quarta-feira, 18 de abril de 2012

By Your Side - Capítulo 24 - Motivo maior

Ponto de vista - Listing
– Uma semana.
Coloquei o copo de volta à mesa de vidro com força fazendo um barulho alto suficiente para chamar atenção dos dois meninos no videogame. Eles me olharam assustados.
– Já faz mais de uma semana que ela não vem aqui! E o pior, a última palavra que ela me redirecionou foi um “tchau” quando ela desligou o telefone.
– Georg, o que deu em você? – Disse Bill.
– Vou te falar, cara. O estúpido do seu irmão fez mais uma vez Julia ficar longe de todos nós – Eu apontei para Tom do outro lado do sofá olhando para a janela.
Ele se virou com o rosto contorcido.
– Não foi minha culpa, droga.
– Não, mas foi culpa da sua ex.
– Eu já falei que não era de verdade! Mas que saco! – Tom xingou.
– Dane-se. Ela enganou a Julia. E você consegue enxergar algum pontinho de cabelos pretos pela casa? Não, porque ela pediu para ficar longe do resto da sua vida, ou seja, nós também – Eu bufei.
– Eu não agüento ouvir você falando como se gostasse mais dela do que eu – Tom começou a gritar.
– Mas parece que eu gosto! Não fui eu quem a deixou ir embora, pela segunda vez.
Tom já sabia da minha paixonite por Julia desde que ela foi embora e não voltou mais, só que falar isso assim tão soou até assustador.
– Ela é minha – O Kaulitz falou de forma sinistra.
– Sua aonde? – Gustav riu – Ela não é sua, Tom.
– Gente, a Julia está bem para quem quiser saber – Bill se manifestou – Ela está na casa dela e vai para escola com Chelsea todo dia.
– Eu sei onde ela está – Tom resmungou.
– E por que não vai falar com ela? – Eu questionei – Motivo que não falta.
– Está faltando coragem e um motivo maior.
Eu já estava pronto para respondê-lo novamente quando a porta se abriu e David entrou sorrindo com vários panfletos nas mãos abanando o rosto.
– Novidade, meninos! Ele disse.
Todos olharam para a cara dele.
– Que caras são essas? Eu disse “novidade”! Estava pensando que não poderia deixar o Tokio Hotel sem notícias por tanto tempo, e agora que o Tom já melhorou bastante, resolvi fazer uma festa.
– Comemorando o que? – Gustav disse.
– Nada. Essa é a graça. É uma festa para as fãs, com boate, pista de dança e direito a bebidas alcoólicas. As representantes dos maiores fã-clubes vão estar lá, fotógrafos e muita publicidade. Vocês vão se divertir a noite inteira e o DJ ao favor das meninas histéricas.
Ele balançou os panfletos com alegria e viu que todos ainda mantinham a mesma cara de tédio.
– O que eu preciso fazer para vocês pularem de alegria e cantarem schrei ou qualquer coisa do tipo? É uma festa! Vocês costumavam adorar festas.
– Estamos no meio de um conflito interno – Bill respondeu – Basicamente entre Georg, Tom e uma seta para Gustav. Mas eu gostei de idéia.
David revirou os olhos e se jogou no sofá.
– O que é agora? Por favor, que isso não leve a depressão de vocês.
– Não, não – Eu disse – É mais sobre Tom e a Julia. Ela não voltou mais aqui, está chateada com ele. E com a vida dele, incluindo o resto de nós.
– A Julia de novo? Cara, o que ta faltando?
– Já disse. Coragem e um motivo maior para falar com ela.
David de repente abriu um sorriso muito grande no rosto que chegou a espantar. Eu troquei olhares com os outros meninos quando Jost deu um panfleto para Tom, ele leu e depois sorriu.
– Não sei o que seria de nós sem você, Jost – Tom bateu nas costas do empresário, pegou a chave do carro e saiu pela porta.
– Provavelmente uma banda conhecida nacionalmente, e não mundialmente. Mas eu acho que isso foi outra aprovação para a festa. Mais alguém gostou da idéia? – David perguntou.
– Esse panfleto vai trazer Julia de volta? – Gustav disse.
– O panfleto não, mas o que Tom foi fazer.
– De qualquer forma, eu gostei da idéia. – Eu disse.
– Eu também. Gustav falou.
