sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Sie Hat Mich - Capítulo 13 - Um pesadelo

 

“Nós todos temos nossos segredos
Eles são melhores quando não ditos
Todos temos os nossos problemas
Que queremos esquecer”

(Trechos da música Je Ne Regrette do Cinema Bizarre)

Fazia tanto tempo que eu não ia àquele lugar que nem soube como cheguei ali. Quando vi, estava sentada no banco de frente para o tumulo dela, Helen Maxforth, minha tutora, amiga, irmã e minha segunda mãe. Eu me lembrava de quando ela me contou o lugar que queria ser enterrada...

“- Tem um lugar lindo em Hamburgo, lindo para sepulturas... Se eu morrer antes de você quero que me enterre lá! – ela pediu alegremente, enquanto acertava um vestido em mim.
- Não diga isso Helen, você não vai morrer tão cedo. – afirmei convicta, me olhando no espelho por um momento.
- Não diga isso você minha querida, todos morrem um dia e é provável que eu morra bem antes de você. – afirmou me cutucando com um alfinete.
- Vamos parar com essa conversa de morte, por favor? – pedi sem rir.
- Tudo bem mal-humorada, vamos ver do que é capaz nesse desfile enquanto eu fico fora... Quero saber tudo!
E naquela noite, quando ela viajou, o acidente aconteceu.” 

- Por que você teve que me deixar tão cedo Helen? – perguntei com os olhos marejados que ninguém via por estarem escondidos sobre óculos de sol enormes.
Tinha escapulido da mansão, estava quase na hora do jantar, não tinha almoçado e eu não estava com a mínima vontade de voltar para lá, para encarar todos eles. Amanhã de manhã voltaríamos para Berlim e eu finalmente acabaria com essa palhaçada, de pensar que era possível eu me apaixonar logo quando aconteceu algo assim. Estava sendo muito restrita com os meus sentimentos esses últimos anos. Não estava me apegando à ninguém e ficava longe de pessoas que eu não gostaria de magoar, dizendo um não. Mas é claro que tinha as minhas aventuras de uma noite, sem ninguém saber. Johan sempre foi ótimo em encobertar as coisas, encobertou a briga que teve no aniversário dele com facilidade, ainda mais por ser um evento particular.
Fiquei sentada, me agarrando aos joelhos e deixando as lágrimas virem. Ninguém ia se importar, não tinha ninguém no cemitério pelo que eu percebi, deveria estar quase na hora de fechar... Mas não estava a fim de olhar para o celular e ver as chamadas perdidas de Johan e de um número que parecia ser da mansão. Fazia tempo que eu não chorava, extravasava toda a minha raiva, foi desde a morte de Helen, quando eu fiquei de luto por quase dois meses, fazendo eventos em memória dela.
Para a minha total surpresa, eu ouvi passos vindo na minha direção, não me permiti erguer os olhos para ver quem era, pouco eu estava me importando. Mas o individuo sentou-se ao meu lado, meio longe, mas eu percebi a movimentação.
- Johan disse que você podia estar aqui. – ele falou, a voz mesclando preocupação e irritação.
Ignorei-o, me perdendo nas lembranças do enterro de Helen. Ele se remexeu incomodado e falou num tom gentil:
- Não devia sair sem avisar ninguém, ficamos preocupados.
Limpei a garganta e me ajeitei melhor no banco, sentando-me normalmente.
- Hunf, já sou bem grandinha para sair sozinha. – falei com a voz meio embargada sem olhá-lo.
- Você queria conversar? – perguntou.
- Falou certo, queria. Acho que você não precisa saber de nada, já tirou suas próprias conclusões. – dei de ombros como se pouco me importasse.
- Tudo bem. – a voz dele saiu fria.
Lágrimas rolaram dos meus olhos novamente e antes que eu percebesse, elas escaparam da lente, escorrendo pela minha bochecha.
- Por que está chorando? – perguntou.
Eu me virei para olhar a face dele, Bill tinha cerrado a mão esquerda e a direita segurava o lado do banco, a expressão dele era de apreensão, como se ele não soubesse o que fazer ou tivesse medo de fazer algo errado.
- Não é nada. – baixei os olhos, mesmo estando com os óculos de sol não queria encará-lo.
- Se não fosse nada você não estaria chorando. – afirmou suavizando a voz para a minha surpresa.
Não falei, apenas ergui meus olhos para encará-lo. Ele me surpreendeu com o próximo gesto, ergueu a mão como se não se desse conta do que estava fazendo e secou as minhas lágrimas delicadamente com o polegar, fechei os olhos ao sentir o contato vindo junto com um carinho.
- Ele me machucou. – falei.
- Te traiu? – perguntou contornando distraidamente o aro dos meus óculos.
- Não. Mas deve ter me traído... – ergui rapidamente a minha mão para tirar os meus óculos – Quer realmente saber o que ele me fez? – perguntei olhando-o seriamente, o medo nos meus olhos.
- Sim, eu quero. – afirmou me encarando profundamente.
- Trevor foi meu primeiro namorado, eleabusoudemim. – saiu tudo junto minha última frase.
- Ele fez o que? – Bill perguntou sem entender.
- Abusou de mim, - falei mais lentamente desviando o olhar dele – meestuprou. – falei com dificuldade novamente, meus olhos enchendo-se de lágrimas mais uma vez.
Bill não disse nada, ficou em um longo silêncio. Eu esperei até onde eu aguentei, olhei de relance na direção dele, ele estava com os olhos parados, olhando para frente como se estivesse esperando o cérebro processar aquela informação.
- Tudo bem se você não quiser ficar perto de mim, dividir a mesma casa essa noite... Eu posso ir para... – comecei já percebendo que a rejeição viria novamente.
- Cale a boca. – ele sussurrou para mim.
- O que? – que péssimo, ele não queria nem ouvir a voz de uma impura.
- Cale a boca. Não diga besteira Julia. – falou me olhando demoradamente – Vamos voltar para a mansão. – se levantou e me estendeu a mão.
Pisquei diversas vezes olhando para a mão dele sem entender nadinha de nada.
- Você não vai me rejeitar? – perguntei pausadamente, olhando para a mão dele e depois nos olhos amendoados dele.
Ele voltou a sentar-se ao meu lado, puxando a minha mão para grudar-se a dele.
- Claro que não. – respondeu – Você é que devia me rejeitar, fui errado em não te ouvir... Johan bem que me disse que era mais do que parecia. Eu fui um tolo de pensar que você tinha outro e... Não era um sonho, não é? Era um pesadelo. – ele perguntou me olhando seriamente.
- Um pesadelo... Eu sinto muito por ter me lembrado disso contigo. Você nunca fez nada bruto, nada demais, sempre foi gentil comigo apesar dos nossos desentendimentos anteriores e... Eu sinto muito. – falei baixando os meus olhos.
- Eu é que sinto muito. Bem, mas chega de desculpas, vamos voltar para a mansão, você até agora não comeu nada! – exclamou me puxando junto com ele.
Eu sorri. Tinha um pressentimento bom quando estava perto dele e a certeza de que ele não me faria mal.

