sábado, 9 de junho de 2012

The Neighbour - Capítulo 12

 Bill

– Você, como nossa suposta fã, deveria saber da ligação que tenho com o Bill. - O Tom disse para a Luiza, mas me olhando. - Sabia que vocês estavam juntos. E quando aconteceu a história da espreguiçadeira... Eu vi.

Olhamos para ele ao mesmo tempo e igualmente surpresos.

– E você não fala nada, criatura? - A Iza perguntou, indignada.

– E estragar meu plano de juntar vocês dois? Não, obrigada.

– Eu te falei... - Ela me disse.

– E eu concordei, lembra? - Falei, vendo-a assentir.

– Pois é. Do mesmo jeito que conheço vocês, os dois me conhecem. - O Tom respondeu, pegando um pedaço do bolinho da Iza, que bateu na mão dele.

– E só por você ter tentado interferir... Vai ter consequências. - Ameaçou meu irmão, que engoliu em seco.

– Que... Consequências? - Perguntou.

– Aguarde e confie, pequeno grande Kaulitz. - Disse, piscando para ele enquanto mordia a maçã.

– E... No que você está pensando em fazer? - Perguntei. Me olhou e também não consegui saber o que queria.

– Ah, vai, Luiza! Conta. - O Tom pediu, tentando fazer cara de pidão.

– Desistam. Mas na hora certa, vocês saberão. - Respondeu. Olhei para o Tom, como se dissesse a ele: “Deixa que eu descubro.” Meu irmão, aproveitando um momento de distração da Iza concordou com um aceno quase imperceptível de cabeça.

Uns dias depois, ele não era mais o único a saber que eu e a Iza estávamos namorando; À essas alturas, só minha mãe, o Gordon, o Georg, o Gustav, tanto minha família quanto a dela, a equipe e algumas pessoas da gravadora que eram próximas da banda, assim como a diretora e alguns poucos professores sabiam. Sim. Conviver quase diariamente com uma aquariana que, segundo vi em um dos posts do seu tumblr, falava sarcasmo fluentemente, dava nisso...

Não demorou muito para que a imprensa descobrisse que, volta e meia, a Iza constantemente ia à casa do Tom. E ele, obviamente, dava um jeito de nos ajudar a não desconfiarem que estávamos namorando. Para isso, saía da casa dele usando as roupas do meu irmão e, sendo assim, para a imprensa, quem estava namorando a Iza era o Tom, não eu.

Afora isso, evitávamos ao máximo de sairmos sozinhos. Sempre tinham mais pessoas com a gente e, por mais que a imprensa notasse que ela quase sempre estava do meu lado, ainda sim, o pessoal da gravadora teve o trabalho de divulgar uma nota, explicando que a Iza faria parte da equipe como assessora de imprensa. O que não deixava de ser mentira, já que fizemos questão que ela trabalhasse com a gente ocupando esse cargo...

Foi uma questão de dias para que vários repórteres acampassem na porta do nosso prédio, quase sempre nos cegando com os flashes da máquina e nos bombardeavam com perguntas.

Em uma tarde qualquer, quando estávamos no meu apartamento, a observava fixamente enquanto cozinhava. Como sempre, estava cantando e dançando, vez ou outra, de maneira debochada.

– Não te entendo... Você odeia essa banda e ouve as músicas... - Resmunguei.

– Porque as músicas são... - Disse, franzindo o nariz. - Algumas músicas, melhor dizendo, são boas. E eu sou embirrada com uma só da banda. A tal da Frankie. - Fez careta.

– E por quê?

– Eu podia até te dizer para não ficar com ciúmes, mas como você está mais que merecendo sofrer um pouco... Tomei as dores do ex dela.

– Como assim? - Perguntei, tentando entender.

– Vamos lá. Ela namorava um cara de uma banda inglesa chamada McFly. Como sempre achei ele bonitinho e... - Se interrompeu ao ver meu olhar. - Ah, vai tomar banho! Ele é bonitinho e você é lindo, gostoso e... Suculento de com força!

