sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Sie Hat Mich - Capítulo 12 - Memórias

 
“Todas estas memórias
Elas voltam
Quando eu durmo
Você levou meus sonhos”

(Trecho da música Silent Scream do Cinema Bizarre)

Não ficamos muito tempo nos agarrando. Logo Tom apareceu nos chamando para o jantar, a diversão acabou. Bill reclamou com o irmão, mas acabou descendo para a sala de jantar.
Dona Simone me tratou super bem, mas mesmo assim eu me sentia desconfortável naquela situação, estar logo assim de cara na casa do cara que eu conheci no dia anterior... É estranho!
O jantar foi divertido, os meninos faziam graçinhas e Johan conversava entusiasmadamente com a mãe dos gêmeos. A comida estava ótima e todos me tratavam muito bem, coisa que eu particularmente gostava, pois em família eu nunca fui bem tratada após a morte da minha mãe, na verdade eu fugi de casa.
Ninguém sabe muito as coisas que eu passei e sinceramente, não tenho a mínima vontade de me lembrar daquilo tudo. Não, eu não quero me lembrar daquilo, não mesmo. Eu vou ficar triste e querendo comer chocolate, coisa que faço demais.
Após comermos, fomos assistir a um filme que eles queriam tanto, sorte minha que não era terror. Okay, eu morria de medo desse tipo de filme, era um romance, sim, eles estavam assistindo há um romance, só que era um tanto vampiresco. ‘A Rainha dos Condenados’, nunca assisti a esse filme, mas gostei. Teve só umas horas nojentas, que eu preferi ignorar.
Quando o filme acabou, fomos dormir, tentar dormir era a palavra certa. O quarto que eu fiquei era bastante confortável e bonito por sinal, com uma enorme cama de casal, um banheiro e um guarda-roupa, mas também ficava perigosamente perto do quarto dele. Talvez isso fosse uma deixa para que ele viesse me procurar à noite... Não sei ao certo, sei apenas que quando eu estava quase dormindo confortavelmente enrolada no edredom e vestindo meus confortáveis moletons, alguém invadiu o quarto de hóspedes. Estava tudo escuro e o invasor adentrou no quarto, foi a porta que o denunciou, rangendo de leve. Ele fechou a porta e percebi girar a chave, oh mein Gott, iam abusar de mim? Impossível, eu acho...
Percebi o invasor sentar-se na cama e mexer numa mecha do meu cabelo, enquanto eu continuava de olhos fechados, senti a respiração dele no meu pescoço e uma mordida logo em seguida, despertei por completo. Sentei-me vagarosamente na cama, enquanto ele me esperava pacientemente, quando eu me acostumei com a escuridão do quarto, pude ver os olhos dele brilhando na minha direção, era o Bill, quem mais poderia ser?
- Você me assustou. – sussurrei para ele.
- Desculpe. – sorriu de canto.
- Hum... – analisei-o por um momento – O que você quer aqui? – perguntei.
- O mesmo que você. – respondeu de forma provocativa.
- Dormir?
- Você realmente está com sono? – perguntou me puxando pela cintura para mais perto dele.
- Sim, estou. – respondi curtamente tentando me desvencilhar dele.
- Ah, não se faça de difícil Julia. – ponto fraco, ponto fraco! Ele me chamou pelo meu nome, escondendo o rosto na curva do meu pescoço e respirando fundo.
Eu suspirei curtamente e ao senti-lo morder novamente o meu pescoço, me arrepiando e provocando. Idiota, ia me pagar caro por isso. Ninguém provoca Julia Herz e sai ileso!
- Bill, querido, hoje não. – fiz ele me soltar – Mas se quer tanto, pode ficar aí. – me virei de costas para ele, enrolando-me no edredom.
- Hunf. – ele apenas reclamou e deitou-se na espaçosa cama.
