sábado, 9 de junho de 2012

The Neighbour - Capítulo 16

 Tom

Juro que, por mais que tentasse, não conseguia entender como uma garota, de 1.65m de altura, conseguia fazer uma bagunça que acho que nem dez pessoas juntas fariam. Era impressionante.

– Achou? - Perguntei, vendo-a olhar uma por uma das minhas camisetas.

– Uma pergunta. Por que você usa tanta roupa larga? - Quis saber.

– Pelo mesmo motivo que você usa salto e minissaia. - A provoquei, lembrando de alguns dias, quando fui até o apartamento do Bill e, de novo, ela tinha passado a noite lá. Assim que saí do elevador, a vi se esgueirando pelo corredor, usando uma minissaia preta, curtíssima (Tudo bem que ela era namorada do meu irmão, mas ainda sim, era uma mulher e tinha pernas. E que pernas!) e saltos altos finos e gigantes.

– Para sedução? - Brincou, me fazendo sorrir de maneira maliciosa.

– Quem sabe...?

Riu comigo e, por fim, achou uma camiseta preta que uma tia minha me deu em um Natal e, logo em seguida, achou uma calça mais justa.

– Eu escolho o tênis! - Falei. Concordou e, no final, quando voltei do meu closet, a bagunça tinha sumido. - Onde foram minhas roupas?

– Nos devidos lugares, dobradas com extrema perfeição. Pelo menos, dobradas do meu jeito.

Abri uma das gavetas do armário que ela tinha mexido e realmente, minhas camisetas estavam ali, todas dobradas e na mesma ordem que antes.

– Como é essa sua amiga, hein? - Perguntei, jogando verde.

– Desiste. Na hora você verá. E garanto que a Jessica Alba vira passado.

A olhei e me mandou tomar banho.

Quando estava pronto, estava sentada na minha cama, com a diferença que o Bill fazia companhia para ela. A Iza se levantou de um salto e veio andando até onde eu estava. Disse:

– Tem perfume ou você é rebelde como o Bill?

Rimos e mostrei onde guardava alguns vidros que tinha. Porém, do nada, saiu do quarto e voltou com uma tigela de vidro pequena, cheia de grãos de café. A olhei, curioso, e explicou:

– Para diferenciar os cheiros. Nunca foi à uma loja de perfume?

– Claro que sim.

– Então! - Disse, indo até a parte do armário que tinha acabado de mostrar para ela. Sentia o cheiro de um dos perfumes e, logo depois, ia no pote com os grãos de café.

– Você não é normal... - Resmunguei, rindo dela.

– Ainda bem! Já pensou se eu fosse, o quanto ia ser... Enjoada? Fazendo tudo como todo mundo... Credo! - Respondeu. Na hora de dizer o “Credo”, sua voz quase ficou em falsete. - Esse aqui.

Assim que terminei de passar o perfume (Que, inclusive, foi a própria Luiza quem tinha me dado), saímos.

Quando chegamos à boate, ela procurava alguém e, dando a desculpa esfarrapada de que ia ao banheiro, pediu que fôssemos na frente que depois nos alcançaria. Assim que nos sentamos, perguntei para o Bill:

– Ela não te falou nada?

Negou com a cabeça enquanto já pedia dois drinks.

– Disse que não me contaria justamente por isso. Sabia que você ia perguntar...

– A Iza é foda, viu... - Resmunguei, fazendo-o rir. Depois de uns cinco minutos, a própria apareceu e de cara fechada. Notei que tinha uma garota atrás dela, andando um pouco mais afastada. Tinha os cabelos escuros, longos e lisos, pele morena, olhos puxados e parecia um pouco com as índias brasileiras que a Iza tinha me mostrado uma vez.

Era inevitável não notar o contraste entre as duas: A Iza, mais baixa, quase brilhando de tão branca e vestida como uma boneca. E a outra... Totalmente o oposto: Alta, magra e usando uma roupa comum: Blusa decotada, jeans e tênis.

De repente, as duas pararam perto de mim e a Iza disse:

– Tom... Emily. Em... Tom.

Deu um sorriso tímido assim que a Iza nos apresentou e cumprimentei sua amiga com dois beijos na bochecha. Foi apresentada ao Bill, que logo deu um jeito de sumir com a namorada, nos deixando sozinhos. Perguntei:

– Quer alguma coisa para beber?

– Ah, não. Obrigada, mas estou bem.

– Certeza?

Concordou, sorrindo.

– E então? Como foi que você e a Iza se conheceram?