– Suculento? - Perguntei, rindo.

– Foi o único adjetivo que me apareceu. E não me enche, que coisa! - Reclamou, começando a ficar irritada. - Enfim, se me fizer perder o fio da meada, cato umas cebolas lá em casa e te faço descascar cada uma. E não pode chorar!

Tive que rir.

– Enfim. Ele era muito fofo com ela, que era a “celebrity crush” dele e tal. Daí, terminaram depois de um tempo. Passou outro tempo, voltaram e, de repente, terminaram de novo. E o cara foi internado numa clínica por causa dela. Acho que em parte foi por causa do meu instinto ultra protetor, característico dos aquarianos. E em outra parte porque, por mais que homens não prestem... - A olhei e continuou com seu discurso, fingindo não notar: - assim como algumas mulheres e está aí a Frankie - Franziu o nariz de novo e fez voz enjoada. - que não me deixa mentir, não acho justo que um cara vá para uma clínica por causa de ex-namorada que só estava com ele por causa da fama. No caso dela, ajudar a alavancar a carreira da banda. Bem feito que as fãs dele ficaram revoltadas.

Arqueei as sobrancelhas e falei:

– Se você ficou assim por causa do cara “bonitinho”, nem quero imaginar o que seria se uma menina fizesse isso com o “lindo, gostoso e suculento de com força” aqui.

– Nem eu quero. Te digo só que não seria nem um pouco agradável. - Respondeu, brandindo uma faca. - Obviamente você lembra daquela... - Apertou os lábios um contra o outro. - moça pouco séria, filha de uma mulher igualmente pouco séria que apanhou do Tom em 2009, né?

– “Moça pouco séria?”

– É. O jeito educado da minha avó dizer que a menina é uma puta.

– Ah tá. - Respondi, meio rindo. - Claro que eu lembro. O que tem?

– Já falei isso com o Tom e agora te digo sinceramente. - Falou, olhando fixamente para mim. - Nunca achei que ele realmente tinha culpa.

– Por quê?

– Sempre via vários vídeos que as fãs faziam nas sessões de autógrafos. Só isso já bastou para ver como vocês, e principalmente ele, se comportam. Sempre tive a impressão que o Tom nunca faria algo daquele nível senão tivesse algum motivo realmente bom.

– Mas você não conhecia o Tom naquela época...

– Ô mancebo... Esqueceu que minha sensibilidade é bem aguçada?

– Me chamou de quê?

– Mancebo. - Disse, em português. - Sinônimo mais pomposo de rapaz.

– Bota pomposo nisso... Não sei nada de português, mas deu para perceber que não era tipo... Como que era mesmo?

– Velho. Nossa, eu tenho uma raiva dessa bagaça de tratamento! - Reclamou de um jeito tão engraçado que não teve como não rir. - Sério, se você ouvisse, ia me dar razão. É um saco ouvir dois caras, assim da nossa idade, falando: - Começou a conversar no próprio idioma: - “Ô véi... Você foi lá no tal lugar?” “Ô véi, fui não...”. Essa é uma das coisas que me irrita profundamente na língua portuguesa.

– E o que mais te irrita?

– O sotaque mineiro. Aquela fala bem mansa. Sem falar na preguiça de pronunciar as palavras. Nego quer pegar ônibus para ir para a Savassi, que é um bairro mais central, vira para o outro e pergunta: “’Qui... - Prolongou a letra i. - ‘Cê sá ón que páss o ôns que vai pra Saváss?”

Por mais que teimasse em afirmar o contrário... Era bonitinho ouvi-la falando em português, ainda mais que manteve seu sotaque.

– Raio de sotaque! - Resmungou.

– Calma, liebe!

– E quem tá nervosa aqui? - Perguntou. Por incrível que pareça, essas oscilações do seu humor eram brincadeira.

