sábado, 9 de junho de 2012

The Neighbour - Capítulo 13

 Bill

Estava no escritório do Jost, com os outros e a equipe quando de repente, eu e o Tom nos olhamos. E tinha certeza absoluta de que o meu olhar era o mesmo dele: De pânico. Tive uma sensação muito ruim e depois daquilo, foi complicado me concentrar naquela reunião. Mas conseguimos acertar a maioria dos detalhes da turnê. Assim que terminou, o Georg e o Gustav perceberam o clima entre eu e o Tom. Ligava para todo mundo que eu conhecia e, por sorte, todo mundo estava bem. Mas a única que não atendeu foi a Iza. Comecei a ficar desesperado e, enquanto continuava insistindo, ouvi o Georg perguntar:

- O que houve?

- Não sei... Do nada a gente teve uma sensação ruim. - O meu irmão explicou, ligando para mais pessoas.

- O que foi, Bill? - O Gustav quis saber.

- Não estou conseguindo falar com a Iza. Estou tentando ligar para ela, chama, chama e cai na caixa postal.

- Você sabe como ela é... - O Georg disse. - Ela deve estar na rua e por isso não está atendendo. Daqui a pouco te liga de volta.

Não conseguia me tranquilizar. Tudo bem que ele estava certo; Ela tinha mania de não atender o celular quando estava na rua e sempre deixar no vibracall, justamente para evitar que roubassem. Tinha me dito que sempre foi cuidadosa e, numa única vez que se distraiu, roubaram o seu celular.

- Dá um tempo e depois você volta a ligar para ela. - O Tom me aconselhou. Suspirei e larguei o celular sobre a mesa. A sensação ruim não tinha passado e, quando ouvi o meu aparelho tocando, me senti o Homem-Aranha por causa da rapidez com que o peguei. Senti meu coração dando um giro completo e atendi, sem nem ver o número:

- Liebe? Até que enfim! Estou tentando te ligar um monte de vezes e...

- Bill? – Ouvi minha mãe dizer; Seu tom de voz não era calmo, como sempre.

- Mãe, tá tudo bem aí com vocês? - Perguntei, alarmado.

- Está sim. A Luiza está aí com você?

- Não. O que houve?

- Estou vendo aqui na televisão que tem um incêndio numa escola de jardim de infância.

Saí dali tão rápido que quase atropelei todo mundo que estava no meu caminho. Sabia que o Tom estava atrás de mim, bem como o Georg e o Gustav. Assim que cheguei ao carro, já tinha deixado de ouvir o que minha mãe me dizia. Senti que pegaram meu celular e, justo quando estava destrancando a porta do meu carro, o Tom segurou meu pulso e disse:

- Deixa que eu dirijo. Do jeito que você está, vai causar um acidente daqueles.

Tive que entregar a chave para ele. O Georg falava com a minha mãe e o Gustav dava a volta no carro para entrar no banco traseiro, exatamente atrás de mim. O Tom chamou o Georg e logo, nós quatro estávamos no caminho até a escola onde a Iza trabalhava. Eu estava numa pilha de nervos, ansioso para saber se a minha namorada estava bem. O tempo inteiro tentava ligar para ela, que ainda não atendia.

O Georg, numa tentativa de ajudar a me acalmar, ligou o rádio. Só que estava na estação de notícias. O Tom já ia desligar quando o impedi:

- Deixa. Assim a gente fica sabendo do que está acontecendo.

Concordou, voltando a dirigir quando o locutor informou:

-... E agora, as últimas notícias sobre o incêndio numa escola infantil. Acabo de ser informado que o incêndio foi causado por um curto-circuito na fiação. Há a notícia de seis feridos, entre eles, três crianças e a diretora. Recebemos também a informação de que uma das professoras morreu carbonizada.