– Então está combinado. Esse final de semana eu vou fechar a boate e contratar o pessoal para a festa das fãs – David deixou os panfletos em cima da mesa. – A festa vai lotar se não for controlada, então vou deixar umas carteirinhas com vocês para convidarem alguém de interesse pessoal, e sobre as fãs eu vou contatá-las pelo e-mail da universal music. Eu preciso ir, meninos. Até mais.
– Tchau Jost
– Tchau David.
Depois de um tempo lendo o panfleto e assistindo Bill e Gustav jogando videogame, eu resolvi sair de casa com meu carro e achar uma barraquinha de cachorros-quentes para jantar. Dirigi por um tempo até achar alguma em um bairro escondido dos fotógrafos e fui comprar um.
A barraquinha estaria vazia se não fosse pelo cozinheiro e uma menina que esperava atrás de mim. Eu reparei na garota, cabelos longos e castanhos que deixavam que leves ondulações naturais aparecessem à medida que se estendia até a cintura. Seus olhos verdes fitavam entediadamente a televisão muda e estava bem arrumada, era quase da minha altura e tinha curvas perfeitas delineadas pela calça jeans e a baby look. Era linda, até.
Trocamos olhares e eu sorri, mas ela desviou antes que notasse meu sorriso.
Eu peguei meu cachorro quente e voltei andando até o carro que estava estacionado um pouco longe e logo depois vi a castanha caminhando pelo canto da calçada. Ela parecia perdida e deduzi pela forma que olhava para as ruas com a cara estampada em dúvida. Eu resolvi me aproximar.
– Perdida? – Perguntei, ela deu um pulo como um susto e riu.
– Mais ou menos.
Deixou um sorriso escapar nos lábios.
– Quer ajuda?
– Na verdade, quero – Ela riu novamente. – Só que eu nem sei o nome da minha rua...
– Bem – Eu estava disposto até a largar meu carro e procurar a rua dela, era incrível o que a menina tinha feito comigo -, me diga um ponto de referencia e talvez eu possa te ajudar.
– É na rua de uma farmácia azul, e também tem um banco. O nome é parecido com o meu, Strauß.
– Ah claro – Eu me lembrei de uma rua parecida com aquele nome. Peguei o primeiro papel que achei no meu bolso, era o panfleto da festa – Tem uma caneta? Obrigado.
Rabisquei no papel os quadrados significando as ruas e os prédios.
– Straße Godric Stumm, aqui é a farmácia e esse é o banco. - Fiz mais uns rabiscos - Aqui é onde eu e você estamos.
– Nossa, obrigada! - Antes que ela guardasse o panfleto, eu escrevi um número no canto da folha. Meu telefone. Ela sorriu.
– Georg - Estendi a mão - Georg Listing.
– Anne Strauß. - Ela me cumprimentou - Eu sou nova aqui, na verdade. Estou totalmente perdida.
– Então, será que eu poderia te acompanhar até lá? Conheço um pouco da cidade.
– Claro. – Abriu mais um daqueles lindos sorrisos.
– Veio com a família?
– Não, não. Vim fazer um curso de fotografia. É um curso mais avançado do que tem na minha antiga cidade.
– E você veio sozinha e inconseqüente?
Nós rimos.
– Bem... É. Mas e você, mora aqui desde sempre?
– Não exatamente... – Eu olhei para os lados procurando algum fotógrafo escondido - É complicado. Foi mais fácil morar aqui porque é perto de onde eu trabalho. Divido o apartamento com meus amigos.
– Ahn, já trabalha? Você parece tão novo.
– Eu tenho dezenove – Eu ri - Vou fazer vinte. E você?
– Acabei de fazer vinte – Ela sorriu docemente - E você trabalha em que?
Fiquei meio hesitante, mas qual o problema em contar?
– Uma banda. - Anne me olha surpresa - Conhece Tokio Hotel?
– Hm... Espera, sim! Nossa, que sorte a minha - A garota gargalhou - Acabei de chegar e já encontro um astro do rock comprando cachorro quente.
– Ok, isso é segredo – Eu fiz um gesto de segredo colocando o indicador na frente dos lábios.
– Tudo bem, não vou contar para ninguém. Mas então, Georg Listing, você é o que? Cantor, baterista?
– Nah, baixista – Eu imitei um solo com um baixo imaginário fazendo a menina rir.
– E como é ser um astro?
– Nada comum – Eu me lembrei do panfleto e decidi que não gostaria de perder essa menina de vista.
E se pudesse, a deixaria presa a mim para sempre.