Enquanto o bolo que fez estava assando, ficamos sentados no sofá e me aproveitava do fato que ela estava sentada entre as minhas pernas, brincando com as correntes que eu usava no meu pescoço, como sempre.

– Estava pensando numa coisa... Não quero que pense mal de mim por perguntar isso, mas...

– Pode perguntar. E você sabe praticamente tudo da minha vida...

Mordi o lábio, inseguro e com um pouco de medo da resposta e reação dela, que suspirou e disse:

– Beleza. Sim, já tingi o cabelo e de ruivo. Não, nunca fiquei bêbada, não gosto de boates, prefiro shows de rock, tenho acrofobia, morro de medo de cobras, aranhas, tubarões, jacarés e crocodilos. Queria ter um irmão porque acho que, se fosse uma irmã, ia ter briga o tempo inteiro. Morro de vontade de experimentar tequila - A olhei, surpreso. - e quando estou em uma festa e começo a beber, não continuo se começo a me sentir zonza. Meu avô paterno teve câncer por isso.

– Falou tudo, menos o que queria te perguntar.

– Uai... Você que está enrolando para perguntar... Pode ir em frente.

Mordi o lábio e, levantando do sofá, fui até o quarto e peguei uma foto que tinha descoberto outro dia, no meio das suas coisas. Assim que mostrei, caiu na risada e perguntei:

– Me explica por que você está toda... Suja de tinta desse jeito?

– Trote de faculdade. Foi uma amiga minha que fez comigo por ter conseguido entrar... Ela tinha me prometido, a gente demorou à beça para se encontrar e, quando finalmente me viu... Carregou aquele monte de potes de tinta e fez essa arte aí comigo. Para tirar essa tinta verde do cabelo foi tenso! E bonito, hein? Afanando fotos alheias!

Ri do jeito que ela falou e isso acabou me dando coragem de perguntar:

– Lembra daquele dia que você brincou comigo, dizendo que nunca teve nenhum cara na sua cama?

– Lembro. - Respondeu, me olhando.

– Tinha te perguntado se era virgem e não me respondeu...

– O que você acha?

Voltei a ficar sentado de frente para ela e, colocando uma mecha atrás da sua orelha, respondi:

– Eu acho que você é um enigma. - Riu fraco e retribuí. - Tem certas horas que você age como se nunca tivesse feito nada. E, de repente, você não é tão... Inocente assim.

Arqueou a sobrancelha e respondeu:

– É. Quis esperar pela hora e pessoa certa.

– E... - Umedeci os lábios, inseguro.

– Não. Ainda não é hora, apesar de, muitas vezes, parecer o contrário.

– Tudo bem. A gente não...

Pôs a mão sobre o meu rosto e o acariciou. Fechei os olhos e não demorei a senti-la me beijando. Envolvi sua cintura com meus braços e a puxei para se sentar no meu colo. Acariciava sua pele por baixo da blusa enquanto sentia a ponta das suas unhas arranhando e fazendo o contorno da minha tatuagem da nuca. Conforme eu variava a força com que apertava sua cintura, ela respondia, fosse puxando meus cabelos de leve ou até mesmo, me envolvendo ainda mais num abraço que sempre acontecia quando nos beijávamos. Desde a primeira vez, percebia isso.

Assim que comecei a perder meu autocontrole, interrompi o beijo e disse:

– Acho melhor eu ir ver o bolo, que, se não virou um carvão à essas alturas, já deve estar quase lá.

Dei um sorriso fraco e a vi indo até a cozinha. Observava cada mínimo movimento que fazia e ficava cada vez mais encantado por ela, mesmo que fosse visivelmente desastrada. Porém, tinha que confessar que, dependendo do que acontecesse, era engraçado por causa da sua reação, que normalmente era um estalar da língua, aquela expressão de impaciência e um resmungo em português. É, acho que não tinha outra definição para o que estava acontecendo comigo a não ser que me apaixonava cada vez mais por ela... E via que era correspondido.

Postado por: Grasiele

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