O Tom quase bateu no carro da frente. Como estávamos perto o bastante da escola, aproveitei que estávamos parados no sinal para sair em disparada até a casa, que estava em chamas. Ninguém parecia me notar ali. Tinham uns dois caminhões de bombeiros, muitos pais preocupados com os filhos, umas seis ambulâncias, tinham viaturas de polícia também e um monte de curiosos, inclusive alguns vizinhos meus e da Iza. Fui até uma das ambulâncias e perguntei para um dos socorristas:

- Por favor... Estou procurando uma das professoras...

- Estão levando todos os feridos para aquele hospital perto da estação de Wandsbek-Gartenstadt. Lá, devem te ajudar a encontrar a professora que está procurando.

- Obrigada.

Saí andando em busca do meu irmão e, assim que o encontrei, falei onde ela poderia estar.

Assim que chegamos, houve uma breve comoção por termos aparecido ali, tão de repente. Fomos até o balcão de informações da recepção e o Tom perguntou para a menina que estava ali:

- Por favor, estou procurando uma pessoa... Trabalhava de professora naquele jardim de infância que pegou fogo...

- Qual é o nome?

- Tem um papel? - Perguntou. A recepcionista o entregou, junto à uma caneta e ele escreveu o nome e sobrenome da Iza. A menina olhou em uma lista enorme e juro que, senão estivesse apoiado no balcão, teria desabado quando a ouvi dizer:

- Sinto muito, mas não tem ninguém com esse nome que deu entrada aqui no hospital.

- Por um acaso, sabe me dizer se a diretora está internada? - Perguntei. A menina olhou a lista e respondeu:

- Sim. Mas ela está passando por uma cirurgia delicada agora. Ainda deve demorar alguns dias até começar a receber visitas.

Agradecemos.

Estávamos no meio do caminho para a casa do Gustav quando meu celular voltou a tocar. Atendi, sem vontade nenhuma de falar:

- Oi.

- Bill? - Ouvi o Gordon dizer. - Achou a Luiza?
- Não. Até fomos no hospital em que levaram todo mundo que estava ferido, mas não a levaram para lá. Ainda não se sabe quem foi a professora que morreu e não consigo falar com a Iza. Não sei mais o que fazer.

- Venham para cá. O Tom está com você, não é?

- Tá. Vou falar com ele.

Conversei por mais alguns míseros minutos com meu padrasto e, depois de deixarmos os dois nas suas respectivas casas, o Tom me levou até a minha para pegar algumas roupas e, depois, fizemos o mesmo na dele. Daí, fomos para a casa da minha mãe.

Assim que chegamos lá, ela nos esperava, com aquela cara de quem está com o coração na mão e me deu um abraço forte quando parei na sua frente. Dizia, enquanto passava a mão nos meus cabelos:

- Não fica assim... Provavelmente não era a Luiza.

Suspirei e estreitou ainda mais o seu abraço.

Na manhã seguinte, ainda não tínhamos notícias dela e tinha até perdido as esperanças de encontrá-la.

Nem quis ouvir o noticiário que finalmente dizia quem era a professora que tinha morrido. Tinha desligado meu telefone para não me incomodarem. Ficava enfurnado no quarto o dia inteiro, vendo aquela foto da Iza toda suja de tinta por causa do trote da faculdade.

Uma semana tinha se passado e para mim, parecia que tinham sido uns... Dez anos.

Em uma manhã chuvosa, minha mãe avisou que ia ao supermercado com o Gordon. O Tom tinha saído e, portanto, eu ficaria sozinho, enfiado sob as cobertas e isolado do mundo.

Não deu nem cinco minutos que tinha ficado sozinho quando ouvi umas batidas na porta.

- Me deixa. - Resmunguei.

