quarta-feira, 18 de abril de 2012

By Your Side - Capítulo 29 - Todos os movimentos certos

– Acho que você devia ligar para ele.
Olhei de canto de olho para a menina loira que estava sentada na minha penteadeira, pintando a ponta dos cabelos da pior cor possível, rosa. Tinha que ser Chelsea.
– Eu não. – Eu retruquei quase em silêncio enquanto escrevia besteiras no meu fichário.
Essas linhas de relâmpagos significam que nós nunca estamos sozinhos, nunca sozinhos. Então me dei conta de que estava escrevendo partes da música Acidentally In Love, que eu ouvia de fundo vindo do celular sem fone de Chelsea.
– Ele não vai te ligar, se é o que você está esperando. – O garoto de cabelos cacheados e castanhos que estava encostado à porta da varanda, disse um pouco mais alto – Ele sabe que você está chateada. Acho que você devia ligar para ele, como Chel.
– Não vou ligar, Derek, Chelsea. Ele está em uma entrevista!
E do nada eu me pergunto o que Derek está fazendo aqui, e volto a me responder que ele virou meu amigo do nada, tínhamos saído da escola e vindo direto para cá.
– Ainda não começou – Disse a loira com meu notebook nas pernas atualizando sem parar o site onde iria aparecer a entrevista dos meninos ao vivo. Chelsea havia se tornado uma fanática por Tokio Hotel depois de Bill, eu até me impressionava como ela conseguia esses sites antes de mim.
– Ok, calem suas bocas, eu vou ligar!
Peguei meu celular e disquei o número de Tom, qual eu já tinha gravado. O celular tocou algumas vezes e desligou. Abaixei o celular bufando.
– Viu? Está ocupado. – Revirei os olhos.
– Tenta de novo. – Chelsea insistiu.
Eu disquei novamente o número que demorou alguns toques até alguém finalmente atender, acontece que aquela voz não era do Tom. Nem dos garotos.
Alô? – A voz feminina insistiu quando eu não respondi de volta.
– Posso falar com Tom? – Eu perguntei, quase estourando de raiva.
Não está, quero dizer, está ocupado demais. Quem é?
– O que ele está fazendo? – Insisti.
Não importa, que enxerida! – A voz de Hilary latiu no telefone, demorou alguns segundos e uma exclamação passou pela linha, imaginei que agora ela sabia quem estava ligando. – Tooomi, telefone para você.
Não acredito que aquilo foi um apelido. Não acredito que ela, que Hilary atendeu ao telefone. Tom não deveria estar na cidade ao lado? Por que ela atendeu ao telefone dele? E que infernos ele estaria fazendo que eu não possa saber?
Eu consegui ouvir vozes gargalhando do outro lado do telefone. Prestei atenção na conversa tapando o outro ouvido.
– Que é isso, Hil? – Era a voz de Tom – Não quero atender ninguém agora, desligue.
Tem certeza Tomi? Acho que você vai querer atender?
Pare com esse apelido, Hil. Não! Desligue.
Ok, estressadinho, a noite inteira assim, precisa parar com isso. – E voltou–se ao telefone – Aqui, Julia, ele não quer te atender, então até mais.
E o telefone foi desligado. Senti alguma coisa quente escorrer pelo meu rosto, e fui me dar conta um tempo depois que eram lágrimas de raiva e eu continuava na mesma posição com o telefone no ouvido. Joguei o telefone longe e ele se despedaçou.
Derek passou por mim correndo e pegou o telefone do chão, enquanto eu fui abraçada por trás por Chelsea.
– O que houve? Jus? – Ela sussurrou.
– Ela atendeu ao telefone dele, Chel. Ela está lá. Com ele, droga.
– Ela quem? – Derek perguntou, colocando dentro do meu bolso alguma coisa do celular que mais tarde eu descobri que era o chip, a única parte salva do celular.
– Longa história, sente aí e vamos conversar.
