sexta-feira, 13 de abril de 2012

By Your Side - Capítulo 3 - Onde minhas conversas podem me levar

Eu acordei com a maior preguiça, naquela manhã. Devia ser umas dez horas quando levantei, e sem nem mesmo tomei um banho frio – como eu sempre fazia. Vegetei pelo corredor enquanto fazia um rabo de cavalo no cabelo, e quando eu menos esperava, esbarrei com alguém no corredor. De início, não sabia quem era, devo ter esquecido minhas lentes de contado.
Então os pedacinhos foram se juntando até formar a imagem de um garoto obviamente maior do que eu, com o cabelo preto amassadinho e a carinha delicada de um japonês.
– Oi… – O garoto fez uma cara estranha para mim e eu me lembrei de falar em alemão. – Hallo, Tom.
Isso era realmente chato, mas com o tempo eu me acostumo. Para minha surpresa, não era o Tom.
– Julia, não está me reconhecendo? – Eu ouvi uma risadinha baixa – Sou o Bill.
– Ahn, aquele lance dos gêmeos. – Eu senti vontade de bater com a cabeça na parede até me perdoar por errar o nome dele! Como eu fui capaz?
– Bom dia, Bill.
– Você parece mal. O que foi? – Bill perguntou.
– Sinto dor de cabeça. Deve ter sido as horas de viagem, me afetaram.
Enquanto eu e Bill conversávamos, íamos caminhando para a cozinha juntos. Quando me dei conta, perdi a fala por alguns segundos. Eu nunca havia me imaginado pela manhã ao lado do Bill, não assim, os dois despenteados e muito casuais.
– Você não falou muito ontem, como foi a viagem?
– Foi turbulenta depois que atravessamos o oceano. Lá no Brasil estamos no verão e foi até difícil achar roupa de inverno para vir. Eu troquei de roupa no avião várias vezes. – Respondi com sinceridade.
– Você vai ficar pelo ano todo? – Ele sorriu como se me convidasse a ficar, mas eu não consegui ver isso direito.
– Bem, não – Ele tirou o sorriso do rosto rapidamente e eu ri – Só por um mês mesmo. Mas-
– Se o problema for a escola, eu ouvi dizer que você estudava em uma escola alemã no Brasil, então nem vai ser muito complicado…
– Bill… – Eu disse. Ou tentei dizer.
–… Podemos te ajudar a ver uma escola aqui por Magdeburgo, e pode ser até legal, como se fosse um intercambio…
– Bill.
–… E se sentir falta dos seus pais, levamos você lá e depois você pode voltar, mas não se preocupe porque qualquer probleminha pode ser resolvido…
– Bill Kaulitz! – Eu quase gritei. Mas então ele me ouviu. – Escuta-te, eu vim para a Alemanha só para passar um pouco das férias com minha melhor amiga. Ficar com Gustav e vocês foi só um bônus. Não que eu não esteja me divertindo, quero dizer acabei de chegar, mas ainda não sei o que vai acontecer.
Bill já estava fazendo dois copos de achocolatado para nós e não parecia mais querer falar. Eu sorri para meu vocalista favorito e ele tentou retribuir.
– Eu nunca conhecia ninguém que falasse mais que você, cara. – Então ele riu. Sua risada era tão harmoniosa e o sorriso deixava seu rostinho japonês a coisa mais fofa.
Trocamos de assunto algumas vezes e depois do achocolatado nos sentamos no sofá para ver uma série de TV. Em pouco tempo Gustav e Georg também acordaram e se juntaram a nós. Foi estranho estar no meio dos garotos.
Até chegar o Tom.
– Finalmente sábado! – Gritou Tom. Ele andou em passos largos pela sala, descalço com uma calça mais larga que o corpo e uma blusa branca um pouco mais justa.
– Escandaloso. – Eu resmunguei esperando que ele ouvisse.
– Chegou ontem á noite e já veio cheia de frescura? – Ele se sentou na bancada e eu tentei não sorrir. Ver Tom de pijama era engraçado.
– Eu só comentei – respondi com um pouco de ironia.
Tom me encarou, mas não foi como antes. Dessa vez eu pude provar um pouco do veneno que eu lia nas fanfics da internet. Ele começou a mexer no piercing com a língua. Era hipnotizante o movimento que ele fazia no piercing. Pisquei e virei o rosto, tentando disfarçar. Parecia que ninguém estava vendo isso.
