sábado, 9 de junho de 2012

The Neighbour - Capítulo 14

 Luiza
Na manhã seguinte, aproveitei para resolver algumas coisas, como fazer compras de supermercado, pagar contas e visitar a diretora. Ou pelo menos, ir até o hospital e ver como ela está. Ainda estava no apartamento do BILL, que estava tomando banho, e me arrumava um pouco. Tinha acabado de tirar a parte de sima do pijama e os shorts estavam sobre a cama quando, de repente, tomei aquele susto ao ouvir a voz baixa e meio rouca do Bill na minha orelha:

- Continua me tentando desse jeito que até esqueço da promessa que ti fiz.

Respirei fundo, tentando me recuperar do susto e, rapidamente, coloquei o sutiã. Em seguida, me virei de frente para ele, me arrependendo (Em termos - minúsculos - que fique claro!) de ter feito isso. Além de estar só com uma toalha enrolada no quadril, a bendita estava muito baixa mesmo.

- E se esquece da promessa que ti deixo na mão. - Respondi, decidida. A cara de tarado que ele fez foi... Inominável. Juro que minha mão nunca coçou tanto para bater nele. Nem mesmo o Tom, que vivia fazendo inúmeras insinuações para cima de mim desde que nos conhecemos era desse jeito. Aliás, não chegava nem a 1/9. - Não. Nen vem! - Falei, pondo a mão nu seu peito, tentando (e falhando miseravelmente) contê-lo. Tinha aquele sorriso torto e sacana e me olhava fixamente. Naquela hora, só me ocorreu uma única coisa e a fiz: Me abaixei e passei por baixo do seu braço, correndo para o banheiro. Porém, como eli era mais alto, conseguiu me pegar de jeito em poucas passadas e, quando vi, já estava semdo colocada sobre a cama e ele em cima de mim. De toalha. Perigosamente baixa. Que ia se soltar no menor movimento que ele fizesse.

- Anda Bill, me solta, bite! - Praticamente choraminguei.

- Está com medo? - Perguntou. Tentei me mexer e nessa hora, senti uma... Determinada parte da anatomia dele me cutuccando. Parei no mesmo instante e falei:

- Você prometeu que ia se comportar. Além do mais, tenho que resolver um monte de coisas. Anda, depois eu volto, te prometo...

- Tudo bem. Te solto, mas por hora. - Respondeu, virando para u lado e me deixãndo ir. Terminei de me vestir e, assim que estava pronta, esperei que saísse do banheiro, já usando só uma calça de moletom, para ir. Estranhei que não tivesse tentado me beija nenhuma vez durante todo o caminho até a porta. Porém, quando estava esperando o elevador chegar, senti um puxão na minha cintura e, logo em seguida, fui posta contra a parede, literalmenti. E então, só tive tempo de respirar fundo para, em seguida, ser surpreendida por aquele beijo, popularmente conhesido por desentupidor de pia. Senão estivesse quase me fundindo à parede, de tanto que era apertada contra ela, teria desabado no chão. Tentava falar com ele para pegar levi, ainda mais que estávamos em área comum do prédio e o elevador poderia muito bem abrir as portas e, se estivesse cheio, todo mundo ia ver e ainda de quebra, receberíamos olhares tortos de todos. Concegui empurra-lo e falei:

- Entra em casa, anda. Vai fazer suas coisas que, no final da tarde, estou de volta.

- Mandona. - Me provocou, fazendo com que eu risse baixo e, rapidamente, fosse até ele e, depois de ficar na ponta dos pés, roubasse um selinho que demorou o suficiente para que ouvíssemos aquele maldito sininho que avisava que o elevador tinha chegado. Por sorte, estava vazio e, antes de as portas se fecharem, o vi me olhando e acenando discretamente.

Algum tempo depois, estava saindo de um pet shop, carregando um pacote enorme de ração (Fato: Gatos são gulosos!) quando alguém esbarrou em mim. Se virou de frente para mim, na intenção de se desculpar quando nossos olhares se encontraram e tomei um susto. Com aquele ar de prepotência, me disse:

- Ora, ora... Se não é aquela amiga da onça ladra de namorados...