Eu não quis me sentar. Me virei para o espelho e limpei as lágrimas. Abri o fichário e peguei algumas fotos deslocadas de Tom lá dentro, joguei dentro da mesinha de cabeceira e fechei com a chave que tinha lá. Fui até a varanda e me apoiei.
Chelsea e Derek não iriam me seguir, eles estavam conversando e Chelsea sabia bem que eu não queria ouvir ninguém agora. Lá embaixo, vi meu pai Wulf cortando a grama, ele olhou para cima e acenou para mim, eu acenei de volta.
– Tudo bem, minha pequena?
Virei o rosto ao ouvir o apelido, mas acenei que estava tudo bem para ele, que voltou a cortar grama.
Agora no celular de Chelsea passava a música Boulevard Of Broken Dreams, do Green Day. Grande trilha sonora que gostava de implicar com as situações da minha estranha vidinha.
A tela do notebook mostrava uma contagem regressiva de dez segundos para a entrevista ser aberta na página da rádio. Enquanto Chelsea pulava para o banco para assistir a entrevista, eu puxei meu casaco mais confortável e as pontas – agora cor de rosa – do cabelo da menina para longe do banco.
– Eu quero tomar um cappuccino! – Avisei, indo em direção ao quarto enquanto ela gritava de dor com o cabelo loiro sendo puxado, Derek não reclamou e veio junto comigo.
– JUS! A entrevista vai começar, poxa! – Chel gritou.
– Princesa, você não ouviu? EU QUERO TOMAR CAPPUCCINO!
– A próxima loja de cappuccino é a quatro quarteirões daqui, é quase no centro. – Derek informou olhando para mim, eu lancei um olhar de informação para ele e ele entendeu que eu queria ficar bem longe da entrevista – Ahh.
– Vamos, Chelsea.
E a garota foi puxada junto comigo para longe do quarto, fechando a tela do notebook. E assim, saímos de casa quase correndo, pois meus passos eram rápidos, mas não grandes por causa das minhas pernas curtas.
Em minutos, chegamos na Starbucks mais próxima e eu escolhi uma mesa bem embaixo da televisão com o intuito que o volume alto que fizesse esquecer o que se passava.
Sentia uma sensação de enjôo, naqueles momentos que uma coisa horrível acontece e você só precisa esquecer e tentar não pensar naquela coisa, mas ela sempre volta para sua cabeça, revirando seu estômago. Eu nem estava com vontade de tomar cappuccino, mas eu queria sair de casa, apenas. A sensação que eu sentia era como se tivesse pedido a uma amiga não muito próxima que pergunte à um garoto se ele gosta de mim, então ela volta com a noticia de que ele não gosta, e você sorri. Por quê? Porque você não quer mostrar a ela que você está acabada. Era quase isso, só que pior.
A garçonete chegou à nossa mesa para atender–nos e Derek fez os pedidos, pedindo também um pedaço de torta de morango para cada um, o que me fez esboçar uma careta para os dois. Poucos minutos depois os pedidos chegaram e Chelsea – que parecia se contorcer olhando para a televisão – disse:
– Poderia mudar de canal, por favor? – Disse a princesa para a atendente.
– Claro, algum específico?
– O canal que transmite aquelas entrevistas da rádio AllStars.
O canal foi mudado, e antes que eu me desse conta do significado daquele pedido, a televisão já transmitia a imagem de um Georg Listing com um microfone na mão, dizendo alguma coisa que eu me esforcei para entender.
... Não precisamos de muito mais do que nós mesmos, mas eu traria comigo nessa turnê a minha namorada. – Deu de ombros e ouvi risadas conhecidas quando a câmera se afastou dele e mirou em cada menino.
Tom, você está calado hoje – A entrevistadora que usava um vestido preto e muito curto disse ao Kaulitz – Como acha que vai ser a turnê? Cheia de fãs como todas as outras?
Risos pervertidos dentro e fora da televisão, porque Chelsea e Derek estavam prestando atenção. Eu bati a testa na mesa de propósito sem despertar atenção.
