sexta-feira, 13 de abril de 2012

By Your Side - Capítulo 6 - Alérgica

Eu não conseguia abrir os olhos e raciocinar, estava vegetando no colo de alguém, e era difícil até de entender os barulhos a minha volta. Só podia sentir os braços quentes e fortes em volta de mim.
– Ela vai ficar bem, ela vai ficar bem. - O ser ficava repetindo, e depois de tantas vezes percebi que a pessoa se referia a mim.
Eu adormeci novamente de cansaço, talvez por esforço de estar acordada, e então só consegui abrir os olhos horas depois.
Podia ver meu quarto com clareza, as três paredes brancas e atrás da minha cama a parede escura. Senti minha garganta arder e tentei me levantar, mas nesse mesmo momento alguém me empurrou de voltar para a cama.
Chelsea tinha sombras escuras abaixo dos olhos e o cabelo loiro estava preso em um coque malfeito. Eu ia falar algo, mas ela me interrompeu.
– A senhorita quer me dizer por que diabos comeu um salgadinho de camarão?
Eu fiquei confusa e ela notou.
– Julia, você sabia o sabor do salgado que comeu lá no estúdio do mixer?
– N-não... - minha voz falhou.
– Pois bem, era de camarão! - Ela disse como se fosse minha mãe, só que em alemão que era mais comum para ela.
Acho que Chel já deveria saber sobre minha alergia á camarão agora.
– Você tem noção de que sufoco eu passei sozinha com os meninos lá no estúdio? Não viu a briga que Tom teve com David Jost!
Eu fiquei surpresa.
– Pode me explicar o que aconteceu sem gritar e me deixar sentar na cama pelo menos? - Pedi rouca com muita sede.
Ela respirou fundo como se tivesse se dado conta de que estava falando alto, deve ter se sentido mal. Eu me sentei na cama passando a mão pela garganta. Não estava inchada, mas estava com gosto de vômito.
– Você desmaiou no elevador, e Georg te pegou no colo. Gustav ficou desesperado apertando o botão do térreo, e quando chegamos lá em baixo você estava deitada no sofá como se estivesse morta. - Ela levantou os braços gesticulando terror - Eu não sei descrever a cara do Tom! Ficamos discutindo para entender o motivo, mas eu fui rápida e disse que você comeu um salgadinho e Gustav disse que você só tem alergia a camarão, aí minha querida, Tom subiu correndo as escadas e viu o salgadinho de camarão, então ele começou uma discursão com David.
– Por quê? - Eu perguntei interrompendo-a.
– Porque ele e Bill são vegetarianos e não precisam de nenhum tipo de carne no estúdio, como Georg e Gustav os acompanham. Claro que ele não estava certo, mas era seu único argumento. Quando ele se cansou de discutir, desceu ainda nervoso e pegou você no colo. Voltamos para casa e ele só te deixou em paz quando deu meia-noite e Bill insistiu que ele fosse dormir.
Eu olhei para a janela. Estava escuro.
– Chelsea! Quando tempo eu fiquei desacordada? - Me levantei da cama me esquivando de Chel para que não voltasse para lá.
Enquanto ela respondia cautelosamente, eu fui andando para o banheiro. Meu rosto era o pior, eu poderia até quebrar o espelho.
– Eu cansei de contar as horas, Jus. Você abria os olhos o tempo todo, e Tom achava que você estava acordada, mas você voltava a fecha-los.
Fechei a porta do banheiro deixando Chelsea do lado de fora e entrei no banho. Fui o menos rápida possível. Escovei os dentes duas vezes, mas a queimação na garganta continuava. Chel já tinha separado meu pijama em cima da cama.
Já estava me sentindo melhor quando terminei de me arrumar. Eu saí do quarto e Chel estava na cozinha. Fui direto para a geladeira beber água, e então estava me sentindo como antes de ter uma reação alérgica, só que com fome.
– Quer alguma coisa? - Chel perguntou sem muita certeza de que fosse aquilo que ela queria dizer - Bem, eu não deveria deixar você comer coisas, apenas liquido, mas você sabe como eu sou.
Eu sorri e peguei em um fruteiro escondido uma maçã. Eu achei estranho ter maçã ali, mas era a fruta favorita do Tom.