– A gente fazia curso de alemão juntas. Depois, ela teve que sair e, no semestre seguinte, fui para os Estados Unidos. Mas a gente nunca perdeu o contato.

– Sério?

Assentiu.

– E você tem nossa idade?

– Não. Sou dois anos mais nova.

– Jura? - Perguntei, surpreso. - Quer dizer, tudo bem que a Iza não pode servir de ponto de referência por dormir no formol, mas ainda sim...

Riu e continuamos conversando. Descobri que era de uma cidade ao norte do estado onde ela e a Iza tinham nascido, mas ainda morava em Belo Horizonte. Fizeram a mesma faculdade, embora a Em (Tinha me pedido para chama-la assim) tivesse feito arquitetura. Era tímida, mas aos poucos, foi se soltando e descobri que era uma garota realmente legal. A Iza tinha razão quando falou aquilo sobre a Jessica Alba. E indo contra aquela história de que eu preferia mulheres mais velhas...

– Quer dançar? - Perguntei. Quase morreu de vergonha, mas ainda sim, aceitou.

Na mesma hora, começou a tocar uma música boa para dançarmos juntos.

See which flavor you like and I'll have it for you(Veja qual sabor você gosta e eu darei a você)
Come on into my store, I've got candy galore
(Venha até minha loja, tenho doces de sobra)
Don't pretend you're not hungry I've seen it before
(Não finja que não tem fome, já percebi isso antes)
I've got Turkish delight baby and so much more
(Eu tenho manjar turco, querido, e muito mais)

Talvez fosse por causa do álcool, mas estávamos bem mais desinibidos. Minhas mãos estavam sobre sua cintura e ela estava virada de costas para mim. Mas nossos corpos estavam colados e a Em, como boa brasileira que era, rebolava, mas discretamente. Do mesmo jeito que eu via a Iza fazer, vez ou outra.

Get up out of your seat (your seat)
(Levante-se do seu lugar (seu lugar))
Come on up to the dance floor
(Venha até a pista de dança)
I've got something so sweet (so sweet)
(Eu tenho algo tão doce (tão doce))
Come on up to the front door
(Venha pela porta da frente)
I need plenty of heat (heat)
(Eu preciso de muito calor (calor))
Form a special connection
(Forme uma conexão especial)
Just start moving your feet (your feet)
(Comece a mover seus pés (seus pés))
Move on over to me
(Mova-os até mim)

Quando me dei conta, eu já havia a virado de frente para mim e estávamos com os rostos muito próximos.

I'll be your one stop (one stop)
(Eu serei sua única parada (única parada))
Candy shop (candy shop)
(Loja de doces (loja de doces)
Everything (everything)
(Tudo (tudo))
That I got (that I got)
(Que eu tenho (que eu tenho))
I'll be your one stop (one stop)
(Eu serei sua única parada (única parada))
Candy store (candy store)
(Loja de doces (loja de doces))
Lollipop (lollipop)
(Pirulito (pirulito))
Have some more (have some more)
(Pegue um pouco mais (pegue um pouco mais))

Não me controlando, me inclinei um pouco mais para a frente e comecei a beijar seu pescoço, sentindo o cheiro da sua pele e percebendo que ela estava arrepiada. Mordi o lóbulo da sua orelha e perguntei:

– Posso fazer uma coisa?

Assentiu e, logo, me endireitei, para me abaixar o suficiente. Ainda segurando sua cintura, a puxei para mais perto e encurtei a distância. Sim, nos beijamos e confesso que foi diferente. Quer dizer, já tinha visto que a Iza beijava diferente das alemãs. E agora, via que era característica de brasileiras mesmo.

Depois de algum tempo, estávamos em um canto mais reservado e escuro da área VIP e, por algum motivo estranho, não me apressei com ela. Quer dizer, só me contentava em manter as mãos na sua cintura. No máximo, a puxava mais perto.

Antes de ir embora, com o sol quase nascendo e a boca inchada de tanto que beijei a Emily a noite inteira, peguei o número de telefone dela, ansioso pela próxima vez que nos veríamos. E quando entrei no carro, a Luiza disse:

– Pelo visto... Perdeu o posto de cupido...

– Valeu a pena ter feito todo esse mistério. - Respondi, dando um sorriso fraco. - E valeu por ter me apresentado à ela.

– Sabia que ia gostar da Em.

Um doce para quem adivinhar o que eu fiz na manhã seguinte... E outro para quem adivinhar com quem eu sairia no sábado seguinte.

Bill
– Já que é assim... - O Georg disse, quando estávamos na casa do Tom, no domingo à tarde. - Proponho um brinde à nossa pequena...