Hm, movimentada. – Apenas disse, e os meninos riram – Acho que vai ser um pouco desconfortável para mim, dessa vez, e não cheia de fãs. – Uma pausa para um sorrisinho sexy que ele esboçou – Eu posso dizer que estou comprometido, então as fãs que fiquem com os outros aí.
Na mesma hora, Bill, Georg e Gustav negaram e Chelsea parecia que estava prestes a soltar fumaça pelo nariz e orelhas.
Quero dizer, não vai ter meninos do Tokio Hotel disponíveis nessa turnê. – Bill gargalhou, tomando o microfone das mãos de Tom – Todos estamos comprometidos.
Hmm, aquele momento em que suas expectativas baixam até zero por saber que os quatro meninos mais queridos da Alemanha estão comprometidos! – A entrevistadora fez uma pausa dramática e os dois babacas ao meu lado riram.
Cinco minutos depois a entrevista acabou e eu dei graças aos Céus por ter acabado logo e não precisar ouvir nem ver a voz do Tom novamente naquele dia. Eu fui a primeira a sair do Starbucks e fiquei esperando os outros no meio–fio da calçada.
Do outro lado tinha um Pet Shop e eu vi um buldogue na vitrine, bem pequenininho rapando a patinha no vidro. Coloquei o primeiro pé na rua e avancei alguns passos, alguém me chamou atrás de mim, mas eu estava tão distraída com o buldogue que nem ouvi direito. Balançando a cabeça, de um lado da rua, uma caminhonete grande e preta e brilhante que via em velocidade média para uma rua como aquela de Magdeburg, mas era alta o suficiente para me atropelar.
Tentei correr, mas a caminhonete já estava perto demais e fui pega por ela pela minha lateral esquerda. O choque se instalou quase no mesmo instante e eu fui atirada para o outro lado da rua, na calçada. Caí sentada, mas me deitei por causa da dor horrível que parecia corroer–me até os ossos.
– JULIA!
Ouvi a voz de Chelsea e Derek misturadas. Uma buzina soou muito alto perto de mim, portas de carros sendo abertas e fechadas e o barulho começou a se formar em minha volta, eu não ousei a abrir os olhos até que mãos seguraram a minha. Conhecia aquele rosto.
– Julia... Meu Deus! Tom vai me matar! – David Jost disse alto – Você está bem? Consegue me ouvir direito? Posso ligar para a emergência!
– Não, Jost. – Minha voz saiu arrastada – Não liga, não.
– Jus!
Chelsea e Derek abriram espaço e se aproximaram de mim rapidamente me enchendo de perguntas que foram abafadas pela voz de Jost.
– ESTÁ TUDO BEM AQUI, PODEM SAIR! – Jost gritou para as pessoas que se aproximava de mim – Me desculpe, Julia, você atravessou tão de repente e eu não pude frear!
– A caminhonete é sua? Ah, que seja. Eu quero ir para casa.
Tentei me levantar, mas a dor era massacrante. Me apoiei nos cotovelos forçando a dor passar na lateral do meu corpo.
– Julia, precisamos levar você ao hospital mais próximo!
– Não! – Eu quase gritei e com a ajuda de Jost, me levantei.
– Então pelo menos te levarei para casa! Não posso te deixar aqui depois de ter te atropelado. Não aceito não como resposta.
Balancei a cabeça, afirmando o pedido e fui levada no colo para o banco do passageiro de Jost, Chelsea e Derek sentaram–se no banco de trás.
– Você... Você não está com os meninos. – Eu afirmei e David sorriu.
– Mandei minha assistente com eles. – Respondeu a pergunta oculta nas minhas palavras. Jost pegou seu telefone e discou alguns números, logo depois começou a falar – Hey! Nada fora do normal, só liguei para perguntar se você me mataria se eu dissesse que atropelei Julia Schäfer?