- Oi, Sofia. Tudo bem? - Perguntei, tentando ser educada e ignorar o comentário dela.

- Garanto que melhor que você, eu estou. - Disse, empinando o nariz. - Afinal de contas... Foi a melhor coisa que fiz na vida: Trocar o Bill por um cara normal.

Arqueei a sobrancelha e falei, simplesmente:

- Bom para você, então. Queria continuar aqui, conversando com você, mas ainda tenho um monte de coisas para fazer. A gente se... Esbarra por aí.

E, antes que pudesse dizer qualquer coisa, a deixei ali, com cara de tacho. Porém, ainda estava perto o bastante para ouvi-la dizer:

- Toma cuidado, porque, se ele foi capaz de me trocar por você... Qual é sua garantia que não vai fazer isso de novo?

Nem me atrevi a olhar para trás, só para não dar o gostinho. Mas, aquela peste conseguiu plantar caraminhola na minha cabeça. Loira agoada fiadazunha cachorra pulguenta e sarnenta de meia tigela dos quintos dos infernos! Só de raiva... Vai aparecer uma espinha grotesca no meio daquela testa dela.

Estava tão aérea, remoendo aquilo que aquele encosto da Sofia tinha dito que quase gritei em pleno supermercado com o susto ao sentir meu celular tremendo dentro da bolsa [n/a: Quem tem celular da Sony Ericsson que nem eu, sabe o quanto o vibracall é forte!]. Quase sentei no chão e virei minha bolsa ao contrário, só para achar o aparelho. Nem tinha reparado no quanto estava nervosa. Assim que ouvi a voz do Tom do outro lado da linha, deve ter sido aquela voz chorosa que, obviamente, o deixou preocupado:

- Liebe? O que foi?
- Ai... Nem te conto. - Suspirei. Só quando fui pega um pote de geleia é que vi que estava tremendo mais que vara verde na ventania.

- Onde você está?
- No supermercado.

- Está tudo bem?
Não consegui segurar mais o choro e abri o berreiro, atraindo a atenção de algumas pessoas que passavam por mim. Ótimo. Além de estar chorando em pleno supermercado, tremendo mais que meu celular quando toca, ainda de quebra, estava vermelha. Era um fato: Desde que fui concebida, toda santa vez que chorava, virava um pimentão. Ô raiva!

- Liebe, calma. É aquele mercado perto da sua casa?

Concordei com um “uhum”, já que seria impossível pronunciar alguma palavra e ele avisou que ia vir me encontrar. Antes, sabe-se lá como, consegui pedir para ele que não dissesse nada ao Bill, justamente para não preocupa-lo. Arrastei o carrinho até um dos bebedouros e, dali a quinze minutos, já tinha pagado todas as compras e estava sentada no meu carro quando ouvi umas leves batidas no vidro. Rapidamente olhei para o lado e destranquei a porta. Assim que se sentou no banco do carona, perguntou, dando um beijo na minha cabeça:

- O que foi?

- Encontrei com a Sofia e ela conseguiu me deixar cismada com uma coisa. E você sabe que fico remoendo as coisas.

- O que ela disse?

- Que se o Bill deu um pé na bunda dela, ele podia muito bem fazer isso comigo.

- Eu não acredito.

- Aquela... Loira de farmácia duma figa!

Riu baixo e disse:

- Eu estava falando que não acredito que você caiu no jogo dela.

- Você sabe como eu sou. Por mais que tenha certeza do quanto que o Bill gosta de mim, inda sim, ela não deixa de ter um pouco de razão.

- Escuta o que eu vou te dizer. O Bill terminou com ela por dois motivos: Primeiro que ela estava um pé no saco. Segundo porque ele estava de olho em você. Conheço meu irmão. Além do mais... O que foi mesmo que você me disse uma vez? Que os aquarianos, quando gostavam de alguém, não era à toa?

Dei um sorriso fraco e ele disse:

- Anda... Depois de todo o trabalho que tive para juntar vocês dois, agora simplesmente vai fugir?

Neguei com a cabeça, enxugando as lágrimas.

- Quer que te leve para a casa? - Ofereceu.

- E seu carro?

- Vim de táxi.

De repente, lembrei de uma música da Angélica e não teve como segurar o riso.