Uma vez eu ouvi falar que relacionamentos impulsivos nunca davam certo, mas não era aquilo que parecia entre a gente. Após o jantar, que foi mais animado com as piadinhas bobas do Tom na parceria do Georg e a pequena discussão dele com o Bill, eu estava com o meu namorado no quarto dele. Estávamos conversando tranquilamente sobre a pilha de CD’s dele que se encontravam na enorme cama de casal, tomando um terço dela.
Bill fazia graça para mim, me fazendo rir e muitas vezes fazer palhaçadas junto com ele. Ninguém se importou quando fomos os primeiros a subir e entramos direto no quarto dele. Já devia ser quase meia-noite, pois a casa estava em silêncio, não parecia ter ninguém acordado mais. Afinal, o combinado era que acordaríamos mais cedo para voltar à linda Berlim e a rotina começaria a toda novamente.
Tinha um evento que eu teria que comparecer para a entrega de um prêmio e mais uma gravação de um comercial e outra sessão de fotos! Mas Bill e a banda também tinham os seus compromissos, em breve eles viajariam novamente para promoverem o novo álbum, o curto descanso estava acabando.
Ajudei ele a acertar os CD’s e fui para o quarto de hospedes no qual eu estava hospedada. Tomei um banho na deliciosa banheira de hidromassagem e coloquei meu adorado camisetão junto com uma confortável calça de moletom.
Quando eu me deitei confortavelmente na cama, senti um vazio tomar conta de mim... Um vazio ruim que me fazia lembrar de coisas que eu queria esquecer. Decidi por fim levantar da cama, quem sabe um copo de água me ajudasse e uma espiadinha no quarto do Bill? Mordi o lábio superior e coloquei a mão na maçaneta, no exato momento que ia virá-la, ela se virou sozinha e eu dei espaço para porta se abrir.
Quando nós nos encaramos foi como se faíscas de desejos saíssem dos nossos olhos. Bill não era Trevor, na verdade eu nem pensei nele naquele momento, pensei apenas em coisas nada inocentes que eu queria que acontecessem naquele exato momento. Pelo jeito que ele me olhava, também queria o mesmo.
Eu me sentia pronta para aquela noite, para a segunda noite.

Por: Grasiele

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