Um silêncio se instalou, mas eu ouvi do telefone de Jost, alguma voz grossa gritar “GUSTAV” e logo depois um grito agudo vindo do meu primo. Jost afastou o telefone do rosto e gargalhou.
– Ela está bem! Estou levando a garota para casa agora, como foi a entrevista?
E a conversa seguiu no telefone, logo depois eu dei o meu endereço e fui deixada em casa com Chelsea e Derek.
– Obrigada pela carona, Jost. – Eu agradeci enquanto o abraçava.
– Menina, mesmo estando muito atrasado, eu não te deixaria lá senão os meninos iriam me castrar. – Nós rimos, David se despediu e foi embora.
Minutos depois de se certificarem que eu estava bem, Chelsea e Derek também foram embora e eu fui deixava na cozinha enquanto mamãe fazia o lanche da tarde e papai escolhia uma música para colocar no rádio.
O mais interessante da tarde foi quando Wulf me chamou para dançar a música Secrets do OneRepublic. Como o começo era lento, nos balançávamos lentamente pela sala de forma atrapalhada e engraçada como meu pai tinha quase dois metros como o Bill Kaulitz. Alexandra gargalhava na cozinha enquanto preparava a mesa.

(...)

O sinal do final das aulas do dia bateu e eu me levantei já com a mochila arrumada, junto com Derek e Chelsea ao meu lado. Apesar da minha pressa, passar pela porta da frente foi um sufoco pelos alunos apressados pelo fim de semana, então fui uma das últimas andando pelo corredor quase deserto, duas meninas rockeiras andavam na nossa frente com um pequeno rádio nas mãos, em que ouviam alguma coisa de notícias.
– Viu? Ele está comprometido! Vadia deve ser a menina que está namorando ele. – A primeira disse rapidamente enquanto encostava mais seu ouvido ao rádio.
– Deve ser uma putinha. – Gargalhou – De qualquer forma, Tom deve ter logo se esquecido daquela... Brasileira, não é mesmo? Aquela estranha que ele levou de carro para fora da escola há um mês.
– Deve ter. Não me importa, eu quero o Tom livre.
– Ei! Você costumava preferir o Bill, eu que gosto do Tom!
– Uma coisa concordamos: Tokio Hotel é a melhor banda do mundo!
As duas pularam e soltaram gritinhos agudos enfiando o rádio dentro da bolsa da outra. A menina que disse que gostava do Tom foi quem guardou o rádio, sendo assim, virando–se de costas e me vendo atrás dela.
– Olha só, Jess, é a brasileirinha. – Gargalhou perversamente. – Aquela que o Tom esqueceu.
– Não liga para elas, Jus. – Chelsea sussurrou e tentou passar por elas, mas as criaturas barraram o caminho. Minha veia deveria pulsar de raiva agora. – São só duas crianças fãs dos meninos.
– Como eu? – Gritei para Chelsea.
Sim, eu gritei. Eu estava extremamente nervosa.
– Não, não, Jus! Vamos logo.
– Olha só, a outra brasileirinha quer sair daqui, porque as duas sabem que não tem chances nenhuma com os meninos do Tokio Hotel. – A primeira menina disse.
– Para sua informação, vadia, eu estou namorando o Bill Kaulitz, aquele que você costumava gostar. – Chelsea jogou na cara e eu puxei seu braço para alertá–la de que não podia ter dito isso. – Opa, falei.
Eu revirei os olhos.
– Conta outra, sendo assim eu sou a mulher maravilha. – A menina revirou os olhos e as duas começaram a rir. – Você pode se parecer com a loira do Bill, mas não é, Chelsea Hölt.
– Então aguardem pelas notícias, queridas. – Foi a vez de Chelsea revirar os olhos – E a Julia aqui é do Tom Kaulitz. Já notaram que ela é a prima do Gustav? Julia Benjamin Schä...
– CHEGA CHELSEA – Eu interrompi – Não precisa disso, ninguém precisa saber disso!
– Julia Schäfer? – A menina gargalhou – Eu duvido que você seja ela. De qualquer forma, querida, Tom esqueceu você. Ele está comprometido.