– Atrás do papel tem uma festa da banda que estamos organizando. Você gostaria de ir? Pode ser legal, se divertir um pouco e ficar com boa impressão da cidade.
Ela pegou o papel e leu o panfleto, me lançou um sorriso lindo.
– Acho que vai ser legal.
Caminhamos mais um pouco trocando idéias e ela escreveu o número dela na minha mão, chegou um ponto em que ela parou e ficou olhando em volta.
– Ah, aquele é meu prédio! – Ela apontou para um apartamento vermelho do outro lado da rua – Tchau, Georg. Foi um prazer te conhecer! Obrigada.
– Também foi um prazer, tchau Anne – Eu acenei enquanto ela atravessava a rua. – Ah, Anne!
Ela se virou.
– Oi?
Então fiquei sem fala. O que eu falo? Eu não tinha nada para falar. Droga. Eu só precisava encontrá-la mais uma vez para entregar um cartãozinho para ela ir à festa.
– Eu... Eu gosto de cachorros-quentes.
Eu falei mesmo isso? Ela começou a rir. Estava rindo da minha cara? Ela devia estar rindo da minha cara!
– Eu também! – Respondeu – Meu jantar é mais ou menos sete horas.
Eu pensei por um instante. Se houvesse outra barraquinha de cachorros quentes pelo bairro, eu mandaria destruir e acamparia ao lado daquela outra até que ela aparecesse às sete horas para jantar. Eu tinha um encontro marcado, certo? Sim, eu tinha. Acenei e ela entrou no prédio sorrindo.
Anne. Esse nome eu não esqueço.

[n/a: viu viu? A Anne apareceu!! Demorou bastante, mas apareceu!, pra quem não sabe, "n/a" é nota da autora ofshofs]

Ponto de vista - Kaulitz
O perfume de diversas fragrâncias que se misturavam no ar me deixava com uma sensação de “peso a menos” nas costas. Era relaxante me sentar em uma poltrona rosa e ver três lindas meninas usando vestidos curtos só para mim.
Lembrei-me que já não tenho mais essa vida de mulherengo. Eu estava compromissado a escolher um vestido para trazer minha pequena de volta.
E só de pensar no brilho dela, ofuscava todas as loiras alemãs que caminhavam por aí. Comecei a desconfiar que as brasileiras possam ser bruxas que enfeitiçam os homens internacionais.
Pedi para as três atendentes da loja, rodarem mais uma vez para eu analisar as costas de cada vestido que as fãs que gritavam do outro lado da vitrine, me ajudaram a escolher.
A loja teve de ser fechada para eu entrar. É claro que me estranharam entrando em uma loja de vestidos femininos, mas eu expliquei a ocasião e as atendentes concordaram em vestir os vestidos para eu escolher o melhor. Imaginava Julia em cada um deles.
Olhei para a rua, algumas fãs apontavam para as cores de suas roupas como se me dissessem que vestido escolher. Liguei para Bill, ele atendeu no segundo toque.
Fala.
– Qual você escolheria: branco, dourado ou vermelho? – Eu disse.
Vermelho. Não! Dourado. Espera, para quê?
– Precisa ter ocasião para escolher uma mísera cor? Eu conheço pessoas daltônicas.
Sim, precisa – e pessoas daltônicas enxergam as cores.
– Para a festa das fãs.
Qual é a peça de roupa? Camisa, jaqueta?
– É um vestido.
Bill deixou de falar por alguns segundos e voltou depois com uma voz incrédula:
Tom, você vai usar vestido?
– Não, não é para mim, seu tonto. – Eu esperei alguns segundos e ouvi seu “aah” como se tivesse acabado de entender.
Ok, me descreva os vestidos.
– O vermelho tem alças grossas, um cinto e um monte de quadradinhos vermelhos contornados por preto; o branco é cheio de babados e a atendente disse que os babados maiores atrás se chamam “cauda”; e o dourado é curto e brilhoso. Eu gosto do dourado.
Eu poderia receber um tapa na cara bem agora, mas Bill estava do outro lado do telefone, ele murmurou “babaca” para mim.
Acho que o da cauda é a melhor opção. Ela vai ficar chique.
– Eu pensei nisso...
Você pensou? Que novidade. Ei Georg, Tom andou pensando.
– Bill, cala a boca, me deixa terminar – Ele gargalhou – Eu pensei que ela ficaria linda, mas a festa não é para dançar? Aí a atendente pediu a ajuda da outra e dá para tirar a cauda e fica um vestido branco e curto normal tomara-que-caia.