Ficamos parados em silêncio, eu estava esperando o meu sono voltar, já que ele tinha me acordado por completo com aquela mordida no pescoço. E eu não ia deixar por menos, não mesmo, ele procurou, agora terá que arcar com as conseqüências. Fingindo dormir, eu me virei na direção dele, encostando de propósito parte das minhas pernas nas dele. Pude ouvi-lo ofegar, como eu imaginava, Bill ainda não dormia.
- Julia? Está dormindo? – ele perguntou-me.
Senti o hálito dele bater no meu rosto, respirei fundo e abri os olhos. O quarto estava escuro e eu esperei meus olhos se acostumarem com a pouca claridade que entrava pela janela, pude perceber o brilho dos olhos dele e parte de sua silhueta. Bill colocou uma mão na minha cintura, me puxando para mais perto dele ainda e com a outra fez um delicado carinho no meu rosto. Eu me permiti apenas tocar o abdômen dele por cima da blusa do pijama que ele usava.
- Eu quero você. – ele falou sincero encarando-me nos olhos.
- Eu sei. – minha voz saiu meio embargada, enquanto eu correspondia o olhar intenso dele.
- Posso? – perguntou deslizando a mão da minha cintura pela minha perna, me provocando.
Eu apenas fiquei encarando-o em silêncio, me segurando para não agarra-lo naquele exato momento. Queria provocá-lo um pouco mais, então levei uma das minhas mãos até a nuca dele e delicadamente comecei a mexer nos cabelos negros que ele tinha.
- Você está me pressionando. – afirmei fechando os olhos e suspirando.
Ele resmungou parando de acariciar o meu pescoço, levando-a até o meu pescoço e voltando a subir a outra mão até a minha cintura. Aproximei-me um pouco mais dele, talvez deixando escapar um sorriso maroto achando que ele não podia vê-lo. Bill segurou mais forte na minha cintura e agilmente me virou na cama, ficando por cima de mim.
- E você está me provocando. – afirmou num tom malicioso.
- Sim. – eu ri me entregando e abrindo os olhos – Era essa a intenção. – virei meu rosto para o lado.
- Julia, - ele começou usando meu nome, sabendo que eu reagiria – você é provocativa mesmo sem querer. – falou virando meu rosto para encará-lo enquanto ria.
- Hum, e isso é ruim? – perguntei-lhe.
- Em certos momentos sim. Eu tive que me segurar para não agarra-la no meio do filme. – confessou rindo e tocando o nariz dele com o meu.
- Oh que medo. – falei abraçando-o pelo pescoço – Sinta-se feliz, Senhor Invasor de Quartos, você terá o que quer. – afirmei a poucos centímetros da boca dele.
- É muito bom saber isso, Julia. – sorriu. Meu nome novamente... Vou pirar!
Bill quebrou a distância entre nossos lábios, me beijando delicada e apaixonadamente, enquanto eu tentava acompanhar o ritmo dele. Já podia sentir suas mãos tocando livremente meu corpo e subindo a camiseta que eu pretendia usar para dormir. Aos poucos, o beijo de tornou mais intenso e luxurioso, coisa que era esperada por nós dois, pois já sabíamos aonde aquilo tudo ia chegar. Eu comecei a subir a camisa do pijama dele, íamos com certeza fazer aquilo de novo e eu desejava que acontecesse novamente. Queria senti-lo novamente em mim, logo... Foi quando eu o senti tocar o final das minhas costas que eu estaquei.
As memórias voltaram como um tufão, ele tinha feito o mesmo gesto, apesar de não ter sido nem um pouco carinhoso e depois eu fui encontrada num estado deplorável. Meu pai soube de tudo, mas não fez nada, apenas disse que era o que eu merecia. Tinha certeza que eu não merecia aquilo, já era mal demais.