- Nunca vi alguém tão bipolar quanto você, te juro! - Disse.

- Lembrei de uma música pré-histórica.

- Que música?

- É em português. Em uma hora que não estiver me recuperando de uma crise tensa de choro, canto para você. Ou pelo menos, te coloco para ouvir e traduzo.

- Prefiro a primeira opção.

Depois disso, trocamos de lugar e ele me levou até em casa. Disse, quando parou o carro na minha vaga:

- Não fica pensando naquilo que a Sofia te falou. Pensa no que eu te disse. Afinal de contas, por mais que ela tenha namorado o Bill durante dois anos, conheço meu irmão desde antes de a gente nascer.

Concordei com a cabeça e perguntei:

- Seja sincero, ok? Meu rosto ainda tá vermelho?

- Não. Mas ainda está com carinha de choro.

Bufei e peguei a minha bousa. Enquanto passava um lápis nos olhos, sentia que estava sendo observada.

- Mulheres são todas iguais mesmo... - Resmungou, rindo.

- Só as mulheres? - Perguntei. - Tom, seja justo.

Riu e, por fim, fui com ele até a portaria, esperando até que um outro táxi chegasse. Assim que destranquei a do meu apartamento, só deixei as coisas em casa e reforcei o perfume. Em seguida, fui até o outro lado do corredor e, quando estiquei a mão para bater a campainha, a maçaneta girou e, assim que o vi, com aquela expressão de ansiedade, falei:

- Isso tudo é saudade? Nem me deixou tocar a campainha?

- Confesso que te espionei chegando pelo olho mágico. E te vi com carinha de triste. O que houve?

Mordi o lábio.

- É um assunto chato que pode ser tratado em outra hora. Agora eu só quero saber de cuidar do meu namorado carente.

Riu e, no instante seguinte, o Bill estava fuçando o pendrive com minhas músicas que tinha surrupiado num momento de distração. E sim. Ele era um afanador de coisas alheias. Exatamente no meio da sua busca por alguma música em especial, comentou:

- Você é a primeira pessoa que escuta Marilyn Manson e, ao mesmo tempo, ouve... - Estreitou os olhos. - Cheryl Cole.

- E...? Contanto que seja música, tá ótimo! Claro que nada daquelas coisas tipo... “Ai se te pego, ai, ai, se te pego.” - Cantei do jeito mais debochado, tentando fazer a coreografia. E consegui arrancar aquela gargalhada típica dele.

- Por que não?

Tombei a cabeça para o lado um pouco e, arqueando a sobrancelha, respondi:

- Vou me contradizer agora, mas não é o tipo de música que eu gosto. As bandas brasileiras que eu gosto são mais antigas, tipo Paralamas. Tem umas mais novas, que nem meus conterrâneos.

- Quem são?

Mostrei as músicas tanto de Jota Quest quanto de Skank. Fez cara de quem gostou de algumas e sua expressão ao ouvir “De volta ao planeta” e “Mandrake e os cubanos” foi engraçada. E só piorou quando me ouviu cantando o refrão da primeira.

- Tá falando banana? - Perguntou, surpreso. Concordei.

- Ainda faço uma análise com a profundidade de piscina infantil e te explico tudo.

Concordou, rindo.

- Por que você é assim, hein? - Perguntou, me olhando de um jeito tão fofo...

- Assim como?

- Sempre fala esse tipo de coisa, faz piada de tudo...

- Ah... Está se referindo ao meu lado brincalhona. - Respondi, mordendo o lábio. - Sabe o que é? Aquário é um signo do ar. Então, para deixar as coisas mais leves... - Disse, arqueando sobrancelha e empinando o nariz. - Mas sendo honesta e séria... Apesar de ter uma ligação mínima com meu signo, ainda sim é meu jeito. Imagina se eu sempre vivesse de cara fechada, fosse resmungona e... Que foi? - Parei ao ver a cara que estava fazendo.

- Você resmunga bastante.

- Tá. Mas é porque sou muito exigente comigo mesma. Estou tentando não ser e não sei se estou conseguindo. Mas respondendo à sua pergunta... Um pouco de leveza não faz mal à ninguém. Ainda mais que desde que sofri o bullying fiquei mais... Fechada. São pouquíssimas pessoas que conquistam minha confiança logo de cara. Satisfeito?