O clima ficou estranho entre mim e Tom. Eu tentei o ignorar, mas ele é Tom Kaulitz. Coloquei meus fones de ouvido e fiquei no canto do sofá ouvindo musica enquanto os garotos conversavam. Meus olhos atravessavam todos eles de segundo em segundo.
As musicas passavam, até então, eram musicas comuns, até entrar automaticamente naquela playlist. Eu li no visor do meu mp3 “Übers Ende der Welt” era atualmente a mais nova musica deles. Eu arregalei os olhos e abaixei o volume.
– Tudo bem, Jus? – Olhei para os lados em pânico, eu poderia dizer, mas era só Gustav se preocupando comigo. Eu devo ter feito uma cara bem feia.
– Aham, é só uma musica que eu gosto bastante.
– É do Tokio Hotel? – Bill não queria uma resposta. No momento eu fiquei sem fala, até entender que era apenas uma piada e todos estavam rindo.
Depois de algum tempo, não imagino quanto, a campainha tocou. Os meninos estavam todos sentados no chão, Bill rabiscava em um bloco de papel, Tom tocava um violão enquanto Georg comentava sobre as notas, e Gustav estava vendo televisão. Eu imaginei que eles não iriam abrir a porta, e fui eu mesma atender.
Era David Jost, novamente, mas ele não carregava uma caixa de pizza. Ele sorriu e entrou sem fazer barulho, mas os garotos o notaram quando ele chegou à sala.
– Hey, Jost! – Georg acenou e os outros garotos resmungaram algo para David.
– Qual a programação para hoje? – Bill perguntou.
Eu voltei ao sofá e assisti aos garotos.
– Novidades, hoje vai ser um dia calmo – todos os garotos sorriram – mas tem coisa para fazer. Bill, o mixer não gostou da sua voz em An Deiner Seite. Você vai voltar para regravar. Os Gs têm uma entrevista por telefone para aquela revista adolescente e… Tom, você sabe arrumar a casa?
Tom respondeu David com uma expressão interrogatória.
– Então você é o único que não tem nada para fazer hoje.
Tom sorriu e continuou tocando no violão enquanto os outros se levantavam, mas Gustav foi até Jost de cara feia.
– E ele vai ficar em casa? – Gustav perguntou.
– Sim, por quê?
– Jost, você está louco?! Minha prima vai ficar em casa! Você não pensa nas besteiras que o Tom pode fazer sozinho?
Eu tampei a boca tentando não rir.
– Gus, sua prima é madura demais para cair nas palhaçadas do Tom. Relaxa vocês nem vão demorar muito.
– Você ouviu Gus – Tom se aproximou dos dois segurando o violão e repetiu: - sua prima é madura demais.
Nesse momento, Bill tirou do meu ouvido um fone querendo chamar minha atenção. Eu sorri em resposta.
– Quer me ajudar a escolher uma roupa? – Ele perguntou.
– Mas você só vai regravar uma musica!
– Mesmo assim! Eu vou sair de casa, os fotógrafos vão me perseguir e eu não vou de pijamas.
Sorrimos, e eu o segui até seu quarto no outro corredor. Eu não pude descrever o quarto do Bill. Era simplesmente mais do que perfeito. O meu quarto era o feminino do quarto do Bill. Eu entrei devagar, Bill deu uma palmadinha na cama como se me chamasse para me sentar, e foi o que eu fiz.
Bill tinha um closet. Ele entrou e saiu em poucos segundos depois com alguns cabides cheios de roupas e colocou tudo em cima da cama.
– Eu vou deixar que você escolha. Mas espera você que ainda tem mais! – Ele adentrou novamente o closet.
Bill tinha muitas roupas, e todas muito perfeitas, mas eu acabei por escolher algo mais comum e que tivesse contraste com o cabelo dele. Enquanto eu separava os acessórios ele estava no banheiro arrumando os fios de leãozinho. Escolhi uma blusa branca com alguma coisa escrita em cinza, um jeans azul claro, tênis preto, sua tradicional gargantilha, alguns anéis e uma luva preta de couro que iria combinar com a unha do Bill.
Meia hora depois, Bill estava pronto com uma jaqueta de couro por cima, junto com Gustav e Georg descendo pelo elevador para sair com Jost.