Novamente eu me vi naquele lugar, uma rua com alguns postes sem luz, em frente de uma fabrica abandonada, lugar no qual diziam ser mal-assombrado. Trevor, meu primeiro namorado estava comigo. Naquela época eu tinha 14 anos, estava começando a me destacar no mundo das passarelas e tinha uma estilista famosa que me ajudava com tudo, Helen Maxfoth, que eu nem a mencionei por não achar necessário. Trevor era loiro, daquele estilo príncipe encantado, eu sabia que ele não prestava, mas insisti com aquilo. Ele era lindo e eu sortuda de tê-lo ao meu lado.
- Julia, querida, que tal irmos ali? Dizem que é mal assombrado...
- Não Trevor, você sabe que eu não gosto dessas coisas... Você me prometeu levar para casa!
- Só uma olhadinha, vou estar com você, não vou deixar fantasma nenhum te assustar. – ele garantiu sorrindo fracamente.
- Hunf. – resmunguei cruzando os braços.
Ele era um pouco mais alto que eu, mas com o salto que eu usava, ficávamos da mesma altura.
- Por favor, Julinha prometo que te pago um sorvete depois. – oferta barata.
- Não, eu quero ir para casa. – me afastei dele.
- Você vem comigo! – ele exclamou me puxando pelo braço.
- Me larga Trevor, se você quer tanto ir lá, vá sozinho! – tentei me soltar, ele era mais forte.
Trevor não me respondeu, apenas me levou para dentro da fabrica, entrando no porão dela. Lá ele fez a pior coisa que podia ter feito, ele abusou de mim... Fez coisas horríveis comigo, ele era mais violento do que eu imaginava e me deixou lá, num estado deplorável, sangrando. Policiais me encontraram, talvez por causa da luz que Trevor deixou na entrada, a lanterna dele. Eu fiquei muda, não conseguia responder a nenhuma pergunta deles e acabei ficando uns dias no hospital.
Meu pai foi me ver, mas ele foi grosso e ficou muito pouco tempo comigo, a minha única companhia foi minha estilista favorita, Helen Maxforth. Nos cinco dias que eu fiquei no hospital, ela vinha me visitar, alegrava-me e contava as novidades. Por sorte, eu não fiquei com nenhuma marca física, mas o que conta o físico se você tem as marcas psicológicas? Helen disse que queria ficar comigo, disse que ia conversar com o meu pai e tentar a minha guarda até meus dezoito anos, meu pai com gosto assinou todos os papéis, eu sabia que ele queria se ver livre de mim. Eu só servia para ele me mostrar aos amigos e para se aproveitar por eu cuidar da casa. Fui morar com Helen, na verdade eu ainda estava perdida e com medo, sentia falta da minha mãe que se fora a pouco tempo naquela época. Helen foi ótima comigo, me ensinou tantas coisas que eu o tenho como a minha segunda mãe. Foi nessa época que eu conheci pela primeira vez Johan, já que ele era grande amigo da minha tutora. Mas não me aproximei tanto assim dele naquela época, pois eu estava meio traumatizada e queria ficar mais no meu mundinho junto com Helen, minha mãe número dois. Ela me ajudou na minha carreira, mas eu acabei sendo reconhecida por mim mesma quando ela sofreu um acidente de carro e tragicamente morreu, lembro-me que chorei muito naquela época, quando eu tinha dezoito anos já... Faz onze meses que ela se foi e nem me viu ser a miss Alemanha, o que ela tanto sonhava que eu me tornasse. Então, nos vendo a sós, eu e Johan nos unimos mais, formando a dupla dinâmica que somos até hoje.
Parte do meu passado, eu ainda escondo... E não me importo que fique sempre escondida. Mas depois do que aconteceu com Trevor, eu pouco me envolvi psicologicamente, mas com o Bill era diferente, não era o meu físico, simples atração que reagia por ele e sim meu coração.