As batidas na porta continuaram e tentei expulsar a pessoa. Teria me levantado da cama senão estivesse tão sem vontade. Ouvi o barulho da maçaneta e comecei a reclamar. Senti o colchão afundando do meu lado e nem preocupei em olhar. De repente, senti um cheiro familiar e, antes que pudesse me mexer, ouvi uma voz fina e igualmente familiar perguntar:

- Eu sei que você está puto comigo por não ter dado notícias durante essa semana. Tentei te ligar que nem uma doida quando soube do incêndio lá na escola. Tive que ir para Roma, acudir uma tia minha que passou mal e foi tudo tão depressa que, na hora, não teve como ligar. Ainda mais que meu celular estava sem carga, o seu só dava fora de área... E para completar, quando finalmente consegui falar com o Tom, me disse que você estava bancando a toupeira aí debaixo, não queria falar com ninguém... Ou seja, tudo contribuiu. Sorte que sua mãe praticamente exigiu que eu viesse para cá.

- Me dá um susto desses de novo que juro que eu mesmo te despacho de mala e cuia para o Brasil! E ainda fica sem a Vivi! - Respondi, me sentando na cama e finalmente a olhando.

- É, está muito puto comigo. Bom, acho melhor eu ir e... Voltar numa outra hora.

- Não. - Falei, segurando seu pulso. - Agora que eu sei que você está sã e salva... Não vou te deixar sair do meu lado!

Riu fraco e a abracei tão apertado que até resmungou de dor.

- O que foi? - Perguntei a soltando.

- Exagerou na força.

- Se soubesse o quanto fiquei preocupado com você... Acho que nunca tive tanto medo na minha vida assim.

- Oh, meinen liebe... Entschuldigen.¹ - Pediu, acariciando meu rosto de uma maneira tão deliciosa que foi impossível ficar de olhos abertos.

- Fiquei apavorado com a ideia de te perder. - Falei, a observando.

- Bom ter dito isso. Tenho uma coisa para você.

Se levantou da cama e foi até uma cadeira onde tinha largado sua bolsa. Em seguida, pegou alguma coisa e, quando voltou a ficar de frente para mim, pediu que fechasse os olhos. Obedeci e senti que abriu minha mão esquerda. Disse:

- Pode abrir.

Olhei e tinha um pingente oval de prata na minha mão. Olhei para ela que, sorrindo, me disse:

- Abre.

Ainda sem entender, fiz o que pediu e vi que era um escapulário. Havia uma minúscula “tampa” de vidro e, por baixo dela, uma mecha do seu cabelo.

- Lá pelos idos da era vitoriana era costume guardar uma mecha do cabelo de alguém que você gostasse.

Pus o pingente, que era discreto, junto à corrente que jamais saía do meu pescoço. Sorriu e perguntei:

- Por que o seu cabelo?

- Bom, meus dentes de leite, que minha mãe guarda até hoje, estão do outro lado do oceano. Além do mais... Depois de tanto tempo eles ficam mais frágeis. Sem falar que cabelo não é tão... Nojento quanto dente, concorda?

Rindo, assenti e a olhei por alguns instantes.

- Ich liebe dich.

- Ich liebe dich auch².

- Promete que nunca mais vai me dar um susto desses?

- No que depender de mim... Pode deixar.

Naquela mesma noite, decidimos voltar a Hamburgo.

Estávamos parados dentro do elevador, sendo que ela estava com a cabeça encostada numa das paredes, com o olhar perdido.

- O que foi? - Perguntei. Se endireitou e, me olhando, respondeu:

- Durante essa última semana pensei muito em nós.

Tive um péssimo pressentimento.

- Não precisa fazer essa cara. - Disse. - Não vou terminar nem nada. Só... Estive pensando em tudo que aconteceu entre nós dois durante todo esse tempo.

- E aí?

- Perdemos um tempo daqueles preocupando com brigas.

Sorri e, não conseguindo me controlar, perguntei:

- Você quer... Dormir lá em casa hoje? Vou demorar um bocado para matar saudades de você.

Sorriu e concordou.

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

¹ Ô meu amor, me desculpe

² Eu também te amo

Postado por: Grasiele

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Arquivos do Blog