– Ele está comprometido com ela, não percebeu? – Chelsea abriu o bocão novamente.
– Cala a boca, Chel! Vamos sair logo daqui! – Eu ordenei e dessa vez, Chelsea concordou.
Passamos pelas meninas que gargalhavam de nós e eu tentava não ligar para isso, mesmo estando com muita raiva por tudo estar dando errado nos últimos três dias.
De repente, para acabar com a minha manhã, o porteiro apareceu naquele corredor e anunciou:
– Julia Benjamin Schäfer? Seu pai está te esperando no portão.
Eu balancei a cabeça e segui. Antes que pudesse avançar mais de cinco passos, senti que fui puxada pela mochila, me desequilibrei e caí no chão – logo em seguida fui acertada por um soco no rosto.
– VOCÊ É SCHÄFER! – A segunda menina gritou. – VADIA! O MEU TOM KAULITZ! VOCÊ O PEGOU!
Eu gritei em ajuda para Chelsea que empurrou a menina de perto de mim, mas logo também foi acertada por um tapa da primeira garota que gostava do Bill. Nunca imaginei que receberia um soco de uma fã do Tokio Hotel por ter relações com eles.
Deixei a mochila cair no chão e me levantei, usando minha força para empurrar a segunda menina no chão de forma que ela bateu a cabeça, ajudei Chelsea a se levantar e corremos daquele corredor, até a saída da escola, nós duas entramos no carro do meu pai.
– Meninas! Julia, por que seu nariz sangra? – Wulf perguntou.
Eu passei a mão pelo meu nariz, sangrava. Balancei a cabeça e ninguém fez mais perguntas como eu queria. Após deixar Chelsea em casa, eu entrei em silêncio, fechando a porta do quarto e indo tomar um banho.
Estava chorando. Batia a cabeça no box a todo momento por estar desconcentrada no banho, chorando.
Lavei o cabelo e saí do banho com ele pingando e traçando um caminho pelo meu quarto. Coloquei minhas peças de roupa lentamente, uma roupa extremamente comum para ficar em casa com a minha mania de usar um tênis que se molde ao meu pé e que não me faça cair da escada. Vesti um short jeans, uma blusa branca de alças quase transparente que deixava a sombra do meu sutiã aparecendo, o tênis all star verde e sujinho e peguei um suéter preto com um lobo branco desenhado, mas antes de vesti–lo a porta do meu quarto se abriu e mamãe avisou que iria sair para fazer compras junto com Wulf.
Até esqueci–me de vestir o suéter e fiquei passeando pelo quarto com meu fichário cheio de frases que quase todo dia eu escrevia alguma, vinda de uma música ou de algum poeta. Agora escrevia mais uma, da música All The Right Moves.
Todos os amigos certos em todos os lugares certos, então sim, nós seremos derrotados, eles têm todos os movimentos certos em todos os rostos certos, então sim, nós seremos derrotados.
Não havia sentido se uma pessoa normal lesse aquela frase, mas eu estava lendo ela como um passo de dança de uma festa fantasia em uma época medieval, onde todos têm seus pares certos e repetem o mesmo movimento correto na dança. Eu tenho uma imaginação fértil.
Ouvi a campainha tocar.


Nesse momento, me lembrei do suéter e coloquei–o em volta da minha cintura enquanto descia apressadamente as escada com nada além da música do OneRepublic na cabeça.
Caminhei pela sala, abaixei um segundo para pegar um controle jogado no chão e a campainha tocou novamente, eu gritei que já estava indo e paralisei depois de ouvir aquilo:
Lesada.
Girei a maçaneta lentamente e dei de cara com o menino maduro com as feições bem mais velhas do que eu havia conhecido, dreadlocks muito grandes precisando de um corte, roupas gordas e o passo de um pingüim. Mordi meu lábio com força para não chorar e observei que ele mirava minha boca, onde agora uma gota de sangue fresco escorria pelo canto da boca.