Fechei a porta e me virei. Tom estava sentado no sofá comendo um pacote de biscoito com o violão do lado.

Tom ficou o resto da manhã na sala, ás vezes tocando violão, ás vezes rindo das bobagens que passava na televisão. Eu fiquei no meu quarto com a porta trancada ouvindo musica, escrevendo no meu fichário e ouvindo as gargalhadas de Tom.
– Schäfer! – Eu o ouvi gritar da sala.
– Oi? – Respondi ao passar pelo corredor e encarei Tom na porta.
– Eu estou com fome, vou pedir comida. Italiana ou McDonald’s?
– Grande surpresa você estar com fome, não é mais fácil preparar uma comida rápida na cozinha?
Tom fez uma careta.
– Não, é mais fácil pedir comida. Esqueci que para você pode ser papinha. – Ele disse agora sem olhar para mim com um tom de deboche.
– Tom, eu não estou entendendo! – Falei um pouco mais alto.
– É claro que não, você é um bebê-
– Não! Presta atenção: Eu não sou um bebê, e você está vendo isso. Não sei o que eu fiz para você me tratar assim.
– Estou te tratando como uma estranha, ou melhor, como trato meus primos de três anos de idade. – Ele se levantou do sofá e ficou de frente para mim.
– Que eu sou uma estranha, eu sei! Mas precisa me tratar como um bebê? Por que está fazendo isso? Você me acha uma intrusa, é isso? Ou eu sou um alienígena, porque uma criança eu não sou mais! – Eu tentei manter a calma, mas tinha vontade de gritar com o Tom agora.
O pior era que sempre que eu brigo com alguém, começo a chorar. Já podia sentir as lágrimas.
– Eu não penso nada disso – Ele disse calmamente.
– Então, por favor, me fala o que eu fiz de errado!
– Você não fez nada de errado, Schäfer – ele falou virando para a televisão.
– QUAL É O TEU PROBLEMA? – Eu gritei.
Eu nunca tinha visto em nenhum lugar da internet o Kaulitz gritando, não quando ele estava realmente com raiva. Foi a primeira vez.
– QUAL O TEU PROBLEMA, SCHÄFER! – Ele passou a mão pelos dreads e deu um passo para trás – Você se faz de boazinha, é simpática com todos os garotos e aí eu vou ao seu quarto e você faz aquilo… Ah deixa pra lá!
– Eu não sei do que você está falando, o que eu fiz? – Eu falei entre os dentes. - Continua o que você estava falando, Kaulitz.
– Você sabe bem o que fez, ou melhor, escreveu.
Então a conversa com Chelsea voltou em mente. Eu me distraí por segundos repassando a conversa na minha cabeça. “ICH HASSE TOM”
– Cara, você leu aquilo? – Eu ri – Era brincadeira, Tom.
Ele me encarou sem expressão.
– Odiar alguém não é brincadeira. Eu pensei que você fosse legal, mas não me conhece o suficiente para me odiar. – Ele falou de uma forma tão diferente, parecido demais com o Bill.
– Não foi minha intenção escrever aquilo…
– MAS ESCREVEU!
– Mas era brincadeira! Você é tão cego que nem notou que todo o resto estava em português? Não achou estranho?
– Sei lá, você é maluca. Quer saber, para mim chega. Eu não ligo.
– Tom, duas coisas: você leu as minhas mensagens, já começou errando. E está me julgando sem entender todo o contexto da conversa.
– VOCÊ ME JULGOU PRIMEIRO!
– OLHA COMO FALA COMIGO, KAULITZ!
– Eu falo da forma que eu quiser, estou na minha casa! - Ele disse, se aproximando, eu não sei explicar o porquê de o fato de ler que eu o odeio tenha mexido tanto assim com ele.
Golpe baixo. Eu deixei minha lágrima escorrer e ele notou.
– Você está certo, Kaulitz. Desculpe-me por gritar, e, por favor, esquece o que você leu. Não foi minha intenção escrever aquilo.
Aquela frase “… estou na minha casa” tinha me deixado mal. Eu me encolhi e deixei que mais algumas lágrimas escorressem. Em menos de um dia na casa de Gustav, eu já tinha vontade de voltar para o Brasil e nunca mais ouvir falar de Tom Kaulitz.
