Subi as escadas e me postei frente à porta de Bill. Encostei a cabeça na porta, pensando no que poderia dizer para me desculpar. Toquei na maçaneta, mas antes de abrir a porta ouvi soluços.
- Bill? – Murmurei abrindo a porta.
Um perfume forte invadiu minhas narinas. O quarto parecia bagunçado, a janela estava com as cortinas arrancadas e jogadas num canto do quarto, ao qual eu ignorei. Ele estava deitado de bruços na cama e havia alguns frascos de perfume jogados no chão. Me assustei um pouco, mas arrisquei alguns passos para dentro do quarto.
- Bill? – Chamei novamente e dessa vez ele levantou a cabeça para me encarar.
Seus olhos estavam inchados. Ele estava chorando. Não estava usando a maquiagem que eu sempre via. Estava apenas com uma calça de malha, mostrando um troco nu e branco.
- Bill, o que aconteceu? Por que você está chorando? – Perguntei aflita.
Ele não respondeu. Virou de costas e se deitou novamente, com o queixo apoiado no travesseiro e olhando pela janela. Senti algumas pontadas no coração e, novamente, vacilei alguns passos para chegar mais perto dele. Ele não Fez nenhum movimento, continuou estático.
- Bill, você está me preocupando. – Me sentei na beirada da cama e fitei suas costas. - O que está acontecendo? Por que você está assim?
- É complicado. – Respondeu com a voz abafada, pressionando o rosto no travesseiro.
- Eu tenho tempo. – Deitei ao seu lado.
Ele não falou nada. Demorou alguns minutos antes de eu pousar uma mão sobre suas costas e, demoradamente, descer, acariciando-as. Ele estremeceu, então eu retirei a mão e o fitei. Torci para que ele não me odiasse.
- Bom, é que eu estou bem confuso. – Falou se sentando e eu me sentei ao seu lado.
- Se for pelo que aconteceu mais cedo, não aconteceu nada. Quer dizer, aconteceu. Mas não o que você pensou. – Me enrolei com as palavras e ele deu um riso abafado.
- Não, não é por isso. Quer dizer, é mais ou menos. – Fiz uma careta e ele riu. Ótimo, pelo menos estou fazendo ele rir. – É que eu senti algo estranho quando vi você na cama do Tom.
- Bill, eu...
- Não, não é isso que você está pensando. – Me interrompeu. – É que quando eu vi vocês lá eu me lembrei do dia em que a gente se beijou e percebi que aquilo foi coisa do momento... – Fez uma pausa - A gente estava bem perto daí aconteceu, mas depois eu percebi que não senti o que achei que fosse sentir. Percebi que eu gosto muito de você, mas não é esse tipo de amor. Desculpa. – Falou e nesse momento uma lágrima, atrasada, tracejava sua bochecha.
- Não tem problema, - Abracei-o involuntariamente, como num pedido de desculpas, e ele retribuiu o gesto. - eu vim aqui justamente pra te pedir desculpas e explicar o mal entendido. – Terminei fitando seus olhos castanhos.
- Eu me afastei pra pensar, precisava ficar sozinho.
- Nós ficamos preocupados com você. – Tentei sorri de um modo afetuoso.
- Ah, obrigado. – Sorriu acanhado – Bom, nesse tempo que eu passei sozinho eu meio que consegui me encontrar.
- Que bom. Então, por que você tava chorando? – Perguntei curiosa.
- É que as pessoas tem um certo preconceito com pessoas como eu. – Arregalei os olhos. - Tenho medo que meus amigos pensem algo errado de mim por conta das minhas atitudes. – Arregalei ainda mais os olhos.
- Bill, você também é gay? – Não me contive e ele adquiriu uma expressão de surpresa. Ótimo, agora todo cara lindo resolveu ser gay?
- Gay? Não, não. – Respondeu voltando a olhar pela janela e, sem que ele percebesse, suspirei aliviada. – É que eu não consigo ficar com uma garota sem sentir nada, isso é anormal.
- Não, isso não é anormal. Isso é lindo. Já pensou quantos caras iludem garotas fingindo sentimentos só pra terem prazer? - Virei seu rosto, obrigando-o a me olhar nos olhos. – Você não é anormal. É um cara maravilhoso, romântico e sensível. – Sorri.
- Nossa, você falando assim parece até ser uma coisa boa.
- Não parece. É. – Afirmei.
- Não quero que pensem que eu sou gay. – Ok, esse comentário soou preconceituoso.