– Julia... – Ele começou – Sua boca está sangrando.
Ele colocou os dedos no meu queixo e aproximou sua boca, mas eu virei a cabeça, fechando os olhos.
– O que foi, minha pequena? Eu vim me despedir... Eu vou entrar em turnê hoje.
– Sei disso, pode ir.
Disse forçando que minha voz saísse mais confiante do que minha visão parecia frágil.
– O–o que foi? – Tom gaguejou pela dúvida, mas depois endureceu seu rosto – Benjamin, não é isso que está pensando!
– Você dormiu com aquela vagabunda? – Eu disse baixo.
Tom arregalou os olhos e mesmo que ele não tivesse dito nada, soube que era mentira o que eu estava pensando. Agradeci mentalmente, mas queria saber o que ela estava fazendo lá.
– Que?! Eu sabia que aquilo não iria dar certo! Benjamin, Hilary foi contratada para ser assistente de David! Não pense besteira, eu sabia que isso não iria dar certo...
– Ela te chamou de “Tomi” – Eu revirei os olhos com desdém.
– Não dormi com ela, Benjamin. – Tom disse – Será que posso pelo menos te dar um abraço?
Eu neguei rapidamente e ameacei a fechar a porta.
– Olha, não foi só isso, ela estava brincando e...
– Não foi só isso? Então teve mais? – Eu quase gritei. Coloquei uma mão na cintura e outra na testa, nervosa. Queria sumir, cavar um buraco e desaparecer. Eu tinha agora dois reluzentes chifres na minha cabeça. Corna, minha mente me castiga. – Suma, Kaulitz! Não quero te ver aqui! Cate sua bandinha e vá logo para sua turnê! Você é sujo, Kaulitz! Você não muda, só pensa na sua fama, seu grande ego e sua vidinha de astro onde tudo você ganha e nada conquista. Se quer a Hilary, VÁ EMBORA COM ELA, você não pode me ter enquanto a quiser!
– Benjamin, não faça isso comigo! – Seu olhar era desolado, ele parecia estar prestes a chorar – Por favor, você não está entendendo! Eu não vou conseguir ficar bem sem você! Eu não quero Hilary...
Foi o tempo que ele teve para falar enquanto eu respirava fundo. Olhei para trás de onde ele estava, um ônibus do Tokio Hotel estava parado em frente a minha casa, na porta, David balançava a cabeça com todos os meninos atrás, mas bem na frente, agachada, os cabelos castanhos claros da vadia da Hilary sorria perversamente para mim. Ela usava roupas como uma assistente de empresário, mas isso só me deixava mais irritada por ficar mais atraente para os meninos.
Não agüento mais olhar para sua cara, Tom Kaulitz!
Era verdade, obviamente, eu estava prestes a chorar, mas não deixaria que ele visse isso, por isso, bati a porta na sua cara e me virei correndo para a escada.
Ouvi–o bater na porta, já parecia começar a chorar também. Ao invés de subir as escadas, movi–me até sua lateral, onde uma portinha escondida pelo sofá ocultava um pequeno quarto com uma luz pendurada, debaixo da escada como naquele primeiro filme de Harry Potter.
Sentei–me no chão daquele quartinho com a luz acessa, ouvindo Tom bater na porta e segurando minha vontade de voltar lá.
Julia, eu sei que você não acredita, e sei que você não vai abrir a porta, mas também sei que você está aí. Não vou estar longe, ouviu?
Até que a voz de David o chamou e ele...
They've got all the right moves in all the right faces (Eles têm todos os movimentos certos em todos os rostos certos) So yeah, we're going down (Então, sim, nós seremos derrotados)
They said, everybody knows, everybody knows where we’re going (Eles disseram, todos sabem, todos sabem onde estamos indo) Yeah, we’re going down (Yeah, nós seremos derrotados)
Então Tom Kaulitz parou de bater na minha porta. Não bateu mais. Voltei a chorar.

Postado por: Grasiele

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