Tom ficou sem reação por alguns segundos. Ele só me olhava sem expressar emoção, e eu não esperava que ele me abraçasse. Agora eu fiquei sem reação, enquanto ele acariciava um pouco meus fios de cabelo, eu não me movi, não correspondi ao abraço. Simplesmente esperava.
– Eu não devia ter gritado, não faz nem 24 horas que a gente se conhece, não podemos começar uma “relação” assim. E eu acredito em você, se você diz que era só uma brincadeira, tudo bem. – Ele sussurrou.
– Sério? – Eu sussurrei de volta um pouco tonta com o perfume diferente do Tom.
– Ja, você me odiasse não estaria aqui se derretendo toda por um simples abraço meu – ele diz em um misto de brincadeira e provocação.
Fora a gota d’água. Eu o empurrei ele bateu com as costas na parede. Sua reação foi engraçada, ele gemeu de dor enquanto sorria para mim.
– Você é um idiota, Kaulitz! – Eu me virei de volta para meu quarto batendo os pés.
– Também te adoro!
– Vai pro inferno! – Eu fechei a porta.
– A propósito, vou pedir no McDonald’s.

– Como eu pude ser fã, ou melhor, adorar um babaca desse tipo? Diz-me, Chel! – Eu estava no telefone com Chelsea, no meu quarto, falando em português. – Retardado! Quem ele pensa que é? Só porque é famoso, lindo, sabe mexer com o piercing, tem um sorriso incrível e fama de mulherengo, acha que pode fazer isso? Derretendo-me por um abraço! Ele deve ser louco, sim. Nem me conhece e já é cínico dessa forma.
Chel riu e murmurou em alemão “Ich kenne”.
– Você não sabe de nada, Chel! – Eu disse.
Eu sabia que você iria parar de gostar deles assim tão rápido.
– Chel, eu chorei na frente dele! Eu não choro na frente de ninguém, ele vai achar que eu sou uma anta chorona.
– Jus! Ele é um garoto, tem uma mente reduzida. Pára de se lamentar.
Nesse momento, eu ouvi Tom me chamar da sala. “A comida chegou, eu pedi um cheddar para você.”
– Ah! Chelsea, a comida chegou. Que droga! Se eu não estivesse com fome, ficaria aqui trancada. Até mais.
Ela desligou o telefone e eu coloquei os fones de ouvido sem nenhuma musica tocando e voltei à sala. Em cima da bancada estavam os pacotes com o logo do McDonald’s, e Tom estava sentado na cadeira da bancada com uma metade de um hambúrguer nas mãos.
Fingi estar mexendo no mp3 enquanto tirava a cebola do cheddar, me sentei duas cadeiras depois do Tom.
– Falando sozinha em outra língua? – Ele comentou e eu o ignorei – O Bill faz isso ás vezes, mas em inglês.
O saquinho de ketchup estava difícil de abrir. Eu puxei com o dente até deixar uma marca, então tentei abrir com a mão, mas estava escorregando.
– Quer que eu abra, pequena? – Ele perguntou normalmente, mas eu não gostei do apelido novo.
– Você é maluco? A gente nem se conhece direito, mas isso não impediu que nós tivéssemos um super briga, daí agora você vem e finge que nada aconteceu e que somos amiguinhos? – Eu disse.
– Você pediu para eu esquecer o motivo, e eu esqueci a briga, agora, pequena, se você não me deixar abrir esse ketchup ele vai acabar-
– Pára de me chamar de pequena! – Eu quase gritei, mas logo comecei a rir descontroladamente.
Tinha feito muita força para abrir o saquinho de ketchup e ele acabou explodindo, o melhor foi que caiu tudo no rosto do Tom. Eu ri da cara dele cheia de ketchup, e não percebi direito quando ele se levantou rapidamente, passou pelas duas cadeiras, colocou as mãos, uma de cada lado da minha cadeira. Eu não soube explicar a mim mesma, mas a vontade de continuar ali era maior que a razão.
– Kaulitz?
Eu não pude completar meu pensamento, e Tom havia me dado um selinho, mas se afastou rapidamente. Eu tinha agora ketchup nos meus lábios.
– Estamos quites. – Tom pegou o seu hambúrguer e entrou no corredor provavelmente indo para seu quarto, e disse isso com um sorriso brincando com seus lábios.

Postado por: Grasiele

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