Andou lendo sobre moda?
– Andei.
Certo, gostei da idéia. Compra esse.
– E os sapatos? Eu vi um tênis maneiro na loja ao lado, é rosa!
Eu receberia outro tapa na cara agora.
Tom! Um: Julia odeia rosa, e dois: compre um salto. Preciso desligar, Gustav acabou de pegar meu primeiro lugar.
– Tchau Bill – Desliguei o telefone – Eu vou levar o branco. E parece que preciso comprar um salto alto também.
A atendente mais gostosa me trouxe poucos minutos depois um salto bem fino, bege com alguns cadarços na frente. Paguei com meu próprio dinheiro e as meninas da loja também fizeram o favor de embrulhar direitinho.
– Antes de fechar, coloca isso dentro – Eu entreguei uma cartinha e o panfleto da festa.
Ok, se Julia gostava de agir por pedaços de papeis, eu entro na rodada dela, eu particularmente prefiro tudo cara a cara – e corpo a corpo se for a ocasião.
Saí da loja e entrei no carro depois de uma seção de autógrafos com algumas fãs. Eu estava sentindo uma estranha sensação na minha barriga, pensei em ligar para o Bill novamente, mas ele estaria tentando ganhar de Gustav no videogame nessa hora. Ou pelo menos nele eu apostava.


Dirigi sem chamar atenção até o bairro onde Julia morava e cheguei a casa dela em poucos minutos. Não parecia trancada, toquei a campainha e sua mãe, Sra Alexandra atendeu a porta.
– Olá Tom! – Alexandra sorriu, eu via Julia refletida naqueles traços.
Uma faísca de dor me atingiu. Eram só os restos de Julia.
– A Julia está?
Ela demorou um pouco para responder e depois começou a sussurrar:
– Ela me pediu para dizer que não caso você chegasse, mas eu não consigo entender por que ela anda tão mal ultimamente, então minha última opção é te perguntar o que houve.
Eu suspirei.
– Sra Benjamin, me desculpe se Julia está mal talvez seja por minha causa, quero dizer, eu mesmo não entendo. Mas estão todos com saudades e a última opção é que eu traga-a de volta. E é o que eu vim fazer!
– Acontece que Julia não quer te ver.
Isso machucou mais ainda. Ela não queria me ver.
Óbvio.
Mas eu a quero de volta. E eu consigo o que eu quero.
– Sra Benjamin, eu preciso vê-la de qualquer forma. – A mãe da Julia me olhou de forma suplicante, como se também quisesse ver a filha bem – Eu preciso olhar nos olhos dela e ouvir qualquer palavra, mesmo que ela me xingue do pior palavrão em português para eu não entender. E eu preciso trazê-la de volta e explicar o passado, por Gustav e os meninos. E porque eu a quero de volta.
Alexandra abriu um sorriso gigante, imagino que ela seja do tipo das mães que vem a aprovar o namoro das filhas. O namoro da Julia comigo, porque sim, eu vou ser o namorado dela. Algum dia eu vou fazer tudo certo. Hoje eu só preciso que ela me escute.
– A janela dela é a varanda atrás da casa.
Eu balancei a cabeça.
– Obrigado, Sra Benjamin.
– Tom, pode me chamar de Alexandra.
– Certo. Obrigado, Alexandra.
Corri para trás da casa com a caixa que continha o presente em minhas mãos. Eu observei a janela. Tinha uma árvore bem na frente.
Eu e Bill sempre fomos ótimos em escalar árvores. Colocava o presente em um galho mais alto e subia, até chegar à varanda, eu pulei e bati na porta. O coração bombeava o sangue mais rápido e eu estava começando a suar. Talvez medo da sua reação.
Que foi bem engraçada.
Ela gritou do outro lado da porta, talvez tenha pensando que eu fosse um ladrão ou qualquer coisa. Eu soltei uma gargalhada.
– Tinha me esquecido que você tem medo de levar sustos – Eu falei alto para ela reconhecer minha voz. A única menina que tem medo de levar sustos.
Abriu a cortina e arregalou os olhos, colocou a mão na maçaneta e a outra em cima do peito onde deveria estar o coração, ela não abriu a porta, só ameaçava.