– Pequeno é seu nariz, Hagen! - A Iza o provocou, fazendo com que todo mundo risse. Ainda mais que ele realmente tinha o nariz pequeno.

– Tá. À nossa amada e adorada Luiza, que conseguiu o milagre de fazer o Tom sossegar o facho e, de quebra, acabar com a carência do Bill.

Mandei o dedo do meio para ele, que ria. Batemos os copos e, de repente, o Tom perguntou para a Iza e a Emily:

– O que vocês vão fazer no Natal?

– Vou para Salinas, ficar com a minha família. - A Em disse.

– E você? - Ele perguntou para a Iza.

– Idem. Só que muda a cidade. Minha mãe quer que eu vá para BH tem tempos...

– Vou com você. - Falei. Me olhou, surpresa.

– Sua mãe me mata se eu te tirar de casa em pleno dia de Natal! - Respondeu. - Aliás, não só sua mãe, como o Tom, que tá de cara fechada já.

Ele estava brincando, obviamente.

– Já compraram as passagens? - O Gustav quis saber.

– Eu já. - A Em disse. Preciso dizer que o Tom murchou um pouco?

– Eu estou tentando achar uma. - A Iza respondeu. - Mas antes de ir para BH, vou para Roma. Diz minha tia que quer ir comigo e uma prima minha vai também.

Logo, mudamos o assunto e assim que cheguei em casa, liguei para minha mãe e expliquei tudo que estava acontecendo. Não gostou muito, conforme a Iza havia previsto, mas mesmo assim, não se opôs.

Então, no dia que a Iza ia viajar para Roma, reservei uma passagem para o voo do mesmo dia, só que à noite. Ela chegaria à tarde e, portanto, não levantaria qualquer suspeita, por menor que fosse. Fiquei num hotel perto da casa da tia dela e, na manhã seguinte, fui para o aeroporto logo cedo. Consegui uma poltrona ao lado da que a Iza tinha conseguido e, assim que me viu sentado ali, seguida de perto pela prima e a tia, me perguntou:

– O que você está fazendo aqui?

– Fiquei curioso a respeito do famoso pão de queijo. E como você me disse que o mineiro é diferente dos outros, por causa do queijo canastra que não pode sair de lá de Minas...

Seu queixo caiu e ela segurava uma risada.

– E só para você saber... - Falei, me levantando e a ajudando a colocar uma bolsa no maleiro. - Minha mãe mandou que você cuidasse muito bem de mim.

– Ela sabe que eu fui contra sua viagem à Belo Horizonte desde o início?

Concordei e, logo, percebi o olhar da prima dela.

– Francesca e a tia Diana. Esse é o Bill, meu namorado.

As duas me cumprimentaram com um beijo no rosto e se sentaram nas poltronas atrás de nós. Em seguida, a Iza pediu para ficar na janela. Concordei e a observei afivelar o cinto, conforme as comissárias instruíram. Não demoramos a ouvir o piloto dizendo, em vários idiomas a mesma coisa:

Sejam bem-vindos ao voo 675, com destino a São Paulo, Brasil...
... E continuou a falar todas aquelas coisas costumeiras. Não demorou muito para que decolássemos. Assim como o tédio da Iza. Tinha levado o laptop, dois livros, viu filmes e, no final das contas, não conseguia dormir de tão impaciente que estava.

Doze horas depois, a Iza finalmente pegou no sono. Por três horas, que era o tempo que demorou até que chegássemos em São Paulo. E de lá, esperamos mais uma hora e meia até o voo que iria para Belo Horizonte. Nessa uma hora e meia de espera, ela aproveitou para tirar um cochilo, com a cabeça encostada no meu ombro. E o mais engraçado é que tinham algumas pessoas ali no saguão que nos olhavam, mas não pareciam me reconhecer. Talvez fosse pelo boné e óculos escuros. A própria Iza tinha me pedido para que os usasse, por serem discretos. Assim que chamaram nosso voo, a cutuquei de leve e, enquanto se espreguiçava, percebi que a Francesca nos olhava. Perguntou:

– Tem quanto tempo que vocês estão juntos?

– Uns sete meses. - Respondi. - Mas a gente se conhece tem um ano e pouco.

– Se eu te contar como a gente se conheceu, você vai rir. - A Iza disse à prima, em italiano.

Durante todo o caminho até o embarque, resumiu nossa história, fazendo com que a Francesca e a tia rissem da parte em que ela me deu um esporro em pleno supermercado.