Bill, ao perceber que eu não estava bem, deitou-se ao meu lado e ficou acariciando o meu rosto. Eu me agarrei a ele com força, Bill não era Trevor, Trevor não estava aqui e eu me acalmei pensando nisso, aconchegando-me no peito dele. Ele ficou acariciando o meu cabelo e sussurrando uma canção, Heilig. Não me perguntou nada, apenas ficou me fazendo companhia até eu dormir.
Aquela noite o pesadelo voltou, a noite que eu fui violentada cruelmente e que nunca quero entrar em detalhes voltou-se para mim. O rosto maníaco de Trevor, a recusa do meu pai.
Quando eu acordei na manhã seguinte, Bill não estava mais comigo, o lado da cama estava vazio e o sol entrava pela fresta da cortina. Eu me levantei com pouca vontade e fui tomar um banho frio, precisava gastar meu tempo com desfiles, fotos, entrevistas e não com meu passado. Desci as escadas em direção à cozinha, encontrei Dona Simone.
- Bom dia Julia, dormiu bem? – ela perguntou olhando para mim.
- Sim, obrigada. – sorri mentindo, mas as olheiras me denunciavam – Sabe onde está o Johan? – perguntei.
- Ele está sentado no jardim com o Bill. – ela me respondeu e gentilmente perguntou se eu queria tomar café da manhã.
Neguei agradecendo, estava quase na hora do almoço já e eu estava com pouca fome. Fui para o jardim onde Bill e Johan estavam sentados conversando. Eles estavam sérios demais para o meu gosto. Aproximei-me lentamente deles, Johan ao perceber que eu estava me juntando a eles, sorriu amavelmente e Bill apenas me olhou sem expressar nada. Ele estava vestindo uma calça jeans e uma camiseta simples, sem maquiagem. E Johan, suas estilosas uma calça jeans com partes estampadas e uma camiseta com centenas de detalhes.
- Bom dia para vocês. – desejei para ambos.
- Bom dia Julinha, dormiu bem? – Johan perguntou se levantando para me dar um beijo na testa.
- Bom dia. – Bill me desejou de volta sem me olhar, estranhei.
- Sim... – respondi curtamente – Johan, posso falar rapidinho com você?
- Claro que sim diva. – sorriu alegremente – Já voltamos Billzinho.
Fomos andando pelo jardim enquanto conversávamos. Eu tinha estranhado a reação do Bill, será que ele estava bravo comigo porque não fizemos nada ontem a noite?
- Bill me contou que invadiu o quarto onde você estava ontem à noite... – Johan começou.
- Sim, ele foi ao quarto ontem à noite. – afirmei.
- Ele me disse também que vocês estavam se agarrando e do nada você começou a chorar.
- Sim...
- E que enquanto você dormia chamou por Trevor. – acrescentou.
- Oh, é por isso que ele mal me cumprimentou. – conclui me sentando num banco do jardim.
- Julia, você se lembrou do que aconteceu? – Johan perguntou sentando-me ao meu lado.
- Sim. – respondi-lhe fechando os olhos – Eu não gosto de me lembrar, acontece sempre nas horas que eu menos quero.
- Você sabe que eu sinto muito, mas acho que você devia contar para o Bill... – começou – Ele acha que você tem outro.
- Não estou pronta para partilhar isso com ninguém, não quero me lembrar! – joguei meu cabelo para trás.
- Eu sei querida, mas acho que ele devia saber, vocês estão tendo um relacionamento, por mais impulsivo que essa relação seja, ele deve saber. – meu amigo falou sabiamente.
- Eu não sei. Não pensei que ia chegar há esse ponto. – falei sinceramente.
Não gostava de compartilhar essas coisas com ninguém, até mesmo me sentia mal em compartilhá-las com Johan, após a morte de Helen, eu contei tudo para ele... Já que Trevor parecia estar querendo me achar. Johan me ajudou com isso, sou eternamente grata por isso. Mas e se eu contasse para o Bill? Isso poderia afasta-lo de mim mais ainda? Se bem que ele já estava se afastado mesmo...
- Ele é uma ótima pessoa, tenho certeza que ele irá te entender. – Johan falou como se lesse meus pensamentos.
- Não sei, talvez eu deva esperar mais um pouco. – tentei.
- Diva, converse com ele, dê uma chance para ele. Vocês já são tão íntimos um do outro, tenho certeza que darão certo. Dê uma chance para si mesma, para o seu coração! – ele estava fazendo a minha cabeça.
- Se ele me escutar, eu falo com ele. – você venceu meu amigo gay.
Afastei-me dele, indo para o lugar que tinha encontrado-os antes de pedir para que Johan viesse comigo. Bill ainda estava sentado lá, olhando pensativo para frente. Quando ele percebeu que alguém estava se aproximando, ele virou o rosto e me olhou por um momento, mas logo se levantou, indo na direção da mansão. Eu senti meu mundo cair, a rejeição bateu na minha porta novamente.

Por: Grasiele

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