Me sentei no banquinho, eu e Chel conversamos por mais ou menos uma hora. Depois ela disse que estava com sono e eu disse que os edredons se escondiam na parte de cima do armário. Ela voltou para o quarto e eu fiquei sozinha na cozinha.
Não estava com sono, tinha coisas para pensar, como por exemplo, "Por que o Kaulitz arranjou uma briga com Jost sem argumentos?"
Era bobagem, é só não tinha notado o sabor do salgadinho, e, aliás, nem todos são vegetarianos, eles têm todo o direito de comer camarão. E mais, "Por que Tom ficou o tempo todo comigo enquanto eu estava desmaiada?" Outra bobagem! Ele não era o Tom Kaulitz, aquele que teve aquela briga gigante comigo, e costuma me ignorar e me dar foras? Eu estava confusa demais.
Levei um susto quando ouvi o barulho de porta batendo. Devia ser só Chel, mas eu olhei para a porta da sala e vi um vulto passando para o corredor.
Não, por favor, não. – Resmunguei para mim mesma.
Se minha linda sorte estivesse em alta, poderia ser qualquer menino, bem provável que fosse Bill, ou Georg ou mesmo o Gustav com aquele sono pesado. É, eu costumo brincar com minha sorte como se fosse objeto.
Me levantei do banquinho e fui atrás do ser, pisando de leve no piso de madeira. Alguém me segurou pelos braços e me girou em menos de dois segundos. Eu iria gritar, se ele não colocasse a mão na minha boca.
Ele se certificou de que eu não iria mais gritar e tirou a mão da minha boca levando ela para meu outro braço, assim, não tinha saída. E a minha reação?
– Seu imbecil! - Eu o xinguei. - Queria me dar um susto?
– Não, eu só queria saber se você estava bem.
Tom não desviou os olhos dos meus nem um segundo, e também não sorriu. Ele só continuou me segurando pelos braços. Eu fiquei sem fala, mas o Kaulitz tinha que fazer algo para estragar o momento que eu comecei estragando.
– Eu não quero acordar amanhã e não ter ninguém para zoar, xingar, implicar...
– Tá bom, eu já entendi. - Bufei, e eu que pensei que ele tinha mudado - Eu estou bem. Chel me permitiu comer algo, já tomei banho só não estou com sono.
– Nem eu...
– Ah, pode parar, Kaulitz! Eu estou sabendo que você não dorme há séculos. - Eu me mexi inquieta com a intenção de que ele percebesse que ainda não tinha me soltado.
E ele não percebeu, continuou conversando como se eu nem tivesse me mexido.
– Devo estar só ansioso para a próxima turnê, você sabe.
Não, eu não sei!
– Pois é. Agora você pode me soltar? - Jogar com indiretas não adianta, não é? Precisa jogar álcool, gasolina e fósforo.
Tom olhou para as próprias mãos e sorriu pervertidamente. Em menos de segundo, eu já estava em seu colo querendo gritar. Ele me segurou com força e eu quase não pude me mexer.
O Kaulitz mais velho correu pelo corredor até o próprio quarto e entrou fechando a porta.
Regra n°2 - Nunca, jamais, entre no quarto do Tom Kaulitz.
– Eu não posso entrar aqui, seu idiota! - Disse depois que a porta foi fechada.
Ele me colocou no chão e eu fiquei virada para porta com a intenção de não olhar para ele. O quarto ficou silencioso, até eu me virar e ver que Tom estava deitado no meio em sua imensa cama de casal já debaixo das cobertas e virado de costas para mim.
– Kaulitz, eu estou começando a ter certeza de que você tem problemas mentais. Me trouxe para seu quarto e virou de costas para dormir.
– Eu não vou dormir, sua chata. - Ele resmungou debaixo das cobertas.
– Mas você precisa dormir!
– Então me faça dormir. Eu simplesmente não consigo.
Eu fiquei quieta alguns segundos para pensar.
– Você quer que eu te coloque para dormir do tipo, mamãe e filhinho? - Disse com um tom engraçado.
Tom bufou, tirou o edredom da cabeça e disse:
– Vem aqui. - E deu um tapinha na cama, gesticulando para que eu me senta-se.