Eu deixei escapar um sorriso bobo quando vi seu rosto. Soltei o ar como se estivesse o prendendo por muito tempo. Ela estava tão normal. Seu piercing, eu tinha saudade de tocá-lo; seus cabelos estavam bem despenteados nas pontas como ela gostava de deixar; estava descalço, assim ela podia correr e sentir o chão sob seus pés para não cair, mas eu poderia segurá-la de qualquer forma, eu realmente não me importo se ela sempre cai; usava uma blusa soltinha e um short curto que não me deixava muito à vontade sabendo que eu poderia atravessar esse vidro e colocar minhas mãos nas suas pernas nuas.
– O que você está fazendo aqui? – Eu ouvi sua voz abafada contra o vidro da porta – Eu já disse que eu quero ficar lon...
– Ok, eu já entendi, Julia. Mas agora é a minha vez de falar e você vai calar a boca, é só um minuto.
Eu não pretendi ser rude, eu só precisava ser rápido.
Ela ficou calada por alguns segundos e depois disse:
– Quarenta e oito...
Quatrocentos e oitenta e três. Se você me desse tantos minutos como esse número eu teria tempo de fazer muito mais coisa.
– Certo. Preciso te explicar desde o início. Como Hilary está envolvida, o início conta sobre ela: nós costumávamos ficar quando éramos pequenos, sempre e sempre, mas sem compromissos. Ela gostava de mim, eu ignorava essa parte. Agora pulando para outro tempo mental, se lembra quando foi embora? Eu fiquei mal. Está vendo isso? – Eu apontei para a cicatriz dos pontos na minha mão e o braço que antes estava com uma luva ortopédica – Eu cortei minha mão com um caco de vidro e torci o braço quando quebrei minha cama, sabe por quê? Porque você tinha se olhado no espelho do meu quarto e deitado na minha cama. Você estava no ar e nas paredes. Eu só não destruí tudo antes porque fui parar no hospital por sangrar até desmaiar.
Julia levou a mão à boca de olhos arregalados. Será que ela desmaiaria ali mesmo? Eu não quero que isso a machuque. Principalmente se ela continua sendo fã.
– Um minuto de acréscimo? – Eu perguntei e ela afirmou com a cabeça – No hospital, Gustav disse que não seria muito possível voltar a te ver, porque você já deveria ter voltado ao Brasil. Eu me senti louco por saber que pelo menos você estava em Magdeburgo, mas eles não me deixaram voltar antes de “me recuperar” de você, e Gustav parecia não querer deixar que eu tente qualquer tipo de relação com você. Naquela noite, seu rosto não saia da minha cabeça. Eu decidi procurar Hilary para te esquecer, nem que fosse por um momento, porque eu precisava. Nós fizemos sexo alguns dias depois e-
Julia fez uma cara de nojo e ameaçou a fechar a cortina.
– Espera! Ok, eu vou pular essa parte, tentando resumir. Cheguei a Magdeburgo e você estava com Henry. Eu me senti muito mal, porque você tinha dito que não ficaria com ele se tivesse chance uma vez, e você estava com ele! Hilary se aproveitou e me deu a idéia de fingir que éramos namorados por um tempo. Eu aceitei, é claro. Eu estava transtornado e ela se aproveitou! E depois você veio morar aqui, Hilary me disse mais ou menos o que aconteceu, mas eu aposto que ela começou a implicar porque sempre quis ficar comigo e viu que você estava atrapalhando.
Eu respirei fundo, soltando o ar. Meu tempo tinha acabado, Julia ficou de costas para a porta de vidro, eu bati algumas vezes e ela não se virou, mas sabia que estava escutando.
– Preciso de mais um minuto – Eu avisei – E para acabar, é só para você saber que eu estive tempo todo pensando em você, e hoje Georg brigou comigo por você estar afastada. Eu precisei de um motivo maior para vir aqui, e aqui estou eu. Eu não quero que você fique chateada por eu ter mentido. Desculpe-me, você não era nenhuma mentirosa, era eu quem não sabia dizer para mim mesmo que estava afim de você. E me desculpe também por falar que fãs não amam. Amar igual a você é impossível.
Julia se virou.
– Já acabou?
– Sim – Eu arfei sorrindo, mas ela não retribuiu meu sorriso e fechou a cortina no mesmo instante. – Julia! Colabora.
– Estou fazendo isso.
Odeio engolir minhas palavras, ainda mais se vier dela. Admito que meu orgulho talvez seja muito grande.
E agora eu sabia que ela não iria abrir a cortina.
– Eu te trouxe uma coisa. Mas preciso que você pegue e abra.
– Então desce e toca a campainha como uma pessoa normal.