- Cara, você já viu suas roupas? Se você se preocupasse com isso não as vestiria.
- É, você tem razão. – Concordou e eu ri.
- Cadê o Bill que eu conheci? Aquele cara engraçado que usa maquiagem, porque gosta, e anda de salto melhor que eu. – Saltei da cama e puxei sua mão. – Bom, eu acho que ele está se preocupando com bobagens e se importando demais com os outros. – Fiz cara de pensativa e ele riu.
- Biara, você tem toda razão. – Sorriu. – Não vou deixar de ser eu mesmo por medo da reação das pessoas.
- Isso! – Dei pulinhos e o abracei. – E aí? Vamos jantar? Depois a gente arruma essa bagunça. – Falei soltando o abraço e puxando-o para fora do quarto. Agora ele tinha que se resolver com Tom.
Entramos na cozinha e Tom já tinha arrumado tudo. Estava sentado num banco, comendo uvas. Ele levantou o olhar e engoliu uma uva. Bill o fitou da porta. Tom se levantou e caminhou até o irmão, depois o abraçou. Deve ser coisa de irmão.
- Sabe que eu não queria dizer aquilo, não é? – Tom murmurou olhando para Bill.
- Cala a boca. – Bill riu e sentamos todos no balcão, comendo as uvas de Tom e conversando sobre qualquer besteira.
No fim, acabei indo dormir no quarto de Bill, novamente. Apesar do insuportável cheiro de perfumes por todo o quarto, que quase me mata asfixiada, consegui dormir.
No dia seguinte, acordei após a hora do almoço. Me levantei e Bill já tinha saído da cama e deixado-a totalmente arrumada. Tomei banho e fui ao quarto de Tom, vazio também. Desci e não tinha ninguém em casa, exceto os empregados, que por sinal, eu também nunca via. Lembrei-me do jardineiro, que eu nunca prestei muita atenção, que vinha cuidar das plantas todos os dias. Fui até ele e parei próximo aos dentes-de-leão.
- Algum problema, senhorita? – Ele sorriu carinhosamente.
- Er, com licença. – Sorri – Onde estão os Kaulitz?
- Eles saíram. – Levantou-se e percebi o macacão sujo de terra. Os cabelos grisalhos pulando do pequeno chapéu e os olhos cansados, de quem acordara cedo. – Segundo me notificaram, foram ao estúdio. Depois irão pegar os cachorros.
- Ah, ok. – Me virei, mas antes de dar o próximo passo, parei estática. Virei-me mais uma vez encarando o velho. – Espera, como assim “foram buscar os cachorros”?
- Eles tem dois cachorros. – Sorriu e voltou-se às flores.
- Ótimo! – Murmurei baixinho indo para a cozinha. – Tenho trauma de cachorros e eles tem dois!
Passei toda a tarde assistindo TV e comendo biscoitos. Quase no final da tarde, a porta se abriu e um Tom cansado atravessou a porta e jogou-se ao meu lado no sofá, tirando a camisa em seguida. Bill saltou pela porta e jogou-se ao meu outro lado.
- Onde estão os cachorros? – Murmurei trazendo os joelhos para cima do sofá e os abraçando.
- Como sabe deles? – Tom murmurou de olhos fechados, com a cabeça jogada para trás.
- O jardineiro falou. – Sorri – Dá para você ir tomar um banho?
- Porque? – Ele finalmente abriu os olhos e me encarou.
- Porque você está podre. Além de estar todo suado. – Apontei com nojo para ele e Bill soltou uma leve risada.
- Biara, - Ele sorriu, sentando-se direito – eu já disse que gostou muito de você?
Então ele pulou em cima de mim, me abraçando. Eu gritei o mais alto possível, batendo nele com toda minha força. Bill pulou para fora do sofá e começou a ter uma crise de riso, enquanto Tom se esfregava em mim.
- Para seu nojento! – Esmurrava os braços dele.
- Você vai me deixar com hematomas. – Ele, finalmente, levantou-se.
- Agora vou ter que tomar outro banho, seu imbecil! – Choraminguei olhando para ele com muita raiva.
- É bom mesmo, - Bill riu – porque vamos ao parque de diversões.
- Isso aí. – Tom levantou-se.
- Que? – Alguém sabe que também tenho trauma de parque de diversões?
- É, vai ser muito divertido! – Bill saltitou – Claro, que vamos nos disfarçar o máximo possível.
- Tipo os homens de preto? – Murmurei.