Eu caminhei hesitante até a cama do garoto, e quando estava próximo, ele me puxou pelo braço e eu caí na cama.
– Faça qualquer coisa, converse me pergunte algo, se quiser dormir também vale.
Eu me ajeitei desconfortável ao lado de Tom.
– Chel me disse que você esteve do meu lado quando eu desmaiei.
– E?
– Eu quero saber por quê.
Tom ficou quieto por alguns longos segundos e eu comecei a achar que ele não iria me responder, quando ele disse:
– Você não me odeia, não é? E foi carinhosa com o Bill, poderia ser comigo também. Eu já notei que você não tem recaídas, então comecei a levantar a bandeira branca primeiro.
Eu tive vontade de rir.
– Ah, Kaulitz, você não serve para isso. Você é um chato de qualquer forma.
Ele bufou percebendo que eu sou irritante mesmo.
– E por que você brigou com Jost sabendo que estava errado?
– Eu só estava chateado por você ter tido uma reação alérgica. Me senti culpado por você está lá e me lembrou de uma vez que eu dei maçã para o Bill. Ele comeu e foi parar no hospital.
– Não é sua culpa se eu comi camarão nem se eu estava lá no estúdio. - Eu tive pena do Tom.
– Mas se eu não estivesse paquerando a ruivinha, você não teria uma crise de ciúme e não teria entrado no estúdio sem o Bill e a Chel ficaria de olho em você.
Eu me irritei. Me levantei na cama indo em direção a porta.
– Ok, esquece a parte do ciúme, vamos fingir que você não teve essa crise. - Ele falou calmo como se soubesse de que se falasse daquela forma, eu iria voltar.
– Eu não tenho ciúmes de você, Kaulitz.
– Sabia que existe outro Kaulitz na casa, Schäfer? - Ele continuava calmo demais.
– Sabia que existe outro Schäfer na casa, Tom kaulitz? - Eu retruquei.
– Então agora você me chama de Tom e eu te chamo de Benjamin.
– Você gravou meus nomes? - Eu falei alto demais e ele sussurrou "Shiu".
Ele não me respondeu. Quando eu me aproximei da cama, Tom tinha os olhos fechados então eu notei que nas últimas frases ele andava sussurrando. Ele estava dormindo.
Os olhos delicadamente fechados, suas expressões relaxadas, os dreads soltos caiam em volta de seu rosto. Tom parecia um anjo de olhos fechados.
Eu voltei em passos leves e fechei a porta do quarto de Tom sem fazer barulho. Assim que me virei, Chel me encarava no escuro de braços cruzados.
– Se você não for para a cama em cinco segundos, eu conto o que eu vi para o Gustav.
– C-como?
– UM.
Eu entrei no meu quarto e me joguei na cama rindo.
– O que você estava fazendo no quarto do Tom? - Chel perguntou com um sorriso pervertido no rosto fechando a porta do quarto.
– Ele me levou para lá - Isso só aumentou o sorriso dela - Quero dizer, você sabe, Tom não anda dormindo, e ele me pediu para que eu ficasse lá conversando com ele, até que ele dormisse novamente.
– Hm, é que eu preciso de um relatório completo para o Gustav amanhã.
Eu apontei o dedo para ela.
– Se você contar, eu vou embora da Alemanha!
Seu sorriso diminuiu. Ela se deitou na cama improvisada ao lado da minha e tirou debaixo do travesseiro meu notebook.
– Ei, o que você está fazendo? - Perguntei.
– Lendo seus relatos sobre o Tokio Hotel, sabe. Eu quero saber mais sobre o Bill... E a banda, claro.
– Mas tem senha!
– É Tom Kaulitz, foi fácil. - Ela riu - Gostei do seu wallpaper. Se Tom visse a foto dele sem camisa aqui, ele te mata.
Meu celular fez barulho de tirar foto. Chel se assustou e olhou para mim séria.
– E o que Bill faria se visse sua foto olhando para as fotos dele no notebook? - Eu mostrei a foto e ela fechou as páginas desligando o notebook de cara amarrada.
– Você é uma ótima negociadora, minha Jus. - Ela apagou a luz e eu fechei os olhos para alcançar o sono.

Postado por: Grasiele

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