– Você é uma chata, sabia?
Eu desci pelo mesmo caminho da árvore e corri até a campainha – nota-se que a essa hora eu já estava suando, mas já aliviado por tirar um peso das minhas costas –, toquei algumas vezes e a porta se abriu pouco, estava trancada com aquela corrente que eu conseguia ver só metade do rosto de Julia. Ainda assim sorri. Estar mais perto dela era reconfortante e eu podia sentir seu perfume.
– É um presente.
Eu passei a caixa pela porta e depois a porta se fechou da minha cara. Eu bati com o punho algumas vezes.
– Eu preciso de mais um minuto para falar sobre a caixa – E continuei – Vai ter uma festa das fãs que o Tokio Hotel vai comparecer. As convidadas pessoais precisam ir com quem convidou e ter uma carteirinha que eu ainda não recebi para te dar, mas eu estou te convidando logo. Na verdade é uma festa para nós e vai ter algumas fãs e alguns fotógrafos. Eu quero você lá. Os garotos também.
Esperei alguns segundos para obter sua resposta. Olhei para minhas mãos. Por que elas estão tremendo? Meu coração está acelerado, eu podia senti-lo por cima das roupas pesadas.

Ponto de vista tradicional - Benjamin


Observei a caixa perfeitamente embrulhada.
Meu coração disparava e eu achei que poderia ser ouvido de longe pelo silêncio tão grande que Tom tinha deixado esperando minha resposta. Tudo aquilo lá em cima seria verdade? Ele havia acabado de citar fotógrafos. Seria mais um jogo de ping-pong que ele estava fazendo entre eu e Hilary ou era mesmo sério?
Eu não sei dizer. Eu não aprendi a confiar.
Abri a caixa. Dois bilhetes. Um deles informava a festa, seria daqui a dois dias em uma boate no centro de Magdeburgo. Deixei o outro bilhete de lado e abri mais a caixa, tirando dela um lindo vestido branco tomara-que-caia com uma cauda de babados maiores que o da frente, perfeito. E mais embaixo tinha um par de saltos altos da cor bege que combinavam perfeitamente com o vestido.
Ele havia comprado aquilo? Para mim? Eu sorri, meu coração disparou.
Isso não combinava com Kaulitz. Não com aquele Kaulitz.
– E então? – Ouvi sua voz e logo depois uma batida contra a porta.
Eu deslizei pela porta de madeira e abri o segundo bilhete.
“Sim, isso é um convite. Eu não sou formal, você me conhece. Você conhece tudo sobre mim. Volta? Volta para os meninos, volta para mim também. Aquele ódio colorido não morreu, porque se ele morresse, viraria o quê? Quer ir a festa? Isso não é uma pergunta, coloquei a interrogação só por educação. Eu não aceito nada menos que ‘sim’.”
Eu gargalhei. Se o ódio morresse, viraria amor ou amizade?
– Ouvi sua risada – Tom gargalhou também – Isso é um bom sinal?
Tom sabia que se eu discutisse era porque não deveria ser julgado como bom sinal, mas eu não discuti. Eu queria saber até que ponto aquilo iria dessa vez. Eu deveria aprender a confiar, mas deveria testar Tom antes. Eu ainda estava chateada com ele, e desconfiada com tudo que havia acontecido.
– Eu te pego as oito, Benjamin. – Tom disse com sua voz rouca e sexy que eu mais gostava de ouvir – Até mais.
Bateu duas vezes a porta e eu soube que tinha ido embora quando ouvi seu carro dar a partida. Voltei ao meu quarto sorrindo e subindo a escada de dois em dois degraus, vi minha mãe olhando da cozinha com o mesmo sorriso para mim. Contando que ela não faça perguntas, que continue sorrindo, mamãe.
A alegria subia a minha cabeça, eu fechei os olhos e rolei na cama fazendo sons altos como eu tinha aprendido com Tom quando ganhava algum jogo no videogame do Georg. Começava a me imaginar dentro daquele vestido branco acompanhada por Tom em uma festa cheia de paparazzis, eu estaria linda como ele merece. Mas e Hilary? Dane-se onde ela estivesse, vou mostrar que sou eu quem ele merece.
Eu iria à festa. Claro que iria.
Eu não estou louco, só não estou muito bem. Eu sei que agora você não pode dizer, mas fique por aí que talvez você vá ver um outro lado meu. – Matchbox Twenty

Postado por: Grasiele

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