvi a sua conversa com ele. Não vou ficar por dó e sim porque quero o bem dele, de verdade. Vou ficar por que gosto dele.

- Não sei se ele vai gostar de saber que você ficou.  –Simone foi sincera.

- Eu sei... Deixe-me ficar com ele,por favor!  -Implorei.

Simone me olhou, deu um beijo no filho, pegou sua bolsa e foi embora.

Liguei para minha mãe e pedi para o motorista trazer uma mala de roupas para mim. Ele ainda dormia então, quando chegou minha mala tomei meu banho e quando a enfermeira entrou às nove horas da noite eu estava ao lado dele na cama.

- Bill...Bill desculpe meu querido, mas tenho que tirar o curativo. –Ela o chamou baixo para não assustá-lo.

- Tudo bem! – Ouvi ele dizer baixo e ainda muito sonolento.

A enfermeira tirou o curativo e pude ver o formato de seus olhos. Nunca tinha visto o foramto pois, ele sempre estava de óculos escuros.  O rosto de Bill era perfeito. Tudo naquele rosto combina e fazia sentido. As sombracelhas combinavam com o formato dos olhos. Os olhos combinavam com a boca delicada e bem desenhada e a boca combinava com o formato do nariz, que quando eu o conheci jurava que ele tinha operado de tão perfeito que era.

A voz da enfermeira me trouxe para a realidade.

- O efeito do remédio esta acabando não sei como o seu corpo reagirá então, se precisar de alguma coisa peça outro remédio,ok?

- Janice esta aqui ainda,não está? - Meus pêlos se arrepiaram quando ouvi Bill  perguntando. Era o perfume, Dolce&Gabbana

A enfermeira passou por mim e sorriu. Aproximei-me da cama e disse pegando em suas mãos. Ele permanecia sem o curativo. Mas, mantinha os olhos fechados.

- Seu irmão fez a empregada se despedir e sua mãe teve que ir embora às pressas, ela não pode dormir aqui. Amanhã de manhã ela estará aqui. Não se preocupe.

-Eu ficava bem sozinho! Não precisava pedir para você ter ficado. Você tinha a faculdade. Deve ter deixado muitas coisas para estar aqui. Ela não devia ter pedido isso a você!

- E quem disse que ela pediu? Ela não pediu nada!

-Não?-Ele perguntou.

-Não, eu quis ficar e cuidar de você.

Nesse momento ele abriu os olhos e meus lábios tiveram vida própria.

-Meu Deus! Seus Olhos!

- O que tem? O que aconteceu com eles?- Bill disse desesperado.

- Bill, os seus olhos...eles...eles são lindos!  -Gaguejei

Minha garganta fechou e não conseguia respirar. Estava chorando.Como não conseguia falar mais nada, o silêncio predominou no quarto.

- Janice, você esta ai? Você esta bem?  -Ele perguntou

-Sim, eu já volto...

Tive que sair do quarto e fui para o banheiro. Deixei minhas lágrimas rolarem e quando elas cessaram , joguei um pouco de água no meu rosto e me acalmei. Voltei para o quarto ele estava dormindo. Então, sentei na cadeira próxima da cama e fiquei o olhando dormindo.

-O que esta acontecendo comigo? O que é tudo isso que esta dentro do meu peito?-Disse baixo como se eu estivesse perguntando ao meu coração.

Baixei a cabeça e acho que adormeci. Acordei assustada com Bill me chamando aos gritos.

- Janice, eu preciso de um remédio. Urgente! Meus olhos doem, parece que jogaram areia com pimentas neles.

Apertei o botão para chamar a enfermeira, ela veio já com o remédio na mão como se ela soubesse que era exatamente isso que eu ia pedir.

-Calma,Bill a dor já vai passar.Fique Calmo!

A enfermeira medicou-o, acalmou-o e saiu da sala.

-Ain, meu Deus como dói! - Bill dizia e se contorcia na cama. Aquilo me agoniava.

-Você acabou de tomar o medicamento. Daqui a pouco tudo isso passa. -Disse pegando em suas mãos.

-Por que meu Deus ? Por que justo eu? Por que eu? Com tanta gente ruim nesse mundo. Por que justo eu fui ser cego! –Ele gritava e chorava.

-Bill, não fale desse jeito. – Eu segurava sua mão com força e tentava acalmá-lo.

- Não! Eu odeio tudo isso! Odeio esse hospital , esses exames, as pessoas me apontando e tendo dó de mim...Estou tão cansado disso tudo!

Bill parou de gritar e agora apenas chorava. Aquilo cortou meu coração em dois, não resiste e chorei ao ver aquela cena. E reagi de uma maneira que jamais pensei que fosse reagir.O abracei e passei a fazer carinho em seus cabelos.

-Bill, só peço que tente se acalmar e não chore! Por favor, não chore mais!

Quando percebi, ele estava mais calmo e me disse baixo:

-A dor esta indo...

-Shiiiii! Não diga mais nada, feche os olhos e tente dormir. – Eu disse em seu ouvido, ainda abraçada a ele. Então, me acomodei na cama. Coloquei sua cabeça em meu colo e afagando seus cabelos, comecei a cantar para ele:

“Eu protegi o teu nome por amor Em um codinome, Beija-flor Não responda nunca, meu amor Pra qualquer um na rua, Beija-flor
Que só eu que podia Dentro da tua orelha fria Dizer segredos de liquidificador
Você sonhava acordada Um jeito de não sentir dor Prendia o choro e aguava o bom do amor.

Quando olhei para o seu rosto, ele estava calmo.  Acariciei seu rosto calmamente, me aproximei de seu rosto lhe dando um selinho em seu lábios entre abertos e cantei um último estrofe:

- Prendia o choro e aguava o bom do...

Ele se mexeu na cama e cantarolou quase em um sussurro:

-Amor...

 Não resisti e novamente me aproximei e o beijei. Dessa vez ele não se moveu...Havia pegado no sono profundo.

Permaneci ali sentada na cama, com a cabeça de Bill no meu colo. Não segurei a emoção e chorei e dessa forma adormeci ainda acariciando seus cabelos negros...

No outro dia, fui acordada por mãos magras e um olhar questionador...

Postado Por: Grasiele

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