- Não.

Revirei os olhos, suspirando impaciente e respondi:

- Eu sou palhaça desse jeito porque gosto. Vira e mexe, faço quem está perto de mim cair na risada. E segundo: É um traço imutável da minha personalidade. Não gostou, azar o seu.

Fez aquela cara de quem segura o riso e, por fim, perguntei:

- E por que fez essa pergunta?

- Curiosidade.

- Engraçado que nunca ouvi dizer que virginiano era curioso...

- Você e sua obsessão com signos.

- Se eu não a tivesse, não seria eu, concorda?

Assentiu, sorrindo.

Cerca de duas horas depois, em meio a alguns restos de pizza e os copos com Coca-Cola pela metade, me perdi nos meus pensamentos, vagueando até sabe Deus onde.

Foi quando, no susto, ele roubou um selinho. Pisquei diversas vezes e falei:

- Desculpa. Fui até uns... Dois milhões de anos-luz depois de Plutão.

- Percebi. Fiquei num monólogo até agora.

Olhei para ele, que riu. Obviamente, da minha cara de culpa.

- No que estava pensando?

- Se eu te contasse... - Respondi, dando um meio sorriso.

- Sou todo ouvidos.

Cocei minha cabeça de um jeito displicente e comecei:

- Estava lembrando de coisas totalmente aleatórias e independentes uma da outra. Como quando eu ia ao supermercado com meus avós e, enquanto minha avó fazia as coisas dela, eu e meu avô íamos à padaria, que fica dentro do supermercado mesmo. Ele comprava duas baguetes daquelas compridas e, quando minha avó se distraía, ele quebrava a ponta de cada uma. E sempre me dizia, baixinho: “Olha, não fala nada com a nonna, senão ela briga.”

O sorriso que ele deu foi simplesmente fofo ao me ouvir contando aquilo.

- É por isso que eu gosto de pão francês puro. Cresci tomando xingo da minha mãe por, sempre que ela chegava da padaria, só ia até aquele saco de papel, pegava um e ia comer. Falava: “Passa manteiga, geleia, requeijão...”

- Sente muita falta do seu avô, não é?

Concordei.

- Não dá para dizer o mesmo do meu pai porque você sabe. - Disse e ele assentiu.

- Quando o Tom me contou, confesso que tive pena de você. Quer dizer, por mais que a gente não veja meu pai com tanta frequência assim, ainda temos o Gordon.

- Sempre imaginei como minha vida teria sido se meu pai tivesse escutado minha mãe e ido trabalhar de carro. Provavelmente teria irmãos, não teria sido tão... Abusada com minha mãe. Acho que ia ser uma Luiza bem melhor.

- É. Mas talvez, se seu pai estivesse vivo e tudo isso que você falou tivesse acontecido, provavelmente não estaríamos aqui.

- Ah, não sei... Vai saber se, mesmo que ele estivesse vivo, a gente não se conheceria de uma maneira ou de outra? Talvez poderíamos ter nos esbarrado no supermercado antes...

- Poderia ter sido... Mas daí, o que te garante que a gente estaria assim? - Perguntou, indicando nossas mãos unidas com o dedo direito, que estava livre.

- E o que te garante que não estaríamos? Não provamos que todos esses astrólogos pé-de-chinelo estavam errados, quando disseram que aquarianos não se dão com virginianos?

- É verdade.

- Viu? E agora chega de ficar conjecturando a respeito do que poderia ou não ter acontecido. O que eu quero saber é de uma única coisa.

- O que?

Dei um meio sorriso de propósito e, quando estava perto dele, me desviei e tomei um gole do refrigerante, ouvindo-o dar um estalo impaciente com a língua. Já tinha até aberto a boca para reclamar quando fui rápida o bastante para beijá-lo. E por mais que dissessem que virginianos eram mais do tipo que gostam de rotina... Percebia que, quase sempre, o Bill gostava até demais dessa minha imprevisibilidade aquariana. Ainda mais que eu quase sempre deixava ele tomar a iniciativa...

Postado por: Grasiele

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