Mais uma hora e pouco depois, finalmente tínhamos chegado. O pai da Francesca (Que era filho da D. Diana) estava nos esperando. Cumprimentou cada uma com um abraço apertado e me deu um aperto de mão. Perguntou alguma coisa para as meninas enquanto íamos até seu carro. Prestei atenção em todo o caminho de volta do aeroporto e percebi que Belo Horizonte não era tão... Ruim, como a Iza sempre dizia. Quer dizer, imaginava que fosse diferente. Não era como São Paulo, onde os prédios eram enormes, com uma quantidade absurda de carros. Era uma metrópole, mas tranquila. E era quente. Muito quente mesmo, ainda mais que estávamos perto do verão, como a Iza havia me dito.

Uma vez que o pai da Francesca havia nos deixado na casa da Lucia, mãe da Iza, fomos recebidos pela própria de uma maneira surpreendentemente calorosa.

Nem bem a Iza se deitou na cama e apagou. Logo, a mãe dela perguntou se eu não queria tentar dormir um pouco também. Lá pelas quatro e pouco da tarde, acordei com meu celular tocando. Ouvi a voz baixa e rouca da Iza atendendo:

– Fala.

Houve uma pausa e, logo depois, disse:

– É, a gente estava dormindo. Não preocupa que, quando ele acordar, peço para te ligar.

Outra pausa e, logo em seguida, respondeu:

– Sim. Tom, sem querer ser mal-educada, mas já sendo... Vou desligar porque estou morta de sono.

É... Bem a cara da Iza.

Logo que desligou, abri os olhos rapidamente e bati no colchão ao meu lado. Em seguida, se deitou. Pus meu braço sobre sua cintura, a puxando para mais perto e beijei seu pescoço, sentindo-a se arrepiar. A apertei ainda mais contra mim, me inebriando com seu perfume e quase perdendo meu controle. Fiz com que se aconchegasse mais contra meu peito e, beijando sua nuca, dormi abraçado com ela, pouco depois disso.

Acordamos só na manhã seguinte e mesmo assim, ainda me sentia um pouco cansado. Quando me levantei, a Iza já não estava mais do meu lado. Saí andando sem rumo pelo apartamento e, assim que cheguei à cozinha, vi que tinha um bilhete sobre a porta da geladeira. Reconheci a letra da minha namorada:

Liebe,
fui com a minha mãe e a minha avó ao supermercado. Se a fome estiver insuportavelmente negra, tem leite na geladeira (Ou senão, na despensa - Vide o mapa nas costas da folha), coloquei o pote de café perto do micro-ondas. O pote de açúcar tá com plástico por causa daquelas bagaças de formiguinhas minúsculas. E os adoçantes, gentilmente cedidos pela minha mãe (Apesar de eu ter dito que você prefere açúcar mesmo), estão no pote escrito “Coffee”. Se quiser, no armário acima do interruptor tem aqueles chocolates em pó.
Estou com celular, então, precisando, só me ligar.
Ich liebe dich,
Iza.

P.s.: O fogão daqui, ao contrário do meu de Hamburgo, é a gás. Tem um acendedor automático sobre a caixa de fósforos. Se precisar, a torradeira está na despensa também.
Ri do bilhete e decidi esquentar o leite no micro-ondas, com açúcar e café. E tomei sentado numa poltrona que tinha perto de uma janela. Não demorou muito e a Vivi veio se aninhar nas minhas pernas. Cocei atrás da sua orelha, vendo-a fechar os olhos lentamente, além de ronronar alto. Fiquei observando o céu azul e nem me dei conta de que tinha alguém destrancando a porta. Logo que foi aberta, vi a Iza, carregada de compras. Me apressei a ajuda-la e, depois que esvaziamos as sacolas de pano (Já que ela me contou que tinha um tempinho que a prefeitura havia proibido o uso de sacolas plásticas na cidade), perguntei:

– Eu estava pensando... Bem que a gente podia sair hoje à noite, o que me diz?

– Beleza. Mas vai discreto. Já vai chamar bastante atenção por causa da sua altura...

Concordei e, perguntei:

– E a sua mãe?

– Ainda tá fazendo as compras. Demora um pouco. Por quê?

Quando viu minha expressão maliciosa, entendeu. Falei, displicente enquanto afastava o cabelo da sua nuca e beijava delicadamente a sua pele:

– Bem que você tinha me avisado que aqui fazia muito... - Demorei nos beijos. - Muito... Muito calor. O que você acha de a gente tomar um banho?

Mordeu o lábio e concordou, dando um sorriso malicioso. Essa garota ainda ia acabar com meu juízo!

Postado por: Grasiele

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