- É, mais ou menos isso. – Bill sorriu e saiu.
- Será que eles vendem meia entrada só pelo tamanho? – Tom riu enquanto acompanhava Bill para o quarto.
Eu bufei e subi. Peguei alguma roupa qualquer e fui para o banheiro. Após me arrumar, desci e encontrei Georg e Gustav sentados no sofá.
- Bi! – Georg saudou, me abraçando. – Onde estão as meninas?
- Não sei. – Ri do comentário dele e sentamos no sofá.
Alguns minutos depois, Tom e Bill desciam da escada. Bill não usava maquiagem e, estranhamente, usava roupas comuns, assim como Tom, que não precisou mudar muito. Após algumas piadas idiotas, fomos para o carro e, antes do que eu pensei, chegamos ao parque.
- Hey moça, me dá quatro inteiras e uma meia. – Tom disse para a mulher da bilheteria.
- Tom! – Gritei do outro lado.
- Tá, - Ele resmungou. – Cinco inteiras.
Entramos no parque, que estava consideravelmente vazio e, sem mais delongas, Bill puxou Gustav e Georg para a montanha russa.
- Quer ir, Bi? – Perguntou antes de sumir.
- Não, estou bem, aqui. – Sorri sem vontade, na verdade, estava me matando de medo.
- Está com medo, é? – Tom debochou.
- Porque você não foi junto? – Encarei-o.
- Porque sou responsável por você, pivete. – Esfregou meus cabelos. – Vamos na roda gigante!
Puxou minha mão de supetão e me levou em direção ao brinquedo.
- Que? – Tentei me soltar – Nem pensar! Não! Tenho medo!
- Eu vou estar lá, sua estúpida. – Ele riu e, antes que eu percebesse, estávamos dentro do vagão.
O tal brinquedo começou a rodar e eu enfiei as mãos no rosto. Tom, estranhamente, ficou em silêncio, e eu agarrei meus joelhos, sem abrir os olhos.
- Você é um idiota. – Murmurei com a voz abafada. Levantei o rosto e Tom me olhava. Curioso.
Ele virou o rosto no momento em que encarei ele, então agarrou o ferro que tinha no meio do vagão, que era uma bolinha, e começou a girar. Ele girava rápido e o vagão ia junto. Eu comecei a gritar e ele ria.
- Eu vou ligar para o Bill, seu maníaco! – Gritei puxando meu celular.
- Não! – Ele largou o ferro e atirou-se contra minha mão, quando fui perceber, meu celular havia sumido.
- TOM! – Gritei olhando lá para baixo. Meu celular tinha caído no chão. – O que você fez seu idiota?
- Quem mandou não segurar direito? – Ele virou o rosto.
- Você está me devendo um celular novo! – Eu gritei. – Não acredito nisso! Você é um idiota!
- Não é culpa minha se você não sabe segurar um celular sem deixar seu lado desastrado subia à cabeça. – Murmurou sem me encarar.
- SEU IMBECIL! – Gritei o mais alto que pude.
- Com licença. – Uma outra voz soou. Percebi que já estávamos na base da roda gigante e um homem, funcionário, nos olhava com arrogância. – Tenho que pedir que saiam. Estão incomodando as outras pessoas.
- ÓTIMO! – Gritamos eu e Tom, uníssonos.
Após perder meu celular, ou melhor, após meu celular ter sido assassinado, procuramos Bill e fomos para casa. Isso o deixou bastante triste, até porque tínhamos acabado de chegar no parque, mas a raiva era tamanha, que eu não conseguia nem olhar para Tom.
- Você vai comprar um celular novo para mim amanhã! – Eu gritava do topo da escada, após chegarmos em casa.
- Não vou não! – Ele gritava lá de baixo – Não vou gastar meu dinheiro com você!
- Você derrubou meu celular e ele se despedaçou, seu imbecil! – Gritei mais alto.
- DÁ PARA VOCÊS PARAREM? – A voz de Bill me surpreendeu. – Biara, vai dormir. E Tom, amanhã bem cedo você vai à loja com ela!
- Mas Bill, eu...! – Começou.
- Tom! Sem discussões! – Bill brigou, depois apontou para mim ameaçadoramente. – Suba e vá dormir. Agora.
- Tá bom, pai! – Resmunguei e bati a porta do quarto.
Postado por: Grasiele
sábado, 23 de junho de 2012
Como (não) se apaixonar por Tom Kaulitz - Capítulo 17 - Bill, parque